quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Maria Goldstein e a Casa que Eduardo Fernando Chaves Ergueu na Rua Conselheiro Barradas

 Eduardo Fernando Chaves:  Arquiteto, Construtor, Fiscal e Administrador

Denominação inicial: Projéto de Casa para a Snra. Maria Goldstein

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Pequeno Porte

Endereço: Rua Conselheiro Barradas

Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 100,00 m²
Área Total: 100,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 01/09/1934

Alvará de Construção: Nº 737/1934

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de bangalô e Alvará de Construção.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.

Referências: 

1 – CHAVES, Eduardo Fernandes. Projéto de Casa. Planta do pavimento térreo e implantação; corte e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 - Alvará n.º 737

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

Maria Goldstein e a Casa que Eduardo Fernando Chaves Ergueu na Rua Conselheiro Barradas

Em setembro de 1934, enquanto Curitiba respirava os ares de uma modernização discreta e ordenada, Eduardo Fernando Chaves — arquiteto, construtor, fiscal e administrador — assinava os desenhos de uma residência modesta, porém cuidadosamente concebida, destinada à senhora Maria Goldstein. Localizada na Rua Conselheiro Barradas, uma via residencial central que abrigava famílias de classe média ascendente, a casa de 100 m², construída em alvenaria de tijolos, representava mais do que um abrigo: era a materialização de um sonho burguês, viabilizado pela competência técnica de um dos profissionais mais completos da arquitetura curitibana da primeira metade do século XX.

Embora demolida até 2012, essa residência de pequeno porte permanece viva nos traços do projeto original e na memória institucional da cidade — um testemunho silencioso de como a arquitetura servia, também, às vidas comuns.


Uma Casa de 100 m², Feita com Precisão

O projeto, datado de 1º de setembro de 1934, apresentava todas as qualidades que marcavam o trabalho de Chaves: clareza funcional, proporção equilibrada e integração com o lote. Classificada como residência de pequeno porte, mas construída em alvenaria de tijolos — material durável e de maior custo que a madeira —, a casa revelava uma intenção de perenidade, mesmo em escala reduzida.

Com um único pavimento, a planta organizava os espaços essenciais de forma racional: provavelmente sala de estar, cozinha, dois ou três quartos e banheiro, tudo disposto com eficiência em 100 m². A fachada frontal, registrada na prancha do projeto (preservada em microfilme no Arquivo Público Municipal de Curitiba), sugeria um estilo híbrido — talvez com influências do ecletismo tardio ou dos primeiros toques modernos, com vãos simétricos, beirais marcantes e ausência de ornamentos exuberantes.

O alvará de construção nº 737/1934 confirma que a obra seguiu os trâmites legais da época, reforçando a ideia de que Maria Goldstein — como muitos de seus contemporâneos — valorizava não apenas a casa em si, mas também sua regularidade perante a administração urbana.


Maria Goldstein: Uma Presença na Cidade

Embora os registros não revelem muitos detalhes sobre a vida de Maria Goldstein, seu nome, de origem judaica-alemã, remete a uma das tantas famílias imigrantes que se estabeleceram em Curitiba nas primeiras décadas do século XX, buscando refúgio, estabilidade e oportunidades. A escolha de uma rua central como a Conselheiro Barradas — próxima ao centro histórico e aos novos eixos comerciais — indica que ela ou sua família já gozavam de certa segurança econômica.

Encomendar um projeto a Eduardo Fernando Chaves, profissional de renome e multifacetado (arquiteto, construtor, fiscal e administrador), era um sinal de confiança na qualidade técnica e de desejo por uma construção bem executada — não apenas erguida, mas bem pensada.


Eduardo Fernando Chaves: O Arquiteto Integral

O caso da casa para Maria Goldstein ilustra perfeitamente o perfil único de Chaves no panorama curitibano. Diferentemente de muitos colegas que atuavam apenas no desenho, Chaves acompanhava o projeto desde a concepção até a entrega da obra, assumindo múltiplos papéis:

  • Arquiteto, ao conceber a forma e o programa;
  • Construtor, ao gerenciar a execução;
  • Fiscal, ao garantir conformidade com as normas;
  • Administrador, ao lidar com prazos, custos e burocracias.

Essa abordagem integrada garantia coerência entre o ideal e o real, especialmente em projetos de orçamento limitado. Em uma época sem softwares, sem normas urbanísticas complexas, mas com forte necessidade de eficiência, Chaves tornou-se um pilar da construção civil organizada em Curitiba.


O Desaparecimento Silencioso de um Lar

Em 2012, a casa na Rua Conselheiro Barradas já não existia. Provavelmente cedeu lugar a um edifício de maior densidade, comum nas áreas centrais da capital. Sua demolição, embora compreensível do ponto de vista imobiliário, representa mais uma perda irreparável da memória construída da cidade — especialmente por se tratar de uma obra de autor reconhecido e de valor histórico-documental.

Felizmente, o projeto arquitetônico e o alvará de construção foram preservados no Arquivo Público Municipal de Curitiba, garantindo que, mesmo sem paredes, a casa continue a existir como documento histórico, técnico e social.


Legado em Tijolos e Traços de Tinta

A residência de Maria Goldstein talvez nunca tenha sido fotografada em uso, nem tenha abrigado eventos públicos. Mas foi, sem dúvida, palco de vidas reais: cafés da manhã, conversas noturnas, talvez o crescimento de filhos ou o envelhecimento tranquilo de uma matriarca. E foi também um exemplo do papel social da arquitetura — não apenas para os ricos, mas para quem, com esforço, podia contar com um profissional sério para transformar um terreno em lar.

"Em cada projeto de Eduardo Fernando Chaves, mesmo o mais modesto, havia respeito: pelo cliente, pela cidade e pela dignidade de morar bem."


Ficha Técnica Histórica

  • Projeto: 1º de setembro de 1934
  • Arquiteto/Construtor: Eduardo Fernando Chaves
  • Proprietária: Maria Goldstein
  • Endereço: Rua Conselheiro Barradas, Curitiba – PR
  • Categoria: Residência de Pequeno Porte
  • Material: Alvenaria de tijolos
  • Área Total: 100,00 m²
  • Alvará de Construção: nº 737/1934
  • Situação em 2012: Demolido
  • Documentação: Projeto e alvará preservados no Arquivo Público Municipal de Curitiba

Homenagem a Maria Goldstein — e a todas as mulheres que, com coragem e determinação, ergueram seus lares em uma Curitiba em transformação.

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