quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

ENTRANDO COM TAUNAY NA GRUTA DE "TAPERUÇU"

 ENTRANDO COM TAUNAY NA GRUTA DE "TAPERUÇU"

Alfredo d'Escragnolle Taunay, foi presidente da Província do Paraná entre 1885 e 1886, ficando no cargo pouco mais de um ano, sua ação “mais famosa” foi a inauguração do primeiro parque da cidade, o Passeio Público, em 02/05/1886.
Em suas andanças pelos cantões do Paraná visitou a gruta de "Taperuçu", tendo escrito sobre ela:
"Foi a 10 de dezembro de 1885 que visitei a gruta de Taperuçu ainda mal conhecida e imperfeitamente explorada e sita no município de Votuverava, umas 61/2 léguas de Curitiba, a rumo de N. e N. e.
É larga a entrada e dá em grande rampa, a cuja base corre com estrépito e por entre grossas pedras soltas um riacho de águas sobremaneira claras e frias.
Desde logo se faz completa a escuridão. acesos archotes e velas vêem-se uma abóbada irregular a destilar umidade, toda revestida de alvíssima camada de calcário. Caminhando para o interior, encontra-se chão muito áspero e irregular, pejado de blocos arredondados ou de configuração singular, começando a aparecer estalagmites, uns correspondentes a estalactites, outros a panos desdobrados ou concreções de forma radiantes, mais ou menos perfeitas.
O visitante, pulando com algum risco de pedra em pedra, já se abaixando e quase de cócoras, já se agarrando a proeminências escabrosas, algumas até cortantes, a subir sempre e deixando à direita e à esquerda ga- lerias, chega ao segundo pavimento e penetra em sala não muito espaçosa, mas em que o agrupamento concrecionário e a disposição dos estalactites, sobretudo, são em extremo notáveis, figurando vários objetos e manufa- tos, que a imaginação popular foi denominando por aproximações mais ou menos exatas e felizes e que a luz artificial reveste de inúmeros pontos cintilantes do mais belo efeito cênico.
Do teto e quase a meio dessa nova sala, desce um como que feixe de canudos, que sustenta grandiosa concha invertida, toda cheia de estrias e terminada por pontas, que se vão afinando cada vez mais. e no extremo de cada uma delas brilha e refulge, tremulante como encantada gema, pu- ríssima gota de água, que, antes de lá chegar, correra rápida e viva pelos canalículos do sustentáculo e da concha.
Quanto dê a luz das velas, pois jamais ali se levam archotes a fim de ser poupado o ar respirável, observa-se por toda a parte, nos me- nores recantos, nos inúmeros nichos e nas reentrâncias do alvinitente re- vestimento o mais primoroso trabalho, imitando, já agulhas agrupadas, de todos os tamanhos e feitios, umas muito agudas, eretas, filiformes, outras curvas e grossas como tubos de órgão, já rendilhados, gregas, arabescos e lavores de mil desenhos e conformações, caprichosos e tão delicados e pe- regrinos que não há olhos bastantes para admirar e colher de pronto; tudo, porém, molhado e a ressumbrar umidade e, portanto, em via de contínua transformação e mudança.
as estalagmites, que se erguem do chão, infelizmente quase lo- doso, e que vão, com o incessante gotejar da água, caminhando ao encon- tro dos estalactites a descerem muito mais rapidamente9 da abóbada, são umas grossas e cilíndricas como alvejantes frades-de-pedra, outras cônicas e afuniladas.
À direita de quem entra, há outro corredor ou galeria, que leva ao terceiro pavimento; mas tão empinada é a rampa, as paredes tão juntas e apertadas, o teto tão forrado de agudas pontas e agulhas e por tal modo resvaloso o solo, que raros se arriscam à perigosa tentativa, muito embora, segundo se diga, essa terceira sala a que se chega depois de curta subida seja ainda mais curiosa e bela do que todas as outras.
Na visita que fiz à gruta do Taperuçu, acompanhado de umas vinte e cinco a trinta pessoas, ninguém passou além, mesmo porque um dos cavalheiros da comitiva, buscando caminhar sem vela e mais depressa do que convinha, escorregou e caiu em uma espécie de sumidouro de talvez quatro metros de altura. Felizmente não perdeu o sangue-frio; foi- se amparando com as mãos, agarrando-se às pontas dos estalagmites, que pôde alcançar e só se magoou nas costas, isso mesmo levemente.
Foi parar, mais rapidamente do que desejara, à sala de baixo e rolou ao lado do Dr. Ermelino de Leão, que, preocupado só com o exame que estava fazendo de umas concreções, lhe disse distraidamente: “já sei que me trás o martelo!” “Qual martelo, qual nada! O diabo leve gruta, martelo e vocês todos!”, bradou o outro, a soltar engraçados gemidos de dor e maldições.
Este episódio, que terminou jocosamente, quando poderia ter dado lugar a lutuoso desastre, pôs fim à nossa visita, tanto mais quanto estávamos molhados da cabeça aos pés, não só por causa da umidade, que de todos os lados exsudava, como do violentíssimo aguaceiro que nos colhera entre a Tranqueira e a gruta, num descampado largo, em que não havia abrigo possível.
Às 10 horas da noite entrávamos em Curitiba.
Se a mão do homem, inteligentemente dirigida, se empenhasse em dar mais alguma comodidade ao ingresso daquela enorme caverna, melhorasse as suas condições internas e fizesse realçar as suas muitas belezas em vez de servir só para destruir, a poder de picaretas, alviões e martelos, as mais interessantes e bem lavrados estalactites e estalagmites, fora a gruta de Taperuçu motivo de lindíssimo passeio e digna de ser apreciada por quantos chegassem ao planalto
Visconde de Taunay, publicado no seu livro "Paisagens Brasileiras".
Paulo Grani

