quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

AS GALERIAS COMERCIAIS DE CURITIBA: GALERIA SUISSA

 

AS GALERIAS COMERCIAIS DE CURITIBA: GALERIA SUISSA



Vou iniciar hoje uma pequena série sobre as galerias comerciais do centro de Curitiba. Por quase 20 anos morei no centro (no Edifício Asa, uma das galerias que comentarei) e é praticamente impossível circular pelo centro da cidade sem passar, parar e adquirir algum produto ou serviço que é oferecido por essas galerias, que podem ser consideradas sem sombra de dúvidas, as precursoras dos shopping centers de Curitiba. A diversidade de produtos e serviços é mais abrangente do que num shopping, o espaço é democrático, os preços são competitivos e em comparação com os outros comércios de rua, trata-se de um espaço mais seguro.

Existem dezenas de galerias em Curitiba, mas irei aqui abordar apenas aquelas que fizeram ou fazem parte da minha vida e de minha história, espaços pelos quais circulei à caminho de casa, da faculdade, do meu curso de inglês ou por qualquer outro motivo.

O jornalista José Carlos Fernandes, colunista da Gazeta do Povo, produziu o seguinte texto dentro da proposta dos "50 Motivos para amar Curitiba", espero que não se importem pela reprodução:

As vovós dos shoppings

Há três anos pus o pé no petit-pavê e saí contando quantas galerias têm o Centro de Curitiba e vizinhanças. Naquela época, a conta deu 24. Achei que era o número exato. Mas, a cada circulada, parece que uma nova galeria corta a quadra ao meio e desmente a contabilidade. Vá lá – devem ser cerca de 30 “avós dos shoppings” espalhadas pelo principal bairro da cidade. E elas valem o show.
O arquiteto Rafael Dely, morto em 2008, dizia que “toda cidade procura uma identidade. A de Curitiba está nas galerias.” E outro arquiteto, Salvador Gnoato, lamenta que esses espaços acolhedores tenham sido substituídos, no urbanismo contemporâneo, por áreas mais funcionais.
Cá pra nós, não é de todo impossível que galerias como a Tijucas e a Lustosa saiam da obscuridade e se tornem novamente lugares para zanzar numa tarde vadia. A cada vez que um grupo de comerciantes se dispõe a salvar o Centro da decadência, a luzinha acende: é a hora e a vez de lugares como a Pinheiro Lima ou a Suíssa. Aliás, tem galerias para todos os gostos, das “pré-históricas”, abertas para a rua – como o trecho da XV com a Monsenhor Celso –, às “populares”, como a Andrade. Refaça esse mapa você mesmo. José Carlos Fernandes.

A GALERIA SUISSA.
A Galeria Suissa, cujo endereço é Rua Marechal Deodoro, 262 (ligando a Marechal Deodora à José Loureiro), possui loja de materiais elétricos, restaurante, casa de câmbio e turismo, informática, modeladores, produtos de higiene e beleza, moda feminina e masculina, equipamentos eletrônicos, jóias, casa e jardim, material escolar e escritório, alimentos, games e cópias xerográficas e heliográficas.
Ponto de referência para qualquer morador de Curitiba, a Galeria Suissa foi inaugurada em 12 de outubro de 1962, nessa época conhecida por Galeria Alberto Bolliger, servindo apenas uma loja: a Casa Suissa, que vendia eletrodomésticos, móveis, brinquedos e material elétrico. A Casa Suissa ainda hoje mantém-se na galeria, comercializando material elétrico, sob a administração de outra família. Aos Bolliger cabe hoje a administração da galeria como um todo. Desde 1977 a galeria foi aberta para outras lojas.

AS GALERIAS COMERCIAIS DE CURITIBA: GALERIA RITZ E GALERIA MINERVA

 

AS GALERIAS COMERCIAIS DE CURITIBA: GALERIA RITZ E GALERIA MINERVA



GALERIA MINERVA
Fica na Rua XV de Novembro, 384. Não tenho certeza, mas acredito que essa galeria tenha esse nome em função de uma antiga farmácia Minerva que ficava na sua entrada. Galeria pequena, mais larga do que as outras e por isso mesmo, bastante iluminada.




