terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Praça Tiradentes: cicatrizes e regenerações

 Praça Tiradentes: cicatrizes e regenerações

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A antiga Praça da Matriz, atual Tiradentes, foi a primeira centralidade curitibana e é o cenário principal do mito fundador da cidade.

O mito conta a história de um índio, que guiado por uma imagem de Nossa Senhora da Luz indica o local exato onde a cidade deveria nascer. Chegando lá ele bateu no solo com um cajado e falou: aqui é o lugar e ao redor da praça a cidade iniciou e expandiu.

Nenhum outro lugar de Curitiba presenciou tantos fatos históricos e mudanças na paisagem urbana quanto a Praça Tiradentes. Havia inicialmente uma singela ocupação, com casas de pau a pique cobertas de palha e também uma pequena capela construída no mesmo material. A povoação cresceu, se desenvolveu e as construções foram sendo substituídas aos poucos por edificações mais sólidas, construídas com pedra, surgindo também alguns poucos sobrados.

Na segunda metade do século XIX novos elementos construtivos foram introduzidos, como o tijolo proveniente de olarias, a madeira serrada em peças padronizadas pré-definidas e o ferro fundido. O entorno da praça se altera e surgem edificações com maior porte e altura.

No final do século XIX e início do século XX o ecletismo se afirmou como corrente arquitetônica principal, aos poucos o casario colonial foi posto abaixo e uma série de sobrados e edifícios com dois ou três pavimentos materializaram uma nova paisagem. Curitiba respirava os ares da modernidade do início do século XX.

Na década de 1940 um novo material construtivo transformou drasticamente a paisagem da praça: o concreto armado. A possibilidade de verticalização resultou em um maior aproveitamento do valorizado terreno da área central. Surgiram nesse período os primeiros arranha-céus que impulsionaram uma nova urbanidade e adensamento.

Os novos edifícios possuíam linhas mais puras, com poucos adornos e refletiam as possibilidades formais e tecnológicas do concreto armado. Nesse período o ecletismo deixou de ser reflexo de modernidade e se transformou em uma referência dos edifícios do passado.
A verticalização se intensificou nas décadas posteriores e a regularidade espacial do entorno da Tiradentes se transformou em uma paisagem diversa e pouco harmônica.

Diversas alterações no traçado das ruas e delimitação do entorno da praça também influenciaram na paisagem e memória do lugar. Algumas cicatrizes são percebidas pelo transeunte mais atento, assim como um ou outro edifício que resistiu ao tempo e impôs a sua materialidade na confusa paisagem contemporânea.

Mesmo diante de tanta mudança a praça continua viva, mesmo confinada por pontos de ônibus e pelo barulho do transito intenso, a Tiradentes é um importante lugar de encontro no coração da cidade.

Vista aérea da Praça Tiradentes provavelmente registrada ao final dos anos 1950.
Foto: Synval Stocchero – Casa da Memória – Fundação Cultural de Curitiba

Cicatrizes e regenerações
Alteração da malha urbana da Praça Tiradentes e entorno.
Fábio Domingos Batista, 2020

Linha do tempo – Praça Tiradentes

1873
Casario colonial da Avenida Floriano Peixoto e ao fundo a antiga Igreja do Rosário, demolida na década de 1930.
Foto: Julia Wanderley – Casa da Memória – Fundação Cultural de Curitiba

1900
As edificações coloniais, construídas em pedra, ainda são predominantes na paisagem urbana da praça. Porém surgem novos edifícios, com maior porte e altura.
O tijolo possibilitou a construção de edificações complexas, com mais pavimentos e aberturas. Também foram introduzidos elementos de ferro fundido, como o guarda-corpo do balcão superior.
Foto: Casa da Memória – Fundação Cultural de Curitiba

1910
Os edifícios são leves e com maior porte. Apresentam um maior número de janelas e portas, há também balcões e elementos decorativos nas fachadas. Ainda é possível encontrar alguns poucos edifícios coloniais que resistem aos ares de progresso.
A praça é bastante arborizada e as ruas apresentam um maior movimento de carroças e charretes.
Foto: Casa da Memória – Fundação Cultural de Curitiba

1934
O entorno da praça se verticaliza e a arquitetura eclética é predominante.
A arborização da praça é suprimida e novos marcos são implantados: as estátuas do Marechal Floriano Peixoto e ao fundo um pedestal aguarda a estátua de Tiradentes.
Foto: Arthur Wischral – Casa da Memória – Fundação Cultural de Curitiba

1936
A população se aglomera para assistir a passagem do dirigível Hindenburg pelos céus da capital.
A estátua do Marechal Floriano Peixoto, voltado para antiga agência do Banco do Brasil, também assiste o evento.
Foto: Casa da Memória – Fundação Cultural de Curitiba

Década de 1940
A verticalização se intensifica: surgem os edifícios de apartamentos e de escritórios.
O entorno da praça se diversifica, há grande diferença de porte e altura nas edificações. Há também diversidade de referências arquitetônicas que convivem em uma espécie de conflito que não é muito percebida pelo pedestre, devido a continuidade dos estabelecimentos comerciais no pavimento térreo.
Foto: Casa da Memória – Fundação Cultural de Curitiba

Fotografias atuais tiradas pelo fotógrafo Pedro Pilati (@pedropilati )

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