domingo, 25 de dezembro de 2022

Alvorada do Sul

 

Alvorada do Sul

Alvorada do Sul
  Município do Brasil  
Símbolos
Bandeira de Alvorada do Sul
Bandeira
Brasão de armas de Alvorada do Sul
Brasão de armas
Hino
Gentílicoalvoradense-do-sul[1]
Localização
Localização de Alvorada do Sul no Paraná
Localização de Alvorada do Sul no Paraná
Alvorada do Sul está localizado em: Brasil
Alvorada do Sul
Localização de Alvorada do Sul no Brasil
Mapa de Alvorada do Sul
Coordenadas22° 46' 48" S 51° 13' 51" O
PaísBrasil
Unidade federativaParaná
Região metropolitanaLondrina
Municípios limítrofesPorecatuPrimeiro de Maio e Bela Vista do Paraíso no estado do Paraná e Iepê no estado de São Paulo.
Distância até a capital484 km
História
Fundação14 de dezembro de 1952 (70 anos)
Administração
Prefeito(a)Marcos Antonio Voltarelli[2] (PSD, 2021 – 2024)
Vereadores9
Características geográficas
Área total IBGE/2019[3]424,250 km²
População total (estimativa IBGE/2020[4])11 503 hab.
Densidade27,1 hab./km²
Climasubtropical
Altitude380 m
Fuso horárioHora de Brasília (UTC−3)
Indicadores
IDH (PNUD/2000[5])0,757 — alto
PIB (IBGE/2018[6])R$ 265 481,84 mil
PIB per capita (IBGE/2018[6])R$ 23 481,50
Sítiowww.alvoradadosul.pr.gov.br (Prefeitura)
www.cmas.pr.gov.br (Câmara)

Alvorada do Sul é um município brasileiro do estado do Paraná, pertencente a Região Metropolitana de Londrina. Sua população estimada em 2020 era de 11 503 habitantes.[4]

Etimologia

Denominação dada pela empresa colonizadora, que acreditava no futuro da crescente povoação, num novo crepúsculo, surgindo então Alvorada, acrescida de do Sul, por sua localização geográfica no contexto nacional.

História

O crescente movimento de criação de novas cidades que se espalhou pelo Estado do Paraná na década de 1940 também atingiu a empresa Lima, Nogueira & Exportadora, estabelecida na cidade paulista de Santos.[7]

Esse grupo adquiriu uma vasta área de terras na localidade onde hoje se ergue a cidade de Alvorada do Sul,[8] promovendo seu loteamento em áreas rurais e urbanas, vendidas à longo prazo. Com um novo plano urbanístico, impulsionaram o progresso local, que era caracterizado por um povoamento quase que exclusivamente paulista, trazido pela empresa colonizadora que promoveu seus objetivos com marketing.

A extensa porção territorial que circundava o povoado foi sistematicamente ocupada por famílias de agricultores, que não tardaram em transformar a fértil mata em imponentes cafezais e produtivas lavouras de subsistência.

Os primeiros povoadores do lugar eram homens. Em 1950, pouco antes de sua emancipação, haviam 11 667 habitantes, no qual 92% estava concentrada na zona rural.

Esses adventos permitiram que o núcleo fosse elevado à categoria de município emancipado, no dia 14 de novembro de 1951, pela lei estadual nº 790, sancionada pelo governador Bento Munhoz da Rocha Netto, com território desmembrado do município de Porecatu.

A instalação oficial ocorreu no dia 14 de dezembro de 1952, com as posse das autoridades municipais eleitas. Em 1955 ocupou o cargo de prefeito Juliano Fabrício dos Santos, sendo que eram vereadores: José Pereira Lima, Antonia Fonta Cezar, Thyrso Silva Gomes, Natal Búfallo de Moraes, Arduvino Pedrão, Gil Pellegrini, Antonio Agnelo de Carvalho, João Piovesan e José Savia.

Referências

  1.  «Gentílico alvoradense-do-sul». Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 29 de agosto de 2018. Consultado em 30 de dezembro de 2018
  2.  Prefeito e vereadores de Alvorada do Sul tomam posse Portal G1 - acessado em 2 de janeiro de 2021
  3.  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2019). «Área da unidade territorial - 2019». Consultado em 22 de dezembro de 2020
  4. ↑ Ir para:a b «Estimativa populacional 2020 IBGE». Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 28 de agosto de 2020. Consultado em 20 de janeiro de 2021
  5.  «Ranking decrescente do IDH-M dos municípios do Brasil». Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). 2000. Consultado em 11 de outubro de 2008
  6. ↑ Ir para:a b «Produto Interno Bruto dos Municípios 2018». Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Consultado em 22 de dezembro de 2020
  7.  Cidades@ - IBGE. «Histórico». Consultado em 19 de julho de 2010
  8.  FERREIRA, João Carlos Vicente (1996). O Paraná e seus municípios. Maringá: Editora Memória Brasileira. 144 páginas

Conflitos do transporte II: a pau e pedras, a revolta dos carroceiros

 

Conflitos do transporte II: a pau e pedras, a revolta dos carroceiros

por Fernanda Foggiato

Carroceiros da estação ferroviária em meados de 1940. (Foto: Acervo Cid Destefani)

Responsáveis até então pelo transporte de cargas entre a estação ferroviária e as casas comerciais da cidade, os carroceiros de Curitiba não aceitaram a circulação dos bondes de mulas, a partir de novembro de 1887. “Os bondes logo foram execrados pelos carroceiros em razão da competição que faziam quanto ao transporte de cargas”, resgatou em 2012 o jornalista Cid Destefani, na coluna “Nostalgia”, do jornal “Gazeta do Povo”.

Segundo anúncio veiculado na imprensa pela empresa Ferro Carril Curitybana, para bagagens e encomendas eram cobrados 100 réis para até 30 quilos; mais do que esse peso, a taxa era de 40 réis a cada 15 quilos. Havia ainda preços tabelados para que os carris levassem cargas urbanas, de importação e de exportação.

Os bondes carregavam de tudo, como criticou o editorial do jornal “Dezenove de Dezembro”, na edição de 4 de fevereiro de 1888. Em plena rua da Imperatriz (atual XV de Novembro), o vagão recebeu “um enorme caixão e outros volumes, ao chegar em frente à casa do Sr. Fernandes Loureiro”. “Pergunta-se: é isso admissível?”, alfinetou o veículo de comunicação. Além da incômoda carga no bonde exclusivo para passageiros, o jornal disse que a viagem atrasou devido à parada.

Nem uma semana após a viagem inaugural, o jornal “Gazeta Paranaense” já relatava ataques aos bondes, o que chamou de “perversidade”. “Aproveitando a escuridão da noite – esta irmã do crime, lançam sobre os trilhos dos bonds enormes pedras e atravessam-n'os com imensos pedaços de páos.” Ainda de acordo com a publicação, no dia em que o sistema começou a operar já houve sabotagens, justamente ao veículo em que seguia o chefe de polícia. Ele, então, colocou seis policiais à disposição da empresa Curitybana, para coibir os atos.

O gerente da empresa, no entanto, dispensou a atuação dos “praças”. A “Gazeta Paranaense” relatou, no dia 30 de novembro, um princípio de conflito na antiga rua Matto Grosso. Um carroceiro, após descarregar, não saiu dos trilhos para dar passagem ao bonde, apesar dos apitos. Ele teria dito que estava descansando. Os funcionários do empresa Curitybana, então, tentaram retirar a carroça dali, o que chamou a atenção de outros carroceiros, que saíram em defesa do colega e deram início a um “grosso salceiro”.

