Julio Garmatter: O Palacete que se Tornou Museu — A História Arquitetônica de um Símbolo Curitibano
Em uma das colinas mais nobres de Curitiba, no bairro do Alto São Francisco, ergue-se um edifício que transcende a função de mero imóvel. É um testemunho de uma era, um monumento à arquitetura moderna em ascensão, e um símbolo da transformação urbana da capital paranaense. Conhecido hoje como o Museu Paranaense, este majestoso palacete foi originalmente concebido para abrigar a residência de um dos homens mais influentes de sua época: Julio Garmatter.
A história deste edifício não é apenas uma crônica de pedra e cimento — é uma narrativa de ambição, inovação e memória coletiva. Uma história que começa em 1928, com um projeto audacioso, e termina — ou melhor, continua — em 2025, como patrimônio cultural e espaço de difusão da identidade paranaense.
O Homem por Trás do Palacete: Julio Garmatter
Julio Garmatter não era apenas um empresário ou um homem rico. Era um visionário. Um dos grandes nomes da indústria e do comércio curitibano na primeira metade do século XX, Garmatter foi um dos principais impulsionadores da modernização da cidade. Seu nome está ligado ao desenvolvimento de infraestrutura, à construção de prédios comerciais e residenciais, e à criação de empresas que moldaram a economia local.
Quando decidiu construir sua residência particular, em 1928, escolheu não apenas um terreno privilegiado — na Rua Dr. Kellers, no Alto São Francisco —, mas também um estilo arquitetônico que refletisse sua posição social e sua visão de futuro: o concreto armado, material revolucionário para a época, símbolo de modernidade, resistência e progresso.
O Projeto: Uma Obra de Arte em Concreto Armado
O projeto arquitetônico do Palacete Garmatter foi elaborado com rigor técnico e sensibilidade estética. Com área total de 1.145,31 m², distribuídos em dois pavimentos principais, sótão e porão, o imóvel foi projetado para ser uma residência de grande porte, adequada ao status de seu proprietário.
As plantas e fachadas, registradas em seis pranchas pelo Departamento de Obras e Viação do Paraná em 14 de outubro de 1937, revelam uma estrutura equilibrada, funcional e elegante:
- Fachada Principal: Simétrica, com linhas retas e volumes bem definidos, marcando a entrada principal com destaque.
- Fachada Lateral (Rua Ébano Pereira): Menos formal, mas igualmente cuidada, com janelas amplas e varandas que sugerem a integração entre interior e exterior.
- Corte Transversal e Implantação: Mostra a distribuição vertical do edifício, com o porão destinado a serviços, o térreo para circulação e recepção, e os andares superiores para dormitórios e áreas íntimas.
- Planta Baixa do Terraço e Primeiro Pavimento: Revela a organização dos espaços sociais, com salas amplas, jardins internos e circulação fluida.
- Planta Baixa do Pavimento Térreo e Subsolo: Detalha as áreas de serviço, garagem e depósitos, evidenciando a funcionalidade do projeto.
- Projeto do Muro na Rua Dr. Kellers: Um elemento de segurança e representação, com portões e grades que reforçavam a exclusividade da propriedade.
Tudo isso foi executado em concreto armado, material ainda raro e caro em Curitiba na década de 1930. O uso desse material não foi apenas uma escolha técnica — foi uma declaração de modernidade, de força, de permanência.
A Construção e a Transformação: Do Palacete à Instituição Cultural
Embora o alvará de construção não esteja documentado nos registros disponíveis, sabe-se que o palacete foi concluído na década de 1930 — como atesta a fotografia histórica da época, que mostra o edifício já habitado, com suas janelas brancas, telhado inclinado e jardins cuidadosamente planejados.
Com o passar dos anos, o palacete passou por diversas transformações. Em algum momento, deixou de ser residência privada e foi adaptado para fins públicos. Em 2012, estava existente e em uso, já como Museu Paranaense — um espaço dedicado à preservação e divulgação da história, arte e cultura do estado do Paraná.
Essa transição — de residência de elite para museu público — é emblemática. O mesmo edifício que outrora abrigou a vida privada de um homem poderoso tornou-se, décadas depois, um espaço de acesso democrático à memória coletiva. O concreto que sustentava a opulência de uma família passou a sustentar a identidade de um povo.
A Arquitetura como Testemunha da História
O Palacete Garmatter é mais do que um edifício. É um documento arquitetônico que conta a história da Curitiba moderna. Ele representa:
- A ascensão da classe média e alta no período entre as duas guerras;
- A adoção de novas tecnologias construtivas — o concreto armado, que permitiu maior liberdade de forma e maior durabilidade;
- A mudança nos padrões de moradia — das casas coloniais às residências de grande porte, com áreas de lazer, jardins e espaços funcionais;
- A transformação da cidade — do núcleo histórico para os bairros nobres em expansão, como o Alto São Francisco.
