CURITIBA EM 1956: O ANÚNCIO QUE MUDOU A CIDADE — QUANDO A SIMCA, OS TAPETES ITA E A “SOMBRINHA DE OURO” DEFINIRAM O ESTILO DA CAPITAL PARANAENSE
CURITIBA EM 1956: O ANÚNCIO QUE MUDOU A CIDADE — QUANDO A SIMCA, OS TAPETES ITA E A “SOMBRINHA DE OURO” DEFINIRAM O ESTILO DA CAPITAL PARANAENSE
Em julho de 1956, Curitiba respirava modernidade. As ruas começavam a se encher de automóveis, os clubes sociais exibiam novos modelos de vestidos, e as lojas anunciavam produtos que prometiam transformar o lar em um espaço de luxo acessível. Nesse cenário, uma página de jornal — hoje rara e preciosa — captura com precisão o pulso da cidade: uma mistura de propaganda, cultura, religião e status social, tudo reunido em um único documento.
Este artigo não é apenas uma análise de anúncios antigos. É uma viagem no tempo para entender como Curitiba se tornou a capital que conhecemos — através dos carros que rodavam, dos tapetes que cobriam os salões, das sombrinhas que protegiam do sol e das cerimônias que uniam famílias.
Vamos desvendar, imagem por imagem, cada detalhe, cada logotipo, cada fonte tipográfica e cada nome que aparece nessa página histórica — porque, na verdade, cada pixel dessa folha conta uma história.
IMAGEM 1: “IRMAOS RATTMANN & CIA. LTDA.” — O REI DA FÓRMICA QUE MUDOU O LAR BRASILEIRO
Na parte superior da página, um grande anúncio em preto e branco anuncia:
“IRMAOS RATTMANN & CIA. LTDA. INDUSTRIA E COMÉRCIO”
O texto destaca:
“Móveis em Fórmica :: Cozinha tipo Americana :: Cipas em Fórmica”
E, em letras maiúsculas e negrito:
“O Rei da Fórmica Fabricando os Mais Belos Móveis em Fórmica do Sul do Brasil”
Essa frase não é apenas propaganda — é uma declaração de poder. Em 1956, a fórmica era o material revolucionário da época: resistente, barato e moderno. Substituía o madeiramento pesado por superfícies lisas, coloridas e fáceis de limpar. Os irmãos Rattmann, com fábrica em Travesia Rattmann, 44, e lojas no Barão do Cerro Azul, 236, estavam à frente dessa revolução doméstica.
O anúncio inclui até um pequeno mapa esquemático da cidade, indicando onde encontrar os produtos. Um detalhe curioso: a menção ao “12º Aniversário 30% de Desconto” sugere que a empresa já tinha mais de uma década de atuação — o que a coloca entre as pioneiras da indústria moveleira paranaense.
No canto inferior direito, um pequeno bloco promove “Dr. Scholl — Lojas em Curitiba e Londrina”, com o slogan:
“Trabalhos Gráficos — Folhetos, Impressos, Livros, Jornais e Revistas, pequenos jornais e revistas. Orçamentos sem compromisso.”
Isso revela que a página inteira era impressa pela própria Dr. Scholl — uma das primeiras gráficas comerciais da região, especializada em materiais publicitários.
IMAGEM 2: “A SOMBRINHA DE OURO” — QUANDO UM ACESSÓRIO SE TORNOU SÍMBOLO DE STATUS
Na parte central da página, um anúncio elegante chama atenção:
Com um logotipo em forma de sol sorridente e gotas de chuva, o anúncio promove:
“Fabrica de Guarda-chuvas e de Sombrinhas”
“Rua Dr. Murici, 700/5 — Fone: 4-8162”
O texto é breve, mas carregado de simbolismo:
“Fidalga — Artigos de chuva e de praia”
A palavra “fidalga” — usada para descrever mulheres de boa família — indica que o produto não era apenas funcional, mas um acessório de moda e distinção social. Ter uma sombrinha da “Sombrinha de Ouro” era tão importante quanto ter um vestido de designer ou um automóvel importado.
Ao lado, um pequeno bloco anuncia “ITA Riviera Ltda.”, com o slogan:
“Tapetes Passadeiras Forrações da afamada marca ITA”
E a legenda final:
“O maior sortimento do Estado — Rua 13 de Maio, 225 — Fone: 4-5422”
Isso confirma que a ITA era a principal fornecedora de tapetes para residências e empresas em Curitiba. A combinação de “sombrinha de ouro” e “tapete ITA” cria uma imagem perfeita da casa ideal da época: elegante, protegida do sol e da chuva, com piso coberto por tecidos finos.