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APÓS O NAUFRÁGIO DO NAVIO PIRATA EM PARANAGUÁ

 APÓS O NAUFRÁGIO DO NAVIO PIRATA EM PARANAGUÁ


Nenhuma descrição de foto disponível.No ínicio de 1718, entrou na baia de Paranaguá vinda de Valparaizo do Chile com uma grande carga em prata, hum galeão espanhol, do qual era Capitão Mr. Bolorot. Fundeou para abastecer-se de água e mantimentos antes de voltar para a Europa.
Naquelas águas também estava a sumaca armada Louise (o navio pirata) que, vendo a embarcação francesa decidiu tentar apossar-se da mesma.
Numa manobra arriscada durante ventos e trovoadas, na ocasião, o navio pirata bateu numa laje na ponta da Cruz da ilha da cotinga, vindo a naufragar.
Poucos foram os piratas que sobreviveram e que foram capturados. Nos interrogatórios que se seguiram soube-se que a embarcação pirata tinha dois capitães, um inglês e outro francês que, na época do naufrágio encontravam-se em diputa pelo cargo. Também soube-se que já haviam pilhado outros navios e que existiam a bordo 2 cofres com os tesouros conseguidos.
No dia 3 de junho de 1719, o Doutor Ouvidor Geral Rafael Pires Pardinho, como Provedor da Fazenda dos Defuntos e Ausentes, informa a El Rei Dom João V, por via do Conselho Ultramarino, a notícia do naufrágio e que havia ordenado a arrecadação de tudo o que se pudesse salvar do mesmo. Informou também que foram entregues ao Almoxarife das Armas 2 espingardas, um cano de outra e um alfange que foram encontrados nas praias, além de um grupo de negros escravos.
Estes escravos foram postos em leilão e o valor recebido foi guardado para ser devolvido aos senhores dos mesmos, " ... que na Villa de Santos tinhão Procuradores que justificarão serem seus...".
Anos mais tarde, em 11 de setembro de 1730, é publicada nova comunicação informando à população da vila que: "... nenhua pessoa de qualquer qualidade e condição que seja, dos moradores dessa Villa e seus districtos, possão recolher em suas cazas e fazendas aos Buzios (nome dado a escravos mergulhadores) de João de Araujo Silva, e seus soçiosque andam na deligençia de tirarem o verdadeiro Coffre da nao (navio) pirata, que com os mesmos naufragou na ponta da Cotinga..., sem que logo os remeta aos seus Senhores, incorrem nas penas dos que costumão dezencaminhar a Real Fazenda de Sua Magestade..."
Esta comunicação foi publicada logo depois que um grupo de negros mergulhadores resgatou do naufrágio um cofre, com moedas de ouro e prata, armas e nove peças de artilharia em bronze.
Neste ponto, abre-se uma lacuna na história onde, aparentemente, não houveram outras tentativas de resgate.
Apenas em 1963, uma nova tentativa de resgate é proposta. Um grupo de São Paulo decide tentar, utilizando técnicas modernas, resgatar o que havia sido deixado e, talvez, um cofre contendo cerca de 200.000 cruzados (cerca de 250 Kg. de ouro).
As operações de resgate tiveram duas fases distintas, uma na década de 60 e outra nos anos 80. Nas operações foram resgatados: 29 canhões de ferro, 1 canhão de bronze, 1 sino de bronze, centanas de balas de canhão, colheres e garfos, cachimbos, arcabuzes, várias moedas de ouro e prata, uma imagem de Nossa Senhora da Vitória, um Cristo em marfim, além de outros objetos menores e de um maxilar inferior, talvez pertencente a um dos desafortunados piratas.
Os resultados podem não ter sido fabulosos, os métodos utilizados podem hoje sofrer grandes críticas mas este é o único caso em que a pesquisa de um naufrágio mereceu, aqui no Brasil, a emissão de um sêlo. (ver matéria sobre naufrágios nos sêlos).
Paulo Grani.

