domingo, 1 de janeiro de 2023

O Cine Luz passou por duas sedes e a mais marcante ficava na Praça Santos Andrade

 

O Cine Luz passou por duas sedes e a mais marcante ficava na Praça Santos Andrade


Inaugurado em 16 de dezembro de 1939, com o filme “Midnight”, o Cine Luz passou por duas sedes, sendo a primeira na Praça Zacarias. O construtor do local foi Teófilo G. Vidal, que alugou o prédio para Henrique Oliva manter o negócio.

Cinemas Antigos de Curitiba - Cine Luz - Curitiba Space

A praça ficava na rota do Rio Ivo, que cortava o centro da cidade. Com isso, a sala de cinema sofria com constantes inundações, afastando os clientes em dias chuvosos. O fim da primeira sede do Cine Luz aconteceu no dia 26 de abril de 1961, com um grande incêndio. O acidente aconteceu durante a exibição de “O Homem do Sputnik” (1960). No período em que funcionou na Praça Zacarias, o Cine Luz trouxe a cidade várias produções de Hollywood – nesse período o cinema norte-americano começava a despontar no mercado, com produções da Warner, Columbia e Paramount.

Cinemas Antigos de Curitiba - Cine Luz - Curitiba Space

2º Cine Luz foi inaugurado em 1985, dessa vez pela Fundação Cultural de Curitiba. O endereço escolhido foi a Rua XV de Novembro, uma das mais movimentadas da cidade, em frente à  Praça Santos Andrade. Até o dia 11 de novembro de 2009, dia em que fechou suas portas, o 2º Cine Luz foi um dos poucos cinemas de rua da cidade a funcionar durante a década de 90 e anos 2000. Em maio de 2013, a Prefeitura da Cidade anunciou a reabertura do Cine Luz, no mesmo prédio da Rua XV. Após algumas tentativas de leiloar o prédio e achar outro fim para o local, a FCC começou o processo para reativar o Cine Luz, com licitação das obras marcadas para o final de 2013 ou começo de 2014. Após um período de obras, que inclui a colocação de uma nova tela de projeção – a antiga foi transferida para o Cine Guarani – o Cine Luz deve ser reaberto no final de 2014, quase 5 anos após ser fechado.

Referências:
CRISTO, Luciana; MIYAKAMA, Nivea. 24 Quadros – Uma viagem pela Cinelândia de Curitiba. Curitiba. Travessa dos Editores. 2010. 168p
SEED. Cine Luz. Disponível em <http://www.cinema.seed.pr.gov.br>.

Cine Avenida O cinema ficava dentro do Palácio Avenida, junto com o Bar Guairacá

 

Cine Avenida

O cinema ficava dentro do Palácio Avenida, junto com o Bar Guairacá

Cine Avenida fica dentro do prédio que levava o mesmo nome, inaugurado em 4 de abril de 1929. A primeira apresentação no local foi da companhia “Tro-LoLó” e a primeira sessão de cinema só aconteceu no dia 1º de maio, com a estreia de “Moulin Rouge”.

Palácio Avenida - Curitiba Space

Palácio Avenida, que até hoje chama a atenção das pessoas que passam pelo calçadão da Rua XV de Novembro de Curitiba, foi a primeira edificação construída para abrigar um cinema. Até então, as salas ficavam em prédios adaptados. Idealizado pelo imigrante e comerciante sírio-libanês Feres Merhy, o local sediou, além do Cine Avenida, o tradicional Bar Guairacá. O projeto arquitetônico original era de Valentim Freitas, Bernardino Assumpção Oliveira e Bortolo Bergonse.

Na década de 60, o local começou a perder visitantes. A concorrência na região era cada vez maior e o Cine Avenida não conseguiu manter a sua alta frequência de outrora. O cinema, que era muito conhecido pelas suas exibições de “filmes de faroeste”, começava a caminhar para o seu fim.

Palácio Avenida - Cinemas Antigos de Curitiba - Cine Avenida - Curitiba Space

Em 1974, já sem o Cine Avenida, o prédio foi adquirido pelo Banco Bamerindus. Seus quase 18 mil metros quadrados estavam a ponto de destruição, quando obras de revitalização e reestruturação foram iniciadas. Em 1991, o Palácio Avenida era reaberto, dessa vez como sede do banco estatal. Com a privatização da empresa, e sua posterior compra pela multinacional Hong Kong and Shanghai Banking Corporation, o prédio passou a ser a sede nacional do HSBC Bank Brasil.