IMAGEM 3: “CHEGAMOS! GUAÍRA — NOVA CASA SIMCA EM CURITIBA!” — O CARRO QUE CONQUISTOU A CIDADE
Na parte inferior da página, um anúncio em tamanho gigante domina o espaço:
“CHEGAMOS!” — em letras maiúsculas e negrito, com uma bandeira xadrez de corrida ao fundo.
Logo abaixo:
E, em menor destaque:
“Guaíra Motores Ltda. — Av. República, 123 — Fone: 4-8765”
Duas fotos de carros — um sedan e um station wagon — ilustram o anúncio. Ambos são modelos Simca, fabricados sob licença francesa, e representam a modernidade automotiva da época. O texto menciona:
“Grandes promoções, condições de pagamento facilitadas, garantia de peças e assistência técnica completa.”
Isso revela que a Guaíra não era apenas uma concessionária — era uma empresa de serviços completos, oferecendo desde financiamento até manutenção. O uso da bandeira de corrida (xadrez) sugere velocidade, performance e estilo — valores que a Simca queria associar à sua marca.
Mais abaixo, um pequeno bloco anuncia:
“Guaíra — A nova casa Simca em Curitiba! Compre seu carro novo e garanta a melhor relação custo-benefício.”
Essa mensagem foi crucial para atrair compradores em uma época em que o automóvel ainda era um símbolo de status. A chegada da Simca a Curitiba marcou o início de uma nova era de mobilidade urbana.
IMAGEM 4: “NUPCIAS JO MÊS x MALZONI” — QUANDO O CASAMENTO ERA UM EVENTO PÚBLICO
Na última coluna da página, um texto intitulado “Nupcias Jo Mês x Malzoni” registra o casamento de Jo Mês e Malzoni, realizado na Igreja de Santa Teresinha, em 22 de agosto de 1956.
O texto começa com uma nota sobre o Presidente da CEPREL, que entregou o “Vale da Amizade” — um certificado de reconhecimento social. Isso indica que o casamento não era apenas um evento familiar, mas também um momento político e institucional.
A lista de convidados é extensa e reveladora:
“Estiveram presentes: Sr. e Sra. Antônio Carlos Lacerda, Sr. e Sra. Eduardo Braga, Sr. e Sra. Marcelo Borselli, Sr. e Sra. Francisco Inácio, Sr. e Sra. José Zapparoli, Sr. e Sra. Domingos Focaccia, Sr. e Sra. Manuel Alencar, Sr. e Sra. João Batista Correia, Sr. e Sra. Luiz Fróbe, Sr. e Sra. Venceslau Focaccia, Sr. e Sra. Maria Aparecida Focaccia e seus noivos, Caio Leal, Srta. Hilde Nechao, Sr. Darley Nechao, Srta. Maria Luisa D’Valle Pinto Dias, Srta. Lídia Pinto Dias, Srta. Heloisa Malzoni, Srta. Ana Maria Malzoni, Srta. Grace Muray de Miranda Pinto, Srta. Sonia Muray de Miranda Pinto, Srta. Irene Westphalen, Srta. Maria Rita Perecini, Srta. Eva Evandile Malzoni, Srta. Silvia Lea Megid, Srta. Evandile Malzoni, Srta. Helena Braga, Sr. Luiz Gaston e Sra. Zilda Pinto Dias Gonçalves, e menino Paulo Roberto Pinto Dias e meninas Elenice e Eliane Malzoni.”
Essa lista não é apenas um registro de presença — é um mapa social da elite curitibana. Famílias como os Malzoni, os Pinto Dias, os Focaccia e os Lacerda eram nomes de peso na política, no comércio e na indústria local. O casamento de Jo Mês e Malzoni era, portanto, uma aliança estratégica entre duas linhagens importantes.
O texto termina com uma nota sobre o “Grande Hotel Moderno”, onde o casal passou a noite de núpcias — outro detalhe que reforça o status do evento.
CONCLUSÃO: UMA PÁGINA, MIL HISTÓRIAS — O LEGADO DE CURITIBA EM 1956
Essa página de jornal não é apenas um conjunto de anúncios. É um documento histórico vivo, que revela como Curitiba se construiu nos anos 50: através de produtos modernos, eventos sociais e alianças familiares.
- Os irmãos Rattmann trouxeram a fórmica para os lares, democratizando o design.
- A Sombrinha de Ouro transformou um acessório em símbolo de distinção.
- A Simca, através da Guaíra, trouxe a mobilidade e o sonho automotivo.
- O casamento de Jo Mês e Malzoni consolidou a elite social da cidade.
Cada anúncio, cada nome, cada logotipo conta uma história — e juntos, eles formam o mosaico de uma Curitiba que, mesmo em 1956, já olhava para o futuro com confiança, estilo e determinação.
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