Mais parece uma imagem de calendário, mas é realmente uma foto tirada a pelo menos 80 anos atrás em Araucária - PR. Na foto o trator Fordson F puxava a semeadeira de tração animal, certamente semeando algum cereal ou pastagem. Nota-se que os dois homens olham para o fotógrafo, sr. Zdenec Gayer. A foto foi tirada na fazenda da família Gayer, em data desconhecida. (Foto: Acervo família Gayer / Arquivo Fotográfico de Araucária - Pr./Facebook) Paulo Grani

 Mais parece uma imagem de calendário, mas é realmente uma foto tirada a pelo menos 80 anos atrás em Araucária - PR.
Na foto o trator Fordson F puxava a semeadeira de tração animal, certamente semeando algum cereal ou pastagem. Nota-se que os dois homens olham para o fotógrafo, sr. Zdenec Gayer.
A foto foi tirada na fazenda da família Gayer, em data desconhecida.
(Foto: Acervo família Gayer / Arquivo Fotográfico de Araucária - Pr./Facebook)
Paulo Grani


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Plataforma de passageiros e cargas da Estação de Curitiba, da Estrada de Ferro Paranaguá -Curitiba, em 1958. Foto: Acervo Gazeta do Povo. Paulo Grani.

 Plataforma de passageiros e cargas da Estação de Curitiba, da Estrada de Ferro Paranaguá -Curitiba, em 1958.
Foto: Acervo Gazeta do Povo.
Paulo Grani.


