terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Iretama

 

Iretama


Iretama
  Município do Brasil  
Símbolos
Bandeira de Iretama
Bandeira
Brasão de armas de Iretama
Brasão de armas
Hino
Gentílicoiretamense
Localização
Localização de Iretama no Paraná
Localização de Iretama no Paraná
Iretama está localizado em: Brasil
Iretama
Localização de Iretama no Brasil
Mapa de Iretama
Coordenadas24° 25' 26" S 52° 06' 21" O
PaísBrasil
Unidade federativaParaná
Municípios limítrofesBarbosa FerrazGodoy MoreiraJardim AlegreNova TebasRoncadorLuiziana e Campo Mourão
Distância até a capital430 km
História
Fundação25 de julho de 1960 (62 anos)
Administração
Prefeito(a)Same Saab[1] (PSD, 2021 – 2024)
Vereadores9
Características geográficas
Área total [2]570,459 km²
População total (Censo IBGE/2010[3])10 602 hab.
Densidade18,6 hab./km²
ClimaSubtropical (Cfa)
Altitude595 m
Fuso horárioHora de Brasília (UTC−3)
Indicadores
IDH (PNUD/2000[4])0,699 — médio
PIB (IBGE/2008[5])R$ 76 271,218 mil
PIB per capita (IBGE/2008[5])R$ 6 630,55
Sítioiretama.pr.gov.br (Prefeitura)

Iretama é um município brasileiro do estado do Paraná.

Toponímia

A denominação em linguagem tupi-guarani significa Colmeia.

História

Entre os anos de 1947 a 1950 deu-se o início do grande ciclo colonizador no Estado do Paraná. O café foi instituído como a principal fonte econômica, e consequentemente deu-se o surgimento de grande número de cidades paranaenses. Em 1950 o empresário da cafeicultura Jayme Watt Longo estava estabelecido na capital de São Paulo com a empresa JOMA. Corria o ano de 1951, em Apucarana Jayme, negociava café com os demais sócios quando foi procurado por um corretor propondo-lhes negociação de terras. Não se interessava por terras; seu interesse era somente o café. Numa noite entretanto, teve um sonho, e no sonho uma visão: estava sobrevoando a gleba oferecida. No centro da selva surgia um povoado para o qual afluía gente de todas as partes do país. Viu que as terras eram férteis, de excepcional qualidade. Repletas de pinheirais e outras madeiras, além da beleza natural, rios e montanhas.

Movido pela curiosidade, na primeira oportunidade veio sobrevoar a região. Constatou pessoalmente que seu sonho correspondia a realidade. Entusiasmado foi ao Governo do Estado em Curitiba e adquiriu a referida Gleba, com a extensão de 32.000 alqueires. Uma semana após iniciou a titulação e foi a partir da visão em seu sonho, que Jayme deu o nome de Iretama para a localidade que surgia.

Jayme percebeu que a topografia das terras: montanhosas e quebradas eram semelhantes às de Minas Gerais, e tratou logo de fazer a divulgação de vendas nas alterosas. A estratégia deu certo. Assim é que a maior parte da população iretamense é composta por mineiros. Para atrair ainda mais o fluxo de mineiros que chegavam à região, providenciou a abertura de uma estrada em direção ao Norte (via Paraíso do Sul) e Barbosa Ferraz. O trabalho de demarcações de lotes urbanos e rurais, bem como traçado urbano do patrimônio foi efetuado por engenheiros.

Um ano depois, já contava com diversas casas residenciais e os estabelecimentos comerciais de Wassilio, Napoleão e Oscar.

Em 30 de agosto de 1954 foi constituída a ata de fundação da cidade de Iretama. A solenidade contou com a presença de autoridades entre os quais; Hércules de Macedo Rocha, Juiz de Direito e José Almeida Dutra, Promotor Público da Comarca de Campo Mourão, Daniel Portela, na época prefeito municipal de C. Mourão. Grande número de moradores se fizeram presente, entre os quais: Francisco Ruiz (Procurador Geral de Jayme Watt Longo), Euclides Pepino, Manoel Proença, Walter Pepino,Vicente Correa, Zé Caqui, Isidoro Padilha e outros.

