Além das três famosas pirâmides de Gizé e de mais algumas também bastante conhecidas, como a do faraó Djoser e a chamada pirâmide torta, dezenas de outras foram erguidas ao longo dos séculos pelos antigos egípcios. A pirâmide vermelha, que leva esse nome porque nela foi empregado um calcário rosado; o complexo funerário de Sahure, dotado de um elaborado sistema de drenagem das águas pluviais e cujos relevos mostram a partida de navios para uma terra distante; o monumento de Wenis, que se destaca por nele terem sido encontrados os mais antigos textos das pirâmides que se conhecem, são apenas alguns exemplos. A lista completa já conta com mais de 80 exemplares. Veja a seguir detalhes sobre a maioria dessas obras surpreendentes.
Ao que tudo indica, o faraó Snefru não ficou satisfeito com a pirâmide torta que mandara construir em Dahshur e mandou erigir outra cerca de dois quilômetros ao norte dela. Hoje esse monumento é conhecido como pirâmide vermelha ou pirâmide cor-de-rosa em função da cor do calcário avermelhado usado na sua construção. O ângulo de inclinação das faces dessa pirâmide é menor que o habitual de 52°, sendo de apenas 43° 36', ângulo muito parecido ao que foi usado na parte superior da pirâmide torta e que lhe dá um aspecto achatado. As alturas dos blocos de pedra que a constituem variam de cinquenta centímetros a um metro e 40 centímetros. Sua base quadrada mede 220 metros de lado, dimensão ultrapassada apenas pela da pirâmide de Kéops em Gizé, e sua altura original era de 104 metros.
A entrada dessa pirâmide localiza-se em sua face norte, muito acima do solo, abrindo para um corredor descendente (1) que, ao atingir a parte inferior e central do monumento, dá acesso a três câmaras (2) (3) (4), posicionadas uma após a outra. As duas primeiras são praticamente iguais em forma e tamanho e medem cerca de nove metros e 44 centímetros de comprimento por três metros e 65 centímetros de largura, estando assentadas sobre o substrato rochoso da região. A segunda câmara situa-se diretamente abaixo da ápice da pirâmide. A terceira, que provavelmente destinava-se a ser a câmara mortuária, é diferente. Situa-se em posição mais elevada que as demais e sua entrada é uma pequena passagem localizada na parede sul da segunda câmara a uma altura de cerca de sete metros e 60 centímetros acima do nível do solo. É a maior delas, medindo nove metros e 44 centímetros por quatro metros e 11 centímetros e tendo um teto afunilado que atinge a altura de 15 metros e 24 centímetros. Em seu piso foi escavado uma espécie de poço que atinge a profundidade de quatro metros e 26 centímetros. Os arqueólogos acreditam que essa pirâmide pertenceu a Snefru, entre outros indícios, porque seu nome foi encontrado escrito com ocre vermelho em um bloco de pedra do revestimento de um dos cantos do monumento. Outro indício é o fato de que ao redor da pirâmide foram encontradas mastabas de cortesãos daquele faraó, que provavelmente ali não teriam sido erguidas se o titular da pirâmide fosse outro rei. A Pirâmide de RadjedefO não muito conhecido faraó Radjedef (c. 2528 a 2520 a.C.), que provavelmente reinou entre os reinados do seu pai Kéops (c. 2551 a 2528 a.C.) e o de Kéfren (c. 2520 a 2494 a.C.), escolheu para erguer seu monumento o imponente planalto de Abu Rawash, localizado cerca de oito quilômetros ao norte do planalto de Gizé. Nomeou-a de A Pirâmide que É a Estrela Sehedu, mas como quase nada restou de sua estrutura, não foi possível estabelecer suas dimensões originais e nem mesmo se ela foi concluída. Pelos escombros encontrados, dos quais vemos acima a face leste, deduziu-se que teria sido revestida de granito vermelho, pelo menos parcialmente. No centro da face norte da pirâmide, por baixo da construção, há uma rampa cavada na rocha que desce, num ângulo de 22 graus, até o fundo de um poço vertical. Esse último mede cerca de nove metros de altura, 21 metros e 33 centímetros de comprimento e nove metros de largura. A câmara funerária da pirâmide, que vemos acima, mostra sinais de argamassa nas paredes e estava provavelmente revestida com granito. Restos de pedaços de granito sugerem que talvez tivesse um teto em ponta semelhante ao da câmara da rainha na Grande Pirâmide. Um recesso no fundo da sala deveria abrigar o sarcófago.A calçada, talvez a mais refinada jamais construída, tinha cerca de 1500 metros de comprimento, atingia 12 metros de altura em alguns trechos e ligava, como sempre, o templo do vale ao templo funerário. Do primeiro nada restou. Quanto ao segundo, situa-se a leste da pirâmide e tem paredes de tijolos de lama, o que provavelmente significa que foi construído após a morte do rei. Ao sul dele existe uma cova profunda, cuja forma indica ter sido utilizada para abrigar um barco cerimonial, embora esse não tenha sido encontrado. O que se encontrou no complexo piramidal foram alguns fragmentos de estátuas de duro quartzito vermelho, entre os quais se inclui uma cabeça do faraó e uma representação dele sentado, tendo uma pequena figura de sua esposa, Kehentetka, ajoelhada e segurando-lhe a perna. A sudoeste da pirâmide foi encontrado o que restou de uma pirâmide subsidiária.
A Pirâmide Inacabada de Zawyet el-Aryan A pirâmide inacabada de Zawyet el-Aryan parece ter sido erguida por um faraó da IV dinastia. A única parte que atualmente dela permanece são os seus subterrâneos, formados por um fosso aberto em declive que atinge um poço vertical cavado na rocha (1). A declividade do fosso é interrompida por dois patamares, um aproximadamente no meio de seu curso e o outro em sua parte final. Cavados na rocha entre os dois patamares existem dois lances paralelos de escada (2), separados e ladeados por largas rampas. Na parte final do fosso foi escavada uma cova (3) preenchida parcialmente com blocos de pedra calcária que se erguem um pouco além do nível da seção precedente. O poço vertical tem 26 metros de profundidade, mede 25 metros de comprimento por 11 metros e 58 centímetros de largura e seu piso também foi elevado e pavimentado com granito vermelho em sua parte central. Um sarcófago de granito oval, único em sua forma encontrado até hoje, estava embutido no solo, mas dali foi retirado pelos arqueólogos. A Pirâmide de Userkaf O fundador da V dinastia, Userkaf (c. 2465 a 2458 a.C.), construiu sua pirâmide em Saqqara. Ergueu-a, com altura de 49 metros, junto ao canto nordeste do muro que circundava a pirâmide de degraus. Na foto acima, o que dela restou. Naquela época, ao que parece, o túmulo de Djoser havia adquirido uma certa aura de santidade e julgava-se que ser enterrado junto a ele poderia conferir benefícios especiais ao morto. Os egípcios chamavam-na de A Pirâmide que É Pura de Lugares ou, em outra tradução, Puros São os Lugares de Userkaf. Um santuário (1) foi erguido junto à face leste do monumento. Era formado por um pequeno vestíbulo pavimentado de basalto, ladeado por duas câmaras estreitas com piso de pedra calcária. As paredes do vestíbulo também eram de pedra calcária e assentavam-se sobre uma base quadrangular de granito. Duas plataformas existentes no recinto podem ter sido destinadas a receber colunas retangulares ou estelas de granito. Fragmentos de quartzito encontrados nos escombros indicaram a provável existência de um altar.Como o terreno a leste da pirâmide eleva-se de forma abrupta, era impraticável construir o templo funerário naquele local e, por isso, ele foi edificado no lado sul do monumento. A entrada se dava por uma calçada (2) que desembocava próximo do canto sul do muro situado a leste da pirâmide. À esquerda da entrada, havia cinco armazéns (3) nos quais ficavam guardados os jarros com vinho e reservas de mantimentos dos quais o morto lançaria mão caso os sacerdotes negligenciassem sua tarefa diária de ofertar alimentos frescos ao falecido. Havia também duas câmaras oblongas (4) situadas entre a entrada e um pátio aberto (5). Em três lados desse pátio havia arcadas com colunas retangulares de granito cuja função era a de proteger cenas esculpidas nas paredes do recinto. Fragmentos de tais relevos foram encontrados e mostravam o faraó caçando pássaros nos pântanos do Delta. No centro da parede sul, a qual provavelmente não era decorada, havia uma colossal estátua (6) de granito vermelho representando o rei sentado, encarando a pirâmide e aparentando admirar-se de sua grandiosidade. Apenas a cabeça dessa estátua foi encontrada pelos arqueólogos e mede cerca de 76 centímetros de altura. Ao sul do pátio havia uma pequena sala hipostila (7) e os usuais cinco nichos (8) destinados a receber estátuas do faraó, as quais deveriam também estar voltadas para a pirâmide. Uma pirâmide subsidiária (9) foi construída no canto sudoeste do conjunto. A Pirâmide de Sahure Sahure, que reinou entre 2458 e 2446 a.C. aproximadamente, segundo faraó da V dinastia, escolheu um planalto na orla do deserto para edificar sua pirâmide. Atualmente o local fica próximo da moderna cidade de Abusir. Impressionante por sua magnificência artística, estima-se que cerca de 10 mil metros quadrados de paredes de pedra calcária estavam cobertos de relevos neste conjunto arquitetônico. Os egípcios chamavam-na de A Pirâmide onde o Espírito Ba se Levanta; ou, segundo outros autores, O Ba de Sahure resplandece. O lado da base da pirâmide, quando intacta, media cerca de 78 metros e 33 centímetros e sua altura era de, aproximadamente, 49 metros e 37 centímetros. O revestimento era de pedra calcária e pouco restou dele, mas uma parte considerável da estrutura do monumento permanece intacta. A entrada localiza-se na face norte da pirâmide, um pouco a leste do centro e no nível do pátio circundante. Dai parte um corredor descendente (1) por cerca de quatro metros e 27 centímetros, que a seguir torna-se horizontal por mais oito metros e 23 centímetros. Nesse ponto ele é bloqueado por uma porta levadiça de granito (2) e a seguir sobe suavemente até desembocar numa câmara funerária oblonga (3). Quase toda a extensão do corredor está revestida de pedra calcária, com exceção de pequenos trechos sem revestimento e de um trecho, não muito longo, em sua parte final, que é revestido de granito. A câmara funerária foi construída totalmente em calcário. Seu teto em ponta é formado por três camadas de alvenaria superpostas. Os maiores blocos do teto medem cerca de 10 metros e 67 centímetros de comprimento por dois metros e 74 centímetros de largura e três metros e 65 centímetros de espessura.O templo do vale era dotado de dois embarcadouros, um virado para o leste (1) e outro para o sul (2), conectados através de rampas, ora com um canal, ora com o próprio Nilo, dependendo do menor ou maior volume de água do rio. Na face leste da construção existe um pórtico (3) com piso de basalto negro polido e teto de calcário. Esse último é sustentado por oito colunas monolíticas de granito e, para imitar o céu, está pintado de azul e decorado com estrelas douradas esculpidas em relevo. As colunas imitam a palma da tamareira, com suas folhas atadas em um feixe vertical formando os capitéis, e todas elas trazem, dentro de uma moldura retangular, o nome e os títulos do faraó em hieróglifos escavados e preenchidos com massa de cor verde. As paredes do recinto são de pedra calcária, decoradas