Os casos continuaram. Quem conta, desta vez, é o jornal “A Republica”, na edição de 8 de novembro de 1888. De acordo com o relato, carroceiros que transportavam barro para o Largo do Mercado (antiga Cadeia Pública de Curitiba e atual Paço Municipal) ocuparam os trilhos. O bonde ficou parado por pelo menos 15 minutos: “Por apitos successivos, retiraram-se apressadamente. Pedimos providencias para abusos de tal ordem”.

Em 1895, o Código de Posturas Municipais instituiu uma multa de 5 mil réis para qualquer pessoa que atrapalhasse a circulação dos bondes, fosse por parar veículos nos trilhos ou por tentar sabotá-los com paus, pedras e outros objetos que impedissem o trânsito ou levassem ao risco de descarrilhamento. No final de abril de 1896, os carroceiros de Curitiba fizeram uma greve. Segundo “A Republica”, aqueles que queriam trabalhar eram ameaçados. Os colonos, depois da venda de seus produtos, ajudaram a transportar cargas, sob a proteção da polícia.

Dois anos e meio depois, uma norma municipal disciplinou o trabalho da categoria. A lei 13 de 1898, publicada pelo jornal  “O Municipio”, apontado como o “órgão da municipalidade de Curityba”, normatizou o serviço de transporte de cargas, inclusive nos bondes. As matrículas, de carroceiros, cocheiros, condutores e carregadores, eram emitidas pela Câmara Municipal apenas para maiores de 14 anos de idade.

Leia também:

Conflitos do transporte: “fura-catracas” de hoje são “pula-bondes” de ontem

Conflitos do transporte III: A alfafa subiu? A tarifa também...

Antes dos primeiros “omnibus”, os bondes puxados por mulas

A história da Garagem de Bondes de Curitiba


Confira mais reportagens históricas sobre Curitiba na seção “Nossa Memória”.


Nota: As citações de atas e notícias, entre aspas, são reproduções fiéis dos documentos pesquisados. Por isso, a grafia original não foi modificada.


Referências Bibliográficas - “Conflitos do transporte II: a pau e pedras, a revolta dos carroceiros”

Lei 13 de outubro de 1898. Disponível no jornal “O Municipio”. Curitiba, PR. 19\11\1898. Acesso em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=720917&pesq=carroceiros&pasta=ano%20189

Jornal A República. Curitiba, PR. 08/10/1888. Acesso em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=215554&PagFis=163

Jornal A República. Curitiba, PR. 26/04/1896. Acesso em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=215554&PagFis=6335

Jornal Dezenove de Dezembro. Curitiba, PR. 04|02|1888. Acesso em:
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=416398&PagFis=15263

Jornal Gazeta do Povo. Coluna Nostalgia. Curitiba, PR. 30/11/2012. Acesso em: http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/colunistas/nostalgia/no-tempo-do-bonde-48zs4f7rcnqewsj2nai3ytiz2

Jornal Gazeta Paranaense. Curitiba, PR. 10/11/1887. Acesso em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=242896&PagFis=2031

Jornal Gazeta Paranaense. Curitiba, PR. 30/11/1887. Acesso em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=242896&PagFis=2094

Pereira, Magnus Roberto de Mello (org). Posturas municipais – Paraná, 1829 a 1895. Editora Quatro Ventos. Curitiba, 2003.

Cândido de Abreu e o Paço Municipal

 

Cândido de Abreu e o Paço Municipal

por João Cândido Martins

O prédio do Paço Municipal em 1916. No primeiro andar ficava a prefeitura e, no segundo, a Câmara. (Foto: Arthur Wischral/acervo Paulo José da Costa)

No dia 24 de fevereiro de 2016, o Paço Municipal (atual Paço da Liberdade) completou 100 anos. O prédio foi sede da prefeitura e da Câmara de Curitiba por quase cinco décadas. Na semana do aniversário de Curitiba, o projeto Nossa Memória conta a história dessa que é uma das construções mais importantes da cidade. Antes dela, entretanto, outras edificações foram erguidas com a finalidade de sediar o poder municipal.

A primeira foi a “Casa de Câmara e Cadeia”, cuja construção se deu entre 1721 e 1726 [já retratada num dos textos do projeto Nossa Memória ( leia mais)].

O livro “História e usos do Paço da Liberdade” (2009) traz dados sobre as construções que sediaram temporariamente a Câmara. “Até então os poderes municiais eram quase itinerantes. Mudavam de sede constantemente. Em 1901 funcionavam na Praça Tiradentes, 490, em prédio ainda hoje existente e de propriedade dos herdeiros de Sofia Wolf. Em 1902, passam para outro prédio, de nº 21 na mesma praça. De acordo com o contrato, o prédio seria alugado por três anos pelo valor de 300 mil réis”. A Fundação Cultural de Curitiba informa que em seu site que entre 1911 e 1912, a Câmara também desenvolveu suas atividades no Palacete Wolf, localizado nas proximidades da Igreja do Rosário. A informação é confirmada pelo livro Impressões do Brazil no Século XX, editado em Londres, em 1913.

Aproximadamente nessa época a Câmara inicia as discussões para a construção de uma nova sede para o Poder Legislativo. É aprovada a lei que possibilita a construção do Paço Municipal (348/1912). Sua inauguração no dia 24 de fevereiro de 1916 foi o último ato de uma sucessão de intervenções urbanas realizadas em Curitiba enquanto o engenheiro Cândido de Abreu esteve à frente da prefeitura (1913-1916).

Os “Melhoramentos de Cândido de Abreu” como foram chamados, mudaram não só a aparência da cidade, mas também muitos outros aspectos como, por exemplo, a relação entre os cidadãos e o poder público. De acordo com Rafael Augustus Sêga, autor de uma pesquisa de 1996 sobre a gestão de Cândido de Abreu, o diferencial entre ele e seus antecessores foi a introdução do conceito de “interesse coletivo”, que além de facilitar as operações, reforçava junto à população a percepção de que a prefeitura era um órgão meramente judicioso, formal, racional, destituído de paixões e ideologias.

Cândido de Abreu
Carlos Cavalcanti, presidente do Estado, tinha a prerrogativa de escolher o prefeito. Duas opções se colocaram. Uma delas era o coronel João Gualberto, figura popular em Curitiba, comandante do “Tiro de Guerra” Rio Branco, presença obrigatória em todas as comemorações cívicas que aconteciam na cidade. Como não tinha apoio do Partido Republicano, seu nome foi preterido. A escolha do presidente recaiu sobre Cândido Ferreira de Abreu, parnanguara, neto do Visconde de Nácar, engenheiro formado pela Escola Politécnica do Rio, a primeira instituição de ensino de engenharia do Brasil. Em seu currículo acumulava passagens como chefe de seção nas obras da estrada de ferro Madeira-Mamoré, inspetor de colonização no Rio Grande do Sul e engenheiro do Ministério da Agricultura, no Rio de Janeiro.

Uma das novidades trazidas pela república a partir de 1889, lembra Rafael Sêga, foi a eleição para prefeito. Até então a administração municipal no Brasil era exercida de forma exclusiva pelas Câmaras. “Em 1892, Cândido de Abreu venceu a primeira eleição para prefeito da cidade de Curitiba. Sua tendência draconiana frente ao Executivo Municipal teve suas raízes nesse seu primeiro mandato, que por sinal foi muito breve (11 meses); foram desse período a inauguração da luz elétrica e a revisão do Código de Posturas, com o escopo de implantar medidas saneadoras e embelezadoras na cidade, assim como o esquadrinhamento das construções dentro do perímetro urbano. Porém, as limitações impostas pelo Legislativo Municipal irritaram Cândido de Abreu, que encaminhou uma carta renunciando ao cargo”, explica Sêga.