Pode ser uma imagem de 5 pessoas, pessoas em pé e trem

OS NATAIS ENCANTADOS DAS LOJAS HERMES MACEDO

 OS NATAIS ENCANTADOS DAS LOJAS HERMES MACEDO

"Você se lembra de uma loja de departamentos no centro de Curitiba, que ficava na Rua Barão do Rio Branco? Dependendo da sua idade, talvez sua primeira bicicleta tenha vindo de lá. Mas é mais provável você lembrar do mágico Natal da Hermes Macedo. Entre os anos 1940 e 1990, a HM se vestia religiosamente para a festa.
Tudo era de encher os olhos, para crianças e adultos. Os corredores ganhavam enfeites e uma Gruta Encantada era montada no setor de brinquedos, no subsolo da loja, onde meninos e meninas escolhiam os presentes que gostariam de ganhar. Um presépio mecanizado, que era ícone da HM, completava o clima. A rua virava extensão da festa. “O arco de Natal causava acidentes: motoristas passavam por ali, ficavam encantados com o brilho e acabavam batendo o carro”, conta Sinval Martins, 83 anos, que foi chefe de propaganda da Hermes Macedo por mais de 20 anos, sobre o enfeite que conectava as duas calçadas da Barão do Rio Branco em frente à loja.
Um desfile com direito a carros alegóricos e funcionários fantasiados acompanhava a chegada do Papai Noel à loja, passando por ruas importantes do centro. Em certa ocasião, ele chegou de helicóptero com toda pompa e circunstância ao estádio Couto Pereira. “Queríamos que Curitiba tivesse a grande festa do ano durante o Natal. Por isso, decidimos criar um ponto de referência na cidade, algo que as pessoas não deixassem de ver”, explica.
“Todo dia 24 de dezembro, por volta das 19 horas, meu pai levava minhas irmãs e eu para passear pela cidade e ver as decorações de Natal de todos esses lugares. E minha mãe aproveitava para colocar os presentes embaixo do pinheirinho. Quando voltávamos, diziam que o Papai Noel havia passado ali”, relembra o curitibano José Amaral (57), acerca de suas lembranças sobre os natais da H.M.
A decoração foi ficando cada vez mais complexa, e os bonequinhos de gesso deram lugar a personagens que tinham movimentos próprios. “Nós, que só começávamos a elaborar as ideias em julho, passamos a iniciar os preparativos em janeiro. A Móveis Cimo, as Lojas Prosdócimo, a HM da Barão e a casa de Hermes Macedo formavam o circuito de decoração que as pessoas não podiam deixar de ver no fim de ano”, diz Raul Janz, 68 anos, que trabalhou no departamento de decoração da loja entre 1969 e 1994, projetando e dando forma a toda essa operação natalina.
Naquela época, era difícil encontrar enfeites natalinos e poucas casas e comércios se enfeitavam, por isso o alvoroço era tão grande. As decorações de ruas e lojas eram um acontecimento. Grandes e iluminadas, feitas com capricho.
Hoje tudo é mais fácil. Mas por que nos sentimos saudosistas? Até mesmo quem não presenciou os Natais da HM parece sentir falta deles. Talvez porque, segundo Amaral, além de criar uma atmosfera lúdica, eles reforçavam as características únicas dos casarões do centro da cidade. As lojas mostravam a arquitetura do lugar e ajudavam a contar a históriada cidade."
(Extraído e adaptado de: Haus/Gazeta do Povo)
Paulo Grani

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Nenhuma descrição de foto disponível.Crianças e adultos se encantavam com as figuras que se mexiam nos diversos cenários montados na Gruta Encantada. Foto: Letícia Akemi/Reprodução.

Nenhuma descrição de foto disponível.Organizadores “vestiam” um fusca de bicho de pelúcia para um dos desfiles de Natal da HM. Foto: Letícia Akemi/Reprodução
Nenhuma descrição de foto disponível.Funcionários da loja vestiam as fantasias e desfilavam pelas ruas do Centro para receber o Papai Noel. Foto: Letícia Akemi/Reprodução.

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Estação de Marumbi 1979 - Serra do mar Pr. Foto: Herbert Graf.

 Estação de Marumbi 1979 - Serra do mar Pr.
Foto: Herbert Graf.


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ferrovia paranagua curitiba

 

ferrovia paranagua curitiba

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ferrovia paranagua curitiba

 

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LEÔNCIO CORREIA

 

