segunda-feira, 1 de maio de 2023

JOÃO GUALBERTO – O DEFENSOR DO PARANÁ

 

JOÃO GUALBERTO – O DEFENSOR DO PARANÁ

PARTE 1

João Gualberto Gomes de Sá Filho (Maçom pertenceu a Loja Luz Invisivel

Curitiba-Paraná.

CORONE_1(Recife, 11 de outubro de 1874 – Irani, 22 de outubro de 1912) foi um militar brasileiro.

Filho de João Gualberto Gomes de Sá e Júlia Bezerra Cavalcanti de Sá, em 26 de setembro de 1890, aos dezesseis anos de idade, ingressou na Academia Militar das Agulhas Negras do Rio de Janeiro, graduando-se como alferes em 1894. Posteriormente mudou-se para o Paraná e casou-se com Leonor de Moura Brito, passando a viver em Curitiba.

Após ser promovido a Tenente, retornou ao Rio de Janeiro, formando-se engenheiro militar em 1901 e passando a servir no 13º Regimento de Cavalaria do Exército Brasileiro (Curitiba).

Desempenhou os cargos de engenheiro da linha telegráfica Curitiba-Foz do Iguaçu, comandante (e fundador) do Tiro de Guerra Barão do Rio Branco, e Ajudante de Ordens do Comando da 5ª Região Militar. Graduando-se também como Bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas.

A Republica 1903-1906

CORONEL1912

Nomeação de Coronel em 1912 Jornal A Republica

DISCURSODENOMEAÇAOCORONEL

Discurso de Nomeação de Coronel em 1912

(Nota-se um grande comprometimento com a causa publica e pode-se extrair muito da personalidade de nosso Grande Coronel João Gualberto através desse discurso)

Entre os anos de 1912 a 1916, ocorreu a maior guerra civil brasileira: A guerra do Contestado. Um conflito armado onde participaram mais de 30 mil pessoas, numa área geográfica de mais ou menos 48.000 km². Existia nessa época uma disputa territorial entre o Paraná e Santa Catarina

Os catarinenses queriam a divisa até os rios Negro e Iguaçu. Os paranaenses pretendiam descer até o rio Canoas.

Fazendeiros, posseiros, fanáticos religiosos, o exército nacional e as forças policiais do Paraná e Santa Catarina, lutaram naquela região e a transformaram num palco de sangrentos combates. Cada facção defendia suas idéias, suas aspirações eram políticas, religiosas, oportunistas ou apenas uma questão de sobrevivência.

“Vamos contar a história do herói paranaense João Gualberto e seu papel neste conflito.”

Em 1912, um falso monge chamado José Maria e seu seguidores, entram em território paranaense fugindo da policia catarinense. Desde o começo da década a região é percorrida pelo andarilho José Maria. Ele distribui remédios, prega as verdades do Evangelho e prevê o fim do mundo para quem não se dedicar a Deus. Centenas de devotos grudam-se nos passos e nos sermões do andarilho transformado em monge.

José Maria. Surgiu como curandeiro de ervas, apresentando-se com o nome de José Maria de Santo Agostinho. Ninguém sabia ao certo qual a sua origem, seu verdadeiro nome era Miguel Lucena Boaventura e, de acordo com um laudo da polícia da Vila de Palmas/PR, tinha antecedentes criminais e era desertor do exército.”

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Esse falso monge e o grupo de fanáticos e seguidores instalam-se no quadro santo de Taquaruçu, município de Curitibanos. As autoridades se assustam com a reunião de tantos pequenos fazendeiros e peões e com o estranho comportamento do dito monge, que exige deles uma disciplina de convento e de quartel. Fugindo da polícia de Santa Catarina, José Maria e os fiéis seguidores cruzam o Rio do Peixe e se transferem para o Irani, nas terras que o Paraná afirma serem parte do seu território.

Noticias chegam a Curitiba que esse falso monge e seus jagunços estariam assaltando fazendas da região de Palmas. Curitiba interpreta o fato como uma invasão catarinense e enviam forças policiais para prenderem os invasores e garantir a ordem pública. José Maria, já era conhecido na região, pois era foragido da cadeia de Palmas. Esse falso profeta se valia da ingenuidade cabocla para conseguir seus intentos.

GUALBERTO 1910

Em defesa do território paranaense, segue para os campos de Palmas o então Capitão João Gualberto Gomes de Sá Filho, que ao contrario de seu algoz, era um homem honrado, Bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas, tinha o curso do Estado Maior em Engenharia. Gualberto viveu, angariando uma massa de amigos e admiradores que o levaram a uma popularidade imensa, não só por suas qualidades pessoais de bondade, simplicidade, inteligência, cultura geral e profissional nas Forças Armadas, como também um desprendimento de coragem fora do comum. No dia 7 de setembro de 1910, o Tiro de Guerra Rio Branco, comandado por João Gualberto, venceu na cidade do Rio de Janeiro um concurso militar. O Paraná venceu todas as provas, e a volta do Capitão a Curitiba foi cercada de manifestações de carinho. A população curitibana saiu às ruas explodindo de orgulho e contentamento.

Em agosto de 1912, ao assumir o comando do Regimento de segurança do Estado, num dos trechos de sua Ordem do Dia, dizia estar orgulhoso e feliz por ter recebido tão importante missão e estava pronto para dar a vida pela Milícia Paranaense. Parecia estar premeditando sua morte.