Em 1893, foi convidado por Aarão Reis para fazer parte da Comissão Construtora de Belo Horizonte, nova capital mineira em substituição à cidade de Ouro Preto. Durante a Revolução Federalista (1894), graças ao apoio que deu à legalidade (Floriano Peixoto) foi nomeado tenente-coronel honorário. Foi deputado e senador.

Melhoramentos
“Com reflexão e commedimento estão sendo delineados os planos de remodelamento da cidade. Mais alguns mezes e os ferros da picareta do progresso, na faina gloriosa da destruição civilisadora, cahirão possantes, como um terremoto benefico e esplendoroso derribando a casaria vetusta. E essa Coritiba de hoje, ‘moça bonita trajando seda, porem calçada de tamancos’, resurgirá victoriosa do pó desses escombros, como Phenix de nova especie, exuberante em perfeição e graça”, diz um cronista em nota publicada pelo jornal Diário da Tarde de 8 de abril de 1913.

De forma essencial, os melhoramentos duraram toda a gestão de Cândido de Abreu (1913-1916) e consistiram em centenas de terraplanagens, aterros, calçamentos, drenagens e outros serviços isolados como a construção de um mercado de madeira na Praça 19 de Dezembro e outro no Batel. Rafael Sêga destaca o espanto da população frente a dois compressores importados da Europa para a realização das obras. “Esses equipamentos importados são signos de uma civilização, e as suas origens acentuam bem esse referencial. Compressores, britadeiras, betoneiras e guindastes, são metáforas da criação de um novo tempo e são fetichizados pela maioria da população”.

Em praticamente todos os dias do seu mandato alguma atividade dos melhoramentos foi realizada. Todo o trabalho foi descrito em relatórios públicos em que se destaca a preocupação com o detalhamento das obras [e dos valores gastos]. “Cândido de Abreu foi além como prefeito da cidade. Tinha experiência conseguida no tempo que trabalhou na construção de Belo Horizonte. E fez o que pode, nos horizontes limitados (tanto culturais quanto econômicos) de Curitiba”, diz Irã Taborda Dudeque, arquiteto, historiador e professor do Instituto Tecnológico de Educação (ITFPR).

Alexandre Fabiano Benvenutti em sua monografia “As Reclamações do Povo na Belle Époque: a cidade em discussão na imprensa curitibana (1909-1916)” menciona alguns números: “(...) As vias públicas que receberam revestimento de paralelepípedos, tanto usados como novos, correspondiam a 101.377 m² no total. Os trabalhos de macadamização totalizavam 145.754 m². No que se refere aos passeios ou calçadas, a área total revestida foi de 31.208,14 m², dos quais cerca de 19.255,16 m² correspondiam a revestimento de cimento, 10.200,55 m² a ladrilhos, 1.158,12 m² a petit pavê, e 594.31 m² a lajes de pedra”.

“Para se ter uma ideia da grandeza dessa operação, numa cidade de sessenta e cinco mil habitantes, aproximadamente, foram assentados quase três milhões e quatrocentos mil paralelepípedos, além das ruas macadamizadas. E mais, vários prédios foram demolidos, praças reformadas (ou criadas) e eletrificadas as linhas dos bondes”, lembra Sêga. Na mesma perspectiva, comenta o pesquisador Sérgio Henrique Schultz, em sua pesquisa “Sapatos de veludo”: “os cortiços, grandes inimigos da circulação, serão atacados, avenidas serão abertas, e as praças, verdadeiros respiratórios da cidade – mesmo que sem árvores – ganharão grande importância, assumindo a função de revitalização-deslumbramento no espaço urbano”.

“Ele era muito atualizado em relação às novidades arquitetônicas”, diz Marcelo Sutil, coordenador de pesquisa histórica da Casa da Memória. “Outras construções de sua autoria, como sua residência na Avenida João Gualberto (conhecida como “Casa das Ferraduras”) e o Belvedere, na praça João Cândido se valeram de ornamentações no estilo art nouveau”.

O emprego das características dessa corrente francesa também marcaria a reforma da praça Eufrásio Correia e as mudanças promovidas no Passeio Público que ganhou um portal de entrada semelhante ao do Cemitério de Cães, em Paris. Mas a obra arquitetônica de maior relevo atribuída a Cândido de Abreu é o Paço Municipal, o último dos “melhoramentos” (entregue dentro do prazo).

Paço
Para Sutil, a localização do prédio do Paço teve caráter estratégico. “A rua da liberdade – transformada em rua Barão do Rio Branco em 1912 – era conhecida como a rua do Poder, em função da presença do prédio da Assembleia (Palácio Rio Branco) e do Palácio da Liberdade (atual Museu da Imagem e do Som), que durante anos foi a sede do Governo do Estado”. O Paço foi construído já na rua Riachuelo (continuidade da Barão), na mesma área onde ficava o antigo mercado (1874), cujas paredes lhe serviram de tapume.

A pesquisadora Suzelle Rizzi, em sua pesquisa de 2003 sobre Cândido de Abreu, salienta que os trabalhos foram dirigidos pelos construtores Ângelo Bottechia e André Petrelli, sob a fiscalização do engenheiro Eduardo Chaves. A supervisão geral era feita pelo engenheiro-chefe de Obras Municipais Adriano Goulin e pelo próprio prefeito Cândido de Abreu (a quem a obra é genericamente atribuída). A decoração interior do edifício ficou ao encargo do arquiteto Roberto Lacombe, sendo as pinturas incumbidas a João Ortoloni e João Guelffi. Trabalhos em marcenaria foram feitos nas oficinas Maderna & Boni, de Curitiba.

De acordo com o edital referente ao fornecimento de material, a construção do prédio demandou 1.168 m³/390 decâmetros cúbicos de pedra bruta para alvenaria de fundação; 65 m²/502 decâmetros cúbicos de pedra de cantaria, granito para a alvenaria de embasamento; 300.000 tijolos, 400 m³ de areia; e 125 m³ de cal. O mesmo documento abria concorrência para a mão de obra.

Dotado de três pavimentos, o prédio tem 15 metros de altura. Detalhes “art nouveau” se destacam em toda a construção, como por exemplo a estátua feminina conhecida como “Curityba”, localizada abaixo do relógio na torre, ou os peixes que adornam as portas laterais. O edifício também é lembrado por ter sido o primeiro em Curitiba a dispor de um elevador. “Sua presença valorizou o entorno da praça. Some o casario baixo e surgem edificações como o Tigre Royal”, frisa Marcelo Sutil.

Como lembra Alexandre Fabiano Benvenutti em sua pesquisa, o prédio ganhou “os mais modernos e luxuosos equipamentos: elevador Ottis Pifre, sistema de iluminação elétrica interna e externa invisíveis, duas fontes ornamentais bronzeadas, dois mictórios modernos, um artístico lampadário Torchiere, três porta-lâmpadas, um candelabro com figura, um relógio com mostradores transparentes e telefones. Na decoração externa, ricamente ornamentada, havia uma grande preocupação em ostentar a riqueza, o luxo e o poder”.

“As colunas da entrada principal do prédio estão suspensas por dois Hércules, que representam os poderes municipais, o Legislativo e o Executivo. Acima, um nicho contém uma estátua feminina, vestindo uma túnica, o que significa a cidade de Curitiba, e na ornamentação da torre, um escudo com as armas do município e cabeças de leão, símbolos da força”, descreve Marcelo Sutil em “O Espelho e a Miragem”.

