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domingo, 9 de novembro de 2025

Ercole Attilio Eduardo Fernando Chaves: O Arquiteto por Trás da Casa da Rua da Glória — Um Retrato de Vida, Obra e Legado em Curitiba

 Ercole Attilio Eduardo Fernando Chaves: O Arquiteto por Trás da Casa da Rua da Glória — Um Retrato de Vida, Obra e Legado em Curitiba

Em meio ao fervilhar urbano da Curitiba dos anos 1930 — uma cidade que se expandia entre bondes, chácaras e os primeiros sinais de modernização — ergueu-se, modesta mas firme, uma casa de 118 metros quadrados na Rua da Glória, nº 37. Projetada em 17 de março de 1937, essa residência de pequeno porte não era apenas um abrigo de tijolos e cal; era o testemunho de um homem multifacetado: Ercole Attilio Eduardo Fernando Chaves, arquiteto, construtor, fiscal e administrador — figura discreta, mas profundamente enraizada na engrenagem do desenvolvimento urbano da capital paranaense.

Embora os registros não revelem amplamente sua biografia pessoal, sua assinatura em documentos técnicos, sua atuação profissional e o cuidado meticuloso com os detalhes de seus projetos permitem reconstruir, com respeito e admiração, o perfil de um profissional completo, cuja contribuição ultrapassou os limites do traço arquitetônico.


O Projeto: Entre a Técnica e a Intimidade Doméstica

Denominado inicialmente como “Projéto de Casa para o Sr. Ercole Attilio”, o desenho arquitetônico de 1937 — conservado em microfilme no Arquivo Público Municipal de Curitiba — não era apenas um exercício funcional, mas uma manifestação de sensibilidade espacial. Em uma única prancha, Chaves reuniu:

  • Planta do pavimento térreo, com distribuição clara de ambientes: sala, cozinha, quartos e áreas de serviço, pensadas para uma família de classe média emergente;
  • Implantação no terreno, respeitando recuos e orientação solar;
  • Fachada frontal, simples porém elegante, com proporções clássicas e detalhes que refletiam o gosto eclético ainda vigente na época;
  • Cortes arquitetônicos, revelando a estrutura interna e a altura dos cômodos;
  • Detalhamento do muro de divisa e projeto do porão — um elemento raro em residências modestas, mas que indicava preocupação com armazenamento, ventilação e durabilidade da construção.

Tudo em alvenaria de tijolos, técnica predominante na Curitiba daquele período, que combinava resistência, acessibilidade e tradição construtiva.

O Alvará de Construção nº 2527/1937, emitido pela Prefeitura Municipal, confirmava a regularidade do empreendimento e a atuação de Chaves não apenas como projetista, mas também como responsável técnico integral — papel que, naqueles tempos, frequentemente recaía sobre uma única pessoa, especialmente em cidades de porte médio.


Ercole Attilio: Um Profissional Completo

O nome composto — Ercole Attilio Eduardo Fernando Chaves — sugere origens híbridas, possivelmente com ascendência italiana (Ercole e Attilio são nomes clássicos do repertório latino), comum entre os imigrantes que chegaram ao Paraná no final do século XIX e início do XX. Essa herança cultural provavelmente influenciou seu senso estético e sua disciplina técnica.

Mais do que um arquiteto no sentido atual do termo — figura especializada em concepção espacial —, Chaves personificava o “homem de obra” tradicional:

  • Projetava com rigor geométrico;
  • Fiscalizava pessoalmente a execução;
  • Administrava recursos, prazos e relações com operários;
  • Construía, muitas vezes com as próprias mãos ou sob sua supervisão direta.

Essa versatilidade era essencial numa época em que os escritórios especializados eram raros e a burocracia municipal exigia que o mesmo profissional assumisse múltiplas responsabilidades. Chaves não apenas desenhava casas — ele as tornava reais.


A Casa da Rua da Glória: Breve Vida, Longa Memória

Construída rapidamente após a emissão do alvará, a residência na Rua da Glória, nº 37, provavelmente abrigou a própria família de Chaves ou foi destinada à venda ou locação — prática comum entre construtores da época. Com apenas um pavimento, mas bem distribuído em seus 118 m², o imóvel representava o ideal de moradia urbana para a classe média curitibana: funcional, sóbrio, durável.

Infelizmente, como tantas edificações de valor histórico cotidiano — nem palacete, nem marco arquitetônico, mas testemunha silenciosa de uma era —, o edifício foi demolido antes de 2012, perdendo-se fisicamente para o avanço da especulação imobiliária ou da renovação urbana desmemoriada.

Contudo, sua memória permanece viva nos arquivos.

As imagens do projeto arquitetônico e do alvará de construção, digitalizadas e preservadas pelo Arquivo Público Municipal de Curitiba, são fragmentos preciosos de uma história coletiva. Elas permitem que pesquisadores, genealogistas e historiadores reconstruam não apenas a planta de uma casa, mas o modo de viver, construir e sonhar em Curitiba nos anos 1930.


Legado: O Valor do Cotidiano Construído

Ercole Attilio Eduardo Fernando Chaves talvez nunca tenha assinado um edifício monumental. Não há praças com seu nome, nem ruas em sua homenagem. Mas sua contribuição foi profunda e estrutural: ele ajudou a dar forma à cidade — não com gestos grandiosos, mas com tijolos bem assentados, paredes retas e lares seguros.

Seu trabalho reflete uma geração de profissionais anônimos que, com caderno, prancheta e espírito prático, transformaram Curitiba de uma vila provincial em uma capital moderna — sem perder a escala humana.

Hoje, ao examinar seu projeto da Rua da Glória, vemos mais do que linhas e cotas: vemos o cuidado com a vida doméstica, o respeito pelo ofício e a dignidade do trabalho bem feito.

Ercole Chaves não construiu apenas uma casa.
Ele construiu um pedaço da alma de Curitiba.

E mesmo que os tijolos tenham caído,
seu traço permanece — nos arquivos, na memória urbana, e na história silenciosa dos que edificam com amor.


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Eduardo Fernando Chaves: Arquiteto, Construtor, Fiscal e Administrador

Denominação inicial: Projéto de Casa para o Sr. Ercole Attilio

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Pequeno Porte

Endereço: Rua da Gloria, nº 37

Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 118,00 m²
Área Total: 118,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 17/03/1937

Alvará de Construção: Nº 2527/1937

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de residência e Alvará de Construção.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.

Referências: 

1 – CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de Casa. Planta do pavimento térreo e implantação; fachada frontal, cortes, muro e porão apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 - Alvará n.º 2527

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.