Em meados de outubro, notícias davam conta de que o movimento fanático liderado pelo cognominado monge José Maria, tomava força na região de Palmas. Jose Maria incitava os camponeses a realizar saques e desrespeitar as autoridades constituídas. O Capitão João Gualberto segue para a área com pouco mais de 70 soldados, no intuito de aprisionar e conduzir amarrados a Curitiba os rebeldes. Já na área, quando a tropa transpunha um riacho, a única metralhadora caiu na água, molhando as fitas de lona com munição, incidente este que no combate traria conseqüências trágicas para a tropa. Na manhã do dia 22 de outubro a tropa estava nos campos do Irani, prepara-se para o combate. Eram três horas da madrugada, quando a infantaria inicia a marcha com seus homens. O comboio de munições com a metralhadora marcha no meio. Segue na retaguarda um pelotão de onze cavalarianos bem montados, com lanças. Mas o que o Capitão João Gualberto não sabia é que enfrentaria mais de 300 jagunços. Chegando ao acampamento do monge, Gualberto verificou que o mesmo estava vazio. Percebendo movimento nos matos ao seu redor começou a gritar “estender linha” e “assentar ferros”. Mas a metralhadora engasgava e não cuspia fogo. Era uma emboscada. A cena deve ter durado alguns minutos, porque logo os piquetes da cavalaria rebelde entrariam em ação. À frente deles vinha – como um possesso – o próprio José Maria, dando gritos medonhos. Investiram contra a tropa paranaense cem homens a pé, 50 a cavalo, seguidos de outros cem por trás da cavalaria. Parte da tropa sob as ordens do capitão Miranda, vendo a jagunçada enfurecida, desapareceu. O Capitão João Gualberto ficou encurralado entre o matagal da esquerda, o Itambé da direita e o banhado detrás. Gualberto mandou deitar corpos, tomou a fuzil do soldado Caldeira (que fugiu) e com essa arma fez fogo. Endemoniados, os jagunços combatem de arma nobre (arma branca) – facões de aço e porretes de três quinas – e assumem a ofensiva. No corpo-a-corpo os fuzis levam desvantagens para os pontaços. Durante cerca de meia hora, em terreno que conheciam a palmo, e no meio da mais formidável confusão (dentro da fumaceira que impedia a visão quase por completo), os fanáticos atacaram rijamente a pequena força policial que resistia junto ao Capitão João Gualberto. A cavalaria policial em fuga, já na estrada, continuava perseguida pelos fanáticos. Um tiro certeiro do tenente Busse põe um fanático no chão, determinando aos outros a desistirem de perseguir. Mesmo assim a cavalaria não voltou à carga, nem se pensou em reconstituir os fugitivos para uma nova tentativa. Miranda desaparecera depois de fraco tiroteio (ou de nenhum, segundo alguns) com a ala da esquerda do seu comando. Ficou só um pequeno grupo em torno do Capitão João Gualberto. A luta foi cruel, e a certa altura do combate, quando já não existia esperança e a tropa caindo em mãos dos jagunços, o Capitão João Gualberto num último esforço, já com as vestes rotas e ensangüentadas, gritava: “Avança! Fogo! Fogo!”. Nesta ocasião já estava ferido a bala no tórax, defendia-se com o braço esquerdo, com um mosquetão na mão direita, batia-se como podia, com inigualável bravura, apenas protelando o momento derradeiro de sua morte. Ferido no peito e esgotado de forças com a perda de sangue, João Gualberto cai, já com os punhos cortados a golpes de facão, recebendo o golpe de misericórdia do assassino José Fabrício Neves, que lhe produziu profundo ferimento no seu frontal. O falso monge também morre, com um tiro certeiro desferido pelo 2º sargento Joaquim Virgílio da Rosa.

Morreram ao redor de Gualberto, nove homens, dentre os quais devemos destacar o 2º sargento Virgílio, o soldado José Marinho, o cabo Rosa, o tenente Libindo e o sargento Cantídio que tombaram ao lado do seu comandante. Lembro também do alferes Sarmento que mesmo com um profundo ferimento a facão no olho esquerdo, tentou salvar seu Capitão abrindo caminho por entre os fanáticos, usando sua espada como uma clava até cair desmaiado (o alferes Sarmento sobreviveu ao combate e é homenageado hoje como o Patrono da PMPR).

João Gualberto, sacrificando-se pelo Paraná nos Campos funéricos do Irani, completou a sua personalidade.

Desapareceu João Gualberto, mas imprimiu-se uma página de Honra na História do Paraná.

Estava terminada a primeira parte dessa dolorosa tragédia que roubou ao Paraná e ao Brasil a figura de um bravo.

As causas do desastre foram a deficiência do armamento – a metralhadora não funcionou e os sabres punhais das carabinas caíam com os tiros dados, impedindo a defesa extrema à baioneta – bem como a fuga do Capitão Miranda e sua ala quando o combate teve início. Os que voltaram as costas ao combate haviam de levar um pouco do pânico que os atingira; mas também levariam muito de vergonha e de remorso, embora o pânico sempre seja compreensível quando não constitui ação premeditada e realizada a frio. É cabível pensar que uma ação valente da ala poderia decidir o assunto de outra forma visto que, com excesso de mortos e feridos e com a morte do falso monge, a maioria dos fanáticos fugiria (morreram 115 fanáticos).

