terça-feira, 14 de outubro de 2025

Essas Páginas de 1972 Me Trouxeram de Volta à Curitiba que o Tempo Quase Apagou

 Essas Páginas de 1972 Me Trouxeram de Volta à Curitiba que o Tempo Quase Apagou



Essas Páginas de 1972 Me Trouxeram de Volta à Curitiba que o Tempo Quase Apagou

Há algo profundamente comovente em segurar um pedaço de papel que já foi parte do cotidiano de alguém há mais de cinquenta anos. Não é só tinta e celulose — é tempo solidificado. E foi exatamente isso que senti ao examinar, com cuidado quase reverente, essas cinco páginas de um jornal ou revista comercial de 1972, todas elas pulsando com a alma de uma Curitiba que poucos lembram, mas que construiu o que somos hoje.

Na primeira imagem, vemos uma página densa, dividida em blocos retangulares com bordas nítidas, típicas da diagramação gráfica dos anos 70. O fundo é levemente amarelado pelo tempo, com pequenas manchas de umidade nas bordas — sinais de que esse papel viajou por gavetas, caixas de madeira, talvez até por sótãos empoeirados. No canto superior esquerdo, o destaque vai para um anúncio quadrado, com moldura simples e letras serifadas em caixa alta: IZAIAS ZANELATO & CIA. LTDA.. A tipografia é firme, elegante, quase solene. Logo abaixo, em corpo menor, mas ainda legível: “BOXES COM BANHEIRA ACOPLADA, COBERTURAS DE DOMOS E BOXES COMUNS”. A palavra “fabricação própria” aparece em destaque, sublinhada por um traço fino — um selo de orgulho artesanal.

Ao lado, três outros anúncios se alinham verticalmente. Um deles, da SBIL — Segurança Bancária e Industrial Ltda., traz o símbolo de um olho vigilante estilizado dentro de um escudo, transmitindo proteção e confiança. Outro, da Alfonso Ritzmann Madeiras Ltda., exibe um pequeno desenho de toras empilhadas, com a legenda “Pinho Bruto e Beneficiado”. Mais abaixo, a Madeireira Litoranea Ltda. repete o tema da madeira, mas com um toque mais comercial: “Pinho e Lei — Pronta Entrega”. Todos os anúncios incluem endereços reais e telefones de quatro dígitos — 52-4542, 52-3311, 22-1540 — números que hoje soam como códigos de outra era. No rodapé, em letras miúdas mas nítidas: “Composta e Impressa nas Oficinas da GRAFICART – Editora Ltda.” — um tributo discreto aos impressores, os verdadeiros guardiões da memória gráfica.

A segunda imagem traz um layout mais elegante, quase editorial. No centro, um anúncio com moldura dupla e letras cursivas estilizadas: FEGACI REPRESENTAÇÕES LTDA.. A composição é simétrica, com logotipos pequenos das empresas representadas alinhados como medalhas: POSTES CAVAN S.A., IFEMA S.A., Companhia Americana de Produtos de Aço. O texto principal é uma verdadeira carta de agradecimento à COPEL, celebrando sua atuação na eletrificação do Paraná. Frases como “levou o Paraná à liderança dentre outras unidades da Federação” não são apenas propaganda — são testemunhos históricos.

À direita, uma ilustração em traço fino mostra um caminhão de carga robusto, com pneus largos e cabine arredondada, transportando postes de concreto tão longos que quase ultrapassam os limites do quadro. É uma imagem simbólica: o progresso sendo literalmente carregado pelas estradas. O endereço completo aparece embaixo, com precisão quase burocrática: Rua Marechal Deodoro, 500 — 13º andar — conj. 135 — Curitiba — Paraná. Telefone: 23-3659.

A terceira imagem é onde o coração acelera. Não há molduras comerciais aqui — apenas um retrato em preto e branco, ligeiramente granulado, de um jovem de óculos redondos, cabelo bem penteado, paletó escuro e gravata fina. Seu olhar é firme, sério, mas com um brilho de esperança. Ao lado, o texto ocupa metade da página, com título em caixa alta e negrito: ROBERTO TSCHOEKE — Um jovem bem sucedido”. O estilo é quase jornalístico, quase literário. Fala de sua formação no Colégio Positivo, seus estudos em engenharia, seu interesse precoce por ciência e política. É um retrato de juventude idealista — não o tipo de sucesso que se mede em seguidores, mas em caráter, educação e propósito.

Ao fundo, discretamente, um anúncio da MAFER MÁQUINAS E FERRAMENTAS LIMITADA oferece “ferramentas especiais para Volkswagen, Corcel e Opala”, com desenhos técnicos de chaves e manípulos. O endereço — Rua Almirante Barroso, 251 — aparece ao lado de um pequeno símbolo de engrenagem, quase como um selo de oficina confiável.

A quarta imagem é mais técnica, mas igualmente rica. O destaque vai para a INDÚSTRIA E COMÉRCIO FANY LTDA., com um cabeçalho em negrito e um subtítulo claro: “Reformas e fabricação de peças para tratores”. Abaixo, uma lista de marcas icônicas da agricultura e da construção: Allis-Chalmers, International, John Deere, Caterpillar, Terratrac, Hanomag, Oliver, Fiat. Cada nome é uma lenda. A ilustração mostra um conjunto de peças mecânicas — eixos, engrenagens, pinhões — desenhadas com precisão técnica. O endereço Rua Major Vicente de Castro, 269 — Vila Fany — Curitiba — Paraná vem acompanhado de Caixa Postal 2289, um detalhe que hoje parece quase arqueológico. Era assim que as empresas se conectavam com o interior, com o Brasil profundo.

A quinta e última imagem é um mosaico de pequenos anúncios e colunas sociais. No canto superior esquerdo, um relógio de pulso Eterna-Matic, com mostrador prateado e pulseira de metal, anunciado com elegância minimalista. Ao centro, um bloco com o título “Personalidades de 72” traz o rosto sério do Dr. F. Cunha Pereira Filho, sob a legenda: “Recebeu a Medalha Santos Dumont pelas mãos do Comandante da Base Aérea de Curitiba”. A foto é formal, mas carrega dignidade. À direita, o anúncio de Claudia — Mudanças promete “serviços locais e para o exterior, com garantia escrita”, e inclui um pequeno desenho de um caminhão com caixas empilhadas. Até os detalhes menores — como o uso de travessões longos, a ausência de cores, a textura áspera do papel — contam uma história de uma era em que tudo era feito com as mãos, com tempo, com respeito.

Essas páginas não são apenas documentos. São janelas. Cada nome, cada número de telefone, cada traço de caneta ou tinta de impressora é um fio que nos conecta a uma Curitiba de sonhos modestos, mas profundos. Uma cidade que crescia com suor, fé e trabalho — não com algoritmos, mas com humanidade.

E talvez, ao relembrar tudo isso, não estejamos apenas olhando para trás. Talvez estejamos encontrando, nas entrelinhas do passado, o caminho de volta para o que realmente importa.


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