terça-feira, 11 de novembro de 2025

Curitiba em 1913: Sociedade, Satira, Saúde e Sorte — Um Retrato da Cidade em Transformação

 

Curitiba em 1913: Sociedade, Satira, Saúde e Sorte — Um Retrato da Cidade em Transformação



📜 Curitiba em 1913: Sociedade, Satira, Saúde e Sorte — Um Retrato da Cidade em Transformação

O ano de 1913 foi um marco na história do Brasil e de Curitiba. A cidade, ainda pequena mas em crescimento, vivia uma transição entre o século XIX e o XX — entre o tradicional e o moderno. As mulheres começavam a questionar seu papel na sociedade, a medicina ganhava novos contornos científicos, e os automóveis — até então raridade — começavam a aparecer nas ruas.

Um conjunto de páginas de uma publicação da época — provavelmente um jornal ou revista local — nos oferece um retrato vívido desse período, mostrando desde anúncios de loterias e produtos farmacêuticos até charges satíricas sobre a vida social e política da cidade.

Vamos explorar cada página, linha por linha, com detalhes visuais, históricos e culturais.


📄 PÁGINA 1: “MUTUA PREDIAL” — A Loteria que Movimentava Curitiba em 1913

Esta página é dominada por um anúncio da Mutua Predial, uma sociedade anônima registrada na Junta Comercial de Paraná, que promovia sorteios mensais baseados na Loteria da Capital Federal.

💰 Detalhes do Anúncio

  • Nome: Mutua Predial
  • Tipo: Sociedade Anônima
  • Registro: Junta Comercial de Paraná
  • Telefone: 402
  • Caixa Postal: 183
  • Sede: Rua 15 de Novembro, 74 — Coritiba (escrito como na época)

🎟️ Sorteios Mensais

  • Realizados no dia 15 de cada mês, pela Loteria da Capital Federal.
  • Valores dos prêmios:
    • 1º Prêmio: R$ 10.000$000
    • 2º Prêmio: R$ 2.000$000
    • 3º Prêmio: R$ 1.000$000
    • Somma: R$ 13.000$000

Observação: O símbolo “ 10.000$000 equivalia a 10 mil mil-réis — um valor considerável para a época.

💵 Custos e Benefícios

  • Uma margem custa apenas R$ 5$000
  • Joia: R$ 10$000
  • 1ª mensalidade: R$ 5$000

📣 Chamada Final

“Aproveite as poucas decadências da série A. Não deixe perder o sorteio de 15 de Agosto do corrente ano. INSCREVEI-VOS HOJE.”

“Decadência” aqui significa “últimas unidades disponíveis” — uma expressão comum em anúncios da época.

🧭 Contexto Histórico

  • Em 1913, loterias eram uma forma popular de arrecadação e entretenimento.
  • Muitas pessoas sonhavam em ganhar dinheiro fácil — especialmente em uma época em que o salário médio era baixo.
  • A Rua 15 de Novembro era o coração comercial da cidade — por isso concentrava muitos negócios e anúncios.

A Mutua Predial não era apenas uma loteria — era um reflexo da esperança e da ambição da sociedade curitibana da época.


📄 PÁGINA 2: “PEITORAL BROMO-TOMIL” e “OURO FINO” — Produtos Farmacêuticos da Época

Esta página apresenta dois anúncios de produtos farmacêuticos — um voltado à saúde e outro à beleza — mostrando como a indústria química e farmacêutica já estava presente em Curitiba.

Anúncio 1: Peitoral Bromo-Tomil

  • Produto: Peitoral Bromo-Tomil
  • Indicação: Especial contra tosse, bronquite e outras afecções das vias respiratórias.
  • Fabricantes: Oncken Irmãos & Muller
  • Localização: Curitiba — Praça do Mercado — Paraná
  • Descrição: “A salvação das creanças. O consolo dos adultos.”

Observação: “Creanças” era a grafia antiga de “crianças”. O produto era voltado para o tratamento de doenças respiratórias — comuns na época, especialmente no inverno paranaense.

Anúncio 2: Ouro Fino — Água Mineral Natural

  • Produto: Ouro Fino — Água Mineral Natural
  • Slogan: “Sem igual. A melhor de todas as águas minerais.”
  • Propriedades: Contém magnésia, cálcio e outros sais minerais.
  • Premiação: Premiada em exposições internacionais.
  • Localização: Depósito Geral — Praça Tiradentes, 30 — Casa Marcatti & Sampaio

Observação: A água mineral era vista como um produto de luxo — associado à saúde, à pureza e à sofisticação.

🧭 Contexto Histórico

  • Em 1913, a medicina ainda estava em fase de profissionalização no Brasil.
  • Muitos produtos farmacêuticos eram vendidos sem prescrição médica — e muitos deles tinham ingredientes duvidosos.
  • A publicidade já usava técnicas modernas — como slogans, premiações e apelos emocionais (“A salvação das creanças”).

Esses anúncios mostram que, mesmo em 1913, a indústria farmacêutica já sabia como vender esperança — e saúde.