As fotografias do palacete — tanto a da década de 1930 quanto a de 2008, capturada por Elizabeth Amorim de Castro — mostram que, apesar das modificações, a essência do projeto permanece intacta. As linhas, os volumes, os materiais — tudo ainda respira a mesma aura de solidez e elegância.
O Legado de Julio Garmatter: Mais do que Pedra, Memória
Hoje, quando visitamos o Museu Paranaense, estamos não apenas diante de um acervo de arte e história — estamos diante da história viva de Curitiba. Estamos diante do legado de um homem que, ao escolher construir sua casa com concreto armado, escolheu também construir um futuro.
Julio Garmatter pode não ser mais lembrado pelos seus negócios ou pelos seus lucros — mas será lembrado pela sua casa. Pela sua arquitetura. Pela sua contribuição à paisagem urbana da cidade. E, sobretudo, por ter deixado um espaço que, hoje, serve a todos — não apenas aos poucos, mas a muitos.
Preservar é Honrar
Se você já passou por lá, se já entrou no Museu Paranaense, se já admirou suas paredes, seus jardins, suas salas — saiba que está pisando em um pedaço da história viva de Curitiba. Um pedaço que merece ser protegido, estudado, celebrado.
Porque, assim como o concreto armado que o sustenta, o legado de Julio Garmatter é feito para durar.
#JulioGarmatter #MuseuParanaense #ArquiteturaCuritibana #ConcretoArmado #PalaceteGarmatter #HistóriaDeCuritiba #AltoSãoFrancisco #PatrimônioCultural #ArquiteturaDoSéculoXX #MuseuEHerança #CuritibaHistorica #ProjetoArquitetônico #EngenhariaBrasileira #ResidênciaDeGrandePorte #MemóriaUrbana #PreservaçãoArquitetônica #InovaçãoNaConstrução #HistóriaViva #CulturaParanaense #DeniseGRupollo #ElizabethAmorimDeCastro #DepartamentoDeObrasEViação
Eduardo Fernando Chaves: Projeto e Cálculo
Denominação inicial: Projecto do Palacete para o Snr. Julio Garmatter
Denominação atual: Museu Paranaense
Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Grande Porte
Endereço: Rua Dr. Kellers (Alto São Francisco)
Número de pavimentos: 2 (mais sótão e porão)
Área do pavimento: 1.145,31 m²
Área Total: 1.145,31 m²
Técnica/Material Construtivo: Concreto Armado
Data do Projeto Arquitetônico: 1928
Alvará de Construção:
Descrição: Projeto Arquitetônico para a construção do Palacete Garmatter e fotografia do imóvel.
Situação em 2012: Existente
Imagens
1 - Projeto da Fachada Principal.
2 - Projeto da Fachada Lateral para a Rua Ébano Pereira.
3 - Corte transversal e implantação.
4 - Planta baixa do terraço e primeiro pavimento.
5 - Planta baixa do pavimento térreo e subsolo.
6 - Projeto do muro na Rua Dr. Kellers.
7 - Fotografia do Palacete na década de 1930.
8 - Fotografia do Palacete em 2008.
Referências:
1, 2, 3, 4, 5 e 6 - PARANÁ. DEPARTAMENTO DE OBRAS E VIAÇÃO. Secção Técnica. Projecto do Palacete para o Snr. Julio Garmatter à Rua Dr. Kellers (Alto São Francisco). Curitiba, 14 de outubro de 1937. Plantas, cortes e fachadas apresentadas em seis pranchas. Cópia autentica executada pela Secção Técnica do Departamento de Obras e Viação. Levantamento arquitetônico, em cópia heliográfica.
7 - Coleção Palacete Garmatter.
8 - Fotografia de Elizabeth Amorim de Castro (2008).
1 - Projeto da Fachada Principal.
2 - Projeto da Fachada Lateral para a Rua Ébano Pereira.
3 - Corte Transversal e implantação.
4 - Planta Baixa do terraço e primeiro pavimento.
5 - Planta baixa do pavimento térreo e subsolo.
6 - Projeto do muro na Rua Dr. Kellers.
7 – Fotografia do Palacete na década de 1930.
8 – Fotografia do Palacete em 2008.
Acervo: Secretaria de Estado da Cultura do Paraná; Denise G. Rupollo.