Em 1954 Iretama já demonstrava aspectos de uma cidade em franco desenvolvimento. Paralelo ao progresso e desenvolvimento urbano, despontava com lavouras cafeeiras, cereais, principalmente o milho, como forças propulsoras da economia.

A primeira conquista no campo político foi a elevação a Distrito Administrativo em 3 de maio de 1955. De acordo com a Lei n. 2.472 Iretama passou a essa categoria pertencendo ao município de Campo Mourão.

Nessa época passou a contar na Câmara Municipal de Vereadores de Campo Mourão com seus representantes, os senhores: Wassilio Mamus e Napoleão Batista Sobrinho.

No ano de 1956, mais precisamente no dia 1 de outubro foi criada a Paróquia de Santa Rosa de Lima através de Decreto do Segundo Prelado de Foz de Iguaçu, D. Manoel Koenner, da Congregação do Verbo Divino. Nesse mesmo decreto foi nomeado o primeiro pároco, o saudoso Padre Pedro Poletto que atuou de 1957 a 1968.

Iretama com sua pujança e progresso acentuado em todos os setores, fazia por merecer sua elevação a município.

E foi através de iniciativa de Luiz Carlos Renzetti, que nasceu a ideia da emancipação. Renzetti havia vindo de Curitiba onde contava com amizades de grande influencia na política. Reuniu moradores locais e explanou os benefícios da emancipação. Contou com ajuda de Francisco Ruiz e do Padre Poletto. Viajou para Curitiba em um Jeep dirigido por Delfino Apólio de Araújo e encaminhou as reivindicações e documentações exigidas ao seu particular amigo o Deputado Guataçara Borba Carneiro que providenciou a inclusão de Iretama no projeto de Emancipação de diversos municípios de autoria do Deputado Estadual Anybal Cury. A emancipação de Iretama foi aprovada e para tanto contou com a valiosa participação do Deputado Acyoli Filho. Através do Decreto Lei 4.245, Iretama foi elevada a município no dia 25 de julho de 1960.

A nomeação do prefeito interino recaiu na pessoa de Francisco Ruiz, um dos baluartes do progresso e que desde 1950 passou a ocupar o cargo de Procurador Geral da empresa colonizadora de Jayme Watt Longo.

A comissão que concretizou a posse do prefeito nomeado ficou constituída pelos senhores: Erotides Manoel de Matos, Wassilio Mamus, Napoleão Batista Sobrinho, Joaquim Correa Gonçalves e Luiz Carlos Renzetti, sendo este o redator da Ata. Francisco Ruiz foi empossado em ato solene no dia 27/7/1960.

A instalação solene do município ocorreu no dia 10 de novembro de 1961, com a posse do primeiro prefeito eleito José Sarmento Filho. Nessa data também ocorreu a posse dos componentes da primeira Câmara Municipal de Vereadores constituída por: Wassilio Mamus, Euclides Pepino, Francisco de Paula Arantes, Eduardo de Alencar Mota, Domingos Morini, Ovidio Calegari, Alfredo Maceron, Luiz Carlos Renzetti e Braz Inácio Rezende.

Geografia

Possui uma área é de 570,459 km² representando 0,2862 % do estado, 0,1012  % da região e 0,0067 % de todo o território brasileiro. Localiza-se a uma latitude 24°25'26" sul e a uma longitude 52°06'21" oeste, estando a uma altitude de 595 m. Sua população estimada em 2010 era de 10.602 habitantes.

Demografia

Dados do Censo - 2010

População total: 17.621

  • Urbana: 11.500
  • Rural: 6.121
  • Homens: 8.806
  • Mulheres: 7.529

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-M): 0,699

  • IDH-M Renda: 0,620
  • IDH-M Longevidade: 0,706
  • IDH-M Educação: 0,772

Rodovias

Administração

Economia

A pujança econômica de Iretama tem como base a agricultura na qual se destacam excelentes produções de algodãomilhofeijãocaféarrozsoja e outras. Vale ressaltar a importância pecuária na economia do município que conta com grande rebanho bovino.

