Histórias de Curitiba - Mas que Gosto tinham?
Mas que Gosto tinham?
Pedro Franco Cruz
Num misto de surpresa e incredulidade, reparo que estas "300 histórias" já se encaminham para seu final e, até agora, ninguém ousou deitar falação sobre o mais célebre curitibano de todos os tempos.
Quem? Ora, quem! o Zequinha, é claro! O Zequinha das balas.
O que fora as balas Zequinha todo mundo sabe. E quem sabe não vai ficar sabendo aqui neste curto espaço.
Mas vale lembrar que, junto com Dalton Tre-visan, Zequinha foi o conterrâneo que até hoje mereceu mais artigos na imprensa, mais análises de estudiosos, estudos acadêmicos, teses universitárias, o escambáu.
Sobre ele, um marketólogo derramado - cuidado, sempre há um deles por perto, de plantão - escreveu tratar-se do exemplo mais acabado de revolucionária engenharia de original marketing, seja lá o que isso quer dizer.
Na outra ponta, foi louvado e cantando na "avenida", no samba-enredo de uma de nossas escolas de carnaval, o que fez Séigio Porto, vulgo Lalau Ponte Preta, revirar-se na tumba, mas desta vez de puro regozijo, diante de exemplo cabal de originalíssima construção da polca do polaco malucão - seja já o que isso venha a ser.
O caso é que, como dizia lá em cima, corríamos o risco de encerrar as "300 Histórias" (ou seriam 325??) cometendo a inenarrável injustiça de não mencionar neste espaço o simpático palhaço das mil caras, das mil profissões, das mil situações - até coveiro e enforcado foi, o coitado - e das raríssimas figurinhas premiadas.
Consegui algumas em meus anos de muito tique, bafo e roubalheira, mas prêmio que é bom , nécas de pitibiriba.
Por isso, minha vingança, tantos anos depois, tem a forma de uma singela pergunta dirigida a todo leitor maior de quarenta anos: voce, por acaso, lembra do gosto das tão afamadas balas Zequinhas?
Andei fazendo essa mesma pergunta por aí, a muitos antigos colecionadores de figurinhas Zequinha, até um padre, o vigário da paróquia de São Ambrósio, o Menor.
Ouvi de tudo como resposta. O padre Argelin, por exemplo, de primeiro enrubesceu ainda mais o caretão gordo e em seguida jurou, de mãos postas, que se tratava de algo assemelhado ao gosto de maná do deserto, que por sua vez, e segundo tratado do teólogo bizantino Equinócio de Sabâudia, assemelha-se ao gosto do pão ázimo embebido em adocicado vinho de missa.
Já o jornalista mais bem informado da cidade, Hélio Teixeira, reconheceu não se lembrar com exatidão, mas garantiu que procuraria se informar.
Exatos 4 minutos e 38 segundos depois, ele ligou para informar que uma fonte muitíssimo bem posicionada, e que por isso mesmo pedia sigilo, lhe garantira que as balas Zequinha tinha gosto de butiá conservado em puríssima cachaça de Morretes. "É isso aí, pode escrever que eu garanto", enfatizou o sempre bem informado jornalista.
Ao prefeito, encaminhei a pergunta através de sua ágil Secretaria de Comunicação.
Pela mesma, recebi a resposta, vazada mais
ou menos nestes termos: "Sua Excelência considera vil e abjeta a pergunta que lhe foi em má hora apresentada, óbvia alusão a seus 178 quilos e alguns gramas, e mais isto e mais aquilo, ainda mais ig-nominiosa por fazer referência a um de seus mais caros idioletos , e que se apiede de vós a amantíssi-ma Mãe Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, e mais aquilo e mais isto, e assim sendo..."
Curiosíssimas foram as respostas obtidas numa reunião de Degustadores Anônimos de Guloseimas, a exemplo daquelas reuniões de degustadores de vinhos tão bem descritas pelo Luiz Groff. 'Ah! gosto de pitangas almiscara-das!", garantiu um. "Pitangas al-miscaradas colhidas com o orvalho da manhã", completou o segundo. "Sim, pitangas almiscara-das colhidas com o orvalho da manhã à tênue sombra de um pinheiro centenário no início da primavera", tentou ser definitivo um terceiro. "Nada disso, mas sim gosto de pitangas levemente passadas, colhidas no orvalho da manhã junto a bosta seca de uma vaca holandesa POl prenhe de tres meses", arrematou um último.
De meu primo João Carlos, o pragmático, que vem servindo a todos os governos desde Jaime Canet, sempre em cargos de alta confiança, simplesmente obtive em resposta outra pergunta, acompanhada de uma cara de espanto:
- Ué, e você comia as balas Zequinha?!