E os vereadores?
Entre 1912 e 1920 a Câmara Municipal teve duas legislaturas, mas os nomes não se alteraram de forma substancial. Os integrantes da Casa durante aqueles oito anos foram: João Antônio Xavier, Jayme Ballão, Francisco de Paula Guimarães, Constante de Souza Pinto, Nicolau Mader, Percy Withers, Francisco Simas, Wallace de Mello, Wenceslau Glaser, Joaquim Augusto de Andrade, Antônio Torres e João Faucz.

Não participaram dos melhoramentos – embora recebessem informes sobre os avanços das obras – mas aprovaram uma série de leis importantes para a cidade. Algumas são listadas em uma espécie de balanço de fim de mandato que foi publicado no “Almanach do Paraná”, de 1920.
 
Um tema que tomou bastante a atenção dos vereadores foi a da regularização dos lotes. Eles aprovaram, por exemplo uma lei que tributou terrenos não edificados e não murados. Também exigiram que os construtores fornecessem a exata localização dos prédios para a verificação dos excessos (medida que rendeu 50 contos de réis para o município). Aprovaram, da mesma forma, a concessão de favores aos proprietários que cedessem as áreas para abertura de ruas e praças.

Dentro dessa temática, entretanto, a lei mais importante aprovada pelos vereadores das legislaturas de 1912-1920 foi a que dividiu a cidade em três zonas organizadas sob a forma de anéis concêntricos. “A 1° zona”, diz Suzelle Rizzi, “constituída pelas áreas centrais de Curitiba, com exceção da av. Batel e João Gualberto consideradas residenciais. A região central sofreu maiores reformas urbanas como pavimentação, onde também as leis e fiscalização eram mais rígidas, com preferência por edificações em alvenarias”.

“A 2° zona e a 3° zona obedeciam o mesmo formato em anel alargando-se cada vez mais para a periferia da cidade. A 2° zona era reservada as indústrias e a 3° zona para moradias de operários e sitiantes”, continua. Portão, Seminário e Juvevê, por exemplo, foram considerados “terceira zona”.

A Câmara Municipal também se ocupou da discussão e aprovação das leis que criaram a Maternidade, o Instituto Pasteur e o programa Gota de Leite. Os camaristas doaram um terreno para a recém-criada universidade e acataram a livre exploração da energia elétrica como força-motriz. Algumas atividades creditadas aos melhoramentos tiveram suas autorias reivindicadas pelos vereadores: o Palácio Municipal (lei nº 348/1912), a remodelação do Passeio Público e a desapropriação da chácara Bittencourt, ação que eles consideravam “necessária para normalizar o regime de aguas e esgotos”.

Referências Bibliográficas
Benvenutti, Alexandre Fabiano. As Reclamações do Povo na Belle Époque:  a cidade em discussão na imprensa curitibana (1909-1916). Mestrado em História – UFPR. Curitiba, 2004.

Blog Paulo da Fígaro [link].

Castro, Elizabeth Amorim de. Edifícios públicos de Curitiba: Ecletismo e modernismo na arquitetura oficial. 1ª edição, Edição do autor. Curitiba, 2011.

Castro, Elizabeth Amorim de; Posse, Zulmara, Clara Sauner. As virtudes do bem-morar. 1ª edição, Edição do autor, Curitiba, 2012.

Dudeque, Irã Taborda. Nenhum dia sem uma linha: uma história do urbanismo em Curitiba. Studio Nobel. Curitiba, 2010.

Posse, Zulmara Clara Sauner (organizadora). História e usos do Paço da Liberdade. SESC-Administração Regional Paraná. Curitiba, 2009.

Rizzi, Suzelle. Cândido de Abreu e a arquitetura de Curitiba entre 1897 e 1916. Mestrado em Teoria, História e Crítica da Arquitetura. Curitiba, 2003. 

Sêga, Rafael Augustus. Melhoramentos da capital: a reestruturação do quadro urbano de Curitiba durante a gestão do prefeito Cândido de Abreu (1913-1916). Mestrado em História da UFPR. Curitiba, 1996.

Schultz, Sérgio Henrique. Sapatos de veludo: Modernidade e urbanidade através dos espaços públicos de lazer na Curitiba do início do século XX (1913-16). Bacharelado em História. Curitiba, 2007.    

Sutil, Marcelo Saldanha. O Espelho e a miragem. Mestrado em História. UFPR. Curitiba, 1996.

Plano Wilheim-Ippuc: conflitos e soluções para a Curitiba de 1966 - Parte II

 

Plano Wilheim-Ippuc: conflitos e soluções para a Curitiba de 1966 - Parte II

por João Cândido Martins

Ônibus expressos enfileirados na Praça Generoso Marques, em 1972. A implantação da RIT nas vias estruturais não estava prevista no Plano Wilheim-IPPUC, mas foi sugerido por Agache. (Foto: acervo do IPPUC)

As mudanças sofridas pela cidade tornaram clara a necessidade de se alterar as previsões do Plano Agache ( leia aqui) ou mesmo de se propor outro plano. Tal iniciativa encontrou ambiente na Curitiba do início dos anos de 1960, uma cidade em franca explosão demográfica cuja estrutura urbana ainda respondia às necessidades rurais de décadas anteriores. Confira na segunda reportagem sobre a história dos planos diretores de Curitiba, integrante do Projeto Nossa Memória, como se deu a elaboração e a implantação do Plano Diretor de 1966, que ficou conhecido como Wilheim-IPPUC.

Plano Wilheim-IPPUC (1966)
Em 1962, o engenheiro Ivo Arzua assumiu a prefeitura e, ao mesmo tempo, teve início a primeira turma do curso de arquitetura da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Houve, no dizer da pesquisadora Priscila Bordin Ferreira, “uma efervescência na arquitetura local, principalmente ao redor dos concursos nacionais para edifícios públicos e de um novo plano para a cidade”. Nesse aspecto, Luis Salvador Gnoato  lembra, em artigo publicado pelo site Vitruvius, que paranaenses se consagraram nacionalmente como vencedores de concursos de arquitetura, “tendo como exemplos mais significativos o conjunto formado pelas sedes da Petrobrás (1968) e do BNDE (1973), no Rio de Janeiro”.

No ano seguinte, a empresa Sagmacs produz o I Plano de Desenvolvimento do Paraná, feito a partir de um pedido do Executivo Estadual, então ocupado por Ney Braga, ex-prefeito de Curitiba. Fundada pelo padre Louis-Joseph Lebret, representante da corrente “Economia e Humanismo”, o Sagmacs prestava assessoria aos municípios que pretendiam realizar reformas e propor planos diretores. Também em 1963, o prefeito Ivo Arzua cria a Urbs S/A, que se somou ao Departamento Municipal de Urbanismo na promoção de obras e serviços na cidade.

O início do plano de urbanismo que projetaria Curitiba internacionalmente aconteceu quando esse novo órgão, a Urbs, solicitou verbas à Codepar (entidade estadual de fomento) para a construção de um viaduto previsto no Plano Agache. Este órgão respondeu que se fazia necessária a contratação de um novo planejamento urbano (via licitação) e se propôs a ceder os recursos para que a prefeitura promovesse a concorrência pública para a escolha da empresa que realizaria o plano.