📄 PÁGINA 3: Charges Satíricas — A Vida Social e Política em Curitiba

Esta página traz duas charges humorísticas, que retratam a vida social e política da cidade — com ironia e crítica social.

Charge 1: “Um Pescada pesçado”

  • Descrição: Dois homens conversam em um ambiente público — possivelmente um teatro ou sala de reuniões.

  • Texto:

    — Já assinou para o «Pescada, Pescada»?
    — Que pescada?
    — A Colômbia Paranaense de Pescas.
    — Ah! porque... já me pescaram.

  • Contexto: A charge brinca com a ideia de que as pessoas eram “pescadas” — ou seja, enganadas — por empresas ou projetos que prometiam riqueza fácil.

Em 1913, muitos projetos de “enriquecimento rápido” surgiam — e a charge satiriza essa ingenuidade.


Charge 2: “Uma gommeuse”

  • Descrição: Uma mulher elegante, com vestido longo e chapéu, caminha enquanto dois homens a observam.

  • Texto:

    — Quem é aquela linda?
    — É uma dama que veio para o casório.

  • Contexto: A palavra “gommeuse” é uma variação de “gomeuse” — termo francês que designava uma mulher elegante, sofisticada, às vezes com conotações de “vamp” ou “mulher fatal”.

A charge mostra que a moda e a aparência eram temas centrais na vida social — e que as mulheres eram julgadas pelo seu visual.


📄 PÁGINA 4: “Trezes assassinos” — Crítica Política e Social

Esta página traz três charges que criticam a política e a sociedade da época — com ironia e sarcasmo.

Charge 1: “Porque senta tão alegre?”

  • Descrição: Um homem idoso, com chapéu e bengala, conversa com outro homem mais jovem.

  • Texto:

    — Porque senta tão alegre?
    — Minha sogra embarcou hoje para Paranaguá.

  • Contexto: A charge brinca com a ideia de que a sogra era uma figura temida — e que sua ausência era motivo de celebração.

Humor familiar, típico da época — e que ainda faz sentido hoje em dia.


Charge 2: “Cem estes o Domingos Velho quer impingir...”

  • Descrição: Dois homens conversam em um ambiente urbano.

  • Texto:

    — Cem estes o Domingos Velho quer impingir à Comissão acção de Banco Hipotecário?
    — Ainda se fossem diplomas de Lawrence para os comerciantes...

  • Contexto: A charge critica a política — sugerindo que os políticos tentavam impor projetos que não interessavam à população.

A referência a “Lawrence” pode ser uma alusão a algum político ou empresário da época — talvez um nome fictício usado para evitar processos.


Charge 3: “Enquanto os outros disputam com uma velocidade diabólica pelas ruas...”

  • Descrição: Um homem alto, com chapéu e bengala, caminha com passos largos.

  • Texto:

    — Enquanto os outros disputam com uma velocidade diabólica pelas ruas, a guerra civil acaba com os escândalos.

  • Contexto: A charge sugere que, enquanto a sociedade estava distraída com conflitos menores, problemas maiores — como a “guerra civil” — eram ignorados.

Uma crítica social profunda — que mostra como a política era vista com desconfiança pela população.


📄 PÁGINA 5: “No Banco Hypothecario” e “Um petizão” — A Vida Financeira e Social

Esta página traz duas charges que retratam a vida financeira e social da época — com foco no banco e na relação entre homens e mulheres.

Charge 1: “No Banco Hypothecario”

  • Descrição: Um homem pede um empréstimo em um banco.

  • Texto:

    — Que deseja?
    — Por me haver dado um diploma de Lawrence vim hypothecar ao sr. Velho...
    — Algum pedido?
    — Não sr., é minha garantia.

  • Contexto: A charge satiriza a ideia de que um diploma — mesmo que falso — podia ser usado como garantia para empréstimos.

A referência a “Lawrence” novamente aparece — sugerindo que era um nome conhecido na sociedade curitibana da época.


Charge 2: “Um petizão”

  • Descrição: Um homem e uma mulher conversam em um ambiente público.

  • Texto:

    — Porque não quer ficar com as acções da Companhia de Pescas?
    — Qual! Nunca dei para parecer, e ainda para isto logo porque foi minha mulher...

  • Contexto: A charge brinca com a ideia de que as mulheres eram vistas como “sorte” — e que os homens não queriam se envolver com negócios que tivessem ligação com elas.

Mais uma vez, a charge mostra como as relações entre homens e mulheres eram vistas com desconfiança — e como a sociedade tentava manter as normas tradicionais.


💬 Por Que Isso Importa?

Essas páginas são janelas para o passado. Elas nos mostram que, em 1913, Curitiba já era uma cidade em movimento — com loterias que movimentavam a economia, produtos farmacêuticos que prometiam saúde, e charges que criticavam a política e a sociedade.

Os médicos, empresários, políticos e mulheres retratados aqui não eram apenas personagens de uma história distante — eles eram agentes ativos na construção da cidade que conhecemos hoje.

Hoje, ao caminhar pela Rua 15 de Novembro, poucos imaginam que ali, mais de cem anos atrás, dezenas de pessoas sonhavam em ganhar na loteria, compravam remédios para tosse e riam das charges que satirizavam a vida política.


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