com relevos pintados e assentam-se sobre uma base quadrangular de granito. Um pórtico similar (4), mas de dimensões menores, abre-se na face sul da construção. Tem piso de calcário e colunas cilindricas sem qualquer decoração nos capitéis. Ambos os pórticos ligam-se por passagens a um pequeno vestíbulo em forma de tê (5) e esse se comunica com a calçada (6) que liga os dois templos. O templo funerário é formado por cinco elementos principais: um vestíbulo de entrada, um pátio aberto, cinco nichos para estátuas, armazéns e um santuário. O vestíbulo (7) tinha o piso em pedra calcária e suas paredes acentavam-se sobre uma base quadrangular de granito. Entretanto, está por demais danificado para que se possa conhecer outros detalhes. O pátio (8) era pavimentado com basalto polido e só havia nele um altar de alabastro no canto noroeste. As arcadas que o rodeavam tinham o teto decorado com estrelas e sustentado por uma fileira de colunas em forma de palmeira. Veja duas destas colunas que restaram clicando aqui. As paredes estavam decoradas com relevos mostrando o faraó triunfando sobre os seus inimigos, fossem eles asiáticos, representados na parede norte, ou líbios, retratados na parede sul. Um desses relevos, — descreve I.E.S. Edwards —encontrado no canto sudoeste, mostra Sahure no ato de imolar um comandante líbio capturado; dois dos filhos do oficial líbio e uma mulher, que pode ser tanto sua esposa quanto sua filha, assistem implorando. Outros cativos líbios, alguns dos quais são mulheres e crianças, também estão representados em atitude semelhante. Em outro trecho da cena são mostrados animais vivos, tomados como butim; seu inventário é dado nas inscrições que acompanham a cena como 123.440 cabeças de gado, 223.400 asnos, 232.413 veados, cervos e corças e 243.688 ovelhas, mas apenas uma pequena fração deste vasto total está realmente representada. Um corredor largo, pavimentado com basalto e também decorado com relevos rodeia o exterior do pátio. Aqui os relevos seguem temática diferente. No lado setentrional — continua descrevendo o mesmo autor — há cenas do rei arpoando peixes e caçando pássaros com lanças de madeira. No lado meridional, em um relevo que mede cerca de nove metros de comprimento, o rei é mostrado caçando. Atrás dele encontra-se seu sucessor Neferirkare e um grupo de cortesãos. Em frente estão antílopes, gazelas, veados, cervos, corças e outros animais com chifres impelidos por batedores para um grande cercado onde o rei os abate com flechas do seu arco. Câes de caça agarram alguns dos animais feridos pela garganta e os matam. Aqui e ali o escultor variou a regularidade da cena com toques vivos, tais como uma cobra ou um ouriço-cacheiro prontos a desaparecer em suas covas e uma hiena agarando um antílope ferido como sua presa particular. Alguns dos mais interessantes relevos de todo o templo estavam esculpidos na parede leste do corredor oeste. Ao norte da porta de saída do pátio aberto, o rei, acampanhado de seus cortesãos, está representado testemunhando a partida de doze navios marítmos para uma terra que não está especificada, mas que era provavelmente a Palestina ou a Síria. Na posição correspondente do lado sul da porta, o rei e sua comitiva olham o retorno dos navios repletos de carga e transportando numerosos asiáticos. Nada em sua aparência sugere que os asiáticos sejam prisioneiros; os navios podem, portanto, ter sido empregados em missão comercial ou, talvez, diplomática. Já no reinado de Snefru os egípcios haviam procurado madeira na Síria e dessa maneira, se a carga era composta de mercadorias, essa expedição não representa um empreendimento novo iniciado por Sahure. O corredor oeste, onde tais relevos se encontravam, era um ponto chave de todo o conjunto, pois ele permitia atingir, direta ou indiretamente, todas as partes do complexo piramidal. Uma porta em seu extremo norte dava acesso ou ao espaço murado que rodeava a pirâmide, ou a uma escada (9) que levava ao telhado do templo. Outra porta no extremo sul do corredor levava também à área em volta da pirâmide e ainda ao pátio de uma pirâmide subsidiária (10) e a uma entrada lateral do conjunto (11). No meio do corredor, frente à porta de saída do pátio aberto, uma passagem seguida de pequeno lance de escadas dava para uma pequena câmara (12) contendo cinco nichos para estátuas. Na parede sul dessa câmara uma porta era o único meio para atingir o santuário (13) e cinco recintos existentes ao lado dele (14), dos quais pelo menos dois eram usados para realização de algum tipo de cerimônia no ritual do templo. O santuário media cerca de 13 metros e 70 centímetros de comprimento por quatro metros e 57 centímetros de largura e apresentava em sua parede oeste uma falsa-porta de granito, ao pé da qual ficava um altar baixo de alabastro. As demais paredes, erguidas sobre uma base quadrangular de granito, eram de pedra calcária e decoradas com relevos de deuses trazendo dádivas de provisões para o faraó. Ainda no corredor oeste, além da entrada para os nichos das estátuas, existiam dois pequenos recintos cujos tetos eram suportados por colunas graníticas de três metros e 65 centímetros de altura. Elas imitavam o formato de um conjunto de seis hastes de papiro amarradas, sendo que o capitel era formado pelos seus brotos. Através de passagens existentes em tais recintos, chegava-se aos armazéns (15), dispostos em duas fileiras, 17 à esquerda e 10 à direita. Os armazéns eram construídos em blocos de dois andares, cada um deles formado por um cômodo, sendo que cada bloco tinha a sua própria escada. Ao que parece, o grupo menor de armazéns destinava-se a abrigar objetos particularmente valiosos, tais como vasos decorados e estátuas douradas, utilizados apenas em ocasiões especiais pelos sacerdotes funerários, enquanto que o grupo maior de armazéns deveria conter vasos de pedra e provisões. Um detalhe que chamou a atenção dos arqueólogos no complexo piramidal de Sahure foi o seu elaborado sistema de drenagem. A chuva que caia sobre o telhado vertia através de bicas de pedra com formato de cabeça de leão que se projetavam da parte superior das paredes externas. Esse tipo de gárgula — conjetura I.E.S.Edwards — pode ter sido escolhida porque a chuva era às vezes encarada como uma manifestação de Seth e de outros deuses hostis, a qual era assim consumida e expelida, após ter sido tornada inofensiva, pelo leão, o protetor dos locais sagrados. Nas partes descobertas do complexo, a água da chuva escoava através de aberturas existentes na base das paredes externas, para onde era conduzida por canaletas cavadas no piso. Havia também necessidade de drenar água e outros líquidos utilizados durante as cerimônias religiosas, sendo perigoso tocá-los pois, em alguns casos, teriam se tornado ritualmente impuros. Com essa finalidade era empregado um outro método. Cinco bacias de pedra, revestidas de cobre, estavam espalhadas em lugares estratégicos: duas nos recintos ao lado do santuário, uma no próprio santuário, outra no corredor que leva ao santuário e, finalmente, outra no grupo menor de armazéns. Canos feitos de cobre ligavam tais bacias com o sistema subterrâneo de drenagem, formado por uma linha de canos de cobre que corria por sob o piso desde o santuário até a extremidade da calçada que ficava junto ao templo do vale, onde terminava numa saída no lado sul. Todo o metal empregado nesse encanamento, com mais de 304 metros de comprimento, deve ter sido trazido do Sinai ou do deserto ocidental. Acima, numa foto © do Canadian Museum of Civilization Corporation, representação artística do conjunto arquitetônico de Sahure. A Pirâmide de Neferirkare Tendo reinado aproximadamente entre 2446 e 2426 a.C., o terceiro faraó da V dinastia, de nome Neferirkare, escolheu para erigir seu conjunto piramidal o mesmo planalto selecionado por seu antecessor. A pirâmide media 69 metros e 50 centímetros de altura e os lados da base tinham 126 metros de comprimento, sendo, portanto, um pouco maior que a pirâmide de Miquerinos, mas essa obra jamais foi concluída. O pouco revestimento que sobrou do monumento mostra que pelo menos a camada rente ao chão estava recoberta por granito não polido. Os egípcios chamavam-na de A Pirâmide do Espírito Ba ou, dizem outros autores, Neferirkare Tornou-se um Ba.Sucessores de Neferirkare prosseguiram na construção tanto da pirâmide quanto do templo funerário empregando tijolos e madeira. Ambos os materiais foram utilizados no vestíbulo de entrada e no clautro do pátio do templo, onde os tetos eram suportados por colunas de madeira assentadas em bases de pedra calcária. Cada coluna era esculpida imitando hastes e brotos de lotus amarrados em forma de feixes. Os sacerdotes funerários de Neferirkare construíram suas moradias de tijolo cru encostando-as nas paredes do templo mortuário. O templo do vale e a calçada ficaram inconclusos e, posteriormente, foram incorporados por Neuserre ao seu monumento. A Pirâmide de NeuserreNeuserre foi o sexto faraó da V dinastia e reinou aproximadamente entre 2416 e 2392 a.C. Selecionou o mesmo planalto escolhido anteriormente pelos reis Sahure e Neferirkare como o local ideal para a construção de sua pirâmide, que originalmente atingia 51 metros e 50 centímetros de altura. Edificou o monumento em tal posição que lhe foi possível utilizar integralmente o trecho inferior da calçada construída por Neferirkare. Quanto ao trecho superior da calçada, ele foi desmantelado e grande parte reconstruído num ângulo que lhe permitisse atingir a entrada do templo funerário de Neuserre. As paredes da calçada estão assentadas sobre uma base quadrangular de basalto, são revestidas de pedra calcária e decoradas com cenas variadas em relevo. Numa delas aparece o faraó, representado como um leão ou um grifo, pisoteando seus inimigos. O templo do vale tem dois pórticos: o maior de frente para o nascente e o menor de frente para o poente. Ambos apresentam colunas de granito vermelho imitando feixes de papiro. Nos diversos aposentos empregou-se pedra calcária, granito vermelho e basalto negro polido combinados para a formação de tetos, pisos e paredes. No templo funerário as colunas imitando feixes de papiro se repetem e, por haver pouco espaço dentro do seu recinto, a maior parte dos armazéns foi construída do lado externo das paredes norte e sul do vestíbulo de entrada. O santuário ocupa a posição habitual, exatamente a leste da câmara mortuária. O nome dado pelos antigos egípcios a essa pirâmide era A Pirâmide que É Estabelecida de Lugares ou, conforme outros autores, Os Lugares de Neuserre São Duradouros. A sudeste da pirâmide principal situa-se uma pirâmide subsidiária. A Pirâmide de Djedkare IzeziO faraó Djedkare Izezi reinou entre 2388 e 2356 a.C., aproximadamente, tendo sido o oitavo rei da V dinastia. Sua pirâmide, com altura original de 52 metros e 50 centímetros, foi construída exatamente a oeste da aldeia de Saqqara e atualmente é conhecida pelo seu nome árabe, Haram esh-Shauwaf, que significa Pirâmide da Sentinela. Os antigos egípcios chamavam-na de Pirâmide Bela ou de Izezi É Belo, segundo outros autores. Os arqueólogos encontraram centenas de pedaços de elementos arquitetônicos e esculturais em seu templo mortuário: colunas quebradas de granito vermelho imitando palmeiras, fragmentos de estátuas de pedra calcária representando prisioneiros estrangeiros, uma esfinge e parte de um relevo mostrando a figura do deus Seth com pálpebras incrustradas de cobre. A Pirâmide de Wenis