O certame, conforme cita o pesquisador Alexandre Benvenutti em texto também publicado pelo site Vitruvius, contou com as seguintes empresas: Assessoria em Planejamento (Asplan), M.M.M. Roberto Arquitetos, Sociedade para Análises Gráficas e Mecanográficas Aplicadas aos Complexos Sociais (Sagmacs), Urbanismo e Planejamento (Urplan), Companhia de Urbanização e Saneamento de Curitiba (Urbs) e a Sociedade Serete de Estudos e Projetos Ltda (Serete), que saiu vitoriosa.

À Serete coube a promoção de estudos preliminares (diagnósticos) sobre a cidade. Tais dados subsidiaram o planejamento propriamente dito, que foi subcontratado junto ao escritório do arquiteto paulista Jorge Wilheim. Deste contrato resultou o Plano Preliminar de Urbanismo (PPU).

IPPUC x URBS
Todo o processo de elaboração desse pré-plano foi acompanhado por um conjunto de especialistas curitibanos que ficou conhecido como “Grupo de Acompanhamento Local”. Segundo Salvador Gnoato, o grupo estava estabelecido no escritório de Luiz Forte Netto e era composto por Dulcia Aurichio, Francisca Rischbieter (1929-1989), Jaime Lerner, José Maria Gandolfi, Onaldo Pinto de Oliveira (1928-2001), Alfred Willer, Almir Fernandes, Cyro Correa Lyra, Domingos Bongestabs, Saul Raiz e mais alguns funcionários do Departamento de Urbanismo da Prefeitura, entre outros participantes.

O grupo tinha a incumbência de, a partir do PPU (Serete/Wilheim), elaborar o texto final do novo Plano Diretor e pô-lo em prática. Diante da necessidade de se promover a divulgação pública do projeto, foram realizados entre 27 e 30 de julho os seminários “Curitiba de Amanhã”. Pouco tempo depois, o grupo de acompanhamento passou a se designar Assessoria de Planejamento e Pesquisa Urbana de Curitiba, nome posteriormente alterado para Instituto de Planejamento e Pesquisa Urbana de Curitiba (Ippuc). Apesar deste Instituto ser a óbvia escolha para dar encaminhamento às obras que compunham o plano (aprovado pela lei nº 2.828 de 31 de julho de 1966), houve resistências por parte de outros órgãos que também pretendiam estar à frente dessa execução (Urbs S/A e Departamento Municipal de Urbanismo).

Nos anos que se seguiram à gestão de Ivo Arzua, a Urbs/SA ganhou força e encabeçou a construção da rodoviária, além de levar adiante a construção do Viaduto do Capanema (ambas sugestões de Agache). De acordo com o arquiteto, historiador e professor Irã Dudeque, tal xadrez político fez com que o Plano só fosse levado adiante, de fato, nos anos 70, quando o ex-diretor do IPPUC, Jaime Lerner, assumiu a prefeitura por designação do então governador Haroldo Leon Peres. Ao Departamento de Urbanismo, Lerner delegou a aplicação e fiscalização do zoneamento e de novas construções e a URBS permaneceu como empresa construtora, incorporando atribuições viárias somente nos anos 80.

Para o então presidente da Câmara Municipal, vereador Erondy Silvério, “a mobilização da opinião pública que o prefeito Ivo Arzua está levantando em torno da revisão do Plano Diretor da cidade é das mais democráticas e sadias; todos os cidadãos devem conhecer o projeto e analisá-lo, pois a responsabilidade de legar às futuras gerações uma metrópole bem urbanizada ou uma cidade-problema é de todo povo e é de agora”.

As declarações do chefe do Legislativo vieram como comentário da campanha lançada pelo prefeito – constante de exposições e seminário de conferências – instituindo julho como 'Mês do Urbanismo', “cujo sentido será de fazer amadurecer na consciência popular o que representa um Plano Diretor”. (jornal Correio do Paraná, coluna Janela Indiscreta. 29 de março de 1965)

Pareceres do Legislativo
Foi intenso o trâmite nas comissões permanentes da Câmara Municipal do projeto de lei que propôs o Plano Diretor, conforme se depreende da leitura dos pareceres emitidos pelos vereadores, que embora exaltassem a necessidade de uma nova planificação, consideraram, de modo geral, o tempo para análise do projeto muito exíguo. Os atos da tramitação foram reunidos pelo IPPUC em 1997 e estão disponíveis no site do órgão.

De início, o voto positivo emitido em 6 de junho pelo vereador Ivo Moro, presidente da Comissão e Legislação venceu o voto em separado promovido por Arlindo Ribas de Oliveira, que sugeria o encaminhamento da proposta para a análise do então governador Paulo Pimentel. Ele reclamava que, apesar da ideia do Plano ter surgido no primeiro ano do mandato de Ivo Arzua, o prefeito só o apresentou como projeto de lei a cinco meses do fim de sua gestão. Ele também dizia que como em breve estava estabelecido que o prefeito seria designado pelo governador (em conformidade com o Ato Institucional nº. 3), não haveria motivo para pressa.

A Comissão de Viação, Obras e Serviços Públicos, presidida por Igo Iwant Losso em 27 de junho entendeu que o projeto, embora meritório, merecia um substitutivo. O relator apontou falhas no sistema de zoneamento proposto e também classificou como insustentáveis os gastos previstos. “Esse projeto é muito realista e muito belo na técnica e nos desenhos, mas nunca sua aplicação na prática”, apontou o relator.

Algumas emendas foram propostas no dia 1º. de julho pelo vereador Fabiano Braga Cortes. Ele sugeriu alterações nos artigos 16, 17, 18, 19, 38, 39, 40, 41 e também o parágrafo único desse artigo.

A Comissão de Economia, dirigida pelo vereador Menotti Caprilhone, votou no dia 6 de julho por um reexame em plano regional. Para Caprilhone o Plano deveria promover conexões com os municípios limítrofes. Também a Comissão de Finanças, Orçamento e Tomada de Contas procurou obstar o trâmite, sugerindo consultas ao Instituto de Engenharia do Paraná (IEP) e Câmara de Valores Imobiliários, conforme o voto de João Lothario Bettega, lavrado em 14 de julho. Lothario questiona algumas desapropriações sugeridas para a consecução do Plano. Seis dias depois Jobar Cassou, presidente da Comissão de Educação, Saúde e Assistência Social emitiu um parecer favorável ao trâmite, no qual ressalta que a comissão via com bons olhos a divisão da cidade em setores educacionais e sanitários. Cassou sugere um plano de abastecimento para a cidade e incentivos para o pequeno agricultor instalado no cinturão-verde da cidade.

Tais debates resultaram num Plano com 62 artigos e 10 emendas que foi aprovado em segundo turno no dia 29 de julho de 1966. O prefeito Ivo Arzua promoveu 5 vetos que não comprometeram a essência do plano.

O(s) Plano(s)
Para entender este momento, é necessário levar em conta o que foi proposto no pré-plano (PPU), formulado pela empresa Serete em parceria com Jorge Wilhein (1965). Posteriormente deve-se verificar o que foi aproveitado pelo IPPUC no texto final do Plano Diretor (1966) e, por fim, há que se comparar o texto do plano aprovado pela Câmara em 1966 e o que foi efetivamente posto em prática nos anos 70, quando Jaime Lerner assumiu a prefeitura.

O PPU previa um “crescimento linear, contrariando a estrutura concêntrica desenvolvida no Plano das Avenidas de Agache [que tinha por base as diretrizes do crescimento linear servido por vias tangenciais de circulação rápida]. Entre outras características do PPU, Maclôvia Silva, em “O plano de urbanização de Curitiba – 1943 a 1963 – e a valorização imobiliária”, menciona a hierarquia de vias, o desenvolvimento preferencial da cidade no eixo nordeste-sudoeste (conforme tendências históricas e naturais), o policentrismo, o adensamento, a extensão e adequação das áreas verdes, a caracterização de áreas de domínio de pedestres e a criação de uma paisagem urbana própria.

