segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Quem foi: Barão do Serro Azul

 

Quem foi: Barão do Serro Azul

O maior exportador de erva-mate do Paraná tem várias homenagens em Curitiba

Ildefonso Pereira Correia (1849-1894) se destacou na história do  Estado do Paraná ao ser considerado o maior exportador de erva-mate da região e o maior produtor do mundo. Natural de Paranaguá, o proprietário teve em sua família a luta por uma região emancipada da Província de São Paulo. Seu pai, Manuel Francisco Correia Júnior, acabou sendo destituído de diversos cargos públicos ao declarar publicamente o desejo da separação.

Quem foi: Barão do Serro Azul - Solar do Barão - Curitiba Space

Estudou no curso de humanidades no Rio de Janeiro, e aos 24 anos de idade retornou para o Paraná. A partir daí, Ildefonso Pereira Correia passou a se dedicar no comércio de erva-mate. Três anos depois, através de uma sociedade, instalou o primeiro engenho localizado na cidade de Antonina. Na época, o paranaense visitou cidades como Montevideo e Buenos Aires com o intuito de se aprimorar no negócio.

Solar do Barão - Curitiba Space

Se consolidando no ramo comercial – principalmente após a construção da Estrada da Graciosa e a transferência de seus negócios para Curitiba – Ildefonso Pereira Correia passou a integrar a vida política local. Causou simpatia a Dom Pedro II ao ponto de receber a comenda da Imperial Ordem da Rosa. No âmbito público elegeu-se deputado provincial, assumiu de forma interina o governo da Província do Paraná, e exerceu a ideologia de abolicionista ao se tornar presidente da Câmara Municipal de Curitiba. Em 1888, recebeu da Princesa Isabel o título de Barão do Serro Azul.

Solar do Barão - Curitiba Space

Como ervateiro, o Barão do Serro Azul participou ativamente de diversos processos da exportação, como por exemplo, assumindo a antiga Typograhia Paranaense (futura Impressora Paranaense) visando aprimorar a confecção das embalagens da erva-mate vendida. Em 1890, o paranaense teve papel fundamental na fundação da Associação Comercial do Paraná, inclusive sendo lembrado como o primeiro presidente da história da instituição.

As primeiras ruas de Curitiba - Rua Barão do Serro Azul - Curitiba Space

O contexto da morte do Barão do Serro Azul inclui o período em que os revoltosos do Rio Grande do Sul (maragatos) invadiram em 1893 o Paraná em prol dos preceitos da República e da derrubada do então presidente Marechal Floriano Peixoto. Com o Estado fragilizado, muitos paranaenses aderiram à causa dos revoltosos, e posteriormente, após a saída do então presidente do Estado, Xavier da Silva, o vice Vicente Machado assumiu e transferiu a capital para a cidade de Castro. À mercê dos maragatos, as famílias curitibanas passaram a ter a sua integridade ameaçada, fato que levou o Barão do Serro Azul a cuidar da cidade através de uma junta provisória. A tentativa de negociação com o líder dos maragatos, Gumercindo Saraiva, em busca da paz na região soou como traição por parte dos florianistas, que acabaram entrando de forma triunfal em Curitiba e armaram uma emboscada em que o ervateiro paranaense acabou sendo morto.

Quem foi: Barão do Serro Azul - Associação Comercial do Paraná ACP - Curitiba Space

Considerado como um traidor, Barão do Serro Azul teve seu reconhecimento como um homem que tentou proteger Curitiba apenas em 2008, quando teve seu nome incluído no Livro de Aço dos Heróis Nacionais, do Panteão da Pátria Tancredo Neves, em Brasília.  Na capital paranaense, o Barão é lembrado de diversas formas. Além de uma via na região central (foto acima), o ervateiro possui um busto (foto acima) em frente à Associação Comercial do Paraná e dá nome a um dos principais centros culturais da cidade. O prédio do Solar do Barão, datado de 1880, foi construído para servir de residência ao paranaense. Com padrão típico dos ervateiros da época, o local passou para propriedade do Exército Nacional após a morte do Barão, e em 1975, foi adquirido pela Prefeitura de Curitiba com o intuito de se transformar em um espaço cultural. Em 1980, a população curitibana recebeu o Solar do Barão, que atualmente oferece diversos serviços como Museu da Fotografia, o Museu da Gravura, o Museu do Cartaz e a Gibiteca. O prédio é tombado pela Coordenação do Patrimônio Cultural do Paraná.