O último rei da V dinastia, Wenis, reinou, aproximadamente, entre 2356 e 2323 a.C. e edificou sua pirâmide junto ao canto sudoeste do muro que circundava a pirâmide de degraus. Nos antigos textos hieráticos ela recebe o nome de As Moradas de Wenis São Belas. Pirâmide que É Bela de Lugares é outra variante do nome. Sua altura, de apenas cerca de 19 metros, não impressiona, embora, ainda assim, corresponda à de um prédio de seis andares. A entrada para o monumento situa-se, como de hábito, em sua face norte, mas não na parede da pirâmide e sim debaixo do pavimento. Três portas levadiças (1) de granito bloqueavam o corredor de entrada, não permitindo o acesso a um vestíbulo quadrado (2) existente mais adiante. A leste do vestíbulo existe um cômodo estreito e comprido com três nichos para estátuas (3); a oeste, situa-se a câmara funerária (4). Nesta foi encontrado intacto, mas vazio, um sarcófago retangular de pedra. Todos os recintos são construídos de pedra calcária, menos a parede oeste da câmara funerária e as metades oeste de suas paredes norte e sul, ou seja, a região em torno do sarcófago, onde o calcário foi substituído por alabastro, no qual foram esculpidos e pintados uma falsa-porta e um elaborado painel. Como se vê, essa pirâmide apresenta características estruturais diferentes daquelas dos monumentos construídos anteriormente. Entretanto, o mais notável diferencial que ela apresenta é, sem dúvida, o que hoje é conhecido como textos das pirâmides. Trata-se de inscrições hieroglíficas, dispostas em colunas verticais, que cobrem integralmente as paredes do vestíbulo e as partes em pedra calcária das paredes da câmara funerária. Cada hieróglifo foi preenchido com pigmento azul, de forma a destacar-se claramente sobre o fundo branco. As mais antigas versões de tais textos foram encontradas nessa pirâmide. O templo funerário apresenta um projeto e detalhes contrutivos muito semelhantes ao edifício correspondente da pirâmide de Sahure. Existem diferenças na disposição de alguns corredores e dos armazéns e no material empregado nos pisos, utilizando-se alabastro ao invés do basalto. Apenas poucos fragmentos de relevos mostrando servos portando oferendas foram preservados. A calçada que parte do templo mortuário não segue uma linha reta em toda a sua extensão de 685 metros e 50 centímetros, mas muda duas vezes de direção para melhor aproveitar as carac-terísticas do terreno. Mesmo assim foi necessário vencer profundas depressões do solo. Alguns dos blocos de pedra utilizados nesse trabalho foram retirados de edificações que faziam parte do complexo piramidal de Djoser, o que demonstra que esse monumento já se encontrava em mau estado no final da V dinastia. As paredes do corredor provavelmente atingiam a altura de quase quatro metros, com cerca de dois metros de espessura, enquanto que a calçada propriamente dita deveria ter cerca de dois metros e 64 centímetros de largura. O teto plano era feito de lajes com 46 centímetros de espessura, que deixavam um vão de cerca de 20 centímetros no centro do corredor para a passagem da luz. Ao sul da calçada existem duas covas para barcos funerários, escavadas lado a lado, tendo cada uma delas cerca de 45 metros de comprimento e totalmente revestidas de pedra calcária. Baixos relevos esculpidos nas paredes internas da calçada mostram cenas que cobrem uma grande variedade de assuntos. Um grupo de relevos mostra o transporte naval desde Assuã de colunas de granito no formato de tamareiras e, também, de arquitraves usadas na construção do templo mortuário. Outro grupo representa artífices forjando ouro, fundindo objetos de cobre e polindo vasos feitos de pedra e de ouro. Mais adiante, os trabalhadores das propriedades reais aparecem colhendo figos, ceifando milho e recolhendo mel. Longos séquitos de criados são representados trazendo provisões de toda espécie para a tumba. As cenas de caçada incluem representações de cada animal de chifres conhecido pelos egípcios, bem como uma girafa, um leão, leopardos, raposas, hienas, cobras e ouriços. Possivelmente a cena melhor delineada de todas — pondera I.E.S.Edwards — exibe as vítimas de uma carestia, cujos corpos estão tão macilentos que estão reduzidos a pouco mais do que pele e osso. Desafortunadamente, esta cena única está incompleta e é dificil imaginar seu contexto; mesmo a nacionalidade do povo não pode ser identificada com certeza. Desde que, entretanto, os relevos das tumbas representam apenas incidentes ou eventos que o proprietário falecido gostaria de perpetuar, pode-se supor que o povo enfraquecido não era o egípcio e que a parte faltante do relevo continha cenas de provisões sendo mandadas a ele por Wenis. Todos os relevos estavam pintados com cores brilhantes e o teto era decorado com estrelas douradas esculpidas em relevo sobre um fundo azul-celeste. A Pirâmide de TetiO faraó fundador da VI dinastia, de nome Teti, e que reinou, aproximadamente, entre 2323 e 2291 a.C., construiu sua pirâmide em Saqqara, localizando-a a nordeste da pirâmide de degraus. O nome que os antigos egípcios lhe davam era Pirâmide que É Duradoura de Lugares ou, segundo outros autores, Duradouras São as Moradas de Teti. Trata-se de um monumento menor se comparado com as edificações anteriores, já que atingia apenas 52 metros e 50 centímetros de altura, mas de considerável importância em virtude dos textos que contém. Atualmente essa pirâmide é, na sua maior parte, apenas uma pilha de pedregulhos constantemente ameaçada de ser coberta pela areia. Há um caminho íngreme que conduz à câmara funerária, cujas paredes estão enfeitadas com os Textos das Pirâmides e o teto é decorado com estrelas. Na foto acima, o sarcófago sem decoração encontrado na câmara funerária do monumento. Dentro dele havia um braço mumificado e um ombro, presumivelmente desse faraó. Nas proximidades já foram encontradas as pirâmides de duas esposas principais de Teti, Iput I e Khuit, de sua mãe, Sesheshet, e também tumbas de seus cortesãos, entre as quais a do vizir Mereruka, uma grande mastaba com 32 cômodos, todos ricamente esculpidos, e a do vizir Kagemni. A Pirâmide de Pepi IPepi I foi o segundo faraó da VI dinastia. Reinou, aproximadamente, entre 2289 e 2255 a.C. e construiu sua pirâmide em Saqqara, em posição mais ao sul do que a de Teti, seu antecessor. Ela é baixa se comparada com as anteriores, pois sua altura era de apenas 52 metros e 50 centímetros, o correspondente a um prédio de 17 andares. Foi nesse monumento que os arqueólogos encontraram pela primeira vez, em 1881, os assim chamados textos das pirâmides. No tempo dos antigos egípcios o nome dessa construção era Mennufer (Durável em Beleza). Já na XVIII dinastia o nome se estendeu a toda a cidade formada em torno dela a partir do núcleo original ali estabelecido pelos sacerdotes e funcionários da pirâmide. Esse nome, através do copta Menfe, foi transformado pelos gregos em Mênfis. Outras traduções que os autores apresentam para o nome desta pirâmide são: Pirâmide Estabelecida e Bela ou Pepi É Estabelecido e Belo. A Pirâmide de MerenreO sucessor de Pepi I, Merenre, que reinou entre 2255 e 2246 a.C., aproximadamente, também construiu sua pirâmide na parte sul de Saqqara. A ela os antigos egípcios davam o nome de Pirâmide Brilhante e Bela ou de Merenre Resplandece e É Belo, segundo outros autores. A exemplo dos monumentos construídos pelos seus dois antecessores, esse tinha 52 metros e 50 centímetros de altura e seu interior trazia inscritos nas suas paredes os textos das pirâmides. A Pirâmide de Pepi IIO último faraó da VI dinastia foi Pepi II. Tendo ascendido ao trono ainda criança, reinou por 94 anos (c. de 2246 a 2152 a.C.), o que faz desse reinado, de longe, o maior de toda a história do antigo Egito. Seu complexo piramidal situa-se em Saqqara, a pouca distância ao sul dos monumentos de seus dois predecessores. O nome que os antigos egípcios davam a esse monumento era Pirâmide Estabelecida e Viva ou, segundo outras versões, Pepi É Estabelecido e Vivo. Infelizmente os arqueólogos só conseguiram recuperar os alicerces do conjunto e praticamente nada de sua estrutura. Apesar disso, o trabalho arqueológico foi suficiente para mostrar o projeto padrão de tais conjuntos em sua forma final e mais altamente desenvolvida.Como várias pirâmides da mesma época, esta foi construída com pequenas pedras ligadas com argamassa feita com o lodo do Nilo e revestida com uma cobertura de pedra calcária. Sua altura original era de 52 metros e 50 centímetros. Como característica única ela apresentava ao redor de toda a sua base uma faixa de alvenaria revestida de pedra calcária. Medindo cerca de seis metros e 40 centímetros de largura, essa faixa se elevava ao nível da segunda ou, talvez, terceira camada de revestimento do monumento e só se interrompia na face leste, no trecho em que o templo funerário encosta na pirâmide. Os arqueólogos supõem que essa faixa foi construída para reforçar a estrutura do monumento que fora abalada por alguma influência externa como, por exemplo, um tremor de terra. O corredor de entrada da pirâmide (1), partindo de sua face norte, descia de forma acentuada por uma curta distância e depois seguia horizontalmente por outro tanto até atingir um vestíbulo qua-drado (2) situado entre o serdab (3) e a câmara funerária (4). No começo da seção horizontal o corredor se tornava mais largo e mais alto, formando uma espécie de câmara (5). Nesse local foram encontrados fragmentos de vasos de alabastro e diorito inscritos com o nome do faraó Pepi II e de alguns de seus predecessores. Os textos das pirâmides estavam esculpidos não só nas paredes desse recinto, mas também em todo o restante dos subterrâneos, com exceção do serdab, das partes do corredor revestidas de granito e da extremidade oeste da câmara funerária, junto ao sarcófago (6), onde as paredes eram revestidas de alabastro decorado com a falsa-porta e um painel desenhado. Havia ainda um conjunto de três portas levadiças (7) que bloqueavam o corredor de entrada, não permitindo o acesso à câmara funerária após o sepultamento. Junto ao canto sudeste da pirâmide principal localizava-se a pirâmide subsidiária. Logo na entrada do templo funerário havia um corredor transversal (1) cuja finalidade era permitir o acesso a dois com-partimentos, um em cada extremidade do corredor, nos quais se localizavam os lances de escada que atingiam o telhado. No centro do corredor havia uma passagem que levava ao vestíbulo de entrada (2), com paredes decoradas com relevos. Uma dessas imagens mostrava o faraó caçando hipopótamos a partir de um bote feito de junco. Logo após o vestíbulo existia um claustro (3) de arquitetura bem simples se comparado com idênticos recintos de construções anteriores. Dezoito pilares de quartzito avermelhado suportavam o teto, mas não imitavam palmeiras ou papiros, sendo simplesmente colunas monolíticas retangulares decoradas em sua face externa apenas com figuras do rei e de um deus. O piso do recinto era de lajes de pedra calcária e, ao