terça-feira, 27 de março de 2018

Rua José Bonifácio (antiga Rua Fechada). Data: 03/12/1944. Foto: Domingos Foggiato. Acervo Cid Destefani. Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia (06/08/1989)

























Gazeta do Povo, Coluna Nostalgia – 06/08/1989 - José Bonifácio, a Rua Fechada 

"No século passado era uma viela lamacenta com precárias calçadas de pedras conhecidas como “pé-de- moleque” Vinha do Largo da Ordem e terminava na parede dos fundos da antiga Matriz onde havia uma passagem estreita que podia ser utilizada unicamente por pedestres, daí o nome Rua Fechada. Com a demolição da velha Matriz, iniciada em 1876 e com a construção, ao lado da futura catedral foi aberta a rua, fazendo sua ligação com a Praça Tiradentes. 

A tradição católica fazia com que se enterrassem os mortos no solo sagrado das igrejas, abaixo de seus assoalhos. A velha Matriz de Curitiba, com dois séculos no local, abrigou uma série de restos mortais em seu subsolo durante toda a sua existência, até ser criado, em 1854, por Zacarias de Góes, o atual Cemitério Municipal. Com a rua já aberta e denominada José Bonifácio, foi em 1906, escavada para dar lugar aos tubos condutores do esgoto que eram instalados na cidade. A remexida feita na terra com a abertura das valetas fez com que aflorassem à superfície uma grande quantidade de ossadas humanas. Como a memória do povo é curta e a predisposição da mente para o fantástico e a tônica do simplório, espalhou-se pela cidade que o local, incluindo a Praça Tiradentes foram um imenso cemitério. Alguns afirmavam, e tem gente que acredita até hoje, ter sido ali um cemitério indígena. Pura lenda que os ossos da velha Matriz e a imaginação do povo criaram. 

A Rua José Bonifácio que aparece acima, fotografada no dia 3 de dezembro de 1944, nos mostra um movimento inusitado de uma manhã de sábado com o burburinho das carroças oferecendo os seus produtos às donas-de-casa que acorriam ao local para as compras. As casas comerciais ofereciam de tudo aos compradores. Tinha de tudo. Apesar da guerra estar ainda comendo solta na Europa e seus reflexos se fazendo sentir por aqui através de racionamentos e do envio de nossos soldados aos campos de batalha da Itália o curitibano vivia pacatamente na cidade que possuía pouco mais de cem mil habitantes. 

Os estabelecimentos comerciais instalados na Rua José Bonifácio com raríssimas exceções, eram dominados por antigos imigrantes alemães e seus descendentes. A mais tradicional das famílias de comerciantes do local sempre foi a Hauer e com um dos seus ancestrais aconteceu interessante história: José Hauer Senior que aportou em São Francisco do Sul por volta de 1860 veio em seguida para Curitiba e aqui se instalou uma modesta loja de ferragens. Trabalhando com perseverança, amealhou considerável fortuna e, já no final do século, adquiriu a primeira Usina Elétrica que a cidade teve, atrás do prédio onde hoje fica a Câmara Municipal, transferiu-se para o início do Capanema e explorou-a até o começo da década de 10. 

José Hauer Senior teve um dissabor muito grande no seio de sua família. Vendeu a usina, o seu palacete (hoje Colégio Divina Providência) e vastíssima quantidade de terras que possuía nos arredores da cidade. Milionário voltou para a Alemanha e lá, na cidade de Wiesbaden, construiu um palacete de dois andares e cuja fachada estava escrito Curityba. Quando ele morreu, foi enterrado daquela cidade com terra curitibana que transportara daqui dentro de um saco. Oi a maneira de mostrar a gratidão e o amor pela cidade que lhe proporcionara a imensa fortuna que começou a amealhar na pequena loja de ferragens da Rua Fechada".

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