O combate do Irani foi o estopim da guerra. Tropas federais foram enviadas para combater os jagunços revoltosos e fanáticos religiosos que começaram a reunir-se em torno de sucessores do falso monge. Calcula-se que entre 1912 e 1916 mais de 30 mil pessoas participaram do conflito (era a população de rebelados). Cada reduto rebelde era formado de 300 a 5 mil pessoas (foram 28 redutos) – lembrando que Canudos era um só reduto, 8 mil combatentes militares participaram das ações de guerra, 3 mil a 5 mil pessoas morreram. Pela primeira vez no mundo foi utilizado o avião como arma de guerra.

A Guerra do Contestado acabou como termina a noite: sem tratados, sem acordos, sem ata de rendição, sem vitória e sem glórias. O soldado regressa ao quartel. O revoltoso, sobrevivente aniquilado, resta calar.

No dia 20 de outubro de 1916, foi assinado o acordo de limites entre os Estados do Paraná e S. Catarina. O Paraná ficou com 20.310 quilômetros quadrados e S. Catarina, com 27.570 quilômetros quadrados. Os paranaenses cederam Itaiópolis, Papanduva e Canoinhas, mas recuperaram Palmas e Clevelândia.

Já que mencionei Canudos, gostaria de lembrar que o 39º Batalhão de Infantaria em Canudos era curitibano. O 39º foi o herói do ataque de 30 de setembro, o último e o mais grave da campanha. Os jornais exaltaram sua bravura. Destacando-se: Carmelo Rangel , o tenente Ângelo Sampaio, o alferes Poli, e o capitão Clementino Paraná.

Jornal curitibano cita: “ O 39º por fim regressou a Curitiba… Heróica e mártir, essa unidade, com grandes claros nas suas fileiras, foi aqui recebida com grandiosa manifestação de apreço público… Apoiado em muletas vinha um moço de dezenove anos, combalido por graves ferimentos. Era Carmelo Rangel”.

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Transporte do Corpo de João Gualberto de volta a Curitiba

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“ CONSPIRA CONTRA A SUA PRÓPRIA NAÇÃO, O POVO QUE NÃO CULTUA SEUS HERÓIS”

 

Relato de uma das ultimas testemunhas vivas

 

Raulino Corrêa de Souza tinha 9 anos quando as tropas do governo chegaram. Era fim de dezembro de 1915. A primeira coisa que se ouviu foram os tiros. “Parecia uma trovoada: bruuuumm!!!”, conta, imitando o barulho. Depois, os gritos e o alarido da fuga. Debilitado pela fome, ele mal conseguiu acompanhar a mãe e os primos, que escaparam da cidade da única maneira possível – atravessando um rio a nado. “Estava tão fraco que me joguei na correnteza de qualquer jeito”, recorda-se. “Achei que fosse me afogar, mas, de tão magro, nem afundei.”

Hoje com 94 anos, Raulino é uma das últimas testemunhas da Guerra do Contestado, o maior levante popular do Brasil e um dos menos conhecidos. Entre 1912 e 1916, os caboclos do sertão catarinense pegaram em armas contra tropas federais. O conflito, simultâneo à Primeira Guerra Mundial, foi esquecido pela imprensa da época e minimizado pelos livros de História. Ninguém sabe sequer quantos morreram. Podem ter sido 10 000 ou 20 000 indivíduos.

O estopim do confronto foi uma disputa por limites da chamada região do Contestado – um território maior que o do Espírito Santo, rico em florestas de araucária e pés de erva-mate –, que era reclamado por Santa Catarina e Paraná. “Mas a revolta teve sobretudo um caráter social e religioso”, disse à SUPER a historiadora Ivone Gallo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O que manteve os caboclos unidos foi a crença em um profeta conhecido como monge José Maria, um guerreiro místico como Antônio Conselheiro, que em 1896 liderou os camponeses de Canudos, na Bahia.O Contestado foi um movimento milenarista, ou seja, impregnado de temores apocalípticos e esperanças de salvação para os iniciados. Os caboclos acreditavam no fim deste mundo e no surgimento de outro melhor, sem fome nem miséria. “Até hoje a população local se refere ao episódio como a guerra dos fanáticos”, diz o historiador Paulo Pinheiro Machado, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ele está estudando o período final da contenda e há dois anos percorre a região atrás dos últimos “fanáticos”. É se valendo da memória deles – e de seus filhos – que os pesquisadores reconstroem a história do Contestado.

 

Profetas, posseiros e multinacionais

 

Os camponeses do planalto catarinense não se espantaram quando, em 1911, um peregrino chamado José Maria apareceu por ali fazendo rezas e curando doentes com ervas. Desde meados do século XIX a região era visitada por monges errantes. O mais famoso deles foi João Maria de Agostini, um milagreiro até hoje venerado como santo no Sul do país. Apresentando-se como irmão desse, José Maria alertava os caboclos para os males causados pela República, profetizava o fim da era de sofrimento e anunciava o início de muitos séculos de felicidade, com a volta da Monarquia.

O recado do monge empolgava os caboclos. Primeiros colonizadores do Contestado, eles haviam se estabelecido como posseiros nas terras devolutas – territórios desocupados pertencentes à União – do planalto, vindos, muitos, do Rio Grande do Sul, em meados do século XIX. Desde o início da República, em 1889, esses pioneiros foram sendo expulsos por latifundiários que apresentavam falsos títulos de propriedade.O processo se agravou em 1908, com a construção da ferrovia São Paulo–Rio Grande do Sul, que atravessava a região. Ao construir a linha, a empresa americana Brazil Railway Company ganhou do governo uma área de 15 quilômetros de cada lado dos trilhos para explorar a madeira dos pinheirais nativos. Todos os colonos instalados naquela área foram enxotados pelo corpo de segurança da ferrovia. O ressentimento aumentou.