Solar do Barão - Curitiba Space

Solar do Barão fica na Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 533, Centro.

Outra homenagem ao Barão é uma estátua na Praça Miguel Couto, no Batel. A placa, além de citá-lo como fundador da Associação Comercial do Paraná, diz: “Reconhecido como Herói Nacional, em 16/12/2006, com o nome inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília, por defender os interesses da Comunicação Paranaense”.

Quem foi: Barão do Serro Azul - Praça Miguel Couto - Curitiba Space

A Praça Miguel Couto, ou “Praça do Batel”, fica entre as ruas Bispo Dom José e Gonçalves Dias.

Referências:
GAZETA DO POVO. Nobre que deu a vida pela paz tem heroísmo reconhecido. Disponível em <http://www.gazetadopovo.com.br>.
FCC. Solar do Barão. Disponível em <http://www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br>.
CARNEIRO, David. O Paraná na História Militar do Brasil. Curitiba: Travessa dos Editores, 1995.

Quem foi: Augusto Stellfeld

 

Quem foi: Augusto Stellfeld

Ele fundou a Farmácia Stellfeld, considerada a primeira da história de Curitiba

Filho de João Henrique Rudolph Stellfeld e de Sophia Conradina Guilhermina Herold, Augusto Stellfeld nasceu no dia 03 de agosto de 1816, em Brauschweig, na Alemanha. Antes de se erradicar em solo paranaense, Stellfeld recebeu grau de farmacêutico em sua cidade natal, além de ter participado de forma ativa no exército local. Alistou-se de forma voluntária na guerra da Independência dos ducados de Schleswig, Holstein, contexto em que se tornou comandante da 3ª companhia. Neste período, Stellfeld, que passou para o exército regular, se destacou pela bravura demonstrada. A cidade de Paranaguá se tornou a primeira residência do imigrante alemão no Brasil. Três anos depois, em 1857, se transferiu para Curitiba.

Quem foi: Augusto Stellfeld - Curitiba Space

Na capital paranaense, Augusto Stellfeld passou a colocar em prática os seus estudos adquiridos na Alemanha. Fundou ainda em 1857 a Farmácia Stellfeld, que é considerada a primeira da história de Curitiba. Primeiramente, o estabelecimento esteve localizado na Casa de Misericórdia até se instalar na Praça Tiradentes, em 1866. A construção, além de pioneira, se tornou um marco arquitetônico para cidade ao ter um telhado sem pregos. Vendido pela família na década de 1970, o prédio manteve as características até os dias atuais, inclusive com o seu tradicional relógio de sol.

Quem foi: Augusto Stellfeld - Curitiba Space

Consolidado como um importante personagem comercial de CuritibaAugusto Stellfeld também obteve destaque na vida pública. Foi nomeado sargento quartel mestre da Guarda Nacional em função da guerra do Paraguai e se mostrou bastante prestativo ao fornecer medicamentos gratuitos para as famílias dos Voluntários da Pátria. O reconhecimento pelas tarefas exercidas veio com a comenda de cavaleiro da Ordem da Rosa. Em 1882, Augusto Stellfeld conquistou o cargo de vereador, exercendo posteriormente a presidência da Câmara Municipal de Curitiba.

Mesmo na carreira pública, o imigrante alemão não deixou de exerceu a função de farmacêutico. A importância de Stellfeld em Curitiba o homenageia através de uma via. A Alameda Augusto Stellfeld tem cerca de 2,2 km de extensão e corta os bairros São Francisco, Centro e Bigorrilho.

