CONHECENDO O INÍCIO DO RESTAURANTE IGUAÇU
'Lá pelo ano de 1949, resolvemos abrir um restaurante, porque eu não tinha estudo, meu marido também não, e a gente não sabia o que inventar, pois não tínhamos muito recurso. Como meu pai sempre lidou com restaurante, achei que poderia seguir esse ramo e ter o mesmo sucesso do meu pai. E com esse pensamento começamos a servir os caminhoneiros, que vinham do Norte do Estado, com os caminhões carregados de café, para descarregar no porto de Paranaguá. Segundo dona Mira, seu marido escolheu o nome Iguaçu para o restaurante, em homenagem ao seu time de futebol predileto - Sociedade Esportiva Iguaçu -, onde atuava como membro da diretoria.
Eles tinham que parar num Posto Fiscal, perto da minha casa, para registrar as notas. O pessoal do Posto disse: - Da Mira, a sra. tem um ponto tão bom, tem uma casa, faça um restaurante para essa turma que registra nota. E foi o que nós fizemos. Começamos com comida comercial: sopa, arroz, feijão, bastante verdura, ovos fritos. Comida deles! A gente não vencia!
Eu é que cozinhava, no fogão à lenha, e puxando água do poço. [...] Mas daí abriu a estrada de Ponta Grossa, e o Posto Fiscal fechou. Morreu o meu restaurante! Aqui do bairro ninguém vinha comer no meu restaurante. Eles vinham no sábado, querendo um churrasco no domingo. Então eu comecei a servir este povo daqui, com churrasco. Mas não dava para aguentar as despesas. Até que, no dia da inauguração do asfalto aqui de Santa Felicidade, tudo o que eu tinha foi vendido: salame, mortadela, bolinhos, cerveja, vinho. Tudo acabou. Não dava mais para guardar o dinheiro na gaveta, porque não cabia mais. Isso deve ter sido em 1955. Quando chegou o domingo, eu já estava com frango caipira ensopado, polenta no molho, risoto. Comecei com essa comida e daí, de repente, todo mundo de Curitiba vinha comer aqui.
Eu emendei, ao lado da minha casa, um salão, e lá enchia de gente. O pessoal vinha aqui, dava o nome e ia passear por aí, conhecer os lugares e depois voltava para ver se estava desocupada a sua mesa para comer. É assim que eram servidas as pessoas, cada uma esperando mesa. E até hoje é assim. Eu tenho uma freguesia de alto nível e chegam aqui, e tem de esperar. Fico triste por isso... '
No Restaurante Iguaçu, no início, cabiam cinqüenta pessoas. Aos poucos ele foi crescendo, até chegar a dois salões, um para 350 pessoas e outro para 220 pessoas.
Dona Mira contou que durante muito tempo fez frango assado e recheado, no forno à lenha, leitão assado, codorna e paca. Naquele tempo não era proibida a caça desse animal, e ela fazia seguidamente, sempre para vinte pessoas, sob encomenda.
Depois, quando passou a ser utilizado o fogão a gás, a dona Mira tirou o frango ensopado e começou a fazer o frango à passarinho e a polenta também frita. Contava, então, com quatro pratos principais: o risoto, mais enxuto, a polenta frita, o frango frito e a salada. À medida que foram abrindo os outros restaurantes em Santa Felicidade, que tinham em seu cardápio massas e maionese, o Restaurante Iguaçu passou a incluir o macarrão, o nhoque e a maionese.
Segundo dona Mira, os seus clientes já estão na terceira geração. São fiéis, vêm sempre, principalmente aos sábados e domingos. Acredita que hoje, como no passado, o que atrai as pessoas ao seu restaurante é o atendimento personalizado e a qualidade da comida. Nunca fez propaganda. Diz ela: a propaganda é dos fregueses, um traz o outro."
(Compilado de: teses.ufpr.gov.br / Maria do Carmo Marcondes Brandão Rolim Bares e Restaurantes de Curitiba)
Paulo Grani
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