Em fevereiro de 1912, José Maria participou de uma festa religiosa em um lugar chamado Taquaruçu, no município de Curitibanos, em Santa Catarina. Mas, depois da festa, em vez de voltar para casa, 300 camponeses ficaram ali, cantando e rezando por dias. Davam vivas a São João Maria e à Monarquia. Para o prefeito de Curitibanos, Francisco de Albuquerque, aquilo cheirava a conspiração. Albuquerque mandou um telegrama a Florianópolis pedindo uma força policial para desbaratar o ajuntamento de caboclos que havia “proclamado a monarquia” no sertão. “Os caboclos não eram monarquistas”, explica Ivone Gallo, da Unicamp.

 

“Para eles, monarquia significava oposição à República, o regime acusado pelas desigualdades sociais.”

 

Quando a polícia chegou, os caboclos fugiram. Alguns seguiram José Maria até a vila de Irani, no município de Palmas, hoje oeste catarinense, então administrado pelo Paraná. O governo paranaense tomou aquilo como uma provocação do Estado vizinho e mandou um destacamento de 64 homens a Irani. A ordem era levar os “invasores” amarrados para Curitiba.Acuados, os caboclos tiveram de lutar. “O José Maria mandou alguns de seus homens para espionar a movimentação da tropa. Então, preparou uma tocaia”, conta o historiador Vicente Telles, de Irani. Ao se aproximar da vila, num brejo, a tropa foi surpreendida por caboclos de facões em punho. Morreram 23 pessoas na batalha, incluindo José Maria. Mas ninguém ficou triste. “O monge havia profetizado sua morte”, afirma Paulo Pinheiro Machado, da UFSC. Só que havia, também, prometido o seu retorno. Os caboclos estavam tão certos disso que, em vez de enterrá-lo, só cobriram o corpo com algumas tábuas. A guerra havia começado.

 

Espíritos formavam tropa de elite

 

Depois da primeira batalha os fanáticos se dispersaram, para alívio do governo e da elite local. O sossego durou até outubro de 1913, quando uma menina de 11 anos, Teodora Alves Ferreira, começou a ter visões de José Maria em sonho. A “virgem” Teodora era neta de Eusébio dos Santos, um fazendeiro que havia combatido em Irani e acreditava na ressurreição do monge. “Nos sonhos, José Maria mandava os caboclos se juntarem de novo para criar uma cidade santa em Taquaruçu e esperar o fim do tempo de sofrimento”, diz Pinheiro Machado.

O governo federal já havia visto aquele filme antes, em Canudos. Mandou uma tropa para combater o reduto dos “jagunços” e, como em Canudos, apanhou feio. Mais uma vez, a tropa foi surpreendida pelos caboclos escondidos no mato. A vitória deixou a sacrossanta Taquaruçu em estado de graça. Os caboclos se julgavam invencíveis e acreditavam ter a ajuda do Exército Encantado, um pelotão celeste invisível comandado por São Sebastião, o santo guerreiro, que tinha como combatentes João Maria e todos os rebeldes mortos em Irani. De tão confiantes, chegaram a queimar todas as armas tomadas dos inimigos, consideradas “impuras”.

Eram confiantes, mas não suicidas. Sabendo que não poderiam resistir por muito tempo, mudaram a cidade santa de lugar. A 30 quilômetros de Taquaruçu, surgiu o reduto de Caraguatá. Em fevereiro de 1914, quando o governo mandou canhões para bombardear Taquaruçu, a maioria dos caboclos já havia ido embora. Mesmo assim, o bombardeio deixou noventa mortos.

Em Caraguatá começou a contra-ofensiva jagunça. Pequenos comandos de caboclos armados, os piquetes, atacaram fazendas, estações de trem e cidades. A vila de Curitibanos foi ocupada em 26 de setembro de 1914. As casas do prefeito Francisco de Albuquerque e de seus partidários foram incendiadas. “O curioso é que eles avisaram a população antes, para que os homens pudessem fugir”, conta Pinheiro Machado. Conhecedores do sertão, os rebeldes usavam táticas de guerrilha contra os militares. “A diversão deles era atacar de dentro da mata as colunas do Exército, que só marchavam em fila e em terreno limpo”, afirma o historiador.

Para antecipar os movimentos do inimigo, usavam espiões. Chamados de “bombeiros”, eles se disfarçavam de tropeiros ou pedintes para poder entrar nos acampamentos das tropas. Depois, relatavam o que viam e ouviam aos chefes do reduto, que preparavam a defesa.

Reconhecendo a inferioridade no terreno, o Exército passou a contratar vaqueanos, peões de fazenda ou capangas de coronéis armados para guiar as tropas e lutar contra os jagunços. “Acontecia muito de os vaqueanos terem parentes nos redutos e vice-versa”, comenta Pinheiro Machado. O fato de serem conhecedores do sertão tornava esses homens uma dor de cabeça para os jagunços. Mas os caboclos eram criativos. Infiltravam seus “bombeiros” entre os vaqueanos para guiar as tropas federais para emboscadas. Sabendo do pavor sertanejo de não ter um enterro cristão, desenterravam corpos de soldados mortos em combate e os deixavam pelo caminho, para aterrorizar os mercenários.