LEÔNCIO CORREIA



Leoncio Correia, nasceu em Paranaguá no dia 1º de setembro de 1865, filho de João Ferreira Correia e de dona Carolina Pereira Correia. Foi um elo entre o passado e o presente: conviveu com a velha guarda — Emílio de Menezes, Olavo Bilac, Paula Ney, Machado de Assis, Coelho Neto — e com a nova, pois sua participação em movimentos posteriores ao lado dos contemporâneos foi intensa. Era considerado poeta pela crítica, mas foi um expressivo cronista. Legou à posteridade fontes importantíssimas de memória. O livro Meu Paraná é um retrato notável de locais e situações. Abolicionista e republicano, começou a atuar em Paranaguá.   Envolveu-se na Revolução Federalista ao lado dos legalistas, coincidindo a época com o mandato de deputado estadual que exercia. Esteve na Lapa, antes do cerco. Sempre ligado ao Paraná, especialmente a Curitiba e a Paranaguá, morou durante 50 anos no Rio de Janeiro, onde exerceu funções de alta projeção: diretor do Ginásio Nacional (Colégio de D. Pedro II), diretor da Instrução Pública do Rio de Janeiro e diretor da Imprensa Nacional e do Diário Oficial. Além da Academia Paranaense de Letras, pertenceu à Academia Carioca de Letras. Sua estréia na literatura deu-se com Flores Agrestes. Depois, vieram Perfis; Volatas; Boêmia do Meu Tempo; Panóplias; Evocações; Vultos e Fatos do Império e da República; A Verdade Histórica Sobre o 15 de Novembro; Parlendas de Palestras; O Barão do Serro Azul, entre outros. Este último, calcado em Para a História, de Rocha Pombo, serviu de base para Os Fuzilamentos de 1894 no Paraná, de David Carneiro, e mostra, em detalhes, os acontecimentos que envolveram o Estado durante o confronto entre pica-paus e maragatos.  Sua é a frase esculpida na própria herma, na Praça Osório: O meu desejo sempre foi diariamente ouvir o nome do Paraná falado, criticado, caluniado, elogiado, combatido, difundido, motejado, engrandecido, malsinado, mas nunca esquecido. Faleceu no Rio de Janeiro em 19 de junho de 1950. Seus restos mortais, anos depois, foram trasladados para Paranaguá e hoje repousam ao lado do Museu Histórico da cidade, no prédio que serviu ao antigo Colégio dos Jesuítas. É um dos fundadores da AcademiaParananense de Letras. Leôncio Correia (1865-1950)

HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO DO POVOADO DE PARANAGUÁ *

 

HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO DO POVOADO DE PARANAGUÁ *


IGREJA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DE PARANAGUÁ
O mais antigo marco da civilização do sul do Brasil - 1578

