Mitos e verdades sobre o espartilho no corpo da mulher no século 19
O corpete têm uma má reputação. E em grande parte injusta. A palavra vem do diminutivo da palavra francesa “cors” (“corpo”), e o corpete é uma peça de vestuário feita para moldar o corpo. O termo espartilho, ou corset, só foi usado no século 18, e poderia ser usado em volta da cintura ou dos quadris. A partir de meados de 1820, a cintura tornou-se o foco central da cintura feminina, e o espartilho assumiu um papel dominante, projetado para enfatizar a cintura.
Mas mesmo que apertar o espartilho até o fim fosse popular no final do século 19, as mulheres raramente conseguiam reduzir sua cintura mais do que 5 centímetros. E de onde é que vem esses contos de mulheres com cinturas minúsculas de 33 centímetros? Da literatura e de atrizes teatrais, que trabalhavam para diminuir sua cintura ao máximo e posavam apenas de corpete para que os homens pudessem admirar suas cinturas pequenas e grandes seios. Ou vocês acham que essas mulheres posando no que seria considerado uma semi-nudez no século 19 seriam mulheres respeitáveis?
Um estereótipo constante, geralmente representado em filmes, mostram uma mulher vitoriana desmaiando ao menor choque por conta da falta de oxigênio resultante do espartilho. No entanto, os espartilhos historicamente eram feitos com o objetivo de ajudar a apoiar o vestuário pesado, e por isso eram usados mais para apoio do que para diminuir a cintura. A causa mais provável para o desmaio era a combinação de respiração superficial e nutrição medíocre.
Obviamente, não era a coisa mais saudável usar espartilhos/corset todos os dias. Eles causavam indigestão, prisão de ventre e eventualmente enfraquecia os músculos das costas. Mas eles não impediam e machucavam mais as mulheres do que, digamos, os saltos agulha. A maioria das doenças que os espartilhos supostamente causavam, como escoliose, esmagamento do fígado e cancro eram mitos. Isso não significa que os espartilhos não deixavam nenhum problema na saúde, mas isso apenas mostra que as pessoas modernas são extremamente ingênuas ao acreditar em acusações médicas do século 19. Por exemplo, a idéia de que o corpete deformava o fígado parece ser um erro com base no fato e qu existe uma grande variação na forma do fígado. Quando os médicos faziam autópsias, e viriam os fígados diferente de outros, diziam que era causado pelos espartilhos.
A controvérsia do Espartilho
Usar corpetes e espartilhos apertados era um alvo de críticas desde o século anterior, com caricaturas satirizando a prática. No entanto, essas críticas eram feitas por homens, e no século 19, muitas mulheres se faziam ouvir através de cartas que eram publicadas em jornais. A denúncia unilateral se transformou em um diálogo, com mulheres partilhando suas experiências, e muitas a favor do espartilho e até mesmo de usar laços apertados.
Eu mesma nunca senti qualquer efeito negativo de quase 30 anos de espartilho apertado ao máximo, e nem encontrei qualquer caso autêntico de dano real feito por esses espartilhos, mesmo quando atado ao grau máximo e apertado, dia e noite.
As pessoas que escrevem contra a prática do laço apertado são aqueles que nunca usaram um espartilho e nunca se darão ao trabalho de se informar sobre os prós e contras do assunto […] apenas aqueles que usam corpetes sistematicamente desde a infância são os únicos que são capazes de formar um julgamento correto sobre esse assunto.
Carta para o Boston Globe, 1893.
O pico da discussão foi em 1860, quando o fluxo de artigos e cartas atingiu seu ápice. A controvérsia era a seguinte: enquanto as más consequências de apertar o espartilho ao máximo eram conhecidas, muitas mulheres que usavam espartilho negavam que usavam da prática – enquanto os médicos diziam que as mulheres afirmavam, mentirosamente, que sua cintura fina era uma dádiva da natureza e não produto de um espartilho.
É difícil imaginar uma escravidão mais sem sentido, cruel ou de grandes consequências prejudiciais do que a imposta moda civilizada da feminilidade durante a última geração… O laço apertado exigido pela cintura pequena produziu gerações de inválidas e legou à posteridade um sofrimento que não desaparecerá por muitas décadas. E, a fim de parecer elegantes, milhares de mulheres usam vestidos com cinturas tão apertadas que não há livre circulação na parte superior do corpo…
Carta para o Chicago Tribune, 1891.
JL Comstock é um dos mais famosos críticos à respeito do espartilho no século 19. Ele explicava que as mulheres jovens estavam sobre uma enorme pressão para ser esteticamente agradável aos homens (embora ele não achasse essa vontade de agradar aos homens ruim), e por isso “milhares de mulheres se matam todos os anos por esta moda em nosso próprio país!”.
As deformidades causadas pelos corpetes e espartilhos eram um problema sério para COmstock, não só porque, para ele, poderiam resultar em morte, mas porque ele acreditava que as crianças nascidas de mulheres que usavam espartilho seriam fracas, pequenas e doentes. Ele acreditava que os corpetes diminuíam a quantidade de leite materno.