 

Massacre e limpeza étnica

 

Com a destruição de Caraguatá por uma epidemia de tifo, os jagunços se espalharam por vários outros redutos. Para garantir a sobrevivência, roubavam gado em fazendas vizinhas. Famintos e desesperados, muitos começaram a desertar. Alguns saíam dos redutos para se alistar no Exército.

Em dezembro de 1914, formou-se a vila de Santa Maria. Ela abrigava mais de 5 000 moradores e tinha a proteção de uma serra íngreme e de uma floresta densa – além, é claro, de todos os santos. Era tida como impenetrável.

O Exército não estava mais disposto a levar desaforo para casa. No final do ano, o general Setembrino de Carvalho (depois ministro da Guerra, de 1922 a 1926) foi incumbido de destruir Santa Maria. Carvalho era um militar experiente e tinha 7 000 homens à sua disposição. Montou uma operação gigantesca e atacou os quatro lados do reduto após cortar o abastecimento dos jagunços.

Em Santa Maria o clima era de terror. O líder, Adeodato Manoel Ramos, executava quem ameaçasse desertar. Centenas morreram de fome. Em março de 1915, uma frente de 2 000 soldados, comandados pelo coronel Tertuliano Potyguara, entrou na cidade. Todas as 5 000 casas foram queimadas e mais de 600 caboclos morreram.

Os sobreviventes de Santa Maria se juntaram outra vez, ainda sob o comando de Adeodato, nos redutos de São Miguel e São Pedro, e resistiram até o final de 1915. Mas foram finalmente derrotados por um piquete de 1 000 vaqueanos.

Desde 1914 começara uma “operação limpeza” na região. Sob o comando do capitão José Vieira da Rosa, os vaqueanos iniciaram uma caçada aos jagunços remanescentes no mato. “Muitos deles eram executados por esses civis, mesmo depois de rendidos”, afirma o historiador Nilson Thomé, da Universidade do Contestado, em Caçador. Um desses mercenários, Pedro Ruivo, era conhecido por tirar fanáticos presos da cadeia de Canoinhas e degolá-los à beira do Rio Negro.

Com a resistência quebrada e os rebeldes desbaratados, o conflito foi formalmente encerrado em 1916, com a assinatura de um tratado entre Paraná e Santa Catarina, que dividiu o território litigioso entre os dois – acabando o “contestado”. Para os caboclos que sobreviveram, restou trabalhar nas fazendas dos coronéis. Muitos abjuraram o movimento. Hoje, os descendentes não gostam de falar do conflito e vêem o passado dos pais e tios com vergonha. O Contestado é a região mais pobre de Santa Catarina. Foi uma guerra perdida.

Tirano humanizado

Adeodato Manoel Ramos, o Leodato, foi o último líder jagunço. Implantou o terror para inibir a deserção dos redutos e matou até a mulher.

Seu nome ficou na memória dos sertanejos como sinônimo de tirano sanguinário. Mas, em sua pesquisa, Paulo Pinheiro Machado descobriu o lado humano do jagunço. “Ele tirou milhares de Santa Maria quando o cerco apertou, evitando um massacre maior”, afirma. “Era adorado pelas crianças do reduto, que espionavam a conduta dos pais para ele.”

Algo maisApesar do nome, quase todos os combates da Guerra do Contestado aconteceram em território catarinense, fora da região disputada com o Paraná. O limite entre os dois Estados era o Rio Caçador (abaixo), hoje incorporado a Santa Catarina.

“Comemos até couro”

Raulino Corrêa morou na Cidade Santa de São Pedro, último reduto dos rebeldes caboclos, no noroeste de Santa Catarina. Fugiu com a família para o mato quando o Exército tomou a vila, em dezembro de 1915. Ele tinha 9 anos e não esquece a fome que sentiu nos meses finais da guerra. “A gente comia até broto de taquara pra não morrer”, conta. “Não tinha nenhum cinto de couro no reduto, porque comemos todos.” Depois de semanas escondida, a família se entregou aos militares.

Faroeste caboclo

Os combates se estenderam por um território de 28 000 quilômetros, maior que o Estado do Espírito Santo.

Oitenta e oito anos depois, o perfume das madressilvas é tudo o que se sente no campo de batalha de Irani. A marca sutil do combate são buracos de bala nos troncos das palmeiras

O monge José Maria, líder espiritual dos fanáticos, cercado por duas “virgens” em 1912, ano em que começou a guerra. Ele morreu na primeira batalha, mas os caboclos esperavam a sua ressurreição

Vingança sertanejaAs primeiras recordações de infância de Antônio Fabrício das Neves, 77 anos, são de longas caminhadas pela floresta no colo da mãe. “Ela ia visitar meu pai, que passou anos escondido no mato”, relata. O velho João Fabrício se escondia com razão. Ele havia combatido ao lado do monge José Maria na batalha de Irani. “Meu pai sempre contava que eles não queriam brigar. Mas o coronel João Gualberto (João Gualberto Gomes de Sá Filho, comandante da expedição derrotada) disse que ia levar todo mundo amarrado.” Suspeito de ter matado o chefe militar durante o combate, João Fabrício ficou com a cabeça a prêmio. Literalmente. “Mandaram um emissário de Curitiba para Palmas para acabar com ele”, conta Antônio, entre goles de chimarrão.

