MATEUS LEME, 1940: UMA RUA EM TRANSIÇÃO — ENTRE O PASSADO DA ASSUNGUI E O FUTURO DA CIDADE MODERNA
MATEUS LEME, 1940: UMA RUA EM TRANSIÇÃO — ENTRE O PASSADO DA ASSUNGUI E O FUTURO DA CIDADE MODERNA
Introdução: Uma Fotografia que Conta Histórias
A fotografia em preto e branco, datada de dezembro de 1940, captura um momento único na história urbana de Curitiba: a Rua Conselheiro Carrao, ainda sob seu antigo nome, antes de ser oficialmente rebatizada como Rua Mateus Leme pelo Decreto-Lei nº 51, de 11 de junho de 1943. Esta imagem não é apenas um registro de ruas e edifícios — é um documento vivo da cidade em transformação, entre o passado colonial e o futuro moderno.
Nela, vemos casas de alvenaria, calçadas irregulares, postes de madeira e uma via central de terra batida, ainda sem pavimentação asfáltica. À esquerda, destaca-se a Casa Alfredo Andersen, e à direita, na esquina com a Rua Inácio Lustosa, o imóvel que abrigava a Padaria Austriaca — posteriormente conhecida como Padaria América —, demolido em 1943. Ao fundo, a perspectiva da rua se perde no horizonte, revelando uma cidade ainda em formação, mas já pulsante de vida.
Capítulo 1: A Rua Conselheiro Carrao — Origens e Transformações
O Nome Anterior: Rua Assungui
Antes de ser chamada de Conselheiro Carrao, esta via era conhecida como Rua Assungui, nome derivado do tupi-guarani, que significa “lugar onde há muitos pássaros” ou “pássaro que canta”. Esse nome reflete a origem indígena da toponímia curitibana, tão presente nas primeiras ruas da cidade.
A mudança para Conselheiro Carrao ocorreu em homenagem ao político e jurista José Carrao de Almeida, conselheiro da Província do Paraná no século XIX, figura de destaque na administração provincial e defensor dos interesses paranaenses junto ao governo imperial.
A Nova Denominação: Mateus Leme
Em 1943, por meio do Decreto-Lei nº 51, de 11 de junho, a rua foi novamente rebatizada — agora como Rua Mateus Leme, em homenagem ao fundador de Curitiba, o bandeirante paulista Mateus Leme, que, segundo a tradição local, teria chegado à região em 1654 e estabelecido o primeiro povoado.
Essa mudança faz parte de um movimento mais amplo de “reafirmação histórica” promovido pela administração municipal na época, que buscava valorizar figuras ligadas à fundação e ao desenvolvimento da cidade. A escolha de Mateus Leme, embora controversa (já que sua existência histórica é questionada por alguns historiadores), simbolizava a busca por uma identidade local forte e autêntica.
Capítulo 2: O Cenário Urbano em Dezembro de 1940
Arquitetura e Urbanismo
A fotografia revela uma rua típica do centro histórico de Curitiba na primeira metade do século XX. Os edifícios são de alvenaria, com fachadas simples, telhados de telha cerâmica e varandas cobertas. A ausência de calçamento asfáltico e a presença de terra batida no centro da via indicam que a cidade ainda estava em processo de modernização urbana.
À esquerda, a Casa Alfredo Andersen — residência do pintor e escultor dinamarquês Alfredo Andersen, um dos fundadores da Escola de Belas Artes do Paraná — é um marco cultural da época. Sua presença nesta rua demonstra a proximidade entre arte, cultura e vida cotidiana na Curitiba dos anos 1940.
À direita, na esquina com a Rua Inácio Lustosa, o imóvel que abrigava a Padaria Austriaca (ou Padaria América) era um ponto de encontro da comunidade. As padarias eram verdadeiros centros sociais, onde se trocavam notícias, se faziam negócios e se construíam laços de vizinhança.
Infraestrutura e Mobilidade
A via é servida por postes de madeira, que sustentam os fios elétricos e telefônicos — sinais da chegada da modernidade à cidade. A ausência de veículos automotores na imagem sugere que o transporte predominante era o carrinho de mão, a charrete ou a bicicleta, com o automóvel ainda sendo um luxo acessível a poucos.
A presença de pedras soltas e valas laterais indica que a manutenção da via era precária, refletindo os desafios de infraestrutura enfrentados pela cidade na época.
Capítulo 3: A Demolição da Padaria Austriaca — Um Símbolo de Mudança
O imóvel na esquina com a Rua Inácio Lustosa, que abrigava a Padaria Austriaca, foi destombado e demolido em 1943, pouco tempo após a foto ter sido tirada. Essa demolição marca um ponto de virada na história urbana da rua — o início de uma nova fase de modernização e reorganização espacial.
A padaria, que havia sido fundada por imigrantes austríacos, era um símbolo da diversidade cultural de Curitiba. Sua demolição, embora necessária para a expansão urbana, representa também a perda de uma parte da memória coletiva da cidade — a substituição do antigo pelo novo, do tradicional pelo moderno.
Capítulo 4: A Rua Mateus Leme Hoje — Entre a Memória e a Modernidade
Hoje, a Rua Mateus Leme é uma das vias mais importantes do centro histórico de Curitiba, cercada por prédios comerciais, lojas, cafés e restaurantes. A casa de Alfredo Andersen ainda existe, preservada como patrimônio cultural, e a padaria, embora demolida, continua viva na memória dos curitibanos mais velhos.
A rua, que já foi chamada de Assungui, Conselheiro Carrao e finalmente Mateus Leme, é um testemunho vivo da evolução urbana e cultural da cidade. Ela carrega em suas pedras e paredes as marcas de diferentes épocas, de diferentes nomes, de diferentes histórias.
Conclusão: Preservar a Memória para Construir o Futuro
A fotografia de dezembro de 1940 não é apenas um retrato de uma rua — é um convite à reflexão sobre a importância de preservar a memória urbana. Cada edifício, cada nome, cada pessoa que passou por ali deixou sua marca na história da cidade.
Ao olhar para essa imagem, somos lembrados de que Curitiba não é apenas a cidade que vemos hoje — é a soma de todas as cidades que foram antes dela. E é nossa responsabilidade, como cidadãos e como historiadores, garantir que essas histórias não sejam esquecidas.
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