O espartilho era acusado de causar dezenas de doenças, de câncer à curvatura da espinha, deformidade das costelas e dos deslocamentos dos órgãos internos, doenças respiratórias e circulatórias, doenças congênitas, abortos, traumas, costelas quebradas e feridas. The Lancet, a revista médica mais importante da Grã-Bretanha, publicou mais de um artigo de 1860 a 1890 sobre os perigos de apertar o corpete. A morte por corpete também era mencionada: em um caso, o coração foi encontrado apertado dentro do corpo, tornando sua vida inviável.
Imagens de mulheres lutando para amarrar seus espartilhos existiram por séculos. Mas essas mulheres eram a minoria, pois a maioria usava seus espartilhos com moderação e bom senso. Sabe-se isso por conta dos milhares de espartilhos que foram preservados em museus, anúncios de catálogos e revistas de mulheres: Ao olhar para eles, percebemos que seus tamanhos eram comuns, e que era concebido para ter uma folga razoável entre seus dois lados.
Sem dúvida, uma vez que muitas mulheres usavam espartilhos desde crianças, não era incomum que sua caixa torácica envergasse. Mas como qualquer outra moda extrema, a popularidade do espartilho não duraria muito. Pouco antes da Primeira Guerra Mundial as mulheres decidiram que já tiveram o suficiente de espartilhos, e uma moda menos restritiva entrou em voga.
Em nosso negócio, estamos constantemente encontrando mulheres que querem ter uma cintura menor e que estão dispostas a suportar qualquer coisa no mundo… Nós medimos o espartilho, colocando medidas confortáveis, e dizemos a mulher para usá-lo tão firmemente quanto pode confortavelmente. Então sugerimos uma série de espartilhos, cada um um pouco menor do que o último, fazendo assim uma transição lenta e fácil de uma grande cintura para a pequena.
Loja de corpetes para o Chicado Daily Tribune, 1907.
Também não existe nenhum caso documentado de mulheres do século 19 que removiam suas costelas inferiores para ter uma cintura menor. Nenhum de nosso antepassados iriam para uma mesa cirúrgica voluntariamente, considerando o alto risco de morte.
Um outro mito comum é que as mulheres usavam espartilhos porque os homens as forçavam. Mas registros contemporâneos mostram que as mulheres usavam porque as faziam sentir atraente e bem vestida, além de ser um indicador de status. Os corpetes remodelavam o corpo natural para o que era visto como desejável, jovem e sexualmente atraente. O espartilho era usado tanto para impressionar os homens quanto para afirmar a posição de uma mulher entre outras mulheres.
A grande maioria das mulheres com cinturas pequenas em fotografias vitorianas conhecidas são atrizes conhecidas por sua beleza, e que viviam para mostrar sua beleza e sua conformidade com o modelo ideal de mulher, como Alice Regnault, Polaire e Camilla Antoinette Clifford (imagens ao lado).
Os espartilhos também não eram desconfortáveis – uma roupa é tão desconfortável quanto você permite que seja. Com certeza alguma leitora do sexo feminino teve um sutiã desconfortável uma vez na vida, e parou de usá-lo. O mesmo acontece com os espartilhos. Eles não duravam a vida toda, e assim como os sutiãs hoje, existiam espartilhos para diversos momentos da vida. Uns para bailes, com formas específicas para vestidos de baile; outros feitos de cordões mais confortáveis para ser usado em casa, etc.
Os corpetes sobreviventes também não são aqueles usados no dia a dia. Temos apenas corpetes extravagantes, que foram usados poucas vezes e por isso são tão bem conservados. É como se alguém fosse estudar os hábitos das mulheres daqui a 200 anos, e achassem que todas usássemos sutiãs da Victoria Secrets. Continuando com a analogia ao sutiã, uma mulher do século 19 não saíria de casa sem o seu corpete da mesma forma que uma mulher do século 21 não sai sem sutiã. E muitas mulheres hoje não usam apenas porque as normas sociais dizem para usar, mas porque não querem ficar com a marca dos seios nas roupas, ou querem ficar com os seios mais levantados, ou aumentá-los com o uso de bojo.
Além disso, também é necessário levar em consideração que a impressão que temos de uma cintura pequena vendo uma mulher do século 19 é aumentado por conta do uso das saias longas e amplas. Veja abaixo algumas imagens de mulheres vitorianas com cinturas pequenas (e outras nem tanto) e alguns corpetes:
Bibliografia:
“Death by Corset: A Nineteenth-Century Book about Fatal Women’s Fashions (and Animal Physiology)“,
“Exploring the Myths of Corsets I“,
“Everything You Know About Corsets Is False“, por Lisa Hix
“Corset Myths“.
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HISTORIAS DE TERREIROS DE UMBANDA E ENTIDADES
CAMINHOES CARRETAS E TRANSPORTES
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caminhos da umbanda (caminhosemisteriosdaumbandaecandomble.blogspot.com)
CABOCLOS NA UMBANDA (caboclosdeluznaumbanda.blogspot.com)
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