que parece, suas paredes não estavam revestidas de relevos. No espaço que rodeava o claustro e o vestíbulo de entrada estava situado um grande grupo de armazéns. Passado o claustro havia um corredor central transversal (4) que já se situava dentro dos muros que cercavam a pirâmide e que permitia acesso ao espaço que a rodeava através de portas localizadas em suas extremidades. Foram encontrados alguns fragmentos dos relevos que decoravam as paredes desse corredor. Um deles mostra o faraó golpeando na cabeça com uma maça um comandante líbio capturado. A esposa e dois filhos do oficial líbio a tudo assistem implorando clemência. Essa cena é uma cópia de outra quase idêntica existente no templo funerário do faraó Sahure (c. de 2458 a 2446 a.C.). Até o nome da mulher e dos dois filhos do líbio foram repetidos. O fato nos é explicado pelo egiptólogo I.E.S.Edwards: Essa quase exata duplicação de uma cena nos templos de dois reis cujos reinados estão separados por cerca de dois séculos fornece prova conclusiva de que os relevos dos templos não necessariamente registravam episódios históricos da vida do rei; todas as evidências, na realidade, demonstram que eles visavam descrever a vida ideal que o rei desejava levar no além-túmulo. Ainda no corredor transversal outras cenas mostram o faraó participando de cerimônias rituais destinadas a restituir fertilidade ao solo do Egito. Numa delas ele aparece, usando a coroa do Alto Egito e portando nas mãos um mangual, correndo entre algumas balizas de pedra colocadas a certa distância umas das outras. Em outra o rei aparece em pé ao lado de um alto mastro suportado por quatro escoras de madeira. Dois homens são representados no ato de trepar nas escoras, enquanto que ajudantes seguram cordas amarradas tanto nas escoras quanto no mastro. Pela parte central do corredor podia-se atingir um pequeno pátio (5) que continha cinco nichos para estátuas, as quais não foram encontradas. Portas duplas de madeira impediam as estátuas de serem vistas, a não ser em ocasiões em que os rituais exigissem sua exibição. Do pátio uma passagem à direita levava a um pequeno grupo de armazéns; outra passagem à esquerda conduzia a uma estreita câmara de distribuição. Nesta um relevo mostrava uma gigantesca figura do rei brandindo uma maça sobre as cabeças de um grupo de cativos estrangeiros. Por trás do faraó uma pequena figura humana representava o seu ka, atuando como seu protetor. Mais adiante a deusa Seshat anotava num rolo de papiro o número de cativos sacrificados e a quantidade de butim conseguido. Cenas semelhantes foram encontradas em vários templos funerários. A conclusão a que os estudiosos chegaram foi a de que ali se realizavam cerimômias periódicas para comemorar vitórias obtidas em tempos antigos pelos egípcios sobre seus vizinhos estrangeiros. Provavelmente destinadas à mesma finalidade ritual, existiam nesse templo e em outros mais antigos estátuas representando cativos ajoelhados, às quais faltavam parte dos braços. De todas as estátuas desse tipo, nenhuma foi encontrada intacta e a maioria parece ter sido mutilada deliberadamente. É possível que tenham sido usadas como substitutas de seres vivos, já que a mentalidade egípcia repugnava o sacrifício humano a sangue frio. A câmara de distribuição possuia mais duas passagens, além daquela que lhe dava acesso. Uma delas conduzia a uma ampla série de armazéns e a outra a um vestíbulo quadrado situado junto ao santuário (6). O vestíbulo tinha o teto sustentado por uma única coluna e em todas as paredes o faraó era representado sendo recebido não só pelos altos sacerdotes e oficiais do país, como também pelas divindades egípcias que ali se reuniam para saudá-lo, supostamente no momento em que o rei adentrava o templo, através do santuário, vindo de sua tumba, ou seja, da pirâmide. Cerca de cem divindades ali estavam representadas, em posição ereta, portando um cetro em uma das mãos e o hieróglifo que significa vida na outra. Os oficiais eram aproximadamente 45 e estavam em atitude de respeitosa reverência diante do rei. Também faziam parte da cena açougueiros sacrificando gado nos preparativos de um banquete. O santuário media aproximadamente 15 metros e 54 centímetros de comprimento por cinco metros e 18 centímetros de largura e sete metros e 30 centímetros de altura, sendo que o teto era pintado de azul e decorado com estrelas douradas. Nas paredes maiores os relevos mostravam o rei sentado diante de uma mesa repleta de alimentos. O ka do faraó aparece atrás dele. Diante de cada mesa — descreve I.E.S.Edwards — há uma procissão de cerca de cento e vinte e cinco portadores de oferendas formada por sacerdotes, oficiais provinciais, cortesãos e outros dignatários que, por terem sido incluídos nesses relevos, tinham a garantia de passar a vida no além-túmulo a serviço do rei. Entre as oferendas trazidas pelos portadores estavam patos, gansos, vinho, cerveja, frutas, pão e vegetais. Gado, antílopes, gazelas e cabras eram conduzidas por cordas atadas aos seus pescoços ou pernas dianteiras. Pombos e codornizes eram transportadas em gaiolas. Acima desses relevos havia um friso largo decorado com figuras representando provisões. Esse friso continuava na parede leste, onde uma cena de gado sendo abatido tomava o lugar ocupado nas paredes norte e sul pelos portadores de oferendas. Em nenhum outro templo funerário — prossegue o mesmo autor — foi possível reconstruir tanto da decoração original do santuário ou ver quão completamente ela estava devotada à satisfação das necessidades físicas do rei morto. Cada tipo de alimento era representado nos relevos, de forma que se os sacerdotes deixassem de prover suprimentos diários de provisões frescas no altar, ele não sofreria de fome ou sede; pela simples presença da fórmula mágica que acompanhava os relevos, as imagens assumiriam todas as propriedades de suas contrapartidas materiais. Como precaução adicional, vinho e provisões secas podiam ser guardados em um grupo de armazéns situados ao norte e conectados por uma passagem com o santuário. A calçada (7) que liga o templo funerário ao templo do vale muda de direção duas vezes em seu trajeto, visando melhor aproveitamento das características do terreno. Os fragmentos de relevos encontrados foram suficientes para que os estudiosos deduzissem o conteúdo de algumas das cenas esculpidas: o rei, representado por uma esfinge ou por um grifo, pisoteando os inimigos tradicionais do Egito, a ele conduzidos como cativos pelos deuses; a deusa Seshat compilando o registro das vítimas e o butim conseguido; longas procissões de servos transportando produtos das propriedades reais para a tumba; procissões semelhantes, porém formadas por deuses e deusas que caminham em direção ao rei que se apresenta sentado em seu trono. Para evitar que os sacerdotes vindos da direção norte ou sul fossem obrigados a caminhar até o vale para alcançar o templo funerário através do corredor, havia portas nas paredes da porção superior deste último. A fim de evitar o acesso de pessoas não autorizadas aos recintos sagrados através de tais portas, havia junto a elas um abrigo (8) para um porteiro que controlava a entrada. Na frente do templo do vale existe um largo terraço (9), acessível por meio de rampas, que ultrapassa em muito os limites das paredes do templo propriamente dito. Uma parede de pedra calcária, alta e espessa, rodeia o terraço pelos seus lados norte, sul e oeste. Escadas (10) estreitas construídas na alvenaria das extremidades da parede levam a um parapeito que se estende por toda a extensão dela. Ao centro de sua face oeste a parede é interrompida por uma porta rodeada por uma moldura de granito, na qual os nomes e títulos do faraó estão esculpidos em grandes hieróglifos. Além da porta uma passagem na parede leva a uma sala (11) alongada com oito pilares retangulares. Entre os escombros foram encontrados fragmentos de baixos-relevos pintados que ornaram um dia as paredes do recinto. As cenas mostram o rei matando seus inimigos, caçando pássaros nos pântanos e acompanhado pelos deuses. O restante da construção é formada por armazéns e duas câmaras subsidiárias. Do lado de fora do muro que cercava a pirâmide principal de Pepi II estavam localizadas três outras pequenas pirâmides (12) (13) (14) pertencentes às rainhas Wedjebten, Iput II e Neit. Cada uma delas possuia suas próprias construções complementares, reproduzindo, em miniatura, os elementos principais do templo funerário do faraó. Nesse sentido, a mais completa é a da rainha Neit. Sua pirâmide alcançava cerca de 21 metros e 30 centímetros de altura, a base quadrada media 27 metros e 50 centímetros de lado e em suas características essenciais era uma réplica em escala reduzida da pirâmide do rei. Frente à sua entrada havia uma pequena capela para oferendas (15), cujas paredes internas estavam parcialmente adornadas com relevos mostrando a rainha recebendo provisões. Uma falsa-porta formava a parede sul da capela e junto a ela havia um altar para as oferendas. Essa parede bloqueava a entrada do corredor da pirâmide. Dentro dele havia inicialmente uma porta levadiça de granito e, a seguir, suas paredes eram decoradas com os textos das pirâmides. Estes também estavam inscritos na câmara mortuária, exceto em sua extremidade oeste onde as paredes eram revestidas de alabastro e ornamentadas com uma falsa-porta e um painel desenhado. O sarcófago de granito foi encontrado sem tampa e vazio. Junto dele, enterrado no piso da câmara, havia um estojo canopo, fabricado de um único bloco de granito e que teria contido, um dia, quatro jarros contendo as vísceras da rainha. Na outra extremidade da câmara funerária, uma curta passagem levava diretamente ao serdab. No canto sudeste do muro de pedra calcária que circundava a pirâmide de Neit existia uma entrada estreita que dava acesso a um vestíbulo (16). Desse passava-se a um pátio aberto (17) rodeado em três de seus lados por colunas quadradas. Tanto o vestíbulo quanto o pátio estavam decorados com relevos que mostravam a rainha apresentando oferendas a várias deusas ou sendo reverenciada por seus familiares e servos. Um corredor partia do canto noroeste do pátio e, passando por um conjunto de cinco armazéns (18), levava à parte mais interna do templo formada por uma câmara longa, um pequeno pátio com três nichos para estátuas e o santuário (19). Ao lado deles existia um serdab. Um fato que surpreendeu os arqueólogos foi a existência de pirâmides subsidiárias nos complexos das três rainhas, situadas junto ao canto sudeste da pirâmide principal. E surpreendeu porque essas pirâmides subsidiárias destinavam-se a conter as vísceras daquele que ocupava o monumento principal, ou então o corpo do seu cônjuge, e tal não acontece nesse caso. Na pirâmide de Neit um dos compartimentos tinha o chão coalhado de fragmentos de vasos de barro e havia ainda três vasos de alabastro, um dos quais trazia inscrito o nome da rainha. Deduziram os estudiosos que, nesse caso, provavelmente se acreditasse que a pirâmide subsidiária teria algum efeito sobre o conteúdo de tais recipientes, pois, caso contrário, eles poderiam perfeitamente ter sido guardados nos armazéns do templo. A Pirâmide de IbiIbi é um faraó pouco conhecido que reinou no decorrer da VIII dinastia. Sua pirâmide foi construída em Saqqara, mas ficou inacabada. Foi tão danificada que tornou-se impossível determinar o seu tamanho exato, embora se saiba que não deve ter sido maior que a pirâmide da rainha Neit. Os textos das pirâmides também foram encontrados em seu interior. Seu templo funerário era de tijolos e provavelmente não dispunha de templo do vale e calçada. A Pirâmide de Nebhepetre Mentuhotepe