Referências

  1.  Prefeito e vereadores de Iretama tomam posse Portal G1 - acessado em 2 de janeiro de 2021
  2.  IBGE (10 out. 2002). «Área territorial oficial». Resolução da Presidência do IBGE de n° 5 (R.PR-5/02). Consultado em 5 dez. 2010
  3.  «Censo Populacional 2010»Censo Populacional 2010. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 29 de novembro de 2010. Consultado em 11 de dezembro de 2010
  4.  «Ranking decrescente do IDH-M dos municípios do Brasil»Atlas do Desenvolvimento Humano. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). 2000. Consultado em 11 de outubro de 2008
  5. ↑ Ir para:a b «Produto Interno Bruto dos Municípios 2004-2008». Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Consultado em 11 dez. 2010

Ligações externas

PALÁCIO GARIBALDI

 PALÁCIO GARIBALDI

https://prediosdecuritiba.com.br/palacio-garibaldi/

Após a chegada dos Imigrantes Italianos a Curitiba, os interesses da comunidade Italiana fizeram com que surgisse a ideia de um movimento associativo.
Este movimento acabou resultando na criação da Sociedade Italiana Dimutuo Scorso Giuseppe Garibaldi, cuja função foi de servir como escola para os filhos de imigrantes italianos. 

Fundada em 1 de julho 1883, a construção da Sede começou apenas em 1887, com uma obra projetada por Ernesto Guaita.
Como não possuíam local para tal construção o governo provincial doou um terreno localizado no Alto do São Francisco.
Quatro anos depois da sua fundação e em 1904 o edifício foi concluído. Sua fachada só foi concluída em 1932 pelo arquiteto Joao de Mio o qual a desenvolveu em um estilo Neoclássico.

O Palácio Garibaldi teve papel importante em vários momentos históricos da cidade, como por exemplo sendo sede do I Congresso Estadual do movimento operário paranaense, em 1906.

Em 1943, com a Segunda Guerra Mundial, a sociedade foi desapropriada pelo governo, em razão do Brasil ter declarado guerra à Itália, devolvendo-a para a comunidade após vinte anos, em 1962.
Durante essas duas décadas a sede foi ocupada por várias instituições, sendo elas:
Liga da Defesa Nacional, Centro de Letras do Paraná, Centro de Cultura Feminina, Academia de Letras e Tribunal de Justiça do Estado.

Depois de retomado o edifício, em 1962, passa a se chamar “Sociedade Beneficente Garibaldi”.

Em 1988 foi tombado pelo patrimônio histórico e artístico do Paraná.
Mesmo depois de devolvida a comunidade Italiana, O Palácio Garibaldi estava em péssimas condições de uso, impossibilitando qualquer tipo de uso, já que até suas fundações estavam comprometidas, apresentando grande perigo.
Apenas em 1994 foi aprovada a sua Obra de Restauro completa feita por uma iniciação privada com apoio do atual prefeito na época, Rafael Greca.

Hoje, o Palácio encontra-se totalmente restaurado, preservando a sua história e representando a cultura italiana paranaense, tanto por dentro quanto por fora.

Além da sua arquitetura refletir um outro tempo, conta também sobre a imigração italiana e a importância desse prédio para a história de Curitiba a todos que o visitam.

A entrada é franca e livre, qualquer cidadão pode ir visitar o Palácio de Segunda a Domingo dentro de seus horários de funcionamento. Também realiza eventos privados e públicos, permitindo ser apropriado pela comunidade, uma vez que a ela mesmo pertence.