O prédio é conhecido nacionalmente pelo seu coral natalino. Desde 1991, crianças de Curitiba se apresentam na janela do Palácio Avenida, cantando musicas natalinas em homenagem a data.

Palácio Avenida - Cinemas Antigos de Curitiba - Cine Avenida - Curitiba Space

Palácio Avenida fica na esquina da Rua XV de Novembro com a Travessa Oliveira Belo, no centro de Curitiba.

Referências:
CRISTO, Luciana; MIYAKAMA, Nivea. 24 Quadros – Uma viagem pela Cinelândia de Curitiba. Curitiba. Travessa dos Editores. 2010. 168p
SEEC. Poty Lazzarotto – Painel Palácio Avenida. Disponível em <http://www.cultura.pr.gov.br>.

Histórias de Curitiba - Pescarias no Belém

 

Histórias de Curitiba - Pescarias no Belém

Pescarias no Belém
Pablo Gomes y Monzon

Quem vê aquele esgoto corrente que corta a cidade, ora canalizado, ora a céu aberto, a quem chamam de rio (?) Belém, não imagina que houve tempo em que suas águas eram límpidas, povoadas de peixes.
Nele, as crianças nadavam e divertiam-se pescando lambaris ou carás. E, pasmem os mais moços, isso não faz assim tanto tempo.
Lembro bem, eu era menino, lá pelos idos de 1.942 ou 43. O rio Belém havia sido canalizado na área central com paredões de pedra. E era nas frestas dessas pedras que os carás arranjavam suas tocas. O cará, para quem não sabe, é um peixe semelhante à tilá-pia, e vive em tocas.
Nas tardes de verão, a gu-rizada entrava no rio e, com água pelo joelho, 1a "toqueá"(pegar o cará na toca). Não era qualquer um que tinha coragem de meter a mão na toca. O peixe, quando se sente apalpado, tenta fugir, e a gente tem um arrepio, pois a cará tem umas espinhas nas costas que espetam quem não tem prática. E ainda existe o risco de, em vez do
peixe, vir uma cobra.
Naquele tempo, o rio era limpo.
Poluição?... Nem se conhecia a palavra.
Os peixes eram grandes e limpos.
Os carás chegavam a um palmo de comprimento.
Dava gosto tirar um da toca, o bicho vinha se contorcendo na mão e emitindo um chiado.
Melhor ainda era levar alguns para casa no final da tarde, e comê-los no jantar fritos com farinha.
O rio todo era bom de peixe, mas o melhor trecho era entre as ruas Quinze de Novembro e a Comendador Macedo. O rio, ali, corria pela Mariano Torres.
Vinha gente de outros bairros para pescar nesse trecho.
Mas os melhores pescadores, modéstia à parte, éramos nós, a turminha que morava por ali. E o melhor dentre os melhores, sem dúvida, era o Maneli-to.
Era um alemão que morava na esquina da Marechal Deodoro. A casa ainda existe.
Mais velho um pouco, devia ter uns 16 anos, era o verdadeiro rei do rio.
Quando ele saía para toquear, sempre aos sábados, pois já trabalhava, todos nós preferíamos ficar assistindo.
Dava gosto de ver.
Fazia fileiras de peixes, duas ou três, e com uns dez carás casa uma, que 1a arrastando com uma mão por dentro da água, e com a outra procurava e arrancava os carás das tocas. Não deixava ninguém chegar perto.
O Manelito vendia a maior parte do peixe que pescava, pois só ele e a mãe, que era viúva, não conseguiriam consumir tudo. E fregueses não faltavam, pois mesmo antes de sair do rio já era assediado com ofertas de compra pelas pessoas que ficavam às margens assistindo.
Não sei por onde andará o Manelito, nunca mais soube dele, nem sei se vive, mas tenho a cena gravada na lembrança.
Magro, alto, com as calças arregaçadas e pingando, oferecendo ou negociando o seu peixe com os moradores da rua.
Outra imagem que não esqueço é do próprio rio Belém, então merecedor do nome rio.
Quem sabe um dia ele voltará a ter águas limpas e peixes, como os ingleses fizeram com o Tâmisa.
Aí sim, Curitiba será de fato a Capital Ecológica.

Pablo Gomes y Monzon, espanhol de nascimento e curitibano de adoção, é micro-empresário.