Histórico O topônimo Paranaguá deriva dos vocábulos indígenas Paraná = grande rio e goá = redondo, evidente alusão à baía que embeleza e enriquece o Município. As terras em que ele se localiza, por ocasião da primeira divisão administrativa do Brasil, pertenciam a Pero Lopes de Souza, Donatário da Capitania de Santo Amaro. A colonização originou-se da imigração de habitantes de São Vicente e de Cananéia que, entre 1550 e 1560, se estabeleceram na ilha da Cotinga, receosos de ataques por parte dos carijós. que dominavam o continente. Formou-se um arraial, progressivamente desmembrado no período 1575-80, pelo estabelecimento da população em terra firme, às margens do então rio Tagaré ou Taquaré, atual Itiberê. Em 1578, construiu-se a primeira igreja, sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário (há quem afirme datar de 1560-65 essa construção). A primeira leva de colonizadores sucederam-se outras, que se estenderam por todo o recôncavo, após terem entrado em contato pacífico com os silvícolas. A descoberta de minas de ouro na serra Negra contribuiu para o aumento da população, admitindo-se mesmo que dessas minas tenham saído, em 1580, as primeiras amostras de ouro brasileiro para a Corte Portuguesa. Embora seja esta a versão corrente, há quem deduza ter sido povoada essa parte do território brasileiro em época anterior ao Descobrimento, com base na afirmativa do historiador Roberto Southey referente ao naufrágio de Hans Staden. Segundo ele, Staden teria encontrado portugueses e castelhanos residindo e cultivando terras na costa de Superagui, em 1548 (ou em 1549, segundo outros). Quando da concessão de sesmarias, uma delas coube a Diogo Unhate, que a requereu em 1614, como recompensa por sua atuação, 29 anos antes, no combate aos carijós. Essa sesmaria ficava no Superagui. O afluxo de habitantes das vilas do Norte, atraídos pela mineração, atingiu seu máximo em 1640, quando chegou o bandeirante Gabriel de Lara, investido do governo militar do povoado. Tinha ele a atribuição de defender o território que, para a Metrópole, constituía posição de suma importância política e estratégica, pois se tratava de firmar o domínio português, contestado pela Espanha. Em 1646, antecipando-se as ordens da Metrópole, erigiu o pelourinho -símbolo da autoridade e da justiça D'E1 Rei. Dois anos depois, a povoação tornava-se vila. As eleições que então se verificaram foram as primeiras em todo o território que atualmente compreende o Estado do Paraná. A vila recém-instalada tornou-se, no período colontal, ponto de irradiação de povoamento e de organização de bandeiras. Segundo outros historiadores, desde 1640, o Governador Duarte Correia Vasqueanes, havia ordenado, do Rio de Janeiro, a ereção do pelourinho em Paranaguá, o que fora feito a 6 de janeiro, e assim reconhecida a necessidade de organização da justiça e da administração pública no arraial, até então sob a chefia discricionária dos prepostos reais junto ao serviço das minas auríferas. Uma Ata de vereança de 1654, em que figuram as assinaturas de Domingos Peneda e de João Gonçalves Peneda, e a existência de uma propriedade no Imbocuí, conhecida como Sítio dos Peneda, confirma a tradição de estar Domingos Peneda vinculado à fundação de Paranaguá. Sobre o fato, há referência no códice n.° 13.981, documento inglês do século XVII, atualmente integrando o acervo do Museu Britânico. Em 1711, a Coroa Portuguesa comprou dos herdeiros do donatário Pero Lopes de Souza as terras que lhe pertenciam, criando a Capitania de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá, que teve período de grande evidência na época. O progresso de Paranaguá deve-se, em parte, ao elemento estrangeiro: da corrente imigratória alemã vinda em 1829 para o Rio Negro, alguns colonizadores estabeleceram-se no litoral; entre os anos de 1871 e 1872, uma grande leva de italianos localizou-se nas terras junto à serra da Prata, dando origem a várias colônias, entre as quais estava o atual distrito de Alexandra, em 1896, várias famílias polonesas foram localizadas na colônia Santa Cruz. No movimento de que resultou a Proclamação da República, o Município se destacou por intensa propaganda, principalmente através de seu Clube Republicano, fundado em 1887, congregando os principais adeptos do novo regime, entre eles Nestor Vitor, mais tarde um dos principais críticos do movimento simbolista brasileiro. Já no período republicano (1902), inaugurou-se a iluminação elétrica pública; em 1908, instalou-se o serviço de telefones e, seis anos depois, o de abastecimento de água e a rede de esgotos. Em 1934, construíram-se as docas do porto de D. Pedro II, com 450 metros de cais acostável, passando Paranaguá a figurar entre os principais portos brasileiros. 