A antiga Farmácia Stellfeld - Curitiba Space

Outra referência ao imigrante alemão em Curitiba é a farmácia que levava o seu nome. que fica na Praça Tiradentes (Largo da Matriz). A principal lembrança do local é o relógio solar (foto).

Referências:
Muzzillo, Camila. 1001 ruas de Curitiba. Organizado por Camila Muzzillo. Curitiba. Artes & Textos. 2011. 240p
IPPUC. Nome de Rua. Disponível em <http://ippucweb.ippuc.org.br>.
GAZETA DO POVO. Alemães deixaram sua marca na cidade. Disponível em <http://www.gazetadopovo.com.br>.

Quem foi: Amâncio Moro

 

Quem foi: Amâncio Moro

O vereador foi também presidente da Federação Paranaense de Futebol e do Coritiba

Amâncio Moro (1908-1965) é natural de  Curitiba. Na cidade, desempenhou a função de vereador na Câmara Municipal e prefeito. Este último, através da nomeação do então governador Bento Munhoz da Rocha Neto. Moro permaneceu no cargo durante o ano de 1951.

Quem foi: Amâncio Moro - Curitiba Space

Descendente de família grande e humilde, o curitibano teve sua vida pautada de muito trabalho e personalidade. Amâncio Moro cresceu na sociedade local e conquistou condição privilegiada no ramo comercial e industrial.

Quem foi: Amâncio Moro - Curitiba Space

Além da política, se envolveu de forma constante no ramo futebolístico. Moro desempenhou as funções de presidente e sócio benemérito da Federação Paranaense de Futebol e do Coritiba Foot Ball Club. O curitibano faleceu em sua cidade natal no dia 28 de agosto de 1965.

Quem foi: Amâncio Moro - Curitiba Space

Curitiba homenageia Amâncio Moro com uma via localizada no bairro Alto da Glória. A Rua Amâncio Moro, apesar da pequena extensão de 180 metros, abriga importantes locais da região como o Estádio Major Antônio Couto Pereira e o Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

Referências:
Muzzillo, Camila. 1001 ruas de Curitiba. Organizado por Camila Muzzillo. Curitiba. Artes & Textos. 2011. 240p
SEED. Amâncio Moro. Disponível em <http://www.ctaamanciomoro.seed.pr.gov.br>.

FAMÍLIA VENDRAMIN

 

FAMÍLIA VENDRAMIN


Quando estivemos na Carpintaria São Judas Tadeu para fazer um editorial de moda, o Seu Joel (atual proprietário da carpintaria) me trouxe uma foto bem antiga, na qual seria a única que ele está bonito (palavras dele)! Conhecendo o seu Joel já a algum tempo, logo adivinhei que ele é o bebê no colo da senhora sentada, Dna Julieta, sua mãe.
Fotografei a foto e fiz o que pude para corrigir alguns defeitos (manchas e marcas). Imprimi a foto, levei para o seu Joel (que gostou bastante) e aproveitei para solicitar sua autorização para postar a foto aqui. Ele autorizou e me contou algumas coisas.
A foto foi feita em setembro de 1944, no quilômetro 64 da Estrada do Cerne. Na foto vemos sentados da esquerda para direita, Lizete e Zelândia (irmãs do seu Joel), Alfredo e Julieta (pais), em pé Alaor (irmão) e Lizone (irmã).
Em pé atrás das meninas, um senhor que vendo a penúria que a família de seu Alfredo estava passando em Santa Felicidade, sugeriu que ele abrisse um comércio na estrada do Cerne, onde construiu a casa de madeira que vemos na foto. Lá criavam porcos, que uma vez abatidos, eram vendidos aos viajantes.
Não tive mais tempo para obter mais informações, mas nada que não possa ser resolvido futuramente em mais uma visita ao seu Joel, para novas e engraçadas histórias. Sugiro aos caros leitores que numa passada por Santa Felicidade, não deixem de passar na carpintaria para conhecer essa figura espetacular.

