O Palacete Guilherme Weiss – Um Sonho Arquitetônico Perdido nas Ruas de Curitiba
Um Projeto de Grandeza em Meio à Cidade em Transformação
Em 18 de setembro de 1922, no coração de uma Curitiba que despertava para a modernidade, o escritório de Gastão Chaves & Cia. registrava um dos seus projetos mais emblemáticos: o Palacete para o Senhor Guilherme Weiss. Assinado pelo projetista Eduardo Fernando Chaves, o edifício seria erguido na privilegiada esquina da Rua Comendador Araújo com a Rua Visconde do Rio Branco — um dos endereços mais nobres da capital paranaense na primeira metade do século XX.
Concebido como uma residência de grande porte, o palacete ocuparia dois pavimentos com uma área construída de 800 m², inteiramente em alvenaria de tijolos, técnica dominante na época para edificações de prestígio. Seu projeto arquitetônico, meticulosamente elaborado em cinco pranchas detalhadas, revelava não apenas o requinte estético da elite curitibana, mas também a sofisticação técnica de um escritório que ajudou a moldar o perfil urbano da cidade.
Detalhes de um Projeto de Época
O projeto original, intitulado “Projecto do Palacete para o Snr. Guilherme Weiss”, incluía:
- Fachadas principais voltadas tanto para a Rua Comendador Araújo quanto para a Rua Visconde do Rio Branco,
- Cortes longitudinais e transversais,
- Plantas detalhadas dos pavimentos térreo, superior e da cobertura,
- Detalhes internos que evidenciavam o luxo e a funcionalidade pensados para a vida doméstica de uma família abastada.
As imagens preservadas — hoje digitalizadas em microfilme — mostram uma composição equilibrada entre simetria clássica, elementos ecléticos e soluções espaciais modernas para a época. A residência contava com salões nobres, quartos amplos, áreas de serviço bem definidas e uma escadaria interna que provavelmente servia como eixo central da circulação vertical.
O alvará de construção foi emitido ainda em 1922, sob o Talão nº 606, nº 2252/1922, atestando a celeridade com que a elite da cidade transformava sonhos em tijolos e argamassa.
Guilherme Weiss: Um Nome por Trás da Grandeza
Embora os registros biográficos sobre Guilherme Weiss sejam escassos nos arquivos públicos, seu nome está indissociavelmente ligado a um dos empreendimentos residenciais mais ambiciosos de sua geração em Curitiba. A escolha de uma esquina nobre, o investimento em um projeto de dois pavimentos e a contratação de um dos principais escritórios de arquitetura da cidade indicam que Weiss pertencia à elite econômica local — possivelmente ligado ao comércio, à indústria ou à cafeicultura, pilares da riqueza paranaense naquele período.
Sabe-se também, por registros familiares, que Bruno Weiss de Castilho, descendente da família, preservou fotografias e documentos relacionados ao palacete, contribuindo para que sua memória não se perdesse totalmente.
A Demolição: O Fim de uma Era
Apesar de sua solidez construtiva e valor histórico, o Palacete Guilherme Weiss não resistiu ao tempo. Em algum momento antes ou durante 2012, o imóvel foi demolido, cedendo espaço a novas edificações — provavelmente comerciais ou de uso misto — que hoje ocupam aquele trecho estratégico do centro de Curitiba.
Sua perda é emblemática de um fenômeno recorrente nas grandes cidades brasileiras: a substituição do patrimônio arquitetônico do início do século XX por construções utilitárias, muitas vezes sem qualquer diálogo com a memória urbana. Felizmente, o projeto original e uma fotografia do imóvel (sem data, mas provavelmente das décadas de 1930 ou 1940) foram preservados no Acervo da Casa da Memória, vinculado à Fundação Cultural de Curitiba, e no Arquivo Público Municipal.
Legado em Papel e Memória
Embora o palacete já não exista fisicamente, ele permanece vivo nos desenhos técnicos, nas fachadas desenhadas com esmero, nas plantas que revelam modos de vida e na única fotografia conhecida que nos permite imaginar sua imponência. Esses documentos não são apenas registros técnicos — são testemunhos de uma Curitiba que sonhava alto, que construía com orgulho e que via na arquitetura uma forma de afirmar seu lugar no mundo.
O trabalho de Eduardo Fernando Chaves e do escritório Gastão Chaves & Cia. — responsável por dezenas de edifícios públicos e privados em Curitiba — merece reconhecimento não apenas como produção técnica, mas como expressão cultural de uma época.
Homenagem a um Patrimônio Perdido
O Palacete Guilherme Weiss pode ter desaparecido do mapa urbano, mas não do imaginário histórico da cidade. Sua história nos convida à reflexão: quantos outros palacetes, casas senhoriais e edifícios simbólicos foram silenciosamente apagados? E, mais importante: o que estamos fazendo hoje para preservar o que ainda resta?
Que este artigo sirva como ato de memória — e como alerta. Porque uma cidade que esquece sua arquitetura, esquece também suas raízes.
"As cidades não são feitas apenas de concreto, mas de histórias que habitam seus muros — mesmo quando esses muros já não existem."
Referências e Fontes:
- GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto do Palacete para o Snr. Guilherme Weiss na Rua Comendador Araújo esquina com Visconde do Rio Branco. Planta dos pavimentos térreo, superior e de cobertura, corte e fachadas frontal e lateral apresentados em cinco pranchas. Microfilme digitalizado.
- Coleção Palacete Guilherme Weiss. Acervo: Casa da Memória / Diretoria do Patrimônio Cultural / Fundação Cultural de Curitiba (referência: 0200, PPA).
- Arquivo Público Municipal de Curitiba.
- Informações familiares cedidas por Bruno Weiss de Castilho.
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Eduardo Fernando Chaves: Projetista na empresa Gastão Chaves & Cia.
Denominação inicial: Projecto do Palacete para o Snr. Guilherme Weiss
Denominação atual:
Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Grande Porte
Endereço: Rua Comendador Araújo esquina com Rua Visconde do Rio Branco
Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 800,00 m²
Área Total: 800,00 m²
Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos
Data do Projeto Arquitetônico: 18/09/1922
Alvará de Construção: Talão Nº 606; N° 2252/1922
Descrição: Projeto Arquitetônico para construção do Palacete Weiss e fotografia do imóvel.
Situação em 2012: Demolido
Imagens
1 – Fachada principal e corte.
2 – Fachada principal e corte com detalhes do interior.
3 – Fachada para a Rua Visconde do Rio Branco.
4 – Secção transversal da residência.
5 – Plantas dos pavimentos térreo e superior e da cobertura.
6 – Fotografia do imóvel, s/d.
Referências:
1, 2 , 3, 4 e 5 - GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto do Palacete para o Snr. Guilherme Weiss na Rua Comendador Araújo esquina com Visconde do Rio Branco. Planta dos pavimentos térreo, superior e de cobertura, corte e fachadas frontal e lateral apresentados em cinco pranchas. Microfilme digitalizado.
6 – Coleção Palacete Guilherme Weiss.
1 – Fachada principal e corte.
2 - Fachada principal e corte com detalhes do interior.
3 – Fachada para a Rua Visconde do Rio Branco.
4 - Secção transversal da residência.
5 - Plantas dos pavimentos térreo e superior e da cobertura.
6 - Fotografia do imóvel, s/d.
Acervo: Casa da Memória/Diretoria do Patrimônio Cultural/FCC (Fundação Cultural de Curitiba) – referência: 0200, PPA; Arquivo Público Municipal de Curitiba; Bruno Weiss de Castilho.






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