quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Histórias de Curitiba - A Casa da Ordem

 

Histórias de Curitiba - A Casa da Ordem

A Casa da Ordem
Armando Obladen (in memorian)

A Casa Romário Martins não foi sempre salão de exposições artísticas.
Muito antes foi casa comercial cujo proprietário era um curitibano da primeira geração de imigrantes alemães, de nome Car-lito.
Personalidade inquieta, preocupado com o sucesso.
Vocação inconteste: comércio.
Escolaridade por conta própria segundo as exigências da época: português, aritmética e datilografia. Cálculo e previsão eram seus pendores mais apurados.
Entre suas conquistas de conhecimento e sabedoria chegou a dominar com desembaraço cinco idiomas que aprendeu no balcão da loja com camponeses procedentes das colônias de outros imigrantes, próximas de Curitiba, que chegavam à Casa da Ordem depois de estacionar suas carroças em volta do bebedouro onde os cavalos tomavam água e junto das calçadas da praça formando imensa feira de granjeiros.
O que mais atraía os compradores (as) eram linhas para costurar e bordar de cores lisas e mescladas da Machine Cotton (England). Tecidos raros de lã (Scottland). Brim de linho e algodão.
Rendas Francesas finas para roupas brancas femininas e rendões para colchas e toalhas de mesa.
Sedas do Oriente. Só importados.
Aventais de cozinha e panos de louça trabalhados. Lãs em meados e novelos.
Agulhas para coser e fazer "tricot". Tesouras para alfaiate de todos os tamanhos, retas e curvas (Sverige). Calçados e roupas para crianças, e brinquedos (Deutschland). Máquinas de costurar Pfaff e Singer. E os famosos panos riscados de parede para bordar, arte do suiço Herr Schnecke, estampando figuras clássicas de colonos holandeses com trajes e tamancos típicos, casinhas rústicas à beira de riachos ladeadas com canteiros floridos de tulipas e pomares, cenários de lavoura ou de pinheirais nativos, e vez por outra citações poéticas ou fraseadas com referências religiosas.
Colonos de diversas etnias eram os principais frequeses da loja.
Comerciante progressista, Carlito mudou sua loja para a Praça Tiradentes, na esquina com a Monsenhor Celso, tendo como vizinhos importantes a tradicional firma dos Frishmann, o turco da quitanda Damasco, a Casa Suiça de Eletricidade do Seu Bol-linger, o bar Gruta da Onça, a Ótica Curitiba, a Charutaria London, o Banco de Londres, a Joalheria Berta dos Fleischfresser, o Pedro Bindo das mudanças, o hotel do seu Francisco Braz, a Companhia Força e Luz, as Farmácias Minerva e Stelfeld com o tradicional relógio do Sol, a banca de jornais e revistas do seu Machuca, a Pensão Ferreira dos famosos irmãos Ba-ianinho, Ferreira e Janguinho, mais o ponta-direita Bananeiro e o centro-avante Banana. E a Estação Central dos bondes.
Havia na época, ainda, bondes abertos com cobradores caminhando por fora pelos degraus laterais alongados.
Carlito chegou a ser consagrado como comerciante de grandes méritos pelos seus pares.
Chegou a manter o corpo "colossal" de 48 funcionários, entre balconistas, caixas, chefes de seção, secretárias, costureiras, bordadei-ras, empacotadeiras, desenhistas e confeccionistas de panos para bordar, pessoal de escrita e vendas para o interior, almoxarifes, faxineiras e entregadores. E mais saldos e créditos bancários.
Quando parado, Carlito costumava ficar na porta da loja, ensimesmado, observando o vai-e-vem dos bondes. E dizia, refer-indo-se aos mais ou menos cautelosos no trato da vida: "Cada um salta do bonde como sabe ou como pode".
Carlito era Seu Carlos Obladen Júnior, dono da Casa da Ordem.

Armando Obladen foi médico formado com o "patrocínio" da casa da ordem.

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