GALERIA RITZ
Fica na Av. Marechal Deodoro, 51 ao lado da loja C&A. Única galeria com dois níveis no centro de Curitiba. O desnível existente entre as Rua XV de Novembro e a Av. Marechal Deodoro é vencido por uma escadaria. Além dos serviços da própria galeria (Cartório, Agências de turismo, lojas de roupas e banco), ela dá acesso ao edifício comercial, onde uma infinidade de serviços é oferecido. Houve um tempo que até uma academia de Karatê existia no local (o Sensei era meu professor de Educação Física na UFPR).

AS GALERIAS COMERCIAIS DE CURITIBA: GALERIA TIJUCAS

 

AS GALERIAS COMERCIAIS DE CURITIBA: GALERIA TIJUCAS



Junto com a Suissa, a Galeria do Edifício Tijucas (Avenida Luiz Xavier, 68) é das mais conhecidas e freqüentadas de Curitiba, não só pelo Tabelionato Marques (aberto na década de 60) em uma das pontas, ou por dar acesso ao gigante prédio comercial e residencial que dá seu nome, mas também, por ser a galeria da Boca Maldita e por oferecer a essa, o seu cafezinho oficial no Café da Boca, inaugurado em 1965.

Quem mora em Curitiba há tempos, deve lembrar-se que todos os dias ao entardecer, um advogado saia à janela de seu escritório no Edifício Tijucas e oferecia à cidade, uma apresentação de música, tocando com maestria o seu trompete. Quem morava por perto (como eu), acostumou-se com esse som todos dias e era muito comum, pessoas paradas debaixo do Tijucas, procurando o músico. O trompete calou-se e não achei referências sobre seu destino.

A galeria dispõe de vários estabelecimentos comerciais, como escritório de advocacia, clínica médica, odontológica, farmácia, imobiliária, lanchonete, casa lotérica, loja de perfumes, estética, costureira e alfaiate, aliás, o único alfaiate que visitei em Curitiba trabalhava nesse prédio. Lá meu pai mandava ajustar seus ternos. O Tijucas já foi reconhecido na década de 70 como reduto dos alfaiates, dentre eles com 74 anos, o alfaiate Ferdinando Nardelli trabalha no Tijucas desde 1958. Ele hoje é um dos 18 alfaiates que ainda trabalham no prédio.

AS GALERIAS COMERCIAIS DE CURITIBA: GALERIA ASA E GALERIA OSÓRIO

 

AS GALERIAS COMERCIAIS DE CURITIBA: GALERIA ASA E GALERIA OSÓRIO


GALERIA DO EDIFÍCIO ASA
Se a Galeria Ritz é a única com entradas em desnível, a Galeria do Asa (Rua Voluntários da Pátria, 475) é a única com 3 pontos de acesso: pela Praça Osório, pela Voluntários da Pátria e pela Al. Dr. Carlos de Carvalho. Por ter morado no Asa por 12 anos, a Galeria do Asa é para mim a mais familiar. A movimentação diária na galeria é intensa pois além dos estabelecimentos da galeria tais como cabeleireiros, bares, agência de turismo, lojas variadas e portaria dos três blocos do Asa, a galeria dá acesso à dois blocos residenciais e um bloco comercial, todos com 22 andares. Creio que não há o que não se possa ser encontrado no Asa em termos de prestação de serviços.
Um de seus síndicos mais folclóricos foi o Dr. Zarur (já falecido), responsável pelo visual peculiar que até hoje permanece na galeria. A galeria foi inaugurada em 1954.




GALERIA OSÓRIO
Galeria General Osório (Praça General Osório, 333) oferece 33 lojas como salão de beleza, lan house, antiquários, produtos naturais, informática, ótica, confecções, jóias e cópias xerográficas. Localiza-se entre a Praça Osório à Alameda Dr. Carlos de Carvalho.