OURO Encontrar ouro nas terras do Brasil foi o grande sonho acalentado pelos portugueses desde os primeiros dias do descobrimento. Entre as regiões onde primeiro apareceram notícias de minas auríferas, e que mais esperanças despertaram de grandes êxitos, figurou Paranaguá. Terminado o ciclo de caça ao índio, continuaram os paulistas, agora estimulados pelo rei de Portugal, a penetrar os sertões em busca do ouro. A maioria dos bandeirantes rumava para o interior, para o norte, ou para o oeste, mas alguns resolveram caminhar para o sul, junto ao litoral. Ultrapassando um braço da Serra do Mar que se projeta até o litoral (a Serra de Taquari), acompanhando a costa por mais de 35 quilômetros, chegaram a um local onde o mar, avançando quase 50 quilômetros para o interior, interrompe o continente. A entrada da baía é marcada ao norte pela ponta Inácio Dias, ao sul pelo pontal do Sul e bloqueada pela presença de duas grandes ilhas – das Peças e do Mel. Passando por um dos canais que separam as pontas e a as ilhas, encontram-se no interior duas baías distintas. Uma, no sentido norte, é a das Laranjeiras, foz dos rios Serra Negra e Tagaçaba. À outra, na direção oeste, recebendo inúmeros riachos e com um bom porto natural, chamaram Paranaguá. Na lama dos ribeirões que corriam para a baía de Paranaguá, os paulistas encontraram o ouro que tanto procuravam. A notícia se espalhou, gente de São Vicente e do Rio de Janeiro veio tentar a sorte. No porto, à entrada da baía, nasceu uma vila: Paranaguá; no fundo, mais uma: Antonina. E mais para o interior, seguindo os ribeirões, uma terceira: Morretes. A descoberta do ouro nos ribeirões que deságuam na baía de Paranaguá trouxe gente e mais gente: de Santos, São Vicente, Cananéia, São Paulo e até do Rio de Janeiro. No começo os contingentes se fixaram na ilha de Cotinga, temerosos dos índios carijós. Aos poucos, mudaram-se para o continente, fundando Paranaguá, o primeiro núcleo populacional paranaense organizado pelos portugueses. A partir dele, inicia-se a ocupação das áreas próximas, tendo sempre o ouro como motivação. Paranaguá ganhará forma política e jurídica em 1646-1648, com a instalação do pelourinho e a organização de eleições para definir as autoridades da vila. As minas do litoral ficavam a oeste e ao norte da baía de Paranaguá. Os mineradores exploravam o cascalho dos rios usando a bateia. As minas mais famosas do litoral foram a do Pantanal, a Panajóias, Limoeiro, Marumbi, Serra Negra, entre outras. Mais gente foi chegando e subiu os rios que deságuam na baía de Paranaguá. Passaram a Serra do Mar para faiscar no Planalto ainda no século XVII. Em 1655 a Câmara de Paranaguá solicita ao governador do Rio de Janeiro a instalação de uma oficina de fundição na vila. Argumenta que a viagem com o ouro até Iguape para separar o quinto era perigosa. A reivindicação foi atendida e a casa de fundição passou a transformar em barras todo o ouro encontrado nos garimpos, colocando o carimbo real e cobrando o quinto. A circulação de ouro em pó ou em pepitas era proibida. As barras eram remetidas à Casa da Moeda do Rio de Janeiro, transformadas em moedas e enviadas a Portugal.  O sociólogo Octávio Ianni sustenta que a Comarca de Curitiba foi originalmente povoada por europeus chegados diretamente de Portugal a Paranaguá, provavelmente atraídos pelas minas de ouro da região, e que, em seguida, atravessaram a Serra do Mar com esse objetivo. Duas eram as rotas mais usadas para alcançar o planalto; pelo rio Nhundiaquara; e pelo vale do Ribeira, que nasce no segundo planalto paranaense, atravessa a Serra do Mar e deságua no litoral paulista. Estabelece-se um caminho até São Paulo, direto, sem cruzar a serra ou chegar ao litoral. As veredas abertas na travessia da Serra do Mar vão originar os primeiros caminhos que ligaram o litoral com o planalto, como o da Graciosa, Itupava e do Arraial. No Planalto a exploração atingiu grandes proporções. Garimpava-se na região de Curitiba, Assungui, Tibagi. As minas do Arraial Grande deram origem à cidade de São José dos Pinhais. Paranaguá destacou-se tanto a ponto de lhe conferirem, em 1660, o título e as responsabilidades de Capitania._ Assim permanecerá por meio século. O ano de 1725 assinala a separação das ouvidorias de São Paulo e Paranaguá. Todo o sul fica subordinado a Paranaguá, alongando-se