Mas o velho era esperto. “Tinha um primo dele que foi bombear (espionar) o assassino, fingindo ser inimigo do meu pai. Ele perguntou pro sujeito como é que fazia pra dar um fim no Fabrício. Aí o cara disse: ‘Foi pra isso que eu vim’.” Mataram o dito-cujo ali mesmo. “Salgaram o corpo, meteram num caixote de madeira e mandaram no trem pra Curitiba.” Vingança cabocla.

 

“A gente lutava obrigado”

Firmino Martim é um gaúcho de 106 anos que até hoje carrega no corpo as lembranças do Contestado, onde lutou como vaqueano do Exército. Tem um ferimento de bala na testa que nunca cicatrizou e acabou virando uma enorme verruga. O braço, também ferido, é semi paralisado. Apesar disso, não sente raiva dos fanáticos. “Muitos nos redutos eram como irmãos pra mim.” Seu Firmino tinha 19 anos quando foi servir a um fazendeiro de cujo nome ele nem se lembra. “Eles chamavam e a gente era obrigado a lutar”, conta. O governo dava aos fazendeiros uma diária de 500 mil-réis para pagar os vaqueanos. Mas eles embolsavam tudo. “A gente passava até dois meses no mato caçando jagunço, com fome, comendo até broto de xaxim.” O ex-vaqueano conta que os combates eram corpo a corpo. “Morria-se de lado a lado. A gente passava a cavalo e encontrava uns com as tripas de fora, gritando por socorro. Matávamos, de misericórdia.” Esse veterano de guerra não ganhou nenhum prêmio. Hoje está cego, doente e mora em um casebre sem luz elétrica no município de Jaborá.Infantaria cabocla

 

O uniforme dos jagunços.

Devoção

No chapéu era enrolada uma fita branca, com o comprimento exato de 1,70 metro. Era a altura do monge José Maria.

Pelados

Os soldados fanáticos raspavam a cabeça. Chamavam a si mesmos “pelados” e, aos governistas, “peludos”.

Bandeira branca

O estandarte com a cruz verde pintada era carregado sempre na mão esquerda. Muitas vezes era usado nos combates corpo a corpo para tapar a visão do inimigo.

Facão

Feito de ferro ou de madeira dura, como imbuia, capaz de adquirir fio, servia para cortar erva-mate nos tempos de paz. Era mortal na mão dos jagunços, que preferiam usá-lo a combater com armas de fogo.

Continua….

 

Hamilton Ferreira Sampaio Junior.’.

Fontes:

 

 Messianismo e Conflito Social, Maurício Vinhas de Queiroz, Editora Ática, São Paulo, 1981.

Contestado: O Sonho do Milênio Igualitário, Ivone Gallo, Unicamp, Campinas, 1999.

Contestado, Editora Index, Rio de Janeiro, 1987.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Gualberto_Gomes_de_S%C3%A1_Filho

http://nestorvianna.blogspot.com.br/2007/10/joo-gualberto.html

http://bndigital.bn.gov.br/

O DIA EM QUE OS PARANAENSES ABRIRAM FOGO CONTRA UM NAVIO DE GUERRA INGLÊS

 

O DIA EM QUE OS PARANAENSES ABRIRAM FOGO CONTRA UM NAVIO DE GUERRA INGLÊS

Apesar de serem países amigos e cordiais parceiros comerciais, na segunda metade do século XIX o Brasil e a Inglaterra tinham um ponto conflitante quando o assunto era o tráfico negreiro. A Inglaterra era totalmente contra a prática, enquanto os políticos brasileiros, em concordância com os fazendeiros latifundiários, procuravam ganhar tempo quando o assunto era a extinção deste comércio. Acordos já existiam, porém, mas sua aplicação não era executada na costa brasileira. 

 

Desde o início do século XIX já haviam tratados entre o Brasil e Inglaterra proibindo o tráfico de escravos da África para o Brasil, e estes assinados em 1826 e 1831 que não eram cumpridos.

O porto de Paranaguá no sul do país tornou-se o local preferido pelos traficantes de homens, os quais eram contrabandeados para outros locais. Existem documentos históricos que comprovam a entrada ilegal de escravos, inclusive com a conivência das autoridades locais e do próprio Delegado. Uma lei de 07/11/1831 bastante específica era simplesmente ignorada e o torpe contrabando de escravos se processava naturalmente.

Os ingleses que haviam abolido o seu tráfico para as suas colônias em 1807 pressionavam o Brasil de todas as formas para que acabássemos com esse comércio, inclusive sendo um dos itens embutidos no pacote de exigências para que reconhecessem a nossa Independência. Entretanto, o Brasil não cumpria o acordo.Ressalte-se que a história do tráfico de escravos nas costas brasileiras até hoje não foi bem escrita. É um capítulo que os historiadores ainda não se atreveram a esmiuçá-lo.

Só no Rio de Janeiro, não mencionando as outras províncias, durante o período de 1796 a 1830 atracaram 1.576 navios negreiros desembarcando mais de 700.000 escravos.