Dessa galeria lembro-me da primeira (e acho que única) enorme pista de autorama de Curitiba, que ficava montada onde hoje há uma praça de alimentação. Não tenho certeza, mas acho que essa pista pertencia a Lima Hobbies, que se mudou para o Shopping Estação. Nessa galeria funcionava a barbearia (que já não existe) que meu pai freqüentou por décadas até falecer o seu barbeiro. O mais antigo comerciante da Praça Osório é o Sr. Nelson Lehmkhul, há mais de 35 anos concertando relógios no local. O prédio pertence à família Demeterco, antiga proprietária do vizinho e ainda existente Mercadorama.

SOCIEDADE THALIA

 

SOCIEDADE THALIA

A Sociedade Thalia foi fundada em 04 Abril de 1882 por dezoito imigrantes alemães com o objetivo de abrigar as suas reuniões, com destaque ao teatro, as artes e a música. No primeiro ano, havia 126 sócios e a primeira sede funcionava na Rua Mateus Leme, anos depois na Praça Tiradentes e no final do século, na Rua XV de Novembro.

Como curiosidade, o nome Thalia vem da mitologia grega e ela é uma das nove musas. Thalia é a musa da comédia.

Com a tensão gerada na Primeira Grande Guerra, o clube passou a ser observado pela policia e o governo obrigou a sociedade a mudar seu nome, sua diretoria, que tivesse características brasileiras e que nenhum documento fosse redigido na língua alemã. O Verein Thalia passou então a chamar-se Sociedade Thalia em 26 de janeiro de 1918, época que contava com 340 sócios. Nessa época documentos e livros escritos em alemão foram destruídos.

Em dezembro de 1942 a Sociedade Thalia passa a ter sede própria na Rua Comendador Araújo e em 1954 já contava com mais de 3000 associados, numa época em que Curitiba tinha 150 mil habitantes, tendo portanto, uma ativa participação na vida social de Curitiba.

Sua estrutura foi ampliada em 1967 com a inauguração da Fazenda Thalia; novamente em 1974 com o Thalia Guaratuba e pela última vez em 1984 com a inauguração da Sede Olímpica do Tarumã. Todas essas sedes oferecem aos associados diversas opções de lazer, áreas verdes e infra-estrutura.

O clube desenvolve diversas atividades culturais (como o grupo folclórico Original Einigkeir Tanzgruppe), tem intensa participação nos eventos esportivos da cidade e é também muito conhecido por suas festas e seus bailes.

É enfim, um clube que com seus 128 anos de existência, faz parte da história da imigração alemã e da história de Curitiba, contando hoje com aproximadamente 30.000 associados.

As informações desse texto foram extraídas de um vídeo institucional intitulado Sociedade Thalia, gentilmente cedido pela administração do clube.

CARUSO

 

CARUSO







Estive ontem na Caruso com dois objetivos, comprar as melhores empadas de Curitiba (sério, não tem nada semelhante) e fotografar essa casa, que faz parte da história de Curitiba e é citada e freqüentada por famosos e não famosos. Uma vez dentro da Caruso, fui muito bem atendido pelo Guilherme, atual e jovem proprietário da casa, que muito gentilmente permitiu que eu fotografasse o local e melhor ainda, enviou o texto que reproduzo na integra abaixo, contando a história de sua família e de como a Caruso foi criada. Curitiba é feita de inúmeras histórias de imigrantes como essa, o que torna essa cidade tão especial e tão interessante de se descobrir a cada dia e a cada história. Saboreiem então a história dos Caruso (família) e da Caruso (confeitaria? Restaurante? Casa de empadas?) e caso ainda não conheçam o local, corram para lá para saborear as empadas e as outras especialidades da casa. A Caruso fica na Rua Visconde do Rio Branco, 877, perto do Teatro do SESC da Esquina.

A relação da família Caruso com a área de alimentação e serviços começa no início do século XX, mais precisamente em 1904, quando o imigrante italiano Giuseppe Caruso mudou-se com a esposa Rosa Cesarino, grávida de “Nero”, seu terceiro filho, para Curitiba. Depois de ter desembarcado no porto de Santos, em 1895, com apenas 18 anos, vindo da pequena cidade de Cozenza, na região da Calábria, passou por Uberaba, no estado de Minas Gerais, tendo lá desposado a jovem filha de imigrantes e aonde tiveram os dois primeiros filhos.

