quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Histórias de Curitiba - Histórias do carnaval

 

Histórias de Curitiba - Histórias do carnaval

Histórias do carnaval
Júlio Cezar Amaral de Souza (Julinho)

Quando o conjunto Partido Alto Colorado estava começando a aparecer, mestre Maé conseguiu uma apresentação em uma boate, perto da estação ferroviária.
Essa casa noturna ficava num primeiro andar e, para chegar a seu salão, tinha-se que subir uma escadaria.
Armado o esquema de apresentação, Picolé, bom pandeirista, ficaria embaixo, na escada, esperando a deixa previamente combinada, para entrar em cena.
Começou o show e logo Maé deu a deixa: "Entra o negri-nho do pandeiro". Mas nada do negrinho do pandeiro aparecer. "Entra o negrinho do pandeiro", repetiu o Maé, desta vez com mais força. E nada do negrinho do pandeiro.
Depois de mais duas chamadas, Maé desistiu, esperou o término da primeira parte do show e desceu, à procura do pandeirista. Não o encontrando, perguntou a um motorista estacionado alí em frente:
- Por acaso o senhor não viu um negrinho com um pandeiro embaixo do braço?
- Vi sim - respondeu o motorista, mas passou um carro da polícia e levou o rapaz em cana.
Maé foi até a delegacia de plantão, que ficava na rua Barão do Rio Branco, e, com sua amizade e um bom papo, conseguiu liberar Picolé. Após uma sessão de esculacho, ficou acertado que repetiriam o show na segunda apresentação da noite. E lá ficou o crioulo, esperando a deixa.
No momento combinado, grita lá de cima o Maé: 'Entra o negrinho do pandeiro'. E nada do negrinho.
Maé berrou mais duas ou três vezes a deixa e, como da vez anterior, nada do nêgo Picolé dar o ar de sua graça.
Terminado o show, Maé desceu feito louco para pegar o irresponsável, mas não o encontrou.
De novo um motorista deu as explicações:
- O negrinho estava aí, esperando, mas passou novamente a polícia e ele não se conteve.
Ele chamou os policiais de ratos, riu deles e disse que não havia adiantado nada eles o prenderem, pois um tio dele, de nome Mané, foi lá na delegacia, passou a conversa no delegado e o homem o soltou.
Até hoje o show da boate está esperando a entrada triunfal do negrinho do pandeiro.
Um conhecido diretor de escola de samba, de Curitiba, tem o apelido de DIABO. Este moço trabalhava em certa época no Hospital e Pronto Socorro Cajuru.
Um dia, um amigo seu, conhecido como "Negro Escorpião", foi esfaqueado com gravidade.
Levado às pressas ao Pronto Socorro, foi logo carregado em uma maca até a sala de cirurgia, empurrado pela irmã superiora das freiras e chefe da enfermagem.
Ao passar pelo corredor da farmácia, a irmã solicitou ao carnavalesco que alí trabalhava um auxílio para levar a maca até o centro cirúrgico. O paciente, meio mal das coisas, apelava para o auxílio de todos os santos: "Nossa Senhora do Perpétuo Socorro me ajude ; valei-me meu São Jorge, não me deixe morrer..."
Em dado momento, levantando os olhos, deparou com o amigo sambista e, no meio de uma reza, exclamou bem alto:-"DIABO, voce aqui!"
Nesse momento, a freira, que acompanhava a maca também rezando e desconhecia o apelido do farmacêutico, benzeu-se rapidamente e disse:
- "Valha-me Senhor Deus, este infeliz pecador já esta enxergando do Satanás..."

Júlio Cezar Amaral de Souza, o julinho, é carnavalesco.

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