O RESERVATÓRIO DO ALTO SÃO FRANCISCO

 

O RESERVATÓRIO DO ALTO SÃO FRANCISCO










O primeiro reservatório hídrico de Curitiba resultou de um contrato assinado em 13 de abril de 1904 entre o estado do Paraná e a Companhia de Melhoramentos de São Paulo. Além do reservatório com capacidade para 6.881m3 de água, abrangeu o contrato a construção de uma adutora com 40 Km de extensão, desde o ponto de captação nos mananciais da serra do Mar até a cidade, “entre a Estrada da Graciosa e a linha da estrada de ferro do Paraná”, além das redes de distribuição de água e esgoto sanitários. As edificações protegidas pelo tombamento compreendem a casa de manobras e o chafariz, concluído dois anos após a assinatura do contrato. A casa de manobras, construída em alvenaria de tijolos sobre embasamento de pedra, expressa em sua arquitetura o ecletismo da época, reunindo na composição simétrica, elementos clássicos como o frontão triangular. As pilastras, capitéis e cornijas possuem soluções formais influenciadas por um “pré-modernismo”, como o vão em arco pleno, interrompido por colunas, e os ornamentos de desenho geométrico executados em massa. 
O chafariz obedece a um tipo de composição tradicional. Na base, oitava, destacam-se quatro bacias semicirculares, de pedra, para o recolhimento da água. Sobre esse octógono ergue-se um pedestal cônico, curvilíneo, sobre o qual assenta-se uma grande bacia circular de alvenaria ornada com baixos-relevos sob a forma de pétalas. Complementada o chafariz uma pequena torre oitavada adornada com golfinhos em alto-relevo. 
O tombamento, além dessas edificações, abrange também os jardins, cercados por grades de ferro e pilastras de alvenaria, com desenho de nítida inspiração art noveau. 
O reservatório foi tombado em 10/04/1990 e fica na rua Jaime Reis, esquina com a rua dos Presbíteros. Fonte: Secretaria de Estado da Cultura

Histórias de Curitiba - Serenatas

 