Histórias de Curitiba - A Boiada

 

Histórias de Curitiba - A Boiada

A Boiada
Juracy Borges Contin

Oia boi! oi...oi...oi...
- Meu Deus! A boiada!
Ao longe, numa nuvem de poeira, erguiam-se ameaçadores chifres tomando toda a largura da estrada.
E agora? Onde se refugiar?
As casas mais próximas eram de gente desconhecida e sua casa havia ficado para trás já algumas quadras.
Correr? Seria alcançada com certeza.
Oia Boi!...
A voz do boiadeiro, agora bem mais perto, aliada ao tropel dos cascos no macadame, forçaram-na a tomar rápida decisão - a guarita do quartel do 5o Batalhão de Engenharia, nome da unidade militar do exército sediada no Bacacheri, naquele tempo.
A menina não teve dúvidas.
Um segundo após e já estava encolhida atrás da atônita sentinela.
Na década de 30, os moradores do Bacacheri, vez por outra, eram colhidos por imprevistos desse tipo nas longas caminhadas que precisavam fazer para tomar sua condução - o bonde - a fim de cumprir suas obrigações de trabalho, estudo ou lazer.
A boiada chegara por trem da Rede Viação Paraná Santa Catarina, desembarcando no cruzamento da via férrea com a estrada que dava início ao "arrabalde"do Bacacheri, local denominado Colônia Argelina.
Havia, nesse ponto, somente uma plataforma descoberta onde se efetuavam os embarques e desembarques de passageiros de Almirante Tamandaré e Rio Branco do Sul, mercadorias e animais vários.
Os bovinos, após o desembarque, eram levados por boia-deiros pela estrada do Bacacheri, rumo ao matadouro e frigorífico Jorge Bon que ficava no final da reta entrando à direita.
Era comum, durante esse trajeto se desgarrar da manada algum boi, geralmente "brabo", levando o pânico às pessoas que seguiam pela estrada, principalmente as crianças que se dirigiam à escola.
O pavor da menina a bois, não tinha outra origem.
Certo dia, enveredou pelo portão aberto de sua casa um fu-ribundo animal, levando o pânico às crianças que, distraidamente, brincavam no quintal.
Entretanto, não eram só bois que desembarcavam do trem nesse local.
Havia também os porcos, só que estes não infundiam o pavor daqueles.
Os suínos eram tangidos por homens que seguiam à pé, ao lado da vara.
Alguns porcos, muito gordos, cansados da viagem, não suportavam a longa caminhada, teimavam em chafurdar na valeta que corria ao longo da estrada, levando ao desespero os tocadores.
Quando isto acontecia, eles deixavam para trás os animais atolados na lama voltando depois, com um caminhão para levá-los.
Hoje o Bacacheri está em
outra.
O trem continua a cruzar a avenida - não mais estrada - mo-vimentadíssima.
Os produtos transportados são outros. Não se fala mais em Colônia Argelina, denominação que as gerações a-tuais até desconhecem, nem em arrabalde - palavra que, na época, designava bairro.
O quartel do 5o Batalhão de Engenharia passou a sediar o 20° RI e, atualmente, o 20° BIB.
Somente as guaritas, embora reformadas, permanecem nos antigos lugares onde, num passado que já vai longe, uma criança apavorada procurou abrigo.

Juracy Borges Contin é professora de geografia.

Histórias de Curitiba - Os três Ermelinos

 