O quarto rei da XI dinastia foi um dos maiores faraós do Egito. Reinou aproximadamente entre 2061 e 2010 a.C. e construiu um complexo funerário impressionante em Tebas, numa profunda reentrância dos íngremes rochedos da margem oeste do Nilo, na região conhe-cida como Deir el-Bahari, quase em frente de Karnak. Os antigos egípcios exclamavam: Gloriosas São as Moradas de Nebhe-petre, quando queriam se referir a esse monumento. Contando com 250 colunas e 175 pilares, várias foram as admiráveis inovações arquitetônicas introduzidas nessa construção. Uma delas foi a colocação das diferentes partes do templo mortuário em terraços de altura variável. A parte frontal do templo funerário era formada por um antepátio cercado de altos muros por três lados. Nesse recinto havia uma entrada para um cenotáfio: do fundo de uma cova larga partia uma longa passagem subterrânea, cavada na rocha, com mais de 140 metros de comprimento, que levava a uma ampla câmara funerária, situada por baixo da pirâmide. Tal câmara ficou inacabada e era provavelmente simbólica, servindo como local para celebração de cerimônias religiosas. Embora não tenha sido violada por ladrões, nela só foram encontrados restos de oferendas, uma estátua representando o faraó sentado e envolto em linho da melhor qualidade, e um ataúde vazio de madeira. Sob essa câmara e a ela ligada por um poço vertical, havia outro recinto no qual foram encontrados apenas alguns potes e três barcos rústicos de madeira. Na extremidade oeste do antepátio havia uma colunata com duas fileiras de colunas quadradas que encobriam a parede oriental da estrutura de suporte de um amplo terraço, sobre o qual foi construído o templo propriamente dito. Naquela parede, relevos pintados representavam cenas de batalha ilustrando uma campanha contra os asiáticos, procissões de cativos estrangeiros, companhias de soldados armados com arcos e uma frota de navios. Frente à colunata, e ao lado de uma rampa ascendente que levava ao terraço, estavam plantadas figueiras e tamargueiras formando uma espécie de bosque. As árvores estavam enterradas em covas de nove metros de profundidade, preenchidas com uma mistura de terra preta e areia do rio. A maioria das árvores era de tamargueiras. Havia apenas oito figueiras, dispostos em duas fileiras de quatro na beira da avenida que conduzia ao topo do terraço. Cada uma destas oito árvores sombreava uma estátua que representava o faraó sentado. O terraço, que foi parcialmente escavado na rocha e parcialmente construído em alvenaria, suportava uma construção quadrada envolvida por uma arcada com pilares nos lados leste, sul e norte. Havia, tanto externa quanto internamente, relevos pintados nas quatro paredes desse edifício e sobre seu centro elevava-se a pirâmide. Esta era uma estrutura montada sobre uma alta base retangular, totalmente sólida, construída de pedra bruta revestida de pedra calcária polida e sem qualquer tipo de corredor ou câmara em seu interior. Entre a base retangular e as paredes da construção havia um passadouro cujo teto plano era suportado por fileiras de colunas octogonais. Depois dessa grande construção quadrada havia um claustro e uma sala hipostila com 18 colunas octogonais dispostas em 10 fileiras. Dentro da sala uma pequena capela protegia um altar e uma estátua do faraó colocada no interior de um nicho cavado no rochedo. O verdadeiro túmulo real tinha sua entrada localizada no claustro. Dai partia um tunel, com cerca de 150 metros de comprimento, que descia em linha reta e passava por sob a sala hipostila até alcançar uma câmara funerária localizada debaixo do rochedo. O recinto era revestido de granito e nele foi achado um sarcófago de granito e alabastro, dentro do qual provavelmente existiria um ataúde de madeira pintada contendo a múmia do faraó. Dois pequenos barcos, alguns cetros quebrados, arcos e flechas também foram encontrados, mas nenhuma múmia ou ataúde estava lá. Os arqueólogos localizaram por sob o piso, paredes e pilares do claustro, seis túmulos de mulheres da família real. Os achados mais interessantes e valiosos foram os sarcófagos de pedra calcária de duas rainhas de nome Kawit e Ashayt, ambos decorados externamente com belíssimos relevos. As cenas apresentam as rainhas em atos da vida cotidiana: fazendo a toalete com a ajuda de uma serva; saboreando leite de vacas que são mostradas acompanhadas de suas crias; visitando uma fazenda real na qual os componeses enchem os celeiros com milho e, ainda, preparativos para um banquete. O lado interno do sarcófago de Ashayt está decorado com cenas semelhantes, enquanto que o do sarcófago de Kawit apresenta apenas uma faixa de inscrições pintadas. A calçada que unia o templo funerário ao templo do vale se estendia por cerca de 1207 metros, tinha 46 metros de largura, era desprovida de cobertura e ladeada por paredes de pedra. Estátuas em pedra lioz, representando o rei portando os emblemas do deus Osíris, estavam postadas de nove em nove metros junto às paredes internas desse corredor. A Pirâmide de Amenemhet IO fundador da XII dinastia, Amenemhet I, reinou, asseguram os arqueólogos, exatamente entre 1991 e 1962 a.C. e construiu seu conjunto funerário em dois niveis, em uma área escalonada situada na localidade de el-Lisht. Na parte superior do terreno ficava a pirâmide, cuja altura original era de cerca de 55 metros, circundada por uma parede de pedra. A exemplo das pirâmides da VI dinastia, essa era formada por paredes de alvenaria com miolo solto de adobe, entulho e areia, tudo reforçado com revestimento da excelente pedra calcária local. A oeste da pirâmide, no mesmo nivel e fora dos muros, havia uma fileira de túmulos pertencentes aos membros da familia real. Todos eles foram totalmente saqueados na antiguidade.A leste da pirâmide existe um segundo nivel de terreno, menor e mais baixo, onde se situava o templo funerário, decorado com desenhos em relevo copiados do Império Antigo, e tumbas de uns poucos cortesãos favorecidos pelo rei. Tanto os terraços quanto os túmulos adjacentes eram circundados por uma parede retangular de tijolos. Do lado de fora dessa última parede existia um cemitério com mastabas de uma centena de nobres e oficiais. Diversos nomes foram dados pelos antigos egípcios a esse monumento como, por exemplo, Pirâmide Alta e Bela, Pirâmide dos Lugares de Levantamento e Amenemhet É Alto e Belo. A área na qual essa pirâmide foi erguida encontra-se próxima à da necrópole menfita. O fato representava uma fonte de material de construção já pronto que foi utilizado e, assim, os arqueólogos encontraram no monumento muitos blocos decorados oriundos de templos reais anteriores, principalmente do Império Antigo. Acredita-se, inclusive, que certos blocos vieram dos complexos da pirâmide de Kéops e da pirâmide de Kéfren. A entrada da pirâmide, vista na foto abaixo, fica no centro de sua face norte, ao nível do solo, e foi investigada pela primeira vez em 1882 pelo arqueólogo Gaston Maspero. Frente a ela havia uma capela de oferendas com uma falsa-porta de granito vermelho, com três metros e 50 centímetros de altura, esculpida na parede dos fundos. Por trás da falsa-porta um corredor revestido de granito conduzia à câmara funerária. Após o enterro do faraó essa passagem foi bloqueada por enormes tampões de granito. Os arqueólogos não conseguiram até hoje penetrar além desse corredor. O nível do leito do Nilo subiu desde a antiguidade e a câmara funerária foi invadida pelas águas e ali elas correm tão rápida e violentamente que os esforços para alcançá-la foram infrutíferos. A Pirâmide de Sesóstris ISesóstris I, filho de Amenemhet I, foi o segundo faraó da XII dinastia e reinou, dizem os estudiosos, exatamente entre 1971 e 1926 a.C. Sua pirâmide foi edificada cerca de 1600 metros ao sul da de seu predecessor e atingia uma altura de, aproximadamente, 61 metros. Pirâmide que É Favorecida dos Lugares, Pirâmide Sobranceira às Duas Terras e Aquela que É Associada às Moradas de Sesóstris, foram alguns dos nomes dados pelos antigos egípcios a esse monumento.Sua estrutura era constituída por oito grossas paredes de pedra que irradiavam do centro em direção aos quatro cantos do monumento e ao centro de cada uma de suas faces. Os oito compartimentos assim formados foram divididos em duas seções de tamanhos desiguais por meio de paredes construídas paralelamente às faces da pirâmide e colocadas mais ou menos a meio caminho entre os lados do monumento e o seu centro. Esses 16 compartimentos foram preenchidos com pedras calcárias em estado bruto, assentadas sobre areia, sendo que toda essa massa foi mantida coesa por um pesado revestimento feito com blocos bem talhados de pedra calcária. No centro da face norte do monumento havia uma capela de oferendas (1) e debaixo do seu piso estava situada a entrada da pirâmide. Dai partia um túnel quadrado, com apenas 94 centímetros de lado, que descia obliquamente até atingir a câmara funerária. Por cerca de 11 metros de extensão ele estava revestido com placas de pedra calcária polida e depois com lajes de granito vermelho, de encaixe perfeito. Alguns fragmentos de objetos de alabastro com o nome do faraó Sesóstris I foram encontrados no interior da construção, mas nada se sabe sobre a câmara funerária pois, a exemplo do que aconteceu com a da pirâmide de Amenemhet I, ela se encontra sob as águas do Nilo. O projeto do templo funerário desse conjunto foi copiado dos monumentos semelhantes da VI dinastia, sobretudo do de Pepi II. Em seu vestíbulo de entrada (2) havia, junto às paredes, estátuas do rei representado como o deus Osíris. Seis delas foram encontradas pelos arqueólogos. No recinto seguinte, um claustro (3), também havia estátuas do rei, provavelmente encostadas em cada um dos 24 pilares retangulares que sustentavam o teto da galeria. Dez delas foram encontradas nas escavações. Feitas de pedra calcária da melhor qualidade, as estátuas tinham expressões faciais ligeiramente diferentes, mas no restante eram semelhantes. De tamanho natural, representavam o faraó sentado no trono e usando os costumeiros trajes reais. Outras estátuas, representando o rei em pé, estavam colocadas atrás das portas de madeira dos cinco nichos (4) existentes no interior do templo. A construção se completava com alguns armazéns, antecâmaras e um santuário (5). A calçada (6) que ligava o templo do vale ao templo funerário tinha cerca de dois metros e 44 centímetros de largura e estava ladeada por paredes de pedra calcária decoradas, assentadas sobre uma base quadrangular salpicada de pontos vermelhos e pretos imitando granito. De ambos os lados do corredor, de 10 em 10 metros, postadas em recessos das paredes, havia estátuas do rei representado como o deus Osíris. Havia dois muros rodeando o complexo piramidal de Sesóstris I. O primeiro, feito de pedra, era