Histórias de Curitiba - Serenatas

Serenatas
Clotário de Macedo Portugal Neto

Curitiba, com muita saudade e grande respeito, recordo parte dos anos dourados que com voce vivi intensamente.
Curitiba, minha terra natal, confesso, com subido orgulho, que respiro teu ar desde quando tinha voce 245 anos, isto é, desde quando nasci no coração de minha cidade menina, na antiga Rua Colombo, hoje desembargador Clotário Portugal, onde aos pés de uma roseira foi plantado o umbigo de um curitibano que sabe colocá-la à altura máxima do respeito e do bem-querer, como todos os que te amam e zelam pela tua beleza.
Lembro quando, nos idos de 1954 a 1958, vagava pelas tuas ruas, avenidas e praças iluminadas de hoje, em companhia de grandes bons amigos (não cito nomes para não omitir ninguém), sempre carregando em tuas noites o meu velho violão.
Nessa época, eu morava no Jardim Centenário, no Seminário, e dali andava pelos teus bairros às vezes de automóvel, às vezes a pé, tocando violão e cantando para tuas garotas que tanto eu amei e respeitei, como, então nós rapazes era comum este comportamento e respeito.
A serenata, como sempre foi, revestia-se de um ato singelo de homenagem, onde a garota e~ leita pelo grupo amador de seres-teiros era acordada durante a madrugada silente e segura, onde a paz de tuas noites transbordava os corações de teus cantores de inspiração e amor (raramente apareciam pais enciumados e até agressivos, insensíveis às homenagens que por extensão lhes alcançavam).
Década dos boleros, que hoje estão lentamente reaparecendo, das canções, sambas-canções e valsas, que nunca morreram, mesmo nas tuas madrugadas frias, onde se via formar sobre os telhados, gramas, etc., a beleza do véu criado pela obra divina, que ornamentava minha cidade de branco, tal qual memorável festa
15 anos de menina moça, a geada, que linda!
Saía da casa a pé e atravessava toda a cidade, para fazer serenatas em todos os teus bairros, sem correr qualquer risco, pois os que se aproximavam (gente de todas as cores e tipos), nada mais queriam, senão integrar-se ao grupo seresteiro como mais um amigo, coisas boas que as noites da época ofereciam.
Lindas serenatas, embora as noites reservassem acontecimentos não programados, como correr de cachorros, pular o muro alto do Colégio Cajuru e, dentre outros, recordo que após cantar a terceira música para uma de tuas meninas, Curitiba, no jardim da casa ao lado ouviu-se um forte estampido de arma de fogo e, a seguir, aparece na calçada um cidadão de pijama, empunhando um revólver e, dirigindo-se ao grupo da seresta, disse:
"Ou voces entram na minha casa para cantar e tocar ou disparo todo este revólver". Foi um susto, mas não passou felizmente de uma brincadeira, acabamos tomando café completo na residência do gentil pistoleiro e de sua distinta senhora, onde foi dada continuidade à serenata.
Aquela que elegi dona de meu coração semanalmente era acordada ao som de meu pinho, quando em música lhe confessava amor, cantando "Por um sorriso teu darei a vida e morrerei - Feliz levando a tua imagem no meu coração".
Curitiba, hoje não mais se ouve falar que se canta em serenata em tuas noites, mas voce encanta noite e dia, o teu povo e o mundo, pelo teu sorriso, pelas tuas flores, pelo teu verde, pelo teu acolhimento, por tudo enfim.

Clotário de Macedo Portugal Neto é juiz do Tribunal de Alçada.

Histórias de Curitiba - Canja de galo capão

 

Histórias de Curitiba - Canja de galo capão

Canja de galo capão
Fernando Wolff

Em 1966, inaugurei o Hos-pital-Maternidade do Tarumã, localizado no bairro do mesmo nome, mais precisamente na Vila Higienópolis, nos fundos do Hipódromo do Tarumã, nesta cidade de Curitiba.
Havia começado sua construção três anos antes, quando ainda trabalhava no Hospital Nossa Senhora das Graças, em São Carlos do Ivaí, no norte do Estado do Paraná. Foi um acontecimento especial para os moradores da região, pois na época a assitência médica mais próxima dali era o Hospital São Lucas, no Juvevê.
Credenciado que era, pelo INAMPS, como Médico ginecologista e obstetra, comecei a receber as primeiras parturientes para exames pré-natal.
Os outros médicos também se apressavam a internar seus pacientes e o hospital já 1a ganhando "status". Numa certa madrugada, escutei batidas na porta do meu apartamento, anexo ao hospital.
Era a enfermeira do plantão da noite, que me disse: " Doutor, venha logo que é uma parturiente em trabalho de parto".
Era o primeiro nascimento a ocorrer no hospital e, portanto, representava algo de importante para mim.
Aprontei-me rapidamente, e em poucos minutos corri pelo corredor em direção à sala de parto.
Notei, porém, antes de adentrá-la, a presença de um homem corpulento, barbudo, trajando roupas modestas, calças sustentadas por largo suspensórios e calçando coturno como sapatos.
Era o futuro pai do bebê. E parecia-se com um montanhês.
O parto foi um sucesso e Dona Maria não se continha de tanta alegria, afagando o filho debruçado sobre seu colo.
Nascera um robusto menino.
No corredor, dei a boa notícia ao pai, que arregalou os olhos e explodiu de contentamento, dando-me duas pancadas fortes nas costas e dizendo: "Doutor, não sei como lhe pagar, mas agradeço-lhe de coração".
No entardecer daquele dia, o homenzarrão, feliz papai do bebê, bateu na porta do meu consultório e pediu para falar comigo.
Permiti que entrasse e observei que ele segurava um saco de esto-pa, contendo algo volumoso, com a mão direita.
Por trás da espessa barba, mostrando dentes alvos e quase sorrindo, falou-me: "Doutor, não tenho carteira do INAMPS, não tenho dinheiro, mas vou lhe pagar com o maior capão do meu terreiro!"
Naquele Natal de 1966, os doentes internados no Hospital Tarumã fizeram a melhor ceia de sua vidas, tomando cheirosa e substanciosa canja de galo capão.
Depois de ficar três meses na ceva, a ave era tão grande que a sopa deu para mais de trinta pacientes.