Histórias de Curitiba - Os três Ermelinos

Os três Ermelinos
Valério Hoerner Júnior

No Paraná, são fartas as referências a Ermelinose Agostinhos de Leão, a começar da velha para as novas gerações.
Na velha, atuaram, cada qual, numa determinada época, mas nem sempre são identificados com facilidade e clareza.
Os prenomes comuns, Agostinho e Ermelino, alternam-se de modo que passam a constituir um prenome composto.
Estes substantivos compostos próprios, Agostinho Ermelino e Ermelino Agostinho, que denunciam por característica uma linhagem própria embora vinculada por afinidade aos patriarcados parnan-guaras dos Correia e dos Pereira, nomearam no século passado três personalidades singulares que, por tradição, amor e orgulho familial, e ainda uma pitada de capricho, serviram de estímulo aos descendentes para que prosseguissem nessa direção, registrando, obedecida a alternância circunstanciada, quase uma dezena de rebentos posteriores com o mesmo nome.
Para que se situem essas três personalidades originais que por motivo de desempenho histórico transcenderam o anonimato, têm-se que a nobre e tradicional estirpe dos Leão, para nós, paranaenses, começou na Bahia com Agostinho Ermelino de Leão (Salvador, Bahia, 28/8/1797
- Recife, Pernambuco, 16/1/1863), filho do inspetor de Alfândega Miguel José Bernardino Lopes de Leão e Maria da Expectação Álvares de Leão.
Formou em Coimbra, Portugal, em 1823, e doutorou-se no ano seguinte, conforme posturas da época.
Foi o primeiro e único juiz-de-fora de Paranaguá, nomeado em 1825 por Dom Pedro I. Tão logo chegou, enamorou-se perdida-mente de Maria Clara da Costa Pereira, segunda filha do capitão-mor de Paranaguá, Manoel Antônio Pereira, irmã portanto de Gertrudes Antônia da Costa Pereira, mãe do comendador Manoel do Rosário Correia, do Dr. Leocádio José Correia e de Maria José Correia, a baronesa do Serro Azul.
Entretanto, para casar-se nas comarcas em que exerciam jurisdição, os juizes deviam ter a licença expressa do imperador: esta chegou num sábado e no seguinte deu-se o casamento, sem os festejos que haveriam de ser naturais por tratar-se da filha da mais alta autoridade do local e um dos mais ricos e influentes patriarcas.
(Maria Clara nomina um logradouro do bairro do Alto da Glória, em Curitiba, rua que tem início na avenida João Gualberto e fim na rua Ubaldino do Amaral, ao lado da igreja do Perpétuo Socorro) .
Em 1827, foi nomeado provedor da Fazenda, Defuntos, Ausentes, Capelas e Resíduos como ouvidor da comarca de Jacobina, Bahia.
Em 1835, passou a juiz de direito da comarca de Paranaguá e Curitiba e assim ficou até a emancipação da Província (1853), quando transferiu-se, como desembargador, para a Relação do Maranhão e depois da de Pernambuco, onde faleceu em 1863.
Foi o fundador, juntamente com Manoel Francisco Correia, o Moço, da Santa Casa de Misericórdia de Paranaguá e seu primeiro provedor.
Seu filho, também Agostinho Ermelino de Leão (Paranaguá, 25/3/1834 - Curitiba, 28/6/ 1901) casou-se em 1856 com Maria Bárbara Correia, nascida em 1835, quarta filha de Manoel Francisco Correia, o/Wofo(1809- 1857). Formou-se em direito pela Faculdade do Recife e foi juiz em Olinda, Caçapava e Santa Maria da Boca do Monte.
Em Curitiba, exerceu a judicatura e chegou a vice-presidente da Província.
Fundou com o Dr. Muricy o Museu Paranaense e com o Barão do Serro Azul o Clube Curitibano.
Instalou o Teatro São Theodoro, atualmente Guaíra, e a capela de Nossa Senhora da Glória, até hoje cumprindo suas funções pastorais, então no Caminho da Marinha - antigo segmento da estrada da Graciosa que se iniciava ao lado da Matriz - depois Boulevard 2 de Julho, hoje avenida João Gualberto, trecho entre a praça 19 de Dezembro e a conexão da rua Fontana, hoje descaracterizada pela trincheira ali construída.
Testemunha ocular da invasão de Curitiba pelos maragatos, em 1894, e deles vítima de furto aparentemente inexpressivo na qualidade de diretor do museu, que o era na ocasião, personificou o indignado cidadão quando soube ter sido da instituição surripiadas valiosas moedas de coleção. Não se fazendo de rogado e com atitude de certa forma temerária, apresentou-se ao general Gumercindo Saraiva, comandante-chefe revolucionário, com fama então de malvado e perverso.
Formulou queixa, até com alguma severidade.
Gumercindo compreendeu a indignação do diretor do museu.
Respondeu-lhe, porém, que nada podia fazer, pois na verdade não havia como encontrar, entre tantos homens nas suas fileiras, o autor de tamanha ousadia.
Mas concordava com ele, dava-lhe toda a razão. E para compensar, desabotoou a cinta que prendia sua espada e, tomando-a, ofereceu-a na bainha ao reclamante.
Era o que podia fazer, justificou.
Insatisfeito por não ver no gesto compensação de justo valor, mas compreendendo também as razões do comandante maragato, deu entrada da peça como patrimônio do museu. E lá está até hoje, valendo, talvez, pelo seu significado histórico, mais do que as moedas objeto da pilhagem.
Este Agostinho Ermelino de Leão é pai do historiador Ermelino Agostinho de Leão (1871 - 1932), prenomes invertidos, casado com Deocleciana Augusta da Rocha, autor do Dicionário Histórico e Geográfico do Paraná e diretor do museu fundado por seu pai.
Era também formado em direito.
Foi nomeado promotor público em Palmeira, mas logo pediu exoneração para dedicar-se ao comércio de erva-mate e às pesquisas históricas.
Ermelino de Leão, forma nominal pela qual se apresentava literariamente, publicou seu dicionário com o maior dos sacrifícios.
No fim da vida, sentindo que não concluiria a publicação dos fascículos, pediu ajuda a Francisco Negrão, autor da Genealogia Paranaense.
Este foi quem, após a morte do amigo, promoveu o encaminhamento conclusivo ao notável trabalho. O autor possui documento que registra a comunicação havida entre Ermelino de Leão e Francisco Negrão.
Essas consignações escritas mostram os sofrimentos e temores do primeiro, face à doença, e a boa-vontade e lealdade do segundo quanto ao prosseguimento das gestões no tocante à publicação dos capítulos que acabaram por restar inéditos.

