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domingo, 9 de novembro de 2025

Eduardo Fernando Chaves: O Arquiteto do Bangalô da Avenida Visconde de Guarapuava — Elegância, Inovação e Memória Efêmera em Curitiba

 Eduardo Fernando Chaves: O Arquiteto do Bangalô da Avenida Visconde de Guarapuava — Elegância, Inovação e Memória Efêmera em Curitiba

Na Curitiba de 1937, enquanto o país ainda sentia os ecos da Revolução de 1930 e a cidade se preparava para abraçar a modernidade com cautela, um projeto arquitetônico singular tomava forma nos cadernos de desenho de Eduardo Fernando Chaves. Tratava-se do “Projéto de Bungalow para a Snra. Elsa Guimarães”, uma residência de dois pavimentos localizada na Avenida Visconde de Guarapuava, nº 3085 — uma das artérias mais nobres e arborizadas da capital paranaense.

Mais do que uma simples casa, essa construção representava uma síntese rara entre tradição construtiva, sensibilidade estética e inovação funcional. Projetada em 23 de março de 1937, com alvará expedido sob o nº 2540/1937, a edificação emergia como um bangalô urbano — termo que, na época, designava não uma construção rústica, mas uma residência de estilo moderno, integrada à natureza, com linhas suaves e planta aberta, influenciada pelas correntes arquitetônicas internacionais, especialmente as vindas da Europa e dos Estados Unidos.

Embora hoje esteja demolida (segundo registros de 2012), sua memória permanece viva graças a um rico acervo documental: duas pranchas de projeto arquitetônico, cortes técnicos, o alvará original e, com especial valor emocional, uma fotografia cedida pela família Guimarães, que capturou o bangalô em sua plenitude — com seus vãos generosos, varandas acolhedoras e um equilíbrio raro entre verticalidade e intimidade.


O Bangalô: Uma Obra de Dois Andares com Alma de Casa Térrea

Apesar de possuir dois pavimentos, o projeto assinado por Eduardo Fernando Chaves foi classificado como “bangalô” — termo que, na linguagem arquitetônica brasileira dos anos 1930, não se referia necessariamente a uma construção térrea, mas sim a uma residência de pequeno porte, de linguagem doméstica e conexão com o jardim, mesmo que verticalizada.

Com 190 m² distribuídos em um único nível efetivo (o segundo pavimento provavelmente composto por sótão, área íntima ou varanda superior), a casa rompia com a rigidez das moradias tradicionais da época. Seu traçado revela:

  • Planta térrea bem articulada, com sala de estar integrada à varanda frontal, cozinha funcional e quartos voltados para o fundo, garantindo privacidade;
  • Fachadas frontal e lateral desenhadas com simetria e modulação cuidadosa, utilizando vãos envidraçados que permitiam entrada de luz natural — um luxo na Curitiba de invernos rigorosos;
  • Corte C-D, documento técnico preservado, que mostra a relação entre pé-direito, cobertura inclinada (típica do estilo bangalô) e ventilação cruzada — prova do domínio de Chaves sobre conforto térmico passivo, décadas antes do termo existir;
  • Muro de divisa integrado ao projeto, demonstrando que o arquiteto pensava o lote como um todo, não apenas o volume construído.

Tudo executado em alvenaria de tijolos, técnica dominante na construção curitibana da época, que combinava durabilidade, isolamento térmico e custo acessível.


Eduardo Fernando Chaves: O Arquiteto da Cidade em Transformação

Embora pouco se saiba sobre sua vida pessoal, os projetos assinados por Eduardo Fernando Chaves — como o da Rua da Glória (1937) e agora este bangalô na Visconde de Guarapuava — revelam um profissional meticuloso, versátil e sensível ao contexto social. Ele não apenas desenhava casas; projetava modos de viver.

Seu nome aparece com frequência em alvarás da Prefeitura Municipal de Curitiba no final da década de 1930, sugerindo que atuava como arquiteto, construtor e fiscal — figura central no processo edificatório, do conceito à entrega das chaves. Era comum, naquele período, que profissionais como ele assumissem múltiplos papéis, especialmente em projetos residenciais de pequeno e médio porte.

O fato de ter sido escolhido pela Sra. Elsa Guimarães — mulher cujo sobrenome indica ligação com uma das famílias tradicionais de Curitiba — demonstra que Chaves gozava de reputação e confiança entre a elite local. Projetar para uma senhora da alta sociedade exigia não apenas competência técnica, mas também discrição, bom gosto e capacidade de traduzir desejos em espaços habitáveis.

A fotografia preservada pela família Guimarães — sem data, mas provavelmente dos anos 1940 ou 1950 — mostra uma casa bem cuidada, cercada por vegetação, com varanda convidativa e telhado de quatro águas, típico do estilo neocolonial adaptado às demandas modernas. Era uma residência que falava de elegância tranquila, longe do ostentação, próxima da vida.


A Perda e a Memória

Infelizmente, como tantas edificações de valor histórico cotidiano, o bangalô da Avenida Visconde de Guarapuava, nº 3085, foi demolido antes de 2012. Nenhum registro indica o motivo — talvez especulação imobiliária, talvez decadência, talvez a pressão por novas construções verticais. O que resta são os documentos do Arquivo Público Municipal de Curitiba e a fotografia cedida pela família Guimarães, verdadeiros tesouros para historiadores, arquitetos e genealogistas.

Esses fragmentos nos permitem afirmar: a casa existiu, foi amada, foi habitada. E seu arquiteto, Eduardo Fernando Chaves, merece ser lembrado não como um nome anônimo nos microfilmes da prefeitura, mas como um dos artífices silenciosos da paisagem urbana curitibana.


Legado: O Valor do Projeto Humano

O bangalô para Elsa Guimarães não era um marco arquitetônico no sentido monumental. Não tinha colunas de mármore nem jardins projetados por Burle Marx. Mas era humano: pensado para acolher, para aquecer, para respirar junto com seus moradores.

Eduardo Fernando Chaves entendia que a verdadeira arquitetura não está na grandiosidade, mas na escala certa, na luz no lugar certo, na porta que abre para o jardim na hora do café da manhã.

Hoje, ao contemplar seu corte C-D ou a fachada desenhada com traço firme e compasso preciso, não vemos apenas linhas técnicas — vemos o cuidado de um homem que acreditava que cada casa merece ser um lar.

Que sua obra, embora demolida, continue viva na memória dos que valorizam a arquitetura como ato de amor ao cotidiano.


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Eduardo Fernando Chaves: Arquiteto

Denominação inicial: Projéto de Bungalow para a Snra. Elsa Guimarães

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Pequeno Porte

Endereço: Avenida Visconde de Guarapuava, nº 3085

Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 190,00 m²
Área Total: 190,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 23/03/1937

Alvará de Construção: Nº 2540/1937

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de bangalô, Alvará de Construção e fotografia do imóvel.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Corte C-D do imóvel.
3 - Alvará de Construção.
4 - Fotografia do imóvel, s/d.

Referências: 

1 e 2 - CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de Bungalow. Planta do pavimento térreo, implantação, fachada frontal e lateral, corte e muro; planta do corte C-D apresentados em duas pranchas. Microfilme digitalizado. Acervo: Prefeitura Municipal de Curitiba.
3 - Alvará n.º 2540 - Prefeitura Municipal de Curitiba.
4 – Fotografia cedida pala família Guimarães, (s/d).

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba; família Guimarães.