Fernando Wolff é médico aposentado e presidente da Associação dos Cronistas de Turfe do Paraná

Histórias de Curitiba - Quando a vida imita a arte

 

Histórias de Curitiba - Quando a vida imita a arte

Quando a vida imita a arte
Luiz Geraldo Mazza

Não raro a vida imita a arte, ao contrário do que dizem.
Por exemplo, eu vi da minha mesa na redação da "Última Hora"o Adher-bal Fortes de Sá Júnior sugerir a um tipo estranhíssimo chamado Tuyuti Sareta, que padecia de lábio Leporino e era fanho, que imitasse o Zé do Burro de "O Pagador de Promessas", de Dias Gomes, que havia ganho a Palma de Ouro de Cannes com o filme de Anselmo Duarte, e levasse uma cruz até a igreja do Rocio em Paranaguá, em troca de alguns favores.
Lembro que, na seqüência, o improvisado Zé do Burro entrou no santuário da padroeira do Paraná com todas as honras, pois o prefeito, o bispo e o delegado de polícia não ousaram enfrentar a força popular do jornal que, em Paranaguá, sob o comando de Cícero Catani, tirava quase três mil exemplares e comandava até greves na área portuária.
Vi, também, uma situação de absoluto decalque do filme A Montanha dos 7 Abutres", de Bil-ly Wilder, com o ator Kirk Douglas na pele de um jornalista inescru-puloso e sensacionalista, que se aproveita de um acidente numa mina para conter o último mineiro até a morte da vítima.
Havia uma invernada no Capão Razo, onde um pequeno regato penetrava por uma caverna subterrânea estreitíssima só explorada pelas crianças, que afinal desafiam o imponderável, são protegidas pelos anjos e têm as dimensões do corpo como vantagem para penetrar em bueiros e galerias.
Anos antes, corria na memória da população daquele bairro a estória de um menino que avistara uma santa no interior dessa galeria.
Na verdade, tratava-se de um fenômeno comum de re-fração da luz e que produz uma espécie da prisma de forma triangular e lembrando em tudo um ícone.
Como uns meninos voltaram a explorar o mesmo lugar e a ver idêntica imagem, a fantasia se alastrou e o jornal Última Hora fez um carnaval em cima do assunto, com o repórter Maurício Távora.
Como chefe de redação, fui até lá para tomar pé da situação e ao ver a estreiteza da entrada da caverna, resolvi avisar o comandante dos bombeiros, coronel Hamilton de Castro, do risco que havia no local.
Meia hora depois, o comandante ligou-me agradecendo, mas avisando que um operário da construção civil resolvera entrar na galeria para ver a santa e acabou morrendo.
Pior é que, com o sensacio-nalismo do noticiário, pintou no lugar um taumaturgo,
milagreiro. que se fazia passar por Wilmar Schmidt, um menino catarinense que andou fazendo, décadas antes, milagres em Curitiba, e que afirmava que localizaria o trabalhador.
Ajudei na época a desmascarar o falso milagreiro, pois havia conhecido o verdadeiro Wilmar. Não foi fácil, porém, à autoridade segurar o povo que entrou na onda do milagreiro e até rezava o terço, bem como o Corpo de Bombeiros teve que criar "Know how"para aquele tipo de soterramento.
Nesse caso, também a vida imitou, sem muita criatividade, aquilo que a arte já consagrara.