 

Como os brasileiros não se dignavam a cumprir tais tratados, em 08/08/1845, o Parlamento Inglês aprovou o lei Bill Aberdeen , para reprimir o tráfico negreiro uma lei que permitia a apreensão de navios negreiros, mesmo que fosse em águas territoriais do país que exercesse o torpe trafico de homens e em especial do Brasil, nem que fosse para invadir seus portos prender e destruir os navios que contrabandeavam seres humanos e os navios de Sua Majestade cumpriram com determinação e rigor esta ordem. Para a costa brasileira algumas naves britânicas, baseadas no Rio da Prata, foram orientadas a intensificar esta atuação no início de 1850

Apesar da então poderosa Inglaterra ter aprovado uma lei tão unilateral, em verdade, mesmo em face do empenho das autoridades brasileiras, o contrabando de escravos neste país era uma calamidade. Tratava-se inclusive de um problema cultural e econômico, pois o tráfico foi o maior negocio de importação do país até 1850.

A flotilha inglesa chegou ao Brasil, vinda da África, em setembro de 1849, sob o comando do contra-almirante Barrington Reynolds. A nau capitânia era a veterana fragata, com 34 anos de serviço, HMS Southampton, sob o comando do capitão Nicholas Cory e guarnecida com quase 60 peças de artilharia.Havia ainda a corveta a vapor com hélices HMS Sharpshooter sob o comando do tenente John Barley, a corveta a vapor HMS Rifleman sob o comando do tenente Stephen Smith Lowther Crofton, a corveta a vapor HMS Tweed sob o comando de Lorde Francis Russell, a corveta a vapor HMS Harpy sob o comando do tenente Dalton, a corveta a vapor com rodas laterais HMS Cormorant sob o comando do capitão Herbert Schomberg e barcos de apoio que traziam carvão da Inglaterra.

 

O Cormorant era uma corveta da Classe Drive, tinha casco de madeira, havia sido lançado em 1842, possuía propulsão a vapor e a vela, com uma grande roda de pá na lateral. 

Tinha um deslocamento de 1.590 toneladas, 55 metros de comprimento, uma tripulação com 45 homens e um armamento de quatro canhões laterais de calibre 64 e duas torres sobre eixos com canhões de calibre 80.

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Capitão Sir Alexander Schomberg, avô do capitão do HMS Cormorant. Quadro de Willian Hogarth – Fonte – es.wahooart.com

Já o capitão Herbert Schomberg era um calejado comandante naval, que vinha de uma linhagem de preparados oficiais da Royal Navy.

Seu avô era o capitão Sir Alexander Schomberg, que se destacou na Guerra dos Sete anos. Já seu pai era o almirante Alexander Wilmot Schomberg, que obteve comados importantes nas Guerras Napoleônicas. 

Schomberg entrou na Royal Naval em dezembro de 1817.

Serviu durante quatro anos, ao largo da costa da América do Norte, no Canal da Mancha e nas Índias Ocidentais onde o navio foi empregado na repressão da pirataria.

Foi promovido tenente em setembro de 1827 e entre fevereiro 1828 a setembro de 1829 esteve envolvido em operações de combate ao contrabando na costa da Irlanda e no bloqueio de Tânger.

 Recebeu a promoção de capitão em junho de 1841.


Mas voltando ao caso brasileiro, como os barcos de guerra ingleses deveriam impedir o tráfico de escravos em veleiros nas costas brasileiras, havia uma lista de navios brasileiros preparada pelo inglês Mr. Hudson, encarregado dos negócios da Inglaterra ao contra-almirante Reynolds. Hudson era na verdade um espião a serviço de Sua Majestade no Rio de Janeiro e com sua ajuda as embarcações da Royal Navy caçavam estes barcos em nossas costas na maior tranquilidade. 

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Corveta inglesa HMS Driver, idêntica ao HMS Cormorant que provocou o Incidente de Paranaguá – Fonte – http://en.wikipedia.org – (Mesmo Modelo da Cormorant)

 

Em um modorrento domingo, 29 de junho de 1850, surgiu na Baía de Paranaguá o casco negro da corveta HMS Cormorant.

Paranaguá, litoral da província do Paraná, tornara-se um dos principais centros de contrabando de escravos no Brasil.

Naquele labirinto natural de ilhas costeiras, os traficantes utilizavam algumas delas para desembarques clandestinos. Essa informação também era do conhecimento da Royal Navy. 

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Foto de satélite da região da Baía de Paranaguá, com destaque para a Ilha do Mel. Pela imagem é possível ver a posição estratégica da Ilha do mel em relação ao resto da baía. Fonte – timblindim.wordpress.com

Para seguir adiante naquele setor e transpor a Barra de Paranaguá, o capitão Schomberg contratou os serviços de um prático na Ilha do Mel, situada na embocadura da baía.

Este foi o pescador Manoel Felipe.

Os ingleses chegaram ao porto do Alemão, na Ilha de Cotinga.

Neste porto estavam fundeados seis navios mercantes.

Utilizando-se de dois escaleres e sob o comando dos tenentes Charles Maxwell Luckraft e Herbert Philip de Kantzow, os invasores atacaram em um golpe rápido e o brigue Dona Ana, seguido do brigue Serea foram dominados. Vendo o ataque aos mercantes, o comandante do terceiro brigue, o Astro, resolveu afundá-lo para evitar que a “carga” (dezenas de sofridos escravos oriundos da África) fosse pilhada e o navio apreendido.

O barco de 176 toneladas ficou apenas com os três mastros para fora d’água e os africanos morreram afogados.

Após o ataque, os ingleses foram vistoriar os porões dos navios. Tal foi a surpresa ao constatar que ali existiam apenas víveres.