Alfaiate de profissão, Giuseppe ficou desapontado com seu terceiro filho, agora jovem, que resolveu ganhar a vida como ajudante de confeiteiro. Antonio Nerone Caruso, nascido em Curitiba, começou logo cedo a trabalhar com a família Romanó – tradicional casta de grandes confeiteiros – e tornou-se especialista em doces e salgados pequenos, os “quitutes” e “acepipes”. Tendo chegado à maioridade, “Nero” – como ficou sendo conhecido – resolveu partir para o Rio Grande do Sul para tornar-se um “mestre” e para conquistar sua independência.

Com o dinheiro que tinha, conseguiu chegar apenas até a cidade de Rio Negro, na divisa com o estado de Santa Catarina. Lá, teve que fazer pequenos “bicos” para conseguir dinheiro. Como era hábil com todo tipo de alimento, não foi difícil de arranjar emprego e, com o tempo, desistiu da idéia de ir mais para o sul, estabelecendo-se então naquela localidade.

Jovem atraente e de boa pinta, logo começou a flertar com a Srta. Erna Victoria Wittig, filha do dentista da cidade, o imigrante alemão Dr. Paul Wittig. Logo se casaram e tiveram o primeiro filho, Nerino Caruso, conhecido como “Bábi” e, seis anos depois, em 1932, Enrico Caruso, o caçula – homônimo do famoso tenor e que, para uns poucos, era conhecido também como “Nêne", aproveitando o apelido do irmão.

“Seo Nero” havia construído um bom nome, sempre associado à gastronomia, e tornou-se proprietário do “grande” bar da cidade.

Depois de um incêndio que destruiu quase todo o seu patrimônio, em 1939, foi ao Rio de Janeiro para buscar o dinheiro do seguro e, na volta, decidiu restabelecer-se em sua cidade natal (Curitiba) com a família recém formada.

Como seu nome já era conhecido por estas bandas, inaugurou, com o dinheiro que havia resgatado, um estabelecimento chamado Barcarola – misto de bar e restaurante e um reduto da boemia – no Parque Graciosa, bairro do Juvevê. Recebeu então, alguns anos depois, a proposta de administrar o bar e restaurante do Cassino Ahú, onde ficou até abrir seu próprio estabelecimento na Praça Ozório (em frente ao conhecido “Bar Stuart”, ainda não inaugurado na época) que, por causa da II Guerra, foi batizado com o americanizado nome “Bar O.K.” (era o melhor que uma família de alemães e italianos poderia fazer).

Mais tarde, com a experiência adquirida no Cassino e com o dinheiro que havia poupado, resolveu ir para Guaratuba abrir um Cassino próprio, mas não deu sorte e, por ironia do destino, o jogo foi proibido logo no início da empreitada. Tendo perdido novamente quase todas as suas economias, ficou por lá, fazendo suas já conhecidas empadas, que desde 1924 agradavam a todos os paladares.

Com o tempo, Nero e Bábi fundaram, naquela aprazível região litorânea, o bar e restaurante Media Luz (com ênfase na entonação grave do “e”, apesar da ausência de acento).

Nessa mesma época, Enrico Caruso, tendo dado baixa do serviço militar, começou a trabalhar com a família. Conheceu então a curitibana Gladis Heidmann, neta de alemães e italianos, com a qual se casou em 1954.

No mesmo ano, tendo adquirido capital suficiente, voltou para Curitiba e abriu, no agora conhecido endereço da Rua Visconde do Rio Branco, a Mercearia Caruso, à qual logo se juntaram os pais de Enrico, Nero e Erna, já aposentados, mas que na cozinha, junto com Dona Gladis Caruso, continuaram a deliciar as papilas de seus clientes. Passados alguns anos da inauguração, Enrico e Gladis tiveram duas filhas, Sylvana e Rosana Caruso.

No começo, a Mercearia Caruso vendia de tudo. Produtos como salames finos, presuntos, queijos dos mais variados tipos, enlatados e embutidos eram encontrados apenas naquela pequena casa. Enrico orgulha-se em dizer que, juntamente com o “mestre” Nero, ensinou gerações de curitibanos a apreciar produtos das mais variadas origens e gêneros, coisas que não faziam parte da dieta da maior parte da população. Em meio a essa infinidade de produtos, algumas especialidades – de fabricação própria – começaram, quase sem querer, a se sobressair. Sorvetes cremosos feitos com o mais puro leite e ingredientes naturais, “apfelstrudell” (strudell de maçã), sonhos feitos com nata batida na hora e, é claro, as empadas de massa folhada, desenvolvidas por Nero.