Guido Weber é jornalista.
Pedro Franco Cruz
Num misto de surpresa e incredulidade, reparo que estas "300 histórias" já se encaminham para seu final e, até agora, ninguém ousou deitar falação sobre o mais célebre curitibano de todos os tempos.
Quem? Ora, quem! o Zequinha, é claro! O Zequinha das balas.
O que fora as balas Zequinha todo mundo sabe. E quem sabe não vai ficar sabendo aqui neste curto espaço.
Mas vale lembrar que, junto com Dalton Tre-visan, Zequinha foi o conterrâneo que até hoje mereceu mais artigos na imprensa, mais análises de estudiosos, estudos acadêmicos, teses universitárias, o escambáu.
Sobre ele, um marketólogo derramado - cuidado, sempre há um deles por perto, de plantão - escreveu tratar-se do exemplo mais acabado de revolucionária engenharia de original marketing, seja lá o que isso quer dizer.
Na outra ponta, foi louvado e cantando na "avenida", no samba-enredo de uma de nossas escolas de carnaval, o que fez Séigio Porto, vulgo Lalau Ponte Preta, revirar-se na tumba, mas desta vez de puro regozijo, diante de exemplo cabal de originalíssima construção da polca do polaco malucão - seja já o que isso venha a ser.
O caso é que, como dizia lá em cima, corríamos o risco de encerrar as "300 Histórias" (ou seriam 325??) cometendo a inenarrável injustiça de não mencionar neste espaço o simpático palhaço das mil caras, das mil profissões, das mil situações - até coveiro e enforcado foi, o coitado - e das raríssimas figurinhas premiadas.
Consegui algumas em meus anos de muito tique, bafo e roubalheira, mas prêmio que é bom , nécas de pitibiriba.
Por isso, minha vingança, tantos anos depois, tem a forma de uma singela pergunta dirigida a todo leitor maior de quarenta anos: voce, por acaso, lembra do gosto das tão afamadas balas Zequinhas?
Andei fazendo essa mesma pergunta por aí, a muitos antigos colecionadores de figurinhas Zequinha, até um padre, o vigário da paróquia de São Ambrósio, o Menor.
Ouvi de tudo como resposta. O padre Argelin, por exemplo, de primeiro enrubesceu ainda mais o caretão gordo e em seguida jurou, de mãos postas, que se tratava de algo assemelhado ao gosto de maná do deserto, que por sua vez, e segundo tratado do teólogo bizantino Equinócio de Sabâudia, assemelha-se ao gosto do pão ázimo embebido em adocicado vinho de missa.
Já o jornalista mais bem informado da cidade, Hélio Teixeira, reconheceu não se lembrar com exatidão, mas garantiu que procuraria se informar.
Exatos 4 minutos e 38 segundos depois, ele ligou para informar que uma fonte muitíssimo bem posicionada, e que por isso mesmo pedia sigilo, lhe garantira que as balas Zequinha tinha gosto de butiá conservado em puríssima cachaça de Morretes. "É isso aí, pode escrever que eu garanto", enfatizou o sempre bem informado jornalista.
Ao prefeito, encaminhei a pergunta através de sua ágil Secretaria de Comunicação.
Pela mesma, recebi a resposta, vazada mais
ou menos nestes termos: "Sua Excelência considera vil e abjeta a pergunta que lhe foi em má hora apresentada, óbvia alusão a seus 178 quilos e alguns gramas, e mais isto e mais aquilo, ainda mais ig-nominiosa por fazer referência a um de seus mais caros idioletos , e que se apiede de vós a amantíssi-ma Mãe Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, e mais aquilo e mais isto, e assim sendo..."
Curiosíssimas foram as respostas obtidas numa reunião de Degustadores Anônimos de Guloseimas, a exemplo daquelas reuniões de degustadores de vinhos tão bem descritas pelo Luiz Groff. 'Ah! gosto de pitangas almiscara-das!", garantiu um. "Pitangas al-miscaradas colhidas com o orvalho da manhã", completou o segundo. "Sim, pitangas almiscara-das colhidas com o orvalho da manhã à tênue sombra de um pinheiro centenário no início da primavera", tentou ser definitivo um terceiro. "Nada disso, mas sim gosto de pitangas levemente passadas, colhidas no orvalho da manhã junto a bosta seca de uma vaca holandesa POl prenhe de tres meses", arrematou um último.
De meu primo João Carlos, o pragmático, que vem servindo a todos os governos desde Jaime Canet, sempre em cargos de alta confiança, simplesmente obtive em resposta outra pergunta, acompanhada de uma cara de espanto:
- Ué, e você comia as balas Zequinha?!
Guido Weber é jornalista.