Eduardo Fernando Chaves: Projetista
Denominação inicial: Projecto para residência do Snr. Feliciano Guimarães
Denominação atual:
Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência Econômica
Endereço: Rua Visconde de Nacar
Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 50,25 m²
Área Total: 50,25 m²
Técnica/Material Construtivo: Madeira
Data do Projeto Arquitetônico: 22/03/1927
Alvará de Construção: Talões Nº 157 e 158; Nº 1386/1927
Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de uma residência.
Situação em 2012: Demolido
Imagens
1 - Projeto Arquitetônico.
Referências:
1 - GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto para uma residência para o Snr. Feliciano Guimarães, à Rua Visconde de Nacar. Plantas do pavimento térreo e de implantação, corte e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
1 - Projeto Arquitetônico.
Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba.
Uma Casa de Madeira e Esperança: O Projeto de Eduardo Fernando Chaves para Feliciano Guimarães
Na Curitiba dos anos 1920 — cidade em expansão, ainda marcada por ruas de terra, bondes elétricos e um desejo coletivo de modernidade — erguia-se, com simplicidade e dignidade, uma pequena casa de madeira na Rua Visconde de Nacar. Projetada em 22 de março de 1927 pelo arquiteto Eduardo Fernando Chaves, a residência destinava-se a Feliciano Guimarães, um homem cujo nome hoje resiste apenas nos arquivos, mas cujo lar foi, em seu tempo, um símbolo de realização pessoal e acesso à moradia urbana.
Embora demolida até 2012, essa construção de apenas 50,25 m² carrega em si o espírito de uma era em que a arquitetura não era privilégio das elites, mas também ferramenta de inclusão social — especialmente quando moldada por profissionais como Chaves, sensíveis às necessidades das classes emergentes.
Uma Residência Econômica, Mas com Alma
Classificada como “Residência Econômica”, a casa de Feliciano Guimarães era unifamiliar, térrea e construída inteiramente em madeira — material acessível, rápido de montar e amplamente utilizado na Curitiba da primeira metade do século XX, especialmente em bairros periféricos ou em zonas de recente ocupação.
Com pouco mais de 50 metros quadrados, o projeto organizava de forma eficiente os espaços essenciais: provavelmente uma sala integrada à cozinha, um ou dois quartos modestos e um banheiro simples — tudo disposto com clareza funcional. A fachada frontal, registrada na prancha do projeto, revelava traços típicos da época: telhado de duas águas, vãos simétricos, beiral saliente e detalhes construtivos que buscavam, mesmo na economia, um mínimo de harmonia estética.
A implantação no lote, cuidadosamente desenhada, demonstrava o respeito do projetista pelo entorno urbano, ainda que em uma via secundária como a Rua Visconde de Nacar — localizada na região central, próximo ao antigo Bairro Alto, área de ocupação residencial crescente na década de 1920.
Feliciano Guimarães: O Sonho de Ter um Teto Próprio
Pouco se sabe sobre Feliciano Guimarães, mas seu nome associado a uma residência "econômica" sugere que era um trabalhador urbano — talvez operário, artesão, funcionário público ou pequeno comerciante. Em um Brasil ainda profundamente desigual, conseguir encomendar um projeto arquitetônico, mesmo modesto, era um ato de ascensão social.
O fato de ter obtido dois talões de alvará (nº 157 e 158) e o Alvará de Construção nº 1386/1927 indica que seguiu todos os trâmites legais da época — um sinal de que valorizava não apenas a casa, mas também sua regularidade perante a cidade. Para Feliciano, aqueles 50 m² não eram apenas paredes e telhado: eram segurança, identidade e futuro para sua família.
Eduardo Fernando Chaves e a Arquitetura ao Alcance de Todos
Embora mais conhecido por projetos de maior porte, Eduardo Fernando Chaves — muitas vezes creditado sob a razão “Gastão Chaves & Cia.”, escritório que liderava — demonstrava, neste caso, um compromisso raro com a habitação popular. Seu envolvimento com residências econômicas revela uma faceta essencial de sua carreira: a crença de que a boa arquitetura não depende do orçamento, mas da intenção.
A prancha de projeto, hoje preservada em microfilme no Arquivo Público Municipal de Curitiba, reúne em uma única folha planta baixa, corte, fachada e implantação — uma síntese de clareza técnica e eficiência gráfica. Mesmo com recursos limitados, Chaves não abria mão da coerência espacial e da qualidade construtiva, ainda que simbólica.
Essa postura o coloca entre os arquitetos que, silenciosamente, ajudaram a construir a base da Curitiba moderna — não com monumentos, mas com centenas de casas modestas que, juntas, formaram bairros, comunidades e uma identidade urbana duradoura.
O Silêncio da Demolição
Em 2012, nada restava da casa de madeira na Rua Visconde de Nacar. Demolida sem alarde, provavelmente substituída por um edifício mais denso ou simplesmente por um terreno vazio, sua ausência é mais um capítulo na história silenciosa da perda patrimonial cotidiana — aquela que não envolve palacetes, mas casas comuns, onde viveram vidas reais.
E, no entanto, sua memória persiste. Nos traços do projeto, na assinatura de Chaves, no nome de Feliciano Guimarães registrado nos talões municipais — ali está a prova de que Curitiba também foi feita de sonhos pequenos, mas verdadeiros.
Legado em Linhas e Memória
A residência para Feliciano Guimarães talvez nunca tenha sido considerada "notável" pelos cânones da arquitetura. Mas é justamente nesse tipo de edifício que reside a verdadeira história urbana: a de homens e mulheres que, com esforço e ajuda de um bom projetista, puderam dizer: “Esta é minha casa.”
"Nem toda arquitetura precisa ser grandiosa para ser importante. Algumas das construções mais humanas são aquelas que cabem em 50 metros quadrados — e ainda assim abrigam toda uma vida."
Ficha Técnica Histórica
- Projeto: 22 de março de 1927
- Arquiteto/Projetista: Eduardo Fernando Chaves (Gastão Chaves & Cia.)
- Proprietário: Feliciano Guimarães
- Localização: Rua Visconde de Nacar, Curitiba – PR
- Tipo: Residência Econômica Unifamiliar
- Material: Madeira
- Área: 50,25 m²
- Alvará: Talões nº 157 e 158; Alvará nº 1386/1927
- Situação em 2012: Demolido
- Documentação: Microfilme no Arquivo Público Municipal de Curitiba
Homenagem póstuma a Feliciano Guimarães — e a todos os curitibanos que construíram a cidade com as mãos, o suor e o sonho de um lar próprio.

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