os territórios até ao Rio Grande, ao Rio da Prata, inclusive o Uruguai. Passa-se mais de meio século e Paranaguá continua o mais importante porto situado logo acima das conquistas espanholas. A vila recebe as atenções e melhorias que lhe cabem como baluarte que se destinava a ser diante das ameaças espanholas após a anulação do Tratado de Madri. O ouro, entretanto, achou-se e se foi. Entre as providências diante da ameaça espanhola, figurou a construção de uma fortaleza. As obras começaram em 1767. Para diminuir as despesas da Real fazenda, o governador de São Paulo pediu que a Vila de Paranaguá auxiliasse como fosse possível. Os vereadores convocados para tomar conhecimento da solicitação revelaram que Paranaguá atravessava por essa época uma fase de extrema decadência econômica e social, pois deliberou: “Que atendendo ao miserável estado da terra, a seus moradores não lhes convinha contribuir com coisa alguma para a obra, pois que por limitada que fosse [a contribuição] a julgavam violenta [...] e distinguindo a qualidade dos seus moradores, se achariam só sessenta ou setenta com algum tratamento, sendo tudo o mais gente de pé descalço [...] que o ouro que produzia a comarca, compreendidas as vilas de Iguape, Paranaguá, Rio de São Francisco e Curitiba, não excedia, um ano por outro, pelo manifesto da Intendência, a cem libras pouco mais ou menos”. [Inserir mapa com a localização das minas de ouro, com as vias de penetração dos faiscadores e o local das minas principais] Do ponto de vista do colonizador, a mineração do ouro foi o primeiro ciclo econômico do Paraná e deixou aspectos positivos para o desenvolvimento da região. Possibilitou o povoamento do litoral, a fundação de Paranaguá, o desbravamento e colonização do primeiro planalto, então desconhecido, a fundação de Curitiba, a abertura e/ou consolidação de caminhos que uniram o planalto curitibano ao litoral vencendo a Serra do Mar. Esses caminhos constituiriam as vias de comunicação vitais para o desenvolvimento regional. Ébano Pereira e Gabriel de Lara  O primeiro chefe de exploração que aparece na história do Paraná como fundador de diversas povoações, entre elas Paranaguá, é Theodoro ou Eleodoro Ébano Pereira. Não se sabe a data exata de sua chegada a Paranaguá. Estima-se que tenha sido em princípios do séc. XVII. Por volta de 1650 já havia famílias no local onde se lançaram os fundamentos da primeira povoação formada em território do atual estado do Paraná. Ébano Pereira já estava em Paranaguá antes de 4 de março de 1649, data em que comunicou à Câmara, instituída nesse ano, sua qualidade oficial de Administrador das Minas. “A única autoridade derivante do Governo-Geral do Rio de Janeiro com jurisdição nesse distrito do sul era a dele próprio”, conforma Romário Martins. Ébano Pereira ficou pouco na povoação da qual foi um dos fundadores, à margem esquerda do Itiberé, numa bela planície, de acordo com Rocha Pombo.  Ao que tudo indica, o primeiro capitão-mor de Paranaguá foi Gabriel de Lara. Ele exerceu muitos cargos na antiga comarca de Paranaguá: por volta de 1640 era Capitão-mor, e em 1669 ainda era Ouvidor da comarca. Foi sob Gabriel de Lara que se levantou o pelourinho, tanto em Paranaguá (1646) como em Curitiba (1658). Gabriel de Lara não foi o primeiro a se estabelecer em Paranaguá. Quando chegou à povoação, já encontrou muitos pioneiros de seu povoamento. Em maio de 1632, Gabriel de Lara residia na vila de Iguape e antes de 1646 em Paranaguá, onde se dedicava a descobrir jazidas de ouro. Em 1646, estava em São Paulo anunciando descobrimentos de ouro no distrito que estava povoando. A história de Paranaguá, à luz de documentos, começa com a ação de Gabriel de Lara: o seu povoamento, o descobrimento de ouro, a organização social, a sua fundação política e administrativa. Lara é o capitão-mor, o ouvidor, o alcaide, o lugar-tenente do donatário (Marquês de Cascais), o governador da Capitania em nome de El-rei. A partir de 1640 e até 1682, quando faleceu, Gabriel de Lara ocupou todos os postos do poder público na terra que encontrou como núcleo indeciso de aventureiros. Por isso é celebrado pela história oficial como o homem que soube conduzir e desenvolver o povoado, tornando-o o mais importante centro de civilização em seu tempo de todos os confins meridionais da Colônia, depois de São Vicente.