decorado a intervalos regulares por painéis de pedra calcária, com cerca de quatro metros e 26 centímetros de altura, nos quais aparecem os nomes do faraó. Esse muro rodeava a pirâmide em si, a parte mais interna do templo funerário e a pirâmide subsidiária (7). O segundo, feito de tijolos de lama, rodeava todo o recinto cercado pelo primeiro muro e ainda o restante do templo funerário. Entre os dois muros, um amplo pátio abrigava nove pequenas pirâmides destinadas a mulheres da família real. Uma delas pertencia à rainha principal, Neferu, e outra a uma princesa de nome Itakayt. Todas as nove pirâmides eram providas de um pequeno templo funerário, uma capela de oferendas e um muro circundante. Por sob os pisos das capelas de oferendas havia dois poços verticais de considerável profundidade, escavados próximos um do outro, e conectados entre si por uma passagem subterrânea. Supõem os arqueólogos que o segundo poço serviu para manobrar os respectivos sarcófagos quando eles foram introduzidos nas câmaras funerárias, em um estágio da construção na qual as capelas de oferendas já estavam prontas. Na câmara funerária de uma destas pequenas pirâmides foi encontrado, vazio, um formoso sarcófago de quartzito. Um estojo canopo, também de quartzito, estava aninhado em um nicho existente em um dos cantos da câmara. Não havia inscrições que identificassem o proprietário de tais peças. Em uma mastaba pertencente a um alto oficial da corte de Sesóstris I, localizada ao norte da calçada e junto ao lado leste dos muros que rodeavam a pirâmide principal, foram encontradas duas estátuas de madeira representando o faraó. Com cerca de 60 centímetros de altura, cada figura foi feita com 16 peças de cedro cuidadosamente reunidas. Representam o rei vestindo um saiote curto e portando na mão esquerda um cetro longo no formado de um cajado de pastor. A única diferença entre as duas estátuas são as coroas que têm na cabeça: a coroa branca do Alto Egito em uma delas e a vermelha do Baixo Egito na outra. Junto a tais figuras havia um estojo de madeira que continha um fetiche do deus Anúbis. Trata-se da pele de um animal sem cabeça, envolta como uma múmia e suspensa em uma verga montada em um jarro de alabastro contendo unguento. Os estudiosos não conseguiram explicar porque as duas estátuas, que deveriam fazer parte do equipamento funerário do rei, não se encontravam em sua pirâmide. A Pirâmide de Amenemhet II O terceiro faraó da XII dinastia, Amenemhet II, filho de Sesóstris I, reinou, exatamente, garantem os arqueólogos, entre 1929 e 1892 a.C. Sua pirâmide, bem como as de dois de seus sucessores, foi construída em Dahshur. Conhecida modernamente como Pirâmide Branca, os antigos egípcios chamavam-na de Pirâmide Grandiosa ou de Amenemhet É Forte. Foi localizada muito danificada para que se possa saber suas medidas exatas. Nenhum bloco do seu revestimento foi encontrado durante as escavações. Na realidade, o monumento ficou famoso não por ele em si, mas pelo tesouro encontrado em mastabas que o circundavam. Uma notável coleção de ricas jóias e ornamentos pessoais tais como pulseiras, peitorais, gargantilhas e colares pertencentes a quatro filhas do faraó, de nomes Iti, Khnemt, Itiwert e Stimerhut estavam em suas respectivas tumbas situadas no lado oeste da pirâmide real. São peças que demostram a habilidade técnica e o gosto artístico dos artesãos egípcios como, por exemplo, essas garras de pantera que são vistas acima. A Pirâmide de Sesóstris IISesóstris II foi o quarto faraó da XII dinastia e teve a datação do seu período de reinado feita com precisão pelos arqueólogos que o situaram entre 1897 e 1878 a.C. Seu monumento, cujo nome para os antigos egípcios era Pirâmide Brilhante ou Sesóstris É Forte, foi erguida em el-Lahun, localidade próxima da região do Fayum, e media 48 metros de altura. Sua estrutura era um pouco diferenciada em relação às pirâmides anteriores. Até uma altura de 12 metros e 20 centímetros era formada por um pequeno monte rochoso e acima desse nível havia uma série de paredes de arrimo erguidas com pedras calcárias. As paredes se irradiavam a partir do centro do monumento, com o espaço entre elas preenchido com tijolos de lama. Tudo estava revestido da maneira usual com blocos de pedra calcária polida, sendo que a camada inferior do revestimento estava enterrada no substrato rochoso para garantir maior estabilidade a toda a estrutura. Ao redor dos quatro lados da base existia um fosso raso cheio de areia para absorver a água da chuva que escorresse pelas faces do monumento. Dois muros circundavam a pirâmide: um de pedra, bordejando o fosso, e outro de tijolo, mais adiante, originalmente revestido com pedra calcária. Além dessa última parede havia uma fileira de árvores plantadas em covas feitas na rocha e preenchidas com terra.A entrada do monumento estava situada no lado sul, posição totalmente invulgar, pois o normal era que ela se localizasse na face norte. Um poço descia verticalmente até uma passagem escavada a uma profundidade de 12 metros e 20 centímetros que, por sua vez, num trajeto sinuoso, levava à câmara funerária construída inteiramente em granito. Havia ainda um segundo poço mais largo que atingia a mesma passagem. Ao que parece, foi esse último poço utilizado para baixar o sarcófago de granito vermelho encontrado na câmara funerária, já que o primeiro poço era mais estreito do que a largura do ataúde. O arqueólogo Flinders Petrie considerava esse sarcófago um dos mais perfeitos trabalhos jamais executados nesse material tão duro e de dificil manuseio. O paralelismo, de acordo com os seus cálculos, é quase perfeito, com erros que não ultrapassam um sexto de polegada. A câmara funerária continha também uma mesa de oferendas feita de alabastro. Junto ao canto nordeste da pirâmide sobraram restos de uma pequena pirâmide subsidiária. Embora Petrie a tenha investigado, não conseguiu encontrar qualquer evidência de uma câmara funerária. Entre os dois muros que rodeavam a pirâmide, no lado sul, os arqueólogos localizaram quatro tumbas cavadas no solo destinadas a membros da família real. Numa delas foi descoberta uma coleção de jóias e ornamentos pessoais pertencentes à proprietária da tumba, uma princesa de nome Sat-Hathor-Iunut. A ilustração ao lado mostra um dos diademas da princesa, em ouro e pedras semipreciosas, com 47 centímetros de altura. Entre as peças mais importantes — descreve I.E.S.Edwards —, estavam um magnífico diadema de ouro, dois peitorais de ouro incrustados com vidro e pedras preciosas, um trazendo o nome de Sesóstris II e o outro o nome de Amenemhet III, colares formados por fios feitos de ouro, ametista, cornalina, lápis-lazúli e feldspato, um colar de ouro formado por fios com a forma de cabeças duplas de leão, cintos de ouro e pedras preciosas, braceletes e brincos. Os objetos de toalete incluiam navalhas com lâminas de cobre e cabos de ouro, vasos de alabastro para unguêntos e cosméticos, outros vasos destinados ao mesmo propósito, mas feitos de obsidiana polida e parcialmente revestidos com ouro, e um espelho de prata com cabo de obsidiana e ouro. Toda a coleção tinha sido colocada originalmente em três estojos para jóias, dos quais pelo menos um era revestido com ouro, marfim, cornalina e faiança azul. A Pirâmide de Sesóstris IIISesóstris III, filho de Sesóstris II, é outro dos faraós que teve seu período de reinado determinado com exatidão pelos egiptólogos, segundo os quais ele reinou entre 1878 e 1841 a.C., tendo sido assim o quinto faraó da XII dinastia. Sua pirâmide foi edificada em Dahshur, ao norte do monumento de Amenemhet II, com altura original de 78 metros e 50 centímetros, empregando tijolos em sua estrutura interna e sendo revestida de blocos de calcário. Na construção de sua refinada câmara funerária e de seu sarcófago, foi utilizado granito vermelho. A entrada da pirâmide situa-se no pátio do lado oeste do monumento.Entre os túmulos da família real, situados no lado norte da pirâmide, os das princesas Sat-Hathor e Merit continham coleções de preciosas jóias e ornamentos pessoais, tão valiosas quanto as que foram enterradas com as princesas dos faraós Amenemhet II e Sesóstris II. Assim como nos casos anteriores, estas jóias — acreditam os egiptólogos — devem ter sido realmente usadas pelas princesas durante suas vidas. Ao sul do muro que cercava a pirâmide de Sesóstris III foi encontrada uma câmara subterrânea contendo dois botes de madeira. Como nenhum símbolo de natureza solar foi enterrado com tais botes, parece mais provável que eles realmente tenham sido usados no transporte do corpo do rei ou de alguns de seus bens pessoais para a pirâmide e não tenham sido destinados a representar os barcos diurno e noturno do deus-Sol. As Pirâmides de Amenemhet IIIO sexto faraó da XII dinastia, Amenemhet III, reinou aproximadamente entre 1844 e 1797 a.C. e construiu não apenas uma, mas duas pirâmides. A primeira é conhecida modernamente como Pirâmide Negra e o nome que os antigos egípcios lhe davam era, provavelmente, Amenemhet É Belo. Está localizada em Dahshur, ao sul do monumento de Amenemhet II, utiliza tijolos em sua estrutura interna e a altura original era de 81 metros e 50 centímetros. Não havia paredes internas de pedra calcária que pudessem estabilizá-la e existem algumas evidências de que ela se tornou instável. Seu cume era coroado por um magnífico piramídion, ou seja, uma cimalha em forma de pirâmide, feito de granito cinza-escuro. Sua entrada situa-se no pátio do lado oeste do monumento. No lado norte da pirâmide foram localizados túmulos da família real, entre os quais o da princesa Nubhotep continha uma coleção de preciosas jóias e ornamentos pessoais tão valiosa quanto as que foram enterradas com as princesas dos faraós Amenemhet II e Sesóstris II. Assim como nos casos anteriores, estas jóias — acreditam os egiptólogos — devem ter sido realmente usadas pela princesa durante sua vida.Porque esse faraó resolveu construir uma segunda pirâmide não se sabe. Talvez apenas desejasse edificar um monumento maior e mais complexo, ou talvez a primeira pirâmide tivesse apresentado problemas estruturais. Presume-se que seu corpo não tenha sido enterrado em Dahshur. Seja como for, no 15.