Fontes:

www.centrohistoricodecuritiba.com.br/2014/02/11/sociedade-giuseppe-garibaldi

www.gazetadopovo.com.br/imoveis/palacio-garibaldi-heranca-italo-brasileira-no-coracao-do-centro-historico-decuritiba-4hsg7p8g02kie3h384zja72lo/

www.patrimoniocultural.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=222

www.circulandoporcuritiba.com.br/2020/03/a-sociedade-garibaldi-em-3-momentos.html

Documentário Palácio Garibaldi 132 anos:

www.youtube.com/watch?v=QDFkKfDcS4s&feature=youtu.be&fbclid=IwAR0QETDr1i-qGgBvb1EoZpA1HIWwTRXTL1woQu0OsisJeUy5g7i7-BThAE8

Fotografias: Washington Takeuchi

Praça Tiradentes: cicatrizes e regenerações

 Praça Tiradentes: cicatrizes e regenerações

https://prediosdecuritiba.com.br/praca-tiradentes-cicatrizes-e-regeneracoes/

A antiga Praça da Matriz, atual Tiradentes, foi a primeira centralidade curitibana e é o cenário principal do mito fundador da cidade.

O mito conta a história de um índio, que guiado por uma imagem de Nossa Senhora da Luz indica o local exato onde a cidade deveria nascer. Chegando lá ele bateu no solo com um cajado e falou: aqui é o lugar e ao redor da praça a cidade iniciou e expandiu.

Nenhum outro lugar de Curitiba presenciou tantos fatos históricos e mudanças na paisagem urbana quanto a Praça Tiradentes. Havia inicialmente uma singela ocupação, com casas de pau a pique cobertas de palha e também uma pequena capela construída no mesmo material. A povoação cresceu, se desenvolveu e as construções foram sendo substituídas aos poucos por edificações mais sólidas, construídas com pedra, surgindo também alguns poucos sobrados.

Na segunda metade do século XIX novos elementos construtivos foram introduzidos, como o tijolo proveniente de olarias, a madeira serrada em peças padronizadas pré-definidas e o ferro fundido. O entorno da praça se altera e surgem edificações com maior porte e altura.

No final do século XIX e início do século XX o ecletismo se afirmou como corrente arquitetônica principal, aos poucos o casario colonial foi posto abaixo e uma série de sobrados e edifícios com dois ou três pavimentos materializaram uma nova paisagem. Curitiba respirava os ares da modernidade do início do século XX.

Na década de 1940 um novo material construtivo transformou drasticamente a paisagem da praça: o concreto armado. A possibilidade de verticalização resultou em um maior aproveitamento do valorizado terreno da área central. Surgiram nesse período os primeiros arranha-céus que impulsionaram uma nova urbanidade e adensamento.

Os novos edifícios possuíam linhas mais puras, com poucos adornos e refletiam as possibilidades formais e tecnológicas do concreto armado. Nesse período o ecletismo deixou de ser reflexo de modernidade e se transformou em uma referência dos edifícios do passado.
A verticalização se intensificou nas décadas posteriores e a regularidade espacial do entorno da Tiradentes se transformou em uma paisagem diversa e pouco harmônica.

Diversas alterações no traçado das ruas e delimitação do entorno da praça também influenciaram na paisagem e memória do lugar. Algumas cicatrizes são percebidas pelo transeunte mais atento, assim como um ou outro edifício que resistiu ao tempo e impôs a sua materialidade na confusa paisagem contemporânea.

Mesmo diante de tanta mudança a praça continua viva, mesmo confinada por pontos de ônibus e pelo barulho do transito intenso, a Tiradentes é um importante lugar de encontro no coração da cidade.

Vista aérea da Praça Tiradentes provavelmente registrada ao final dos anos 1950.
Foto: Synval Stocchero – Casa da Memória – Fundação Cultural de Curitiba

Cicatrizes e regenerações
Alteração da malha urbana da Praça Tiradentes e entorno.
Fábio Domingos Batista, 2020

Linha do tempo – Praça Tiradentes

1873
Casario colonial da Avenida Floriano Peixoto e ao fundo a antiga Igreja do Rosário, demolida na década de 1930.
Foto: Julia Wanderley – Casa da Memória – Fundação Cultural de Curitiba

1900
As edificações coloniais, construídas em pedra, ainda são predominantes na paisagem urbana da praça. Porém surgem novos edifícios, com maior porte e altura.
O tijolo possibilitou a construção de edificações complexas, com mais pavimentos e aberturas. Também foram introduzidos elementos de ferro fundido, como o guarda-corpo do balcão superior.
Foto: Casa da Memória – Fundação Cultural de Curitiba