Valério Hoerner Júnior é escritor.

Histórias de Curitiba - Empadinhas do Caruso

 

Histórias de Curitiba - Empadinhas do Caruso

Empadinhas do Caruso
Enrico Caruso

Em 1939, Antonio Nerone Caruso ("Nero") voltou a Curitiba, cidade onde nasceu depois de ter se aprimorado em restaurantes e confeitaria em Rio Negro, onde abria sua primeira casa comercial no idos de 1924. Ele voltou casado com Dona Erna e dois filhos, Nerino e Enrico.
Aqui logo se estabeleceu no Parque Graciosa (Juvevê) com o "Barcarola"belo ambiente noturno bem badalado.
Ali, cantores como Orlando Silva se apresentaram pela primeira vez em Curitiba.
Em seguida, transferiu-se para o Cassino Ahú, onde foi o primeiro "barman"da época.
Mais tarde, montou o "Bar O.K."esquina da Rua Cabral com Praça Osório.
Local muito concorrido por ficar a-berto dia e noite, visto que o Cassino do "Girl-Room"na Praça Rui Barbosa ainda funcionava.
Neste entusiasmo, resolveu reativar um cassino no Balneário de Guaratuba.
Quando tudo pronto ("façam o jogo, Senhores"), o Presidente Dutra acabou com as roletas e o negócio.
"Nero"teve de ficar gerenci-ando um hotel, e depois fazendo empadas nas temporadas de inverno.
Mais tarde, abriu o bem conhecido Restaurante "Média Luz".
Em 1954, retornou à capital.
Com a esposa e o filho Enrico já casado com Gladis, montou sorveteria numa antiga propriedade da Rua Visconde do Rio Branco, 877. Começou aí a alegria e satisfação de crianças e adultos, porque além de saborosíssimos sorvetes naturais, vendia Picolés Premiados.
Era uma festa, pois 90% dos picolés eram premiados.
Além disso, comercializava "raias"(pan-dorgas) com a criançada, o que dava à casa um colorido só. Nas noites de verão ainda tinha tempo de levar a petizada em grupos ao Circo Queirolo com a querên-cia do Chic-Chic - circo que naquele tempo esteve armado na Saldanha Marinho com Visconde de Nacar. O tempo passou, novas fases. "Mercearia Caruso", com produtos estrangeiros, queijos finos, salamaria de primeira.
O "Seo"Caruso faleceu em 1970 no dia de seu aniversário, deixando muita saudade e muitos
amigos.
A "Casa"ainda continua com Enrico e Gladis no velho estilo.
Hoje como "Confeitaria Caruso", já na terceira geração, com a neta Sylvana no comando, preparando Guilherme, o bisneto, para o futuro.
Para que Curitibanos acreditem numa tradição que tem prazer em servir por muito tempo ainda no mesmo local.
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De carona:
As "empadinhas do Caruso", como os curitibanos tradicionais se acostumaram a chamar, fazem parte dos símbolos gastronômicos desta Curitiba já trezentona. São também símbolos vivos ou em algum lugar do passado estabelecimentos como o Bar Cometa, a Casa da Manteiga, o Bar Paraná, a Confeitaria Guairacá, o Bar Palácio (agora renovado em novo endereço), o Bar Botafogo, Tortuga e muitos outros.
Mas isto já é outra história.