º ano de seu reinado foi iniciada a construção de uma segunda pirâmide situada em Hawara, na região do Faium. Tinha originalmente 58 metros de altura e os antigos egípcios chamavam-na de Amenemhet Vive. Sua estrutura era composta principalmente por tijolos de lama e revestida por uma camada de pedra calcária. A entrada do monumento fica em sua face sul, deslocada para oeste cerca de 24 metros de seu centro. A partir dai, um lance de escadas (1) desce até uma pequena câmara (2), além da qual há uma curta passagem sem saída. No teto dessa passagem, entretanto, existe um bloco de pedra (3), pesando 20 toneladas, que desliza para o lado, formando assim um alçapão através do qual se tem acesso a uma segunda câmara (4) que, por sua vez, conduz a dois corredores. O primeiro deles (5) estava originalmente totalmente bloqueado, mas tratava-se apenas de um beco sem saída destinado a desestimular os salteadores de sepulturas da antiguidade. O outro corredor (6), que paradoxalmente estava fechado apenas com uma porta de madeira, muda de direção em ângulo reto por duas vezes e nesses pontos (7) (8) existem alçapões idênticos ao primeiro e que foram encontrados abertos pelos arqueólogos. Ao final desse sinuoso corredor fica uma grande antecâmara (9). No piso de cada extremidade desse recinto foi cavado um poço falso que a seguir foi preenchido com pedras, mais uma vez para iludir os salteadores na sua busca pela câmara funerária. Visando o mesmo objetivo, toda a metade setentrional do recinto foi bloqueada, mas apenas a parede existe além do bloqueio. A maneira pela qual a câmara funerária (10) foi preparada nos é descrita pelo arqueólogo I.E.S.Edwards: Antes de ser construída a estrutura externa da pirâmide, uma grande cova retangular foi cavada na rocha em um ponto um pouco a oeste do centro da área que seria coberta pela base da pirâmide. Nessa cova, depois dela ter sido revestida com pedra, foi encaixada a câmara mortuária, formada por um único bloco de quartzito amarelo e moldada como uma caixa sem tampa. As dimensões dessa enorme "caixa" era de cerca de seis metros e 70 centímetros de comprimento por dois metros e 44 centímetros de largura, um metro e 83 centímetros de altura e 60 centímetros de espessura, sendo que seu peso atingia cerca de 110 toneladas. Apesar de ser construída com material bastante duro, a câmara era muito bem cortada e polida, com os lados planos e regulares. Seus cantos internos eram tão agudos que, à primeira vista, pareciam junções de três pedras. O teto da câmara era formado por três blocos de quartzito amarelo, com cerca de um metro e 20 centímetros de espessura cada um (11), colocados lado a lado. Tais blocos não se escoravam diretamente sobre as paredes da câmara. Eram sustentados por carreiras de blocos de pedra (12) que se apoiavam no topo das paredes do compartimento e que serviam para elevar a altura do seu teto. Acima da câmara funerária havia duas outras câmaras destinadas a melhor distribuir o peso de toda a estrutura. A primeira com teto plano (13) e a segunda com teto em ponta (14), construído com blocos de pedra calcária pesando cerca de 50 toneladas cada um. Como coroamento, um enorme arco de tijolos (15), com 90 centímetros de espessura, se projetava por sobre o teto em ponta, visando suportar o âmago da pirâmide. Durante a cerimônia de sepultamento, um dos blocos de pedra dos três que formavam o teto da câmara funerária — o que se encontrava mais próximo da antecâmara — permaneceu erguido, criando, assim, uma entrada que podia ser alcançada através de uma passagem aberta no piso da antecâmara. Por esse caminho os egípcios introduziram a múmia de Amenemhet III no recinto. Um grande sarcófago de quartzito já estava lá, pronto para recebê-la. Havia, também, um sarcófago menor do mesmo material destinado à princesa Neferu-Ptah e estojos canopos também de quartzito. Após o enterro, o bloco que completaria o teto da câmara funerária, que havia permanecido suspenso e que pesava cerca de 45 toneladas, foi baixado e a passagem da antecâmara foi bloqueada e recoberta com o piso, tornando teoricamente impossível aos salteadores descobrirem o caminho que levava ao sarcófago. Diga-se de passagem que tudo foi em vão. Os arqueólogos encontraram a câmara funerária despojada de todos os objetos móveis, enquanto que os corpos e os ataúdes de madeira que jaziam dentro dos sarcófagos haviam sido queimados. O vasto templo funerário dessa pirâmide, situado ao sul dela, ficou conhecido pelos autores clásicos como O Labirinto e, de fato, foi projetado como uma espécie de labirinto. A construção mede 305 metros de comprimento por 244 de largura, ou seja, cobre uma área de mais de 74 mil metros quadrados. É completamente diferente de todos os outros templos mortuários conhecidos. Ao invés de ser formado por uma série de pátios e corredores que levam a um santuário, era constituído por um grande número de pátios separados dispostos em fileiras. Infelizmente, foi encontrado muito danificado pelos arqueólogos para que fosse possível distinguir os seus detalhes arquitetônicos. As Pirâmides de MazghunaNa localidade de Mazghuna, situada a aproximadamente cinco quilômetros ao sul de Dahshur, foram encontrados os escombros de duas pirâmides, das quais apenas hipóteses puderam ser feitas com relação a seus proprietários. O arqueólogo que as encontrou, baseado em detalhes construtivos e em aperfeiçoamentos técnicos existentes nos dispositivos de bloqueio do interior dos monumentos, atribuiu sua construção aos dois últimos faraós da XII dinastia: Amenemhet IV, que reinou aproximadamente entre 1799 e 1787 a.C., e Nefrusobk, uma mulher que teria ocupado o trono do Egito mais ou menos entre os anos de 1787 e 1783 a.C. Outros estudiosos, entretanto, acreditam que ambas as pirâmides foram mandadas construir por reis da XIII dinastia de nomes desconhecidos. Uma dessas pirâmides tinha sua estrutura externa, hoje totalmente desaparecida, provavelmente em pedra, enquanto que a outra foi edificada com tijolos. Suas dimensões não puderam ser determinadas. As Pirâmides da XIII DinastiaCom relação ao período da XIII dinastia, que se estendeu aproximadamente de 1783 a 1640 a.C., os arqueólogos conseguiram localizar três pirâmides. Uma delas situa-se em Dahshur. Seu proprietário foi o 11º rei da dinastia, de nome Amenyqemau, que significa Ameny, o Asiático. Cada lado da base do monumento, que ficou inacabado, media cerca de 50 metros. Na câmara funerária foi localizado o ataúde vazio e os vasos canopos. As duas outras pirâmides situam-se em Saqqara. A mais recente das duas, que provavelmente não foi concluída, não teve seu proprietário identificado. Ela foi construída em grande parte com tijolos e encontrada demasiadamente danificada para que se pudesse deduzir suas medidas exatas. Atualmente tem apenas três metros de altura. Sua câmara funerária, monolítica, pesava 150 toneladas. O sarcófago e o estojo canopo faziam parte integrante do piso do enorme bloco de pedra. As tampas dos dois recipientes eram peças separadas. A terceira pirâmide foi mandada construir pelo faraó Khendjer. A Pirâmide de KhendjerO faraó Khendjer foi o 17.º da XIII dinastia. Sua pirâmide, que atingia a altura de 37 metros, foi construída internamente com tijolos e o revestimento era de pedra calcária, com espessura de cerca de quatro metros e 60 centímetros, do qual quase nada sobrou. A entrada para os subterrâneos do monumento ficava por baixo da última camada de revestimento na face oeste. Para proporcionar espaço suficiente às manobras com o sarcófago, foi feito um poço retangular (1), com paredes de tijolos, bem defronte à entrada. Após o enterro, o poço foi entulhado de cascalho e pavimentado com lajes de calcário, tornando impossível distinguir que naquele ponto existia uma entrada para a pirâmide. No interior do monumento, a partir da entrada, uma rampa (2), escalonada em quatorze níveis baixos, desce até uma curta passagem horizontal que termina numa parede cega. Nesse ponto existe uma grande porta corrediça retangular de quartzito (3) que deveria bloquear tal passagem, mas que foi encontrada aberta pelos escavadores, alojada em um recesso existente no lado sul da passagem. Ao que tudo indica, embora o piso do recesso fosse inclinado na direção da passagem, tal ângulo de declividade foi insuficiente para permitir a movimentação do pesado bloco de quartzito. Uma abertura feita na parede leste da passagem horizontal, situada a um metro e meio acima do solo e que a porta corrediça deveria ocultar, dá acesso a uma nova rampa (4). Essa última tem 39 níveis descendentes, segue na mesma direção da primeira rampa e no seu término existe uma porta de madeira com duas folhas que, quando abertas, encaixam-se em recessos das paredes laterais. Passado o umbral, há outra porta corrediça (5), idêntica à primeira, que também foi encontrada aberta. Depois o corredor continua na mesma direção da rampa, mas em nível mais elevado do que o dela e quase sem declividade, até desembocar num fosso retangular (6), que foi totalmente bloqueado e dissimulado após o funeral, e que dali parte na direção norte até emergir no piso da extremidade oriental de uma ampla antecâmara (7), situada ao norte da câmara funerária (8). É preciso que se entenda que todo o conjunto subterrâneo teve que ser construído antes que a primeira camada da estrutura da pirâmide tenha sido assentada. Para colocar a câmara funerária em seu lugar, os egípcios cavaram uma enorme cova retangular, com 11 metros de profundidade, tendo sua maior parte situada a sudeste do centro da àrea sobre a qual o monumento deveria ser erguido. A câmara funerária, formada por um único bloco de quartzito, pesando cerca de 70 toneladas, foi então baixada através de um fosso com uma rampa temporária que penetrava na cova em seu canto sudoeste. A câmara funerária — esclarece o arqueólogo I.E.S.Edwards — ocupava apenas uma pequena parte de toda a área da cova e tão logo foi colocada em posição, iniciou-se, dentro da cova, o trabalho de construção da antecâmara e das passagens, cada uma em seu nível adequado. Enquanto esse trabalho progredia, a rampa temporária foi desmontada e substituída pelas duas rampas escalonadas. Finalmente, as portas corrediças foram baixadas para os seus recessos e os entulhamentos necessários para prover um nivelamento da superfície destinado à base da pirâmide foram depositados na cova e no fosso das rampas escalonadas, não entretanto diretamente nos tetos planos das várias construções, mas em abóbadas de tijolos que foram construidas sobre eles. Apenas sobre a câmara funerária foi colocado um teto em ponta, composto de dois blocos de pedra calcária, entre a abóbada de tijolos e o teto plano. O teto plano da câmara funerária era formado por dois pesados blocos de quartzito e nela penetrar seria impossível com tais massas em seus lugares. Assim, o bloco mais próximo da antecâmara foi suspenso no vão existente entre o teto plano e o teto em ponta, deixando um espaço acima da parede setentrional, o qual podia ser acessado através de um fosso e de um pequeno corredor que partiam do centro da antecâmara. Para suspender e baixar o bloco de quartzito (9) foi usado um engenhoso sistema que I.E.S.Edwards nos descreve da seguinte maneira: Dois esteios de granito suportavam o bloco que se projetava, de ambos os lados, cerca de 45 centímetros além das paredes da câmara. Os esteios, entretanto, não se apoiavam no solo da cova, mas em fundas camadas de areia encerradas em poços verticais feitos de pedra, sendo que cada poço atingia a altura das paredes e sua parte superior servia como uma espécie de base para seu respectivo esteio. Depois que o ataúde, o estojo canopo, e alguns dos objetos pessoais do rei foram colocados na câmara, uma pedra da base de cada poço foi removida e a areia escoou, sem dúvida gradualmente, até que os esteios repousassem no piso e o bloco nas paredes. Para permitir que essa operação se realizasse, corredores que levavam aos poços foram construídos na cova, um (10) a partir de um fosso na passagem leste e o outro (11) a partir de um fosso na extremidade oeste da antecâmara. Quando o bloco do teto, que media cerca de um metro e 50 centímetros de espessura, foi baixado, a abertura no fim do corredor de aproximação para a câmara