A qualidade de tais produtos tornou-os notórios, os “carros-chefe” da Mercearia, que ainda mantinha sua vocação de delicatessen.

Nesses anos todos, muitos personagens ilustres passaram por aquelas portas na certeza de encontrar sabores maravilhosos e inusitados. Políticos como Moisés Lupion, Paulo Pimentel, Bento Munhoz da Rocha, José Richa, Beto RIcha, Parigot de Souza, Jaime Lerner, Roberto Requião, Rafael Greca de Macedo e tantos outros senadores, deputados, vereadores, diretores, professores, artistas, atores, empresários... Tradicionais famílias e ilustres desconhecidos.

Essa miscelânea de personalidades que freqüentaram e freqüentam a Caruso talvez também se deva ao fato de não tomar partido sobre qualquer assunto que seja, principalmente em assuntos polêmicos como política e futebol.

Com o tempo, os produtos típicos de uma mercearia foram desaparecendo, tendo seu espaço tomado pelas especialidades da casa, principalmente as empadas (e também pela concorrência que começava a surgir, nos supermercados e afins).

Foi assim que, tendo enxugado sua gama de produtos para ficar apenas com os doces e os salgados (e também com os mais variados doces miúdos e derivados de coco vindos da pequena fábrica de Baby, primogênito de Nero), na década de 80 a Mercearia transformou-se numa Confeitaria. Uma confeitaria, sim, mas diferente de todas as outras, pois não fazia bolos ou outras coisas mais comumente associadas a essa atividade. Tratava apenas de fazer aquilo que fazia bem, e construiu assim um diferencial.

Como alguns problemas de interpretação do gênero “Confeitaria” eram inevitáveis, a casa terminou por adotar simplesmente o título “CARUSO” que, pela tradição construída ao longo do século, a tornava em si um gênero de negócio. Uma “Casa de Empadas”, mas não somente...

Nos anos 90, produtos que satisfizessem a necessidade de pessoas que procuravam uma refeição balanceada e de qualidade fizeram com que a empresa adotasse o “almoço executivo”. Esses “pratos feitos”, porém de grande qualidade, supriram a deficiência das empadas e demais salgados (quibes, coxinhas, pastéis e rissoles) no horário do almoço dos curitibanos. Acabaram por se tornar, também, especialidades da casa.

Guilherme Caruso, neto de Enrico e atual proprietário da Caruso Empadas, e Victor Eimer, proprietário do “caffé Metrópolis”, reconhecida empresa do ramo de cafeterias e cafés especiais, no mercado desde 1996, amigos, clientes mútuos e admiradores de seus produtos, começaram a desenvolver, em fins de 2001, um projeto para a expansão da Caruso.

Com a inauguração do ParkShopping Barigüi, em 2003, surgiu a oportunidade de abrir a primeira loja licenciada da Caruso Empadas. Com o grande sucesso desta loja, os empresários passaram para a segunda etapa do projeto, a expansão e aperfeiçoamento do negócio.

Passados cinco anos do início da parceria, os empresários, já tendo investido na infraestrutura e novas tecnologias, se lançam para os novos tempos com a segurança de um projeto bem estruturado.

Histórias de Curitiba - O Vigilante em Curitiba

 