(Séigio Mercer, publicitário)

Enrico Caruso é empresário.

Histórias de Curitiba - O Ídolo e a correria

 

Histórias de Curitiba - O Ídolo e a correria

O Ídolo e a correria
Carlos Sotti Lopes

Era final de 69 ou início de 70, não importa muito.
Meu pai, Tico Lopes, então Deputado Estadual, havia me dado um conselho, na sexta à tarde, antes de voltar a Irati:
Cuidado amanhã de manhã, ali na Boca Maldita.
Vai ter quebra-quebra entre estudantes e a polícia. Não se envolva, voce veio para Curitiba para estudar...
Meu pai era um santo na Terra, zeloso com a família.
Até demais.
Mas o conselho foi bom.
Aliás, uma informação preciosíssima para um jovem de 18 anos, calouro de Direito...
Ainda que não fosse mesmo me envolver, por devota obediência paterna, não perderia essa por nada.. Ou quase nada. ás 9 da manhã de sábado plantei-me na entrada da Galeria Tijucas, a famosa, no coração da Boca.
Ali era um camarote.
É difícil lembrar qual era, no varejo, o motivo da passeata.
No atacado, a gente sabe até hoje, com aquela máscara do "prá frente Brasil".Fácil lembrar é que estáva-mos em clima de futebol tri-campeão. O Corinthians estava na cidade, hospedado no Guaíra Pal-ace Hotel, na Praça Ruy Barbosa, aliás como faziam todos os nossos ídolos que vinham a Curitiba. O Guaíra era o charme de então. O Vinícius tomava três litros por dia, me contavam os porteiros do hotel.
Eu morava ao lado, num prédio pequeno, que existe até hoje.
As 11 horas começou.
Na Avenida "João Pessoa", ainda a-berta a carros, o trânsito parou.
Vieram os estudantes, sentido Uni-versidade-Osório.
Um monte, com faixas, palavras de ordem e refrões. A gloriosa PM acompanhava; a soldadesca nervosa.
De repente, alguém deu a ordem.
Na altura do Cine Avenida começou a pauleira.
Cassetetes e cavalos contra pedras e bolinhas de gude.
Total confusão, gente correndo prá todo lado.
Uma balbúr-dia.
No meio do Bolo, dois jovens correram em direção a mim.
Um era alto negro, forte como um pujilista. O outro era baixo, branco (mais ainda pelo susto), com bigodes e corrida de craque.
Surpreso e quase não acreditando, reconheci.
Eram Ditão e Rivelino, craques do Corinthians, que tinham saído da concentração para um passeio no sábado azul da pacata Curitiba. O Riva puxou meu braço e gritou:
- Garoto, prá que lado fica o Hotel Guaíra?, perdido que estava na confusão.
Puxei o braço dele também e saímos correndo juntos. "Eu também vou para o Hotel", gritei. O Ditão já estava na metade da galeria, mas o alcançamos.
Corremos muito, saímos do outro lado da Tijucas, contornamos a Praça Osório e só voltamos a andar, forte, na altura da "Okey", ali na Travessa Jesuíno Marcondes.
Eles assustados e eu adorando o "passeio"ao lado do meu segundo ídolo depois de Pelé. Ofegantes, chegamos os três ao Hotel.
- Obrigado garoto, você está hospedado aqui? Como é o seu nome?
- Não, eu moro aqui ao lado.
Me chamo Carlos.
Recebi um abraço. Tão surpreso e feliz, esqueci de pedir um autógrafo.
Tenho dúvida se ele conseguiria, trêmulo que estava.
Deixei prá lá a passeata, mas por um bom motivo.
Dia seguinte, fui vê-lo no "Belfort Duarte", contra o Atlético, apesar de "coxa-branca". O "Garoto do Parque"ainda parecia ofegante. Não correu muito, mas lançou e fez um golaço de falta, do meio da rua, suas especialidades.
Valeu Rivelino.
Obrigado pelo passeio.
Curitiba está agora maior e mais linda.
Volte sempre.
Passearemos mais tranqüilos,então, na Ruas das Flores.

Carlos Sotti Lopes é advogado.