funerária ficou completamente fechada. Não obstante, como medida de proteção adicional, o fosso que conectava esse corredor com a antecâmara e os dois fossos dos corredores que levavam aos poços de areia foram preenchidos com alvenaria e pavimentados. Toda essa precaução de pouco valeu. Através de um buraco feito abaixo do teto da câmara funerária, do tamanho suficiente apenas para a passagem de uma criança, salteadores de túmulos retiraram absolutamente tudo o que lá poderia ter sido armazenado. A nordeste do monumento de Khendjer foi edificada uma pirâmide subsidiária que, curiosamente, tinha duas câmaras funerárias, ambas de quartzito. Suas dimensões eram menores do que as da câmara do faraó. Aqui também havia blocos de pedra mantendo suspensas pedras do teto, as quais eram mais leves que as da pirâmide principal e seus esteios poderiam ter sido retirados, sem o uso de qualquer artifício, se as pedras do teto fossem erguidas com alavancas. Entretanto, elas permaneceram suspensas. Ao que parece, algum imprevisto impediu o sepultamento de duas rainhas nesse monumento. As Pirâmides da XVII DinastiaCom relação a pirâmides construídas no decorrer da XVII dinastia, entre 1640 e 1550 a.C. aproximadamente, existem apenas referências em papiros e escassas evidências materiais. Teriam sido erguidas na região da necrópole de Tebas, feitas de tijolo cru, de dimensões pequenas, mas com acentuado ângulo de inclinação, o que lhes dava a aparência de serem mais altas e delgadas. No ápice havia uma pedra, em alguns casos calcária, gravada com o nome e títulos do rei. As câmaras funerárias foram cavadas nas rochas que serviam de fundação para as capelas de oferendas. A Pirâmide de AmósisTalvez Amósis, o primeiro faraó da XVIII dinastia, tenha sido o último rei egípcio a construir uma pirâmide. Ele reinou aproximadamente entre 1550 e 1525 a.C., construiu seu túmulo em Tebas, mas ergueu um cenotáfio em Abido com forma piramidal, o qual hoje não passa de um monte de entulhos com cerca de 11 metros de altura, como se pode ver na figura acima. Próximo ao monumento foi encontrada uma série de sepulcros nos quais podem ter sido enterrados artesãos, sacerdotes ou habitantes da comunidade. A pirâmide tinha o núcleo construído com areia e pedras britadas soltas e, depois de ter perdido a maioria de seu revestimento externo, ruiu. Estimou-se, a partir dos restos de duas camadas intactas de pedras do revestimento que sobraram na base oriental da pirâmide, que seu declive era de aproximadamente 60 graus. Nenhuma escavação revelou a existência de qualquer sub estrutura ou câmara interna no corpo do monumento. Além da pirâmide, com cerca de 70 metros quadrados, junto a ela havia um templo mortuário e outro situado na extremidade do vale do Nilo, próximo à margem do rio. Nesse complexo a decoração apresentava algumas cenas de batalha da guerra contra os hicsos. Nelas estão algumas das mais antigas representações de cavalos da arte egípcia. O templo mortuário situa-se um pouco ao norte da pirâmide. A estrutura que foi desenterrada pelos arqueólogos parece ser a seção mais externa do templo. Ela é formada por uma grossa parede com uma entrada central que conduz a um átrio. Nesse uma outra entrada leva a um pátio quadrado. As pedras do alicerce da parte posterior da construção poderiam ter suportado os pilares de uma colunata. Entretanto, entre essa seção do templo e a própria pirâmide existe o que provavelmente restou de um pátio interno no qual muito pouco foi encontrado, exceto pedaços do pavimento e quatro silos circulares ao longo da parede traseira. Ainda foram descobertos restos de uma estrutura semi-circular de tijolos de barro que tanto pode ter sido uma rampa como o santuário interno do templo. No canto sudeste da pirâmide também foi descoberto um segundo templo menor, que provavelmente foi dedicado a Amósis-Nofretari, irmã e esposa do faraó. Na mesma localidade Amósis mandou edificar uma tumba falsa para sua avó, Tetisheri, cujo túmulo verdadeiro, como o dele, situava-se também em Tebas. Essa estrutura de Abido é uma construção volumosa num formato semelhante ao de uma mastaba. Um corredor que passa pelo centro do edifício leva até sua parte posterior onde se encontra uma notável estela que Amósis mandou erigir. Ela inclui duas imagens de Tetisheri e um texto em hieróglifos falando da intenção do rei de construir uma pirâmide em memória da avó. Mais ao sul da área as escavações revelaram também uma tumba esculpida no leito da rocha com acabamento precário, sendo talvez apenas um símbolo do mundo subterrâneo de Osíris. A entrada é uma cova de tamanho relativamente pequeno que conduz a uma passagem horizontal inicial. Existem salas em ambos os lados do corredor que foram escavadas grosseiramente e deixadas inacabadas. Em seu final esse corredor abre para um salão com um total de 18 colunas. Finalmente, próximo das margens do Nilo existe um conjunto de terraços construídos ao pé dos altos precipícios da montanha que bordeia o rio. O terraço inferior é feito de tijolos e mede 91 metros de comprimento, com um segundo terraço de pedra bruta em um segundo nível. É provável que tais terraços tivessem a finalidade de suportar um templo, talvez precursor daquele construído por Hatshepsut (c. 1473 a 1458 a.C.) em Deir el-Bahari, mas ao que parece ele nunca foi edificado. Existia um esconderijo de vasos de cerâmica votivos, moldes de vasos em pedra e barcos com remos perto da extremidade sul. Embora se acredite que a tumba verdadeira do rei esteja em Tebas, ela ainda não foi encontrada. Tendo em vista a extensão das ruínas em Abido, os arqueólogos modernos especulam que é possível que Amósis tenha sido originalmente enterrado ali. Os demais faraós da XVIII dinastia e seus sucessores não mais ergueram monumentos funerários sob a forma de pirâmide. A Pirâmide de PiyeHaviam-se passado 800 anos desde os tempos de Amósis, quando um rei de origem núbia, o segundo da XXV dinastia egípcia, de nome Piye, que reinou entre 750 e 712 a.C. aproximadamente, talvez impressionado com a grandiosidade das pirâmides de Gizé, mandou construir a sua em Kurru, localidade cerca de oito quilômetros ao sul de Napata, capital da Alta Núbia. O monumento foi erguido no meio de um grande e antigo cemitério onde já repousavam os ancestrais do faraó. Pouquíssimo restou da pirâmide, mas sabe-se que era de pequenas dimensões. No subsolo havia uma cova recoberta com um teto abobadado e que servia de câmara funerária. Para que fosse possível nela penetrar por ocasião do funeral, foi construída uma escada ao ar livre a partir de um ponto localizado a leste da pirâmide e que alcançava uma porta na parede oriental da câmara. Após o enterro a escada foi entulhada e uma capela de oferendas, formada por um único aposento decorado com relevos, foi construída sobre a área. No cemitério de Kurru também foi encontrada uma fileira de cinco pirâmides construídas para as rainhas. Achou-se ainda quatro sepulturas para os cavalos do faraó. Os animais estavam ricamente ornamentados com arreios de prata e cordões de pérolas. Os estudiosos asseguram que os cavalos foram sacrificados por ocasião da morte do rei, para que pudessem acompanhá-lo no além-túmulo. Aliás existem documentos que comprovam a paixão que o faraó Piye tinha por cavalos. A Pirâmide de ShabakaO sucessor de Piye, Shabaka, reinou de 712 a 698 a.C., aproximadamente. Também mandou erguer sua pirâmide em Kurru e usou projeto semelhante ao do seu antecessor para erigi-la. Entretanto, acrescentou um pequeno túnel no final da escada e mandou cavar a câmara funerária na própria rocha. A capela de oferendas foi construída contra a parede leste do monumento, diretamente sobre o túnel. Com isso a escada, que também foi entulhada após o enterro, terminava antes de atingir a parede da pirâmide e a capela foi erguida sobre o solo rochoso e terminada enquanto o faraó ainda estava vivo. Apreciador de cavalos como Piye, enterrou oito de suas montarias, todas paramentadas, junto ao seu monumento funerário. A Pirâmide de TaharqaTaharqa, quinto faraó da XXV dinastia, reinou aproximadamente entre 690 e 664 a.C. e construiu sua pirâmide em Nuri, localidade situada ao norte de Napata, capital da Alta Núbia. Ele seguiu projeto semelhante ao de Shabaka, mas transformou o tunel de acesso à câmara funerária em uma pequena antecâmara, enquanto que a primeira foi ampliada para formar um vestíbulo dividido por pilares de rocha em três naves. Além disso, acrescentou um corredor que rodeava tanto a antecâmara quanto a câmara funerária e dava acesso ao lado ocidental do vestíbulo por meio de uma escada. As Pirâmides de ParticularesDesde o período que ficou conhecido como Império Médio, iniciado em 2040 a.C., até a época romana, alguns túmulos de forma piramidal ou que incorporavam uma pirâmide em seu projeto foram mandados construir por pessoas não pertencentes à família real. Os mais antigos que se conhecem localizam-se em Abido. Trata-se de pequenas pirâmides de tijolos postas sobre bases retangulares, sendo que tanto estas quanto aquelas são revestidas de massa feita com lama e caiadas. Dentro das pirâmides há uma câmara funerária de formato cônico. Às vezes existe na base uma segunda câmara fazendo o papel de serdab. A maioria desses túmulos não apresenta capelas externas, mas alguns têm capelas laterais com dois andares. Cada pavimento é formado por uma única câmara, a superior contendo um nicho para a estela e a inferior sendo o único meio de acesso ao serdab. Durante o Império Novo (c. de 1550 a 1070 a.C.) os túmulos particulares tornaram-se mais elaborados e espalharam-se por todo o país. Junto ao Vale das Rainhas, na localidade de Deir el-Medina, os arqueólogos encontraram alguns dos mais representativos desses monumentos, de propriedade de escribas, artistas e artesãos que trabalharam na construção das tumbas reais da XVIII, da XIX e da XX dinastias. I.E.S.Edwards assim os descreve: Acima do solo havia um pátio cercado de uma parede de tijolos ou pedras por três lados. No quarto lado do pátio ficava uma capela, geralmente encoberta por uma colunata. Internamente, a capela consistia de um único aposento decorado com cenas pintadas e tendo uma estela embutida na parede dos fundos. Montada sobre o teto havia uma pirâmide oca de tijolos, encimada por um bloco de pedra calcária. Imagens do proprietário adorando o deus-Sol, junto com inscrições curtas, estavam esculpidas nas quatro faces dessa pedra que formava o ápice da pirâmide. Um nicho no lado da pirâmide voltado para o pátio continha uma estatueta do proprietário, que era, às vezes, representado ajoelhado e segurando uma estela em miniatura. A câmara funerária, cavada a grande profundidade na rocha, era um aposento com teto abobadado de tijolos ligado com o pátio ou com a capela através de um poço e de uma escada subterrânea. Na XVIII dinastia apenas o proprietário e sua esposa eram enterrados na câmara. Na XIX e na XX dinastias, entretanto, várias gerações da mesma família partilhavam regularmente a mesma tumba e câmaras adicionais eram construídas quando necessário. As paredes das câmaras, após a XVIII dinastia, eram usualmente decoradas com cenas religiosas e inscrições. |
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