Todas estas naves detidas eram suspeitas de tráfico. No oficio o Comandante, invocava a convenção perpétua entre o Brasil e a Inglaterra, e que como chefe da Esquadra Britânica nesta região, tendo ordem para examinar todos os navios suspeitos de estarem empregados no tráfico de escravos.

Alguns parnanguaras, cerca de uns 80, especialmente jovens, inconformados com a violação das nossas águas territoriais, se reuniram e foram levar o ofício, ao Juiz Municipal que se recusou recebe-lo alegando que era apenas uma autoridade judiciária.

Em seguida foram ao Delegado de Polícia que também referiu não ser de sua alçada sendo então visitado a autoridade militar, o coronel da Guarda Nacional o maçom Manoel Antônio Guimarães (“Loja União Paranaguense”), futuro Visconde de Nácar, o qual alegou que se deveria ouvir a palavra do Capitão Joaquim Ferreira Barbosa comandante da Fortaleza da Ilha do Mel.

Ao ser perguntado pelo jovem Francisco José Pinheiro o que fazer com o oficio, o coronel sugeriu ironicamente: “deite-o no correio, que há de ir para a pessoa mais indicada para recebê-lo”.

Entretanto o Juiz municipal do Termo de Paranaguá  Filastro Nunes Pinto, enviou um oficio ao comandante do Comorant protestando contra a invasão e exigindo o respeito aos “mares territoriais” brasileiros.

O povo achou que as autoridades locais foram ineptas e, na mesma noite improvisaram embarcações após conseguirem armas munições alimentos se dirigiram até a Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres da Barra de Paranaguá localizada na Ilha do Mel, e desta vez convenceram o seu comandante o Capitão Joaquim Ferreira Barboza, sobrinho do Cônego Antônio Januário Barboza, maçom que participou ativamente da fundação do Grande Oriente Brasiliano e da Independência do Brasil, partidário de Ledo, a abrir fogo quando o navio estivesse saindo da baia.

E assim foi feito. O moderna Corveta bem equipada saiu em direção à barra no dia lº de Julho foi atingido pelos tiros dos velhos canhões do forte, respondeu ao fogo, tendo durado o combate cerca de um quarto de hora e, ao se afastar do alcance, incendiou os bergantins próximo da Ilha das Conchas e os afundou, levando a “Campeadora” a reboque.

Não houve baixas na Fortaleza, a não ser alguns estragos materiais, mas seus tiros ocasionaram ferimentos em vários e a morte de um marinheiro do “Cormorant”, além de avariar os bergantins que estavam rebocados também causando pequenos danos na Corveta.

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Nota do o jornal paranaense “A República”, durante a comemoração do cinquentenário do Incidente de Paranaguá, em 1 de julho de 1900.

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A Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres de Paranaguá está localizada na praia da Fortaleza, no sopé do Morro da Baleia (hoje da Fortaleza), na Ilha do Mel, cidade de Paranaguá, no litoral do Estado do Paraná.- Fonte – fortalezas.org

O Presidente da província protestou, mas em vão. O comandante do forte se explicou posteriormente perante um Conselho de Guerra, sendo absolvido mas destituído do comando da Fortaleza, passando à soldado de terceira classe do Exército, apesar de elogiado pelo então presidente da Província de São Paulo Vicente Pires da Mota. Lembrar que nesta época, o Paraná era ainda a 5ª Comarca da Província de São Paulo.

Foi a força da diplomacia inglesa que assim o exigiu, e o Brasil aceitou que estava sendo governado por um Imperador fraco, segundo David Carneiro, e por isso o Capitão acabou sendo vilão, quando, no entanto, foi mais um dos nossos heróis desconhecidos.

Este incidente causou delicado embaraço entre as relações do Brasil e a Inglaterra, pois a pressão diplomática que este país exerceu foi muito grande, porem foi útil, especialmente ao Brasil, porque em 04/09/1850 a Lei “Eusébio de Queirós” (grau 33 – Membro Honorário do Supremo Conselho do Brasil) proibia definitivamente o hediondo tráfico escravos no Brasil.

Entretanto, até 1861 existem relatos de que ainda continuava o tráfico pela barra do Rio Superagui em Paranaguá por onde entravam embarcações negreiras que iam até Guaraqueçaba fazendo contrabando de escravos.

Entre os parnanguaras mais exaltados que se dirigiram à histórica Fortaleza da Ilha do Mel estava um jovem de nome Previsto Gonçalves Columbia, que seria futuramente maçom e combatente na Guerra do Paraguai, alem do Tenente Joaquim Caetano de Souza e Francisco José Pinheiro que pertenceriam á Loja “Perseverança” de Paranaguá, e Manoel Francisco Grillo à Loja “Modéstia” de Morretes.

Hamilton F Sampaio Junior.’.

 

BIBLIOGRAFIA

Hercule Spoladore – A História da Maçonaria Paranaense no seculo XIX.

Carneiro D. “A história do Incidente Cormoran” – Edição da Municipalidade de Paranaguá Paranaguá,1950

Machado, M.L. “Sangue e Bravura” – Oficina Gráficas da Penitenciária do Paraná – Curitiba, 1944

Martins R. “História do Paraná – Editora Rumo Ltda. São Paulo, 1939 –

Wachowicz, R.C. “História do Paraná- Editora Gráfica Vicentina Ltda. – Curitiba,1988 Dicionário Histórico – Biográfico do Estado do Paraná – Editora Livraria do Chain – Curitiba, 1991 Corda de 81 Nós