Luiz Geraldo Mazza é jornalista.

Histórias de Curitiba - Soldados do fogo

 

Histórias de Curitiba - Soldados do fogo

Soldados do fogo
Alide Zenedin

Incêndio! Era o que anunciava o toque do sino da igreja.
Dotados de materiais e uniformes, sem quartel, fazendo e-xercícios na Rua Saldanha Marinho, em 1897 Emílio Verwiebe, Frederico Seegmuller, Ferdinando Poppe, Alberto Schoneweg, João e Rodolfo Schmidt, Rodolfo Ros-senau, João Rotlek, Antônio Pospissil e Venceslau Glaser, fundaram a Sociedade Teuto-Brasileira de Bombeiros Voluntários, objetivando com seus recursos a extinção de incêndios e outras calamidades.
Pessoal inexperiente e heterogêneo, mas que com bravura e abnegação cumpriu os de-veres do ofício.
Ao sinal dos sinos, acorriam de diferentes pontos da cidade, arrastando suas bombas ou as tra-cionando por muares para o local sinistro.
Brandindo suas machadinhas golpeavam as vigas carbonizadas, rompendo a muralha de fumaça com jatos d'água dentro de uma chuva de madeira em combustão, indiferentes às chamas que chamuscavam as mãos e faces.
Balançando, pendurados numa escada de corda, travavam com as labaredas uma luta sobrehumana.
Esses voluntários do dever, heróis anônimos, após relevantes serviços prestados à comunidade curitibana, dissolveram em 1901 a prestativa sociedade, por falta de recursos.
Em 23 de março de 1912, foi sancionada a Lei 1.133, que criou na Capital do Estado do Paraná o Corpo de Bombeiros.
Somente em
14 de julho foi inaugurado o quartel, na esquina das Ruas Cândido Lopes e Ébano Pereira.
Foi seu primeiro comandante o Major Fa-briciano do Rego Barros.
Em 04 de junho de 1951, re-alizou-se a mudança para a Av. Vise. de Guarapuava, esquina da Rua Nunes Machado.
Antigo alojamento do 14° Regimento de Cavalaria e 5o Batalhão de Engenharia do Exército Nacional e, pr último, sede da Guarda Civil do Estado.
Quem é da época não esquece as figuras carismáticas do saudoso Ten.
João Alexandre da Silva, dirigindo a "bomba a vapor"(alcunha de Maria Bufante) e do Ten.
José Theophilo da Silva, a auto bomba Merryweather, ainda em condições de prestar bons serviços.
Por quase três lustros fui bombeiro.
Agora, lembro que vi de perto a carreira de sacrifícios imposta aos soldados do fogo e o espírito desprendido que os anima nessa luta.
Dessas missões, por exemplo, ainda estão bem vivos, em nossa memória, os incêndios florestais ocorridos em setembro de 1963.
A operação "Paraná em Flagelo"contou além de praças e oficiais do Corpo de Bombeiros, da PMER do Exército, da Aeronáutica e da Marinha, com técnicos vindos de toda parte do Brasil, de Mr.
Lownder, Chefe dos Serviços de Combate a Incêndios Florestais dos EE.UU e sua equipe, da população civil das localidades mais antigas, de elementos do Centro de Adestramento Marques de Leão da Marinha de Guerra do Brasil, e dois helicópteros do Porta Aviões Minas Gerais.
Uma verdadeira operação de guerra
Atuando com todas as condições operacionais desfavoráveis, os bombeiros deixaram um exemplo marcante no socorro aos flagelados e no combate sem trégua ao fogo que, mesmo assim, fez vítimas e causou danos.
Nunca esquecerei tanta dedicação e tanto empenho na proteção dos valores fundamentais da pessoa e do meio ambiente.

Alide Zenedin é coronel engenheiro da Polícia Militar do Paraná, na reserva.