Histórias de Curitiba - O Vigilante em Curitiba

O "Vigilante" em Curitiba
Gilberto Patriota

Corria o ano de 1962, quando foi lançada no mercado dos enlatados televisivos uma série de aventuras brasileira, inspirada nos seriados americanos Rin tin tin e Patrulha Rodoviária. O resultado foi uma surpresa agradável que cativou a moçada esperta dos anos 60, tornando famosos o ator Carlos Miranda, no papel título, seu cão Lobo e o formidável Simca Chambord, com o qual o "Vigilante Rodoviário"perseguia sem trégua os bandidos, socorria vítimas de acidentes e auxiliava quem lhe pedia socorro.
Nessa época, televisão era só em preto e branco, as emissoras eram apenas duas em Curitiba (a Paranaense, Canal 12, e a Paraná, Canal 6) e o número de televisores ainda era pequeno.
Daí a proliferação dos chamados "televizinhos", que se reuniam na casa do (in)feliz proprietário de um televisor na hora de seus programas prediletos.
As senhoras gostavam, é claro, de novelas e outros dramalhões (transmitidos ao vivo), e a gurizada, de desenhos e séries, como o nosso "O Vigilante
Rodoviário".
Houve um entre os vários episódios do "Vigilante Rodoviário". porém, que bateu recordes de audiência em Curitiba.
Motivo principal: o episódio, com a participação de todos os nossos heróis, foi inteiramente filmado em Curitiba e cercanias, utilizando inclusive alguns atores nossos, como os "vilões"Maurício Távora e Ari Fontoura - esse mesmo que há muitos anos está na Rede Globo.
O episódio local representava uma espécie de homenagem dos produtores da série a Curitiba, que já então tinha um razoável destaque nacional e editava uma revista especializada em TV, a "TV Programas", que sempre deu largo destaque aos enlatados.
A aventura iniciava-se em algum lugar secreto e imaginário do território nacional, onde um míssil esperimental fora lançado de sua base para a extratosfera.
Por uma razão qualquer, porém, o míssil desviou-se de sua rota e veio cair justamente em nossa bela Curitiba, gerando um interesse muito grande do Governo Federal em sua captura. E quem que o governo destacou para vir a Curitiba recuperar o artefato? O nosso competente Vigilante com seu Sinca , é claro.
As autoridades só não contavam - segue o roteiro - que subversivos espiões estrangeiros tinham montado escuta e sabiam de tudo, vindo também a Curitiba, desembarcando no Aeroporto de Afonso Pena", passando com seu jipe por paisagens nostálgicas de nossa cidade, onde identificam-se a Rodoviária Velha, a Praça Rui Barbosa e o Colégio Estadual do Paraná.
O nosso herói também chega na cidade com seu auto reluzente circulando por paisagens conhecidas como a Praça Tiradentes até a Catedral e, no Palácio 1-guaçu , recebe os agradecimentos do governador, juntamente com seu cão Lobo, pela localização, perseguição até Vila Velha e a prisão de toda a quadrilha.
Os produtores do episódio cometeram, porém, uma pequena mancada que não passou despercebida a muitos curitibanos: a caminho de Vila Velha, nosso herói e seu bóli-do dirigem-se para a velha estrada que levava a São Paulo, em direção contrária.
Indiferente à mancada, a garotada curitibana aplaudiu nesse dia o Vigilante mais que em qualquer outro episódio.

Gilberto Patriota é advogado e colecionador de antigos seriados de TV.

Histórias de Curitiba - Bananas

 