O Plano Diretor, desenvolvido posteriormente pelo IPPUC a partir do PPU, propunha a estrutura do Planejamento Integrado, o desenvolvimento preferencial da cidade no eixo nordeste-sudoeste, a hierarquia de vias, o crescimento linear do centro principal servido por vias tangenciais de circulação rápida, a caracterização das áreas de uso preferencial ou exclusivo de pedestres, a extensão e adequação de áreas verdes, a criação de uma paisagem urbana própria, a renovação urbana e a preservação histórico-tradicional.

Como diferenças substanciais em relação ao PPU, destaque para a inclusão da estrutura do planejamento integrado, a renovação urbana (sugestão de Ivo Arzua), a preservação histórico-tradicional e, principalmente, a exclusão do adensamento e do policentrismo como diretrizes básicas.

Julio César Botega do Carmo, autor da dissertação de mestrado ”A permanência de estruturas urbanas e a construção do conceito de cidade na abordagem geográfica”, destaca que “o Plano Diretor de Curitiba de 1966 abandonou a concepção dos centros e adotou parâmetros diferenciados por zona de densidade populacional para criar um novo zoneamento, ao contrário do plano Agache, no qual o zoneamento baseava-se no preenchimento de espaços vazios do território, sem coeficientes definidos para as áreas da cidade, por ocupação progressiva a partir do centro”.

No entendimento de José Luis Faraco, autor de “O Plano Diretor e a cidade sustentável”, “a expansão linear do centro principal, tal como ocorre hoje, através da verticalização, adensamento e diversidade de uso no Setor Estrutural, não era diretriz nem do Plano Serete-Wilheim (65) e nem do plano final apresentado pela equipe que constituiu o Ippuc (66). O que esses planos propunham era o crescimento linear do centro principal em direção ao Batel, controlado por um anel perimetral tangenciado por vias rápidas estruturais”.

Ainda segundo este autor, “não são poucas as diferenças entre as diretrizes básicas consagradas no Plano Wilheim, no Plano Diretor do Ippuc, e no que se concretizou como prática efetiva dos diferentes agentes que produziram a cidade, destacando o Ippuc na condução de um processo de Planejamento cuja resultante, em larga medida, ganhou as ruas transformando-se em realidade”.

Plano em prática

Fechar a rua XV [“Rua das Flores”] ao trânsito de carros em 1972, tornando exclusiva a passagem de pedestres, foi uma iniciativa ousada que provocou reações adversas. Os comerciantes custaram a acreditar que a transformação poderia lhes ser benéfica: comparavam o projeto a “um autêntico presente de grego”, argumentando que “o grande problema é que ninguém está consultando o presenteado, para saber se ele aceita ou repudia o presente” (jornal O Estado do Paraná, 18/02/1972). O tempo demonstraria que a intervenção na rua, feita em um fim de semana para evitar impedimentos judiciais, foi positiva (e acabou marcando todas as transformações urbanas propostas por Jaime Lerner posteriormente).

E aqui vale mais um parênteses. Após se formar em engenharia pela UFPR, Jaime Lerner viajou para a Europa, onde foi estagiário no projeto para a universidade de Toulouse (Le Mirail). Os estudos estavam sendo dirigidos pelo chamado “Team X”, epíteto pelo qual era conhecido o grupo de urbanistas que organizou o Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM) em 1956, na cidade de Dubrovnik [trata-se do mesmo evento que contou com a presença de Alfred Agache em 1928].

Salvador Gnoato, em seu artigo para o site Vitruvius lembra que o Team X [Georges Candilis (1913-1995), Alexis Josic e Shadrach Woods (1923-1973)] era, de certa forma, um desdobramento das propostas modernistas encontradas em Agache, mas, ao contrário deste, “considerava inadequadas as primeiras interpretações mecanicistas do funcionalismo, e queria ampliar seu significado para que abarcasse uma gama de fatores humanos e ambientais, que até então haviam sido ignorados, ou somente insinuados pelos mestres do Movimento Moderno”. Sobre esse tema, Jaime Lerner, diz que “o entendimento equivocado da divisão de funções, estabelecido pela Carta de Atenas (1933), levaram muitas cidades a situações problemáticas”, conforme cita Gnoato.

Para Alexandre Benvenutti, que também escreveu sobre o tema para a mesma revista Vitruvius, a implantação das estruturais seria muito cara, pois demandaria uma série de desapropriações ao longo de mais de 20 km. Por mais vontade política que houvesse naquele momento de se aplicar o plano, era antes necessário resolver esse impasse e a resposta surgiu de um dos componentes do grupo, o arquiteto Rafael Dely, que propôs o sistema que viria a ser conhecido como “trinário”.

O sistema trinário, explica o Ippuc, diz respeito à área dos Setores Estruturais, envolvendo o conjunto de quatro quadras, entre as quais existem na margem duas ruas paralelas e laterais de sentido único para veículos em alta velocidade (vias rápidas), e uma rua central, repartida em três vias: uma central exclusiva para ônibus e duas laterais para veículos em baixa velocidade.

Benvenutti destaca que Lerner e a equipe do Ippuc “adotaram uma posição de mediação entre os ideais do plano urbanístico e os interesses e possibilidades imobiliárias reais nos Setores Estruturais. Esse foi um dos principais motivos, segundo Irã Dudeque, do sucesso que foi atribuído ao planejamento urbano de Curitiba”.

Fora dos planos
Curioso é que algumas das inovações urbanísticas implantadas por Jaime Lerner, como o bem-sucedido sistema trinário, nunca constaram em Planos Diretores. Luis Faraco entende que o sistema, sugerido por Dely e aplicado por Lerner, consagrou a integração de três elementos fundamentais: sistema viário, uso do solo e transporte coletivo. Também não constava desses planos a implantação de uma Rede Integrada de Transporte Coletivo (RIT).

Para viabilizar o sistema trinário foram construídas canaletas no meio das estruturais para o trânsito de ônibus expressos, que podiam conduzir mais passageiros em menos tempo. Os usuários do sistema podiam mudar de ônibus nos terminais sem a necessidade de pagar outra passagem e isso estimulou o uso do sistema pela população.

Hoje, é estimado que em torno de 2 milhões de pessoas utilizem os ônibus da Rede Integrada de Transporte, um número expressivo quando comparado aos 5 milhões que fazem uso diário do sistema metrô da cidade de Nova Iorque. O sistema atualmente é gerenciado pela Urbs/SA, mesmo órgão que disputou com o Ippuc, em 1965, a administração do Plano Diretor.

Também não estava presente nos textos dos planos diretores a previsão de uma área exclusivamente industrial nos perímetros da cidade, mas ela foi criada e inaugurada em 1974. A Cidade Industrial de Curitiba (CIC) significou, de acordo com Faraco, “profundas alterações na estrutura urbana: redirecionou a implantação do sistema viário, de infraestrutura, de conjuntos habitacionais, enfim, de todo um conjunto de ações efetuadas por diferentes níveis de governo”.

“É nesse contexto”, continua Faraco, “que Curitiba passou a ser conhecida como cidade modelo, a mais genuína expressão do ‘milagre brasileiro’. A prática do planejamento tecnocrático, do ‘discurso competente’ (criado por Marilena Chauí, em 1981) e da neutralidade da ação planejadora, encontrou, na ideologia de modernização curitibana, o local fértil para a expansão dos projetos de desenvolvimento pretendidos para o país”.
 
