Curitiba em 1961: Sociedade, Política, Comércio e Arquitetura em Documentos Raros
Curitiba em 1961: Sociedade, Política, Comércio e Arquitetura em Documentos Raros
O ano de 1961 foi marcante para Curitiba e para o Brasil. Com a renúncia de Jânio Quadros e a posse de João Goulart, o país vivia uma transição política instável. Em Curitiba, entretanto, a vida social, comercial e institucional seguia seu ritmo próprio, registrada em documentos que hoje são valiosas fontes históricas. As cinco páginas aqui apresentadas — provavelmente extraídas de um jornal social ou revista local — oferecem um retrato multifacetado da cidade naquele ano, abordando casamentos, carreiras públicas, anúncios comerciais e projetos arquitetônicos.
A seguir, análise detalhada de cada página.
Página 1: Senhora Rubens Requião — Uma Mulher na Administração Pública
A primeira página destaca a Senhora Rubens Requião, secretária do gabinete do governador do Paraná, Dr. Irineu Borns, e esposa do então governador, Rubens Requião (que assumiria o cargo em 1961).
Detalhes Textuais:
- A matéria elogia sua “elegância”, “simpatia” e “espírito administrativo”, destacando que ela não apenas acompanha o marido, mas atua efetivamente na gestão pública.
- Menciona sua formação: cursou o Colégio Normal, exerceu magistério e, após se casar, passou a colaborar com o marido em funções administrativas.
- Fala-se de sua “atitude moderna” ao equilibrar vida familiar e profissional — algo incomum para a época.
Contexto Histórico:
- Em 1961, o Brasil vivia uma crise política: Jânio Quadros renunciou em 25 de agosto, e João Goulart assumiu em 7 de setembro, após intensa negociação entre militares e civis.
- No Paraná, Rubens Requião era figura central na política estadual, tendo sido eleito governador em 1960 e tomando posse em 31 de janeiro de 1961.
- A presença de sua esposa em cargos administrativos era rara e simbólica — indicava uma nova postura da elite política, que começava a valorizar o papel das mulheres em esferas públicas, ainda que dentro de limites tradicionais.
Análise Visual:
- Foto em preto e branco, retrato formal da senhora, vestida com elegância discreta, cabelos penteados e expressão serena.
- Layout simples, com texto justificado e título em negrito — típico de publicações oficiais ou sociais da época.
Página 2: Senhora Elas Também — Mulheres na Vida Pública e Social
A segunda página traz o título “Elas Também”, seguido de uma entrevista com Senhora Braga Ramos, secretária de Educação e Cultura do Estado.
Detalhes Textuais:
- A matéria destaca sua trajetória: formada em Letras, professora, depois secretária de Educação.
- Fala sobre os desafios de conciliar vida familiar e carreira — menciona que tem três filhos e que sua função exige dedicação integral.
- Critica a visão machista da época: “Não há razão para que a mulher não possa ocupar cargos importantes — basta ter competência e disposição.”
- Menciona sua atuação na reestruturação do ensino público e na promoção de cursos técnicos.
Contexto Histórico:
- Em 1961, o movimento feminista ainda estava em seus primórdios no Brasil, mas mulheres como Braga Ramos já ocupavam cargos de destaque na administração pública.
- O Paraná era um dos estados mais avançados em termos de educação — com escolas técnicas, universidades e programas de extensão.
- A menção à “modernização” e à “necessidade de mudanças” reflete o clima de reformas que se instalou no país após a posse de Jango.
Análise Visual:
- Foto da senhora sentada à mesa, com livros e papéis — imagem de intelectualidade e trabalho.
- O uso do título “Elas Também” sugere uma campanha implícita de valorização da mulher na sociedade — ainda que sob a ótica da época.
Página 3: Governam — A Nova Geração de Lideranças Políticas
A terceira página apresenta Senhora Cel. Alípio Aires de Carvalho, secretária de Viação e Obras Públicas do Estado.
Detalhes Textuais:
- É descrita como “mulher de fibra”, com formação em Direito e experiência em administração pública.
- Menciona que assumiu o cargo após a saída do antigo titular, e que está implementando obras de infraestrutura em todo o estado.
- Fala sobre a necessidade de modernizar as estradas e melhorar o transporte — temas cruciais para o desenvolvimento do Paraná.
- Destaca-se a frase: “A mulher pode e deve participar da vida pública — não apenas como apoiadora, mas como protagonista.”