Histórias de Curitiba - Bananas

Bananas
Teresa Urban

Entre a Padre Anchieta e a Padre Agostinho, a Brigadeiro Franco não era apenas a rua de lama por onde subiam as carroças das verdureiras italianas, rumo a Santa Felicidade.
Era uma algaravia onde russos, polacos, alemães, italianos, japoneses, chineses e slrio-libaneses compartilhavam sotaques, hábitos e sonhos.
Meu pai, o polaco Estanis-lau, foi um dos primeiros a se instalar do lado direito da rua, no barracão onde exercia o ofício de marceneiro com excepcional maestria.
Tinha com a madeira tal intimidade que a serragem, sempre pousada em seus ombros, parecia uma leve benção da imbuia, do cedro, do marfim e da canela, que transformava em mesas, cadeiras, entalhes e detalhes.
Eram bem poucos os brasileiros da rua e serviam apenas para balizar a Babel da Brigadeiro Franco com algumas palavras chaves na conversação ar-revezada.
Alesblau, arigatô, tuti-buonagente, dovidzenha, tudo acabava em pinga no balcão do bar de seu Caluf, que rescendia um cheiro bom de madeira curtida na mais pura cachaça.
Os imigrantes aprendiam rápido os costumes da nova terra, talves porque eram eles mesmos que desenhavam, a cada dia, a cara da cidade, seu território de fato e de direito.
Para chegar até a Brigadeiro Franco, o menino Estanislau atravessou o Atlântico, cruzou o Equador, suportou terrível calor nos apinhados porões dos navios, embalado pelas fantásticas promessas dos agenciadores de imigrantes.
Os folhetos espalhados pelas aldeias onde viviam camponeses famintos e oprimidos mostravam a fartura do mundo tropical traduzida sob a forma de árvores gigantescas, carregadas de suculentos frutos e lavouras de extraordinário viço.
Para facilitar a mensagem, os ilustradores desenhavam espécies típicas da velha Europa - que os camponeses poderiam reconhecer facilmente, e não as do Novo Mundo.
Assim, os imigrantes imaginavam trigais reluzindo nas encostas na Serra do Mar e frondosos carvalhos destacando-se na Mata Atlântica.
Ademais, quem acreditaria em especiarias exóticas como feijão preto, café, mandioca, cana-de-açucar ou manga?
Foi assim que, de todo des-informado, o menino Estanislau desembarcou no Rio de Janeiro.
Ansioso para abandonar o porão do navio, precipitou-se para a escada que dava acesso ao convés e a brutal claridade do sol tropical encheu-lhe os olhos.
Ofuscado, viu um marinheiro negro oferecer-lhe, amistosamente uma fruta desconhecida.
Surpreso diante do gesto, tomou-a nas mãos, cheirou-a, sentiu-lhe a maciez e, sem vacilar, cravou os dentes na casca amarela da primeira banana que viu em seus bem vividos nove anos.
Foi uma recepção inesquecível, de sabor tropical, com direito a negros, bananas, fraternidade, muito sol e a primeira frase que aprendeu em português: "queira-me bem, mal não faz".
Os recém-chegados foram levados para uma fazenda de café, no interior de São Paulo, de onde logo fugiram, exaustos e aterrorizados com o tratamento dado aos imigrantes.
Pouco mais tarde, encontravam abrigo e trabalho na pequena Curitiba da década de 20.
De Curitiba, foi filho até a morte.
Um singular polaco tropical, solidário, amigo e moreno, que jamais esqueceu o navio, o negro e a banana.
Um velho marceneiro que tinha um modo especial de se despedir, sem adeus nem até logo, apenas "queira-me bem, mal não faz".

Teresa Urban é jornalista.

Histórias de Curitiba - Radiofônicas

 

Histórias de Curitiba - Radiofônicas

Radiofônicas
Carneiro Neto

Iniciei no jornalismo esportivo em Ponta Grossa e, em 1965, vim para Curitiba, contratado como repórter da antiga Rádio Guairacá. No meu primeiro jogo, no estádio "Orestes Thá", o Ferroviário venceu o Água Verde por
2 a 0 e, ao final, fui ao vestiário fazer a cobertura da equipe derrotada.
Indaguei ao goleiro Anto-ninho como é que ele explicava os dois gols sofridos.
Suado, abatido, o goleiro foi sincero na análise: "No primeiro gol eu reconheço que falhei, mas o segundo foi cagada do Titure..."Titure formava com Ferramenta e Fonti a defesa do chamado time "hidro-esmeral-dino".
Na semana seguinte, fui escalado para cobrir o jogo Primavera e Átlético, no velho estádio "Loprete Frega", no Taboão.
Seria a primeira partida do técnico Adão Plínio da Silva no comando da Primavera.
Perguntei ao famoso treinador da época como é que se sentia no dia da estréia.
Bondoso, o Nego Adão chegou bem perto do microfone e respondeu revirando os olhos ao melhor estilo Carmem
Miranda: "Olha meu filho, quem estréia é circo, eu sou papai Ádão, O king Kong dos treinadores!"
Mais tarde, tornei-me narrador e não sofri mais com os desafios do frio, do calor e da chuva, que perseguem os repórteres de campo.
Em uma noite fria, daqueles junhos que fazia antigamente em Curitiba, transmitia um jogo do Coritiba com o Guarani, de Ponta Grossa, e o repórter Osiris Nadai substituía um nosso com-panheio, da Rádio Universo.
Da cabine, fiquei observando o Osiris, morrendo de frio atrás da meta.
Condoído, quis dar moral a ele, perguntando docilmente: "Está muito frio aí embaixo, meu caro Osiris?" Desligado, porém autêntico, e no ar, veio a resposta; um tremendo palavrão que explodiu o estádio em gargalhadas.
Munir Calluf, empresário e coxa-branca fanático, quis ser diretor do Coritiba mas acabou vetado por razões políticas.
Resolveu ir à fora bancando o time do Bri-tânia.
Contratou diversos craques e fez sucesso no campeonato.
Um dos jogadores que vieram foi o meia-cancha Wander Moreira, mais tarde árbitro de futebol.
Malandro como só ele, Wander fez diversas exigências para assinar o contrato e o jovem dirigente resolveu marcar um jantar para acertar todos os detalhes.
Reunidos no restaurante Ile de France, Munir estabeleceu as cifras com Wander e disse que viajaria no dia seguinte para São Paulo e na volta mandaria fazer o contrato. O jogador argumentou: "Olha seu Munir, não é por nada não, confio na sua palavra, porém não tem nada assinado e agora estou sem gravador..."Só começou a treinar na volta do dirigente, com contrato assinado.