Referências bibliográficas


Benvenutti, Alexandre Fabiano. Planejamento Urbano em Curitiba: interpretações sobre a produção da cidade. III Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, cidade e projeto: uma construção coletiva.  São Paulo, 2014.
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.072/351

Boreki, Vinícius. De problema a marco urbanístico. Gazeta do Povo, Vida e Cidadania. 16/05/2009. 3 fotos do fechamento da rua XV em 1972
http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/de-problema-a-marco-urbanistico-bktyvbbdd5xjy3l1xjfz32qtq

Carmo, Julio Cesar Botega do. A permanência de estruturas urbanas e a construção do conceito de cidade na abordagem geográfica: Reflexões sobre o planejamento urbano da cidade de Curitiba. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, nível de Mestrado, Setor de Ciências da Terra da Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Geografia. Curitiba, 2011.
http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/26438/dis_final_final.pdf?sequence=1

Carmo, Julio Cesar Botega do. Reflexões sobre o planejamento urbano em Curitiba. Vitruvius. Arquitextos, setembro de 2010. Correia, Ana Paula Pupo. História e arquitetura escolar: os prédios escolares públicos de Curitiba (1943-1953). Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em História e Historiografia da Educação. Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2004.
http://www.ppge.ufpr.br/teses/M04_correia.pdf

Dudeque, Irã Taborda. Nenhum dia sem uma linha: uma história do urbanismo em Curitiba. São Paulo: Studio Nobel, 2010.

Faraco, José Luiz (Coordenador da Pesquisa); Razente, Nestor; Rossetto, Denise J. (Colaboradores). O Plano Diretor e a cidade sustentável. Participação no IV Encontro Nacional Latino-americano sobre edificações e comunidades sustentáveis. Elecs. Campo Grande, 2007.

Ferreira, Priscila Bordin Almeida. Vias estruturais em Curitiba: relações entre a discurso do planejamento e a atuação da imprensa local. Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharelado no curso de Ciências Sociais, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2014.
http://www.humanas.ufpr.br/portal/cienciassociais/files/2014/03/Monografia-Priscila-Bordin-Almeida-Ferreira.pdf
 
Garcez, Luiz Armando. Curitiba: evolução urbana. Edição do autor. Curitiba, 2006.
 
Gnoato, Luis Salvador. Curitiba, cidade do amanhã: 40 anos depois. Algumas premissasteóricas do Plano Wilheim-IPPUC. Vitruvius. Arquitextos, maio de 2006.

IUPERJ/MINTER. Dimensões do Planejamento Urbano: o caso de Curitiba. Secretaria Geral do MINTER, 2 V., 545 p., 1974.

Prefeitura Municipal de Curitiba. 50 anos do IPPUC. Elaboração do Plano de Urbanismo deu origem ao Ippuc. 18/08/2015.
http://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/elaboracao-do-plano-de-urbanismo-deu-origem-ao-ippuc/37313

Conheça a história dos Planos Diretores de Curitiba - Parte I

 

Conheça a história dos Planos Diretores de Curitiba - Parte I

por João Cândido Martins

A praça Osório, em 1905. Intervenções urbanas eram “embellezamentos”. (Foto: acervo Fundação Cultural)

Preocupações com o trânsito, enchentes, mobilidade dos pedestres, ou onde devem funcionar as indústrias e o comércio não são novidades na vida das grandes cidades. Em Curitiba, já no início do século XVIII há registros de ações a serem cumpridas pela população no sentido de se construir uma cidade mais organizada. Erros e acertos marcaram essa história, cujos primórdios mais remotos podem ser encontrados nos provimentos do Ouvidor Pardinho, editados em 1721. Nomes como Pierre Taulois (1855), Ernesto Guaita (1885), Cândido de Abreu (1913-1916) e Saturnino de Brito (anos 20) foram alguns que contribuíram com intervenções no quadro urbano antes que estas propostas ganhassem um caráter mais sistemático, a partir de 1930, quando foi proposto o plano diretor da cidade do Rio de Janeiro, o primeiro do Brasil.

A conclusão, nesta segunda-feira (9), das votações da revisão do Plano Diretor constitui o mais recente capítulo na história do planejamento urbano de Curitiba. Em uma série de quatro reportagens, que serão publicadas nesta semana, o Projeto Nossa Memória investiga como algumas destas inovações ajudaram a projetar a imagem de Curitiba internacionalmente, o que deu errado e o que sequer saiu do papel. O fio condutor serão os planos Agache, Wilheim-IPPUC, e os planos do Ippuc de 2004 e de 2015.

Plano Agache (1943)
Em 1940, por iniciativa do prefeito Rozaldo de Mello Leitão, o município de Curitiba contratou a empresa carioca Coimbra Bueno & Cia Ltda, que era a representante no Brasil do urbanista francês Alfred-Donat Agache (1875/1959), para o desenvolvimento daquele que seria o primeiro Plano Diretor da cidade. Agache, membro da “Société Française des Urbanistes” e criador do termo ”urbanismo”, foi o responsável pela planificação das cidades de Dunquerque (1912), Casablanca (1913), Creil (1925), Poitiers (1926) e também algumas cidades brasileiras, destacando-se o 1º plano diretor do Brasil, implantado no Rio de Janeiro (1930) e, posteriormente, o plano para Porto Alegre (1938).

Para a pesquisadora Janelize Marcelle Diok, “o Plano Agache, como seria batizado em 1943 [já sob a gestão do prefeito Alexandre Beltrão], construiu possíveis soluções acerca daquilo que seriam os três principais problemas da cidade: saneamento, congestionamento e necessidade de órgãos funcionais”.

O saneamento, na visão de Agache, poderia ser resolvido com a drenagem dos banhados e com a construção de duas redes: uma de abastecimento de água e outra para a coleta dos esgotos. Ele também sugeriu a canalização dos rios e ribeirões, principalmente os rios Belém e Ivo, que atravessavam o Centro [em alguns pontos a céu aberto]. Segundo o urbanista francês, estes cursos de água não receberam a devida atenção do poder público, o que resultava nas costumeiras enchentes na região central.

“Todo aquele que se interessar pela urbanização de Curitiba topará, de início, com um sério problema. Refiro-me aos rios que banham a cidade, como o Belém e o Ivo. São cursos d’água muito irregulares e a sua retificação, portanto, redunda num pesado ônus aos cofres do município”, disse Agache em entrevista ao jornal Diário da Tarde de 25 de outubro de 1941.

A proposta de Agache para a solução da questão do congestionamento do centro (entorno da Praça Tiradentes) foi apresentada no Plano de Avenidas da Cidade, aprovado pelo Decreto n.º 23, de 5 de fevereiro de 1942, que dividiu a cidade em quatro avenidas perimetrais (AP-0, AP-1, AP-2 e AP-3), em quatro radiais principais e dez radiais secundárias. O Plano das Avenidas – como previsto por Agache - nunca chegou a ser de todo implantado, mas alguns autores apontam similaridades entre a distribuição circular do transporte coletivo no plano proposto pelo francês em 1943 e o modelo também circular de algumas linhas da Rede Integrada de Transporte nos dias atuais.