1910
Os edifícios são leves e com maior porte. Apresentam um maior número de janelas e portas, há também balcões e elementos decorativos nas fachadas. Ainda é possível encontrar alguns poucos edifícios coloniais que resistem aos ares de progresso.
A praça é bastante arborizada e as ruas apresentam um maior movimento de carroças e charretes.
Foto: Casa da Memória – Fundação Cultural de Curitiba

1934
O entorno da praça se verticaliza e a arquitetura eclética é predominante.
A arborização da praça é suprimida e novos marcos são implantados: as estátuas do Marechal Floriano Peixoto e ao fundo um pedestal aguarda a estátua de Tiradentes.
Foto: Arthur Wischral – Casa da Memória – Fundação Cultural de Curitiba

1936
A população se aglomera para assistir a passagem do dirigível Hindenburg pelos céus da capital.
A estátua do Marechal Floriano Peixoto, voltado para antiga agência do Banco do Brasil, também assiste o evento.
Foto: Casa da Memória – Fundação Cultural de Curitiba

Década de 1940
A verticalização se intensifica: surgem os edifícios de apartamentos e de escritórios.
O entorno da praça se diversifica, há grande diferença de porte e altura nas edificações. Há também diversidade de referências arquitetônicas que convivem em uma espécie de conflito que não é muito percebida pelo pedestre, devido a continuidade dos estabelecimentos comerciais no pavimento térreo.
Foto: Casa da Memória – Fundação Cultural de Curitiba

Fotografias atuais tiradas pelo fotógrafo Pedro Pilati (@pedropilati )

Boca Maldita: A confraria machista da década de 50 escrito por Amanda Mendes

 

Boca Maldita: A confraria machista da década de 50

 

A Boca Maldita foi uma confraria organizada por um grupo de homens que se reuniam na antiga Avenida João Pessoa, atual Avenida Luiz Xavier, no centro de Curitiba, para conversar e trocar ideias a respeito do desenvolvimento da cidade e do cenário político nacional. No ano de 1956 este grupo decidiu realizar um jantar de confraternização no Grande Hotel Moderno, a partir desta data, 13 de dezembro, o grupo resolveu tornar-se uma sociedade, a qual era registrada como Sociedade Civil de Direito Privado. Todos os anos, na mesma data, realizou-se este jantar com todos os nominados Cavalheiros da Boca Maldita.

A organização se intitulava como uma das mais livres instituições existentes no país, não sendo apenas um local para encontros, mas também um local que agregava o melhor centro de informações nacional. Ainda se posicionavam como uma instituição democrática pluralista e dedicada às causas e interesses da maioria às reinvindicações das minorias. Cabe se atentar para esta auto declaração, para que se questione a veracidade da dita democracia.

Desta forma, a questão que ainda permanece seria a razão para adotar este nome incomum, Boca Maldita. No entanto, seguindo os posicionamentos expostos a respeito da confraria, pode-se imaginar que a nomenclatura deriva-se dos atos e conversas geradas pelo grupo de homens, em seu jantar de confraternização e nos encontros diários no pequeno trecho da XV de Novembro. Em que estes, declaravam suas opiniões quanto a cidade e quanto a política do país, tanto que o tema da organização era:

“Pode ser gente do bem, pode ser,
pode ser gente boa.
Na BOCA não tem pode ser, não
pois a BOCA não perdoa.
A BOCA falou, seu doutor,
tá falado, sim senhor.
A BOCA pichou, seu doutor,
tá pichado.”

  Durante toda a existência da confraria, diversas explicações para este nome foram explicitadas. O presidente vitalício, Anfrísio Siqueira, uma vez expôs que: “A expressão Boca Maldita não significa que seus integrantes sejam pessoas malquerentes; ao contrário, foram justamente os inimigos da liberdade de expressão que procuraram torpedear a instituição Boca Maldita. Justamente por ela maldizer a ignorância, as trevas e violência.”