Carneiro Neto é jornalista.

Histórias de Curitiba - O Instituto de Educação

 

Histórias de Curitiba - O Instituto de Educação

O Instituto de Educação
Denise Fernandes Goulart

Quando, algum tempo atrás, ouvi a notícia de que o Instituto de Educação do Paraná havia incendiado, comecei a chorar imediatamente.
No intervalo entre a manchete e a notícia completa, a emoção tomou conta, e junto com as lágrimas vieram milhões de lembranças.
Como num filme cm alta rotação, um pedaço de minha vida se desenrolou, tendo como cenário esta escola.
Primeiro, os professores ilustres: D. Iná, Prof.
Arthur, Prof.
Paca, D. 1 lonorata, Prof.
Aldo, D. Miracy, Prof.
Flávio, D. Maria Ester, D. Fanny, D. Clotilde (que delícia cantar no salão nobre) e tantos outros...
Cheiros, meus Deus! O do pãozinho d'água na cantina, com manteiga que se derretia e que só de vez em quando era possível comprar!
Descer pela escadaria principal, com seu tapete vermelho, nem pensar! Andar pelo hall de entrada, só em ocasiões excepcionais.
Para garantir as normas lá estavam as atentas inspetoras.
Quem por lá passou não deve ter esquecido de D. Vitalina.
Fumar escondido no banheiro, "gazetear"aulas para ir ao matinê, encontrar com o namorado na saída da aula (quantos sermões) e enrolar a saia do uniforme na cintura para ficar curtin-ha, bons tempos!
Suar frio em dia de "prova oral", ninguém escapava.
Sortear o ponto e passar pela banca examinadora (três professores), não dá para explicar o que se sentia...Sem falar no respeito que os professores inspiravam.
Respeito que não era quebrado nem mesmo pelos espíritos mais ousados e contestatórios.
A competição com o Colégio Estadual do Paraná era incrível! Havia disputa até entre os professores; dar aulas em um ou outro fazia parte do "curriculum vi-tae".
E o grupo de amigas? A mais próxima, Denise Rocha Novaes, a capacidade e a simplicidade numa só pessoa, coisa rara.
E os desfiles de 7 de setembro, data tão esperada, múltiplos ensaios...No dia, o uniforme limpo e bem passado, a gravata vermelha do ginásio e a azul marinho da escola normal, significava o coroamento de todo o orgulho que tínhamos por sermos do "Instituto"!
Nisto, um dos filhos interrompe o filme:
- Por que voce está chorando?
_ O Instituto pegou fogo!
- Ah! Só por isso?
Fiquei pensando, é a idade ou as escolas hoje em dia que não inspiram mais estes sentimentos?
Felizmente, foi um incêndio de menores proporções.
Quando vou ao centro da cidade ele está lá: sólido, inteiro, para mostrar que educação só se faz desta forma, com muito amor!

Denise Fernandes Goulart é pedagoga