IGREJA DO COLÉGIO JESUÍTICO (CATEDRAL BASÍLICA DE SÃO SALVADOR) – SALVADOR, BAHIA
A atual catedral de Salvador é sem dúvida uma das mais belas igrejas já construídas em território brasileiro. Sua combinação entre pedra e talha dourada transmitem esplendor, equilíbrio e bom gosto em uma intensidade que não deixa nada a dever às construções contemporâneas do Velho Continente.
Entretanto, ela não foi inicialmente projetada para ser catedral – foi construída pelos discípulos de Santo Inácio de Loyola para ser igreja de um de seus colégios.
Sua história remonta à chegada oficial dos jesuítas no Brasil, no ano de 1549, quando instalaram, exatamente nesse local – o chamado Terreiro de Jesus – o Colégio de São Salvador. Era o primeiro empreendimento da Companhia de Jesus em terras brasileiras.
Como de costume, o primeiro templo edificado não seria a obra definitiva. Consta que a igreja provisória desse colégio foi reconstruída em 1552, e depois um terceiro edifício foi iniciado em 1561, por ordem do governador Mem de Sá.
Para conduzir as obras de aumento do Colégio, em 1577 veio de Portugal o Padre Francisco Dias, que havia trabalhado no canteiro de obras da igreja de São Roque em Lisboa. Após uma série de melhorias, em 1604 outro padre, Fernão Cardim, decide reedificar inteiramente a igreja.
Mas esse projeto foi interrompido com a invasão holandesa de 1624 (mais detalhes no artigo sobre a igreja do Convento do Carmo), e ficaria suspenso até a expulsão definitiva deles, ocorrida em Pernambuco, em 1654.
Com o retorno da estabilidade, começou-se a discutir a nova edificação: qual parte do terreno deveria ocupar, que tamanho deveria ter, e, sobretudo, como seria o aspecto arquitetônico e artístico. Segundo consta, a intenção era fazer o novo templo seguindo as linhas gerais da Igreja do Colégio de Jesus – atual Sé de Coimbra, e da igreja do Colégio de Santo Antão de Lisboa.
No ano de 1655 o padre Simão de Vasconcelos enviou ao Superior Geral os detalhes do financiamento da construção (relatório das doações em dinheiro e em outras espécies, inclusive açúcar). O maior doador foi o capitão Francisco Gil de Araújo, que assumiu sozinho as despesas de toda a capela mor.
German Bazin relata que os doadores puseram algumas condições, dentre as quais se destacam: Que fosse edificada rapidamente para que pudessem ver o resultado em vida; que a parte principal da cantaria viesse já lavrada do Reino, como lastro de navios; que fosse edificada no meio do Terreiro de Jesus; que o projeto fosse o do padre Francisco Gonçalves, predecessor do do Pe. Simão de Vasconcelos, e que havia sido aprovado quase que por unanimidade; que as missas e sepultamentos fossem as propostas em detalhes pelos doadores.
No mesmo ano as pedras começaram a ser entalhadas em Lisboa, sob a supervisão do padre Antônio Vaz. No ano de 1657, os primeiros carregamentos dessas cantarias chegaram ao Brasil, e a pedra fundamental foi depositada em julho daquele mesmo ano.
Mas o plano final aprovado não foi aquele votado pelos doadores, mas sim o de outro padre, Belchior Pires, porque o projeto dele não obrigava a demolir nada do que já estava construído, sendo ao final menos custoso.
Enquanto o edifício era levantado, diversos religiosos da Companhia se encarregaram de esculpir a talha da capela-mor. E em 1672 a igreja, em sua parte estrutural, estava terminada.
Faltava a decoração das diversas capelas laterais, que, no caso de uma igreja de ordem religiosa, são feitas para permitir que todos os sacerdotes residentes celebrem ao menos uma missa diária, muitas vezes de forma simultânea.
Em 1694 consta que sete dessas capelas já estava prontas e douradas, e uma oitava em fase de acabamento. Assim como na talha da capela-mor, nessas capelas laterais todas as obras de douração e entalhamento foram feitas por irmãos jesuítas, originários de Lisboa, Coimbra e de Braga. Em alguns dos altares eles utilizaram o estilo maneirista, que há algum tempo já não era mais utilizado em terras brasileiras.
No ano de 1696, os jesuítas venderam uma fazenda que havia sido doada por Manuel Pereira Pinto e sua esposa Antonia de Gois, para que, com sua renda, fosse financiado o término das obras, sobretudo àquelas referentes à decoração da capela dedicada a São Francisco de Borgia.
Abaixo, um dos altares do transepto, dedicado ao fundador, Santo Inácio de Loyola.
Simultaneamente à igreja, foi construída uma grande sacristia, decorada com mármores coloridos vindos da Itália. Ademais, consta que há pedras de origem indiana na igreja, trazidas como lastro de navios portugueses em 1691.
Os armários da sacristia foram entalhados por irmãos jesuítas, em jacarandá, com encartes em madrepérola. Além disso, há diversas telas representando cenas da vida de Jesus e de Maria.
Outras capelas laterais foram sendo executadas ao longo do século XVIII: o da capela de Cristo Crucificado (1719), a de Nossa Senhora da Conceição (1722), e a de Sant’Ana (1723). Assim, a igreja ficou com um total de 13 altares de talha dourada.
Em 1746 foi colocada uma grande imagem de Cristo sobre o arco cruzeiro, e na mesma época foram acrescentadas três imagens acima dos pórticos externos: uma de Santo Inácio, outra de São Francisco Xavier e uma terceira de São Francisco de Borgia.
Com a expulsão dos jesuítas, em 1759, a igreja e o colégio ficaram desertos, e então a Sé episcopal foi transferida para este local, pois a antiga Sé bahiana estava em ruínas.
Quanto ao colégio, ele funcionou como hospital militar, até ser transformado, em 1833, em uma faculdade de medicina.
Atualmente a Igreja de São Salvador é a Catedral Basílica de Salvador.
REFERÊNCIAS:
– BAZIN, German – L’Arquitecture Religieuse Baroque au Brésil, Tome II, Paris: Librairie Plon, 1958
– TIRAPELLI, Percival; Pfeiffer, Wolfgang, As mais belas igrejas do Brasil, São Paulo: Metalivros, 1999
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