Contexto Histórico:
- Em 1961, o governo estadual do Paraná estava sob forte pressão para modernizar a infraestrutura — especialmente estradas, portos e comunicações.
- A presença de uma mulher à frente de uma pasta de obras públicas era inédita e chamativa — sinal de que a sociedade paranaense estava se abrindo para novos perfis de liderança.
Análise Visual:
- Foto da senhora em uniforme militar — raro para mulheres da época — sugerindo autoridade e disciplina.
- O layout é semelhante às páginas anteriores, com texto justificado e foto centralizada.
Página 4: Anúncios Comerciais — São José, Guelmann e a Modernização Urbana
A quarta página é dedicada a anúncios comerciais, com destaque para duas empresas:
1. «São José» Companhia de Armazéns Gerais
- Matriz em Curitiba: Rua Monsenhor Celso, 151;
- Filial em Paranaguá: Margem da Auto-Estrada, Caixa Postal 221;
- Superintendente: Leônio Barbosa;
- Diretor: Mário Oliveira Perna.
O anúncio destaca:
- Seis armazéns construídos em série, totalizando 10.000 m²;
- Equipamentos modernos (“Frank”), com capacidade para 1.800 sacos por hora;
- Serviço completo de proteção contra incêndio.
2. Móveis Guelmann
- Endereço: Rua 24 de Maio, 44, Curitiba;
- Telefone: 4-3860;
- Slogan: “Idealizada para o maior conforto do seu lar”.
O anúncio mostra:
- Sala de jantar tipo 197, com mesa, cadeiras e aparador;
- Design funcional, com combinação de cores;
- Preço acessível, voltado para a classe média emergente.
Contexto Econômico:
- Em 1961, Curitiba vivia um boom de consumo e urbanização — a classe média crescia, e o comércio respondia com produtos modernos e acessíveis.
- A “São José” representava a logística moderna — essencial para o escoamento da produção agrícola do Paraná.
- Os móveis Guelmann refletiam a estética da época: linhas retas, madeira clara, funcionalismo — influência do design moderno europeu e norte-americano.
Análise Visual:
- Fotos das instalações da “São José” mostram prédios longos e uniformes — típicos da arquitetura industrial da época.
- O anúncio dos móveis traz uma sala montada, com iluminação natural e decoração minimalista — ideal para o lar moderno.
Página 5: Edifício do Banco do Brasil — Um Símbolo da Modernidade
A quinta e última página apresenta o projeto do novo Edifício do Banco do Brasil em Curitiba, cuja construção estava a cargo da construtora Th. Marinho de Andrade Construtora Paranaense S.A.
Detalhes Textuais:
- O edifício será construído em dois blocos distintos: um para uso administrativo e outro para residências.
- Área total: cerca de 70% da área do quarteirão, com 12.400 metros quadrados.
- Características:
- Sistema moderno de ar condicionado;
- Iluminação e aquecimento modernos;
- Elevadores de alta velocidade;
- Valor estimado: acima de 400 milhões de cruzeiros (valor expressivo para a época).
Contexto Arquitetônico:
- Em 1961, Curitiba estava em plena transformação urbana — com a construção de prédios modernos, ruas alargadas e planejamento urbano.
- O Banco do Brasil era o principal banco público do país, e sua sede em Curitiba seria um símbolo de poder e modernidade.
- O projeto, assinado pela Th. Marinho de Andrade, refletia a arquitetura racionalista em voga — linhas limpas, funcionalidade, uso de concreto e vidro.
Análise Visual:
- Maquete do edifício mostra um prédio alto, com fachada envidraçada e estrutura retangular — típico da arquitetura corporativa da década de 1960.
- A legenda “Visão grandiosa do Edifício do Banco do Brasil em Curitiba” reforça a intenção de impacto visual e simbólico.
Conclusão
As páginas de 1961 revelam uma Curitiba em transição: uma cidade que, mesmo em meio à instabilidade política nacional, seguia seu caminho de modernização. Mulheres assumiam cargos públicos, empresas investiam em tecnologia e infraestrutura, e a arquitetura refletia a ambição de se tornar uma capital moderna e cosmopolita.
Esses documentos não são apenas registros do passado — são testemunhos de como a sociedade curitibana se organizou, se adaptou e se projetou para o futuro. Eles nos lembram que, mesmo em tempos de incerteza, a cidade sempre soube construir seu próprio rumo.
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