Zoning
A setorização do espaço urbano foi outra característica marcante do Plano Agache. O sistema conhecido como “Zoning” propunha a criação de vários “centros”: Centro Cívico (administrativo); Centro Comercial e Social; Centros de Abastecimento (Mercado Municipal); Zona Industrial (Rebouças); Centro Esportivo (Tarumã); Estação Rodoviária; Centro de Instrução (Politécnico) e o Centro Militar (Bacacheri), além de áreas de recreação e lazer.

“O zoneamento é a base de todo o plano de urbanização podendo-se mesmo dizer que sem ele o plano não é urbanismo [...]. O zoneamento é a garantia do proprietário e o incentivo de valorização justa. Simplifica, disciplina e hierarquiza as funções urbanas e reflete o nível de cultura dos seus habitantes”, declara Agache no texto de seu Plano, publicado em 1943. Apesar do valor atribuído pelo urbanista a este aspecto, o Plano de Zoneamento da cidade só foi incorporado às Posturas Municipais dez anos depois.

Essa categorização da cidade decorre da visão modernista/funcionalista proposta em 1928 pelo Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), que contou com a participação de Alfred Agache. As idéias funcionalistas foram sistematizadas nas Cartas de Atenas (1933), um conjunto de doutrinas sobre planejamento territorial. No entendimento crítico de Jean Louis Harouel, autor de “História do Urbanismo” (1990), citado pela estudiosa Ana Paulo Pupo Correia, o funcionalismo “entende as necessidades humanas como universais, sem considerar os modos de vida, as normas, os valores e os interesses dos diversos grupos sociais. As funções fundamentais do planejamento urbano deveriam se submeter às ordens funcionais: habitar, trabalhar, recrear e circular”.

Das propostas do Plano Agache que chegaram a ser realizadas (e que ainda podem ser vistas), uma das mais marcantes foi o recuo de cinco metros nas entradas dos prédios da rua XV. Tais vãos, sustentados por marquises, criaram galerias monumentais para a passagem dos pedestres. À época que essas mudanças foram incorporadas à paisagem, a rua XV ainda era transitada por automóveis – fato que não impedia um alto fluxo de pedestres nos seus passeios (motivado pela presença das salas de cinema e do comércio).

Abandono do Plano
Julio César Botega do Carmo, autor de uma dissertação de mestrado sobre o planejamento urbano de Curitiba, menciona alguns fatores que contribuíram para que o Plano Agache se mostrasse ineficaz ao longo dos anos que se seguiram à sua apresentação, em 1943. Os dados constam do relatório produzido em 1963 pela Sociedade para Análises Gráficas e Mecanográficas Aplicadas aos Complexos Sociais (Sagmacs), para um Plano solicitado pelo Governo do Estado. Segundo este relatório, o Plano Agache ficou restrito à área urbana sem considerar adjacências, como por exemplo o Boqueirão (que também seria, alguns anos depois, erroneamente diagnosticado como região de baixa densidade demográfica pelo Plano Wilheim-IPPUC).
 
Além disso, o planejamento sugerido por Agache exigia um controle rígido do crescimento da cidade, conduta que se mostrou impraticável. A população saltou de 120 mil habitantes em 1940 para mais de 600 mil, no início dos anos 70. “O Plano Agache não previa a pressão dessa massa populacional, pois se adotara uma taxa de crescimento demográfico de 2,5% ao ano, enquanto a taxa real foi de 7,4% ao ano entre 1950 e 1960”, diz Luiz Armando Garcez, citado por Botega do Carmo.

As proposições de Agache não encontraram respaldo financeiro. O Estado Novo de Getúlio Vargas não dispendeu recursos e os prefeitos seguintes ignoraram ou descumpriram frontalmente as proposições de Agache. Em seu site pessoal, o engenheiro Lolo Cornelsen aponta algumas distorções sofridas pelo Plano Agache, como por exemplo a utilização do terreno do antigo Corpo de Bombeiros, no cruzamento entre as ruas Cândido Lopes e Doutor Muricy, para a construção da Biblioteca Pública. Esta escolha, associada à construção do vizinho edifício Brazilino de Moura e do edifício do Banco do Brasil, nas proximidades da Praça Tiradentes, impediram o alargamento da rua Cândido Lopes [cuja bifurcação inspirava em Agache a ideia de uma “Times Square” curitibana].

Para Botega do Carmo, em artigo publicado no site Vitruvius, a distribuição espacial urbana de Curitiba projetada por Agache contribuiu para a segregação da população de baixa renda em direção a áreas mais afastadas e nem sempre bem atendidas pelo poder público. Outros pesquisadores compartilham essa visão e ainda acrescentam que Agache minimizou o potencial industrial da cidade. Suas projeções quanto ao espaço físico que deveria ser destinado a essa atividade até os anos 80 se mostraram equivocadas. A Cidade Industrial de Curitiba, quando surgiu em 1973, dispunha de uma área 13 vezes maior do que a proposta por Agache trinta anos antes. 

No início dos anos 60, a cidade (administração e população) percebeu que muitas das aspirações de Agache em relação à Curitiba ficariam no papel. Estudos eram necessários para a aplicação de um novo Plano Diretor, adaptado às transformações sociais vividas pela cidade neste período. Este novo plano, que revolucionaria a história de Curitiba nos anos posteriores, será o tema da segunda parte da história dos Planos Diretores de Curitiba, que será publicada amanhã.

Referências
Carmo, Julio Cesar Botega do. A permanência de estruturas urbanas e a construção do conceito de cidade na abordagem geográfica: Reflexões sobre o planejamento urbano da cidade de Curitiba. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, nível de Mestrado, Setor de Ciências da Terra da Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Geografia. Curitiba, 2011.
http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/26438/dis_final_final.pdf?sequence=1


Carmo, Julio Cesar Botega do. Reflexões sobre o planejamento urbano em Curitiba. Vitruvius. Arquitextos, setembro de 2010. Correia, Ana Paula Pupo. História e arquitetura escolar: os prédios escolares públicos de Curitiba (1943-1953). Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em História e Historiografia da Educação. Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2004.
http://www.ppge.ufpr.br/teses/M04_correia.pdf

Cornelsen, Lolo. Arquitetura: Plano Agache.
http://www.lolocornelsen.com.br/arquitetura%20-%20agache%20e%20corbusier.htm

Destefani, Cid. Coisas da Rua XV. Coluna Nostalgia. Gazeta do Povo, 11/08/2012. Imagens da Rua XV antes e depois do fechamento
http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/colunistas/nostalgia/coisas-da-rua-xv-23t3ddaljsmjestsm9uualiku

Fernandes, José Carlos. A viagem de monsieur Agache. Jornal de Londrina, 25/09/2011.
http://www.jornaldelondrina.com.br/mundo/conteudo.phtml?id=1172964

GARCEZ. Luiz Armando. Curitiba – Evolução Urbana. Edição do Autor, Curitiba, 2006.

Rodrigues, Janelize Marcelle. Em busca de modernização: o legado do arquiteto Donat Alfred Agache para a cidade de Curitiba. Monografia apresentada como requisito para a obtenção do grau de Bacharel em História pela Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2010.
http://www.historia.ufpr.br/monografias/2010/2_sem_2010/janelize_marcelle_diok_rodrigues.pdf

Silva Maclôvia Corrêa da. O plano de urbanização de Curitiba – 1943 a 1963 – e a valorização imobiliária. FAU/USP, 2000. Tese (Doutorado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade de São Paulo.

Viacava, Vanessa Maria Rodrigues. “Em busca da Curitiba perdida”: a construção do ‘habitus’ curitibano. XII Simpósio Internacional Processo Civilizador – Civilização e Contemporaneidade. Recife, PE. Realizado entre os dias 10 e 13 de novembro de 2009.