Apesar disto, o presidente em uma entrevista ao Jornal Indústria e Comércio (1994), quando questionado “E por que Boca Maldita?”, respondeu, utilizando uma conversa com um dos cavalheiros, que: “Quando resolvemos dar um nome para a nossa confraria, o Adherbal Fortes de Sá observou que as mulheres evitavam passar naquele trecho da Boca Maldita, onde havia muitos homens e alguns mexiam com elas. ‘Nós somos malditos’, disse o Adherbal, porque as moças não passavam por lá. Aí o nome pegou, virou Boca Maldita.”      

É desta forma que a Boca se denominava: Maldita, porque assediavam as mulheres, malditos, porque eram declaradamente machistas e isto ainda acabou sendo propagado de forma visual, quando em 1993 durante o mandato do atual prefeito Rafael Greca, foi colocada uma placa em frente ao antigo Café da Boca, em que expunha outro tema deste grupo: “Não ouço, não falo, não vejo”, que se tornou na realidade “Não ouço as mulheres, não falo com as mulheres, não quero vê-las aqui”.
Fonte: Jornal Labora

A confraria que se dizia liberal, democrática e defensora das minorias, excluía as mulheres da possibilidade de participar de qualquer debate político e/ou social existente na Boca. A Curitiba da década de 50, assim como o restante do país via as mulheres como coadjuvantes, no entanto, a instituição permaneceu até meados dos anos 2000 e seu posicionamento ainda era o mesmo. Estes homens eram constantemente questionados sobre a participação feminina, algumas das respostas dos cavalheiros eram:

“Sempre convidamos políticos, profissionais liberais, empresários, pessoas que se destacaram para receber o título. Mulher não entra, porque não tem clima.”
Anfrísio Siqueira

“Agora, uma coisa é preciso que se diga: não participam da ‘BocaMaldita’ as mulheres. Não se trata de discriminação. É que todas elas são preservadas dos debates e os homens, longe do machismo, querem admirá-las e exaltá-las sem que precisem sofrer desgaste.”
Osmann de Oliveira

“Acredito que não seja ambiente propício para a mulher, ela se sentiria constrangida face a determinados assuntos.”
Chaim L. Boiko

“Não existe discriminação. A mulher curitibana, entretanto, é ainda muito preconceituosa e não tem suficiente segurança para frequentar lugares públicos, sem um motivo determinado. As mulheres conversam em casa, nas salas de espera de dentistas, médicos, advogados nas escolas, nos clubes, etc, mas ainda têm certo receio de frequentar cafés e naturalmente a Boca. O tradicionalismo é a nossa marca.”
Chaim L. Boiko

“É vedada a entrada da mulher, pois são tratados assuntos mais de âmbito masculino, inclusive, sobre feministas.”
Mário Celso Puglielli Cunha

O que ainda se cabe analisar neste contexto é a tentativa das mulheres em serem ouvidas, um grupo de mulheres criou a Boca Rouge, em que seu lema era, se não nos ouvir a boca ruge, no sentido de rugir de leão e também como referência ao batom vermelho rouge, utilizado naquela época. A nova confraria não obteve tanto sucesso quanto a formada pelos homens, com a falta de apoio e a falta de receptividade social.

Em uma abordagem e recorte racial, pode-se pensar que estas mulheres, brancas, ainda tiveram acesso a oportunidade da criação de uma confraria própria para que suas necessidades fossem atendidas, no entanto se analisado onde as outras mulheres, pretas, estavam muito provavelmente em trabalhos domésticos e/ou marginalizados, este acesso era ainda mais limitado e ainda é, a luta feminista não inicia no mesmo patamar para todas.

A discussão racial em uma cidade como disse Boiko, “o tradicionalismo é a nossa marca”, é constante e necessária em um tradicionalismo que é higienista, machista e racista. Transmite o processo de embranquecimento e invisibilidade de um povo o qual não era padrão e europeu. Ao decorrer dos anos, a Boca ainda se mostra, além de machista, um reduto racista, mais uma problemática a ser abordada com outros eventos ocorridos na “capital modelo”.

Fonte:
TEMPSKI, Cesar Antonio Mendes Von. TEMPSKI, João Carlos Mendes. Cavalheiros da Boca Maldita. Curitiba. 1994