sábado, 9 de setembro de 2023

FURTOS E ROUBOS NA FEB: BRASILEIROS ROUBARAM “TANQUE”?

 

FURTOS E ROUBOS NA FEB: BRASILEIROS ROUBARAM “TANQUE”?


Soldado brasileiro fazendo manutenção de jipe em Rocca Cornetta

Pergunta enviada por leitor da página, questiona se os brasileiros de fato roubaram um carro de combate Sherman, em represália à roubos e furtos por parte de soldados americanos na cozinha brasileira. Segundo a história que circula na Internet, os oficiais brasileiros teriam reclamado dos constantes sumiços de material e um oficial americano, teria respondido que aquilo ali era uma guerra e não um colégio.

Dias depois, o mesmo oficial americano teria procurado o brasileiro. “Com relação aos alimentos, as roupas e munições, tudo bem, mas, por favor, devolvam nosso tanque”, teria dito.

Fomos checar se havia algo assim relatado em alguns livros da FEB. Segue o que encontramos:

1 – Comandante da Engenharia roubou peças de carro para presentear padre

O Coronel Machado Lopes, que comandava a Engenharia, no seu livro “9º Batalhão de Engenharia de Combate na Campanha da Itália, página 73, comentou que os furtos na guerra eram normais e que “o furto, principalmente de jipes, atingiu tal proporção, que levou o V Exército a alertar suas grandes unidades e, a recomendar que responsabilizariam pecuniariamente o detentor pelo objeto ou equipamento que lhe fosse entregue”.

Segundo ele, havia companhias de Engenharia que tinham mais jipes do que a relação oficial. Ele próprio diz ter sido vítima de furto. Ao ir para Roma, o motorista dele, um certo Cabo Braga, cochilou no estacionamento de uma loja que o Comandante estava visitando. Quando o chefe voltou, tinham levado os galões de combustível e a mala de roupas deles.Em seguida do roubo, eles se dirigiram ao posto de logística mais próximo e pegaram roupas novas. Depois, Braga furtou galões de combustível do primeiro jipe americano que avistou.

Mas, não ficou só nisso. Em outra ocasião, ele e o Cabo Braga foram visitar o Prior de Roma. O religioso contou que adorava carros, mas que o que ele mais gostava, estava parado por falta rodas. Na volta para casa, o comandante e o motorista viram um carro igual ao do Prior no caminho, nas linhas brasileiras. “Não vacilei um só instante. Com as golas levantadas, encobrindo os rostos, de metralhadora na mão, fizemos o italiano encostar o carro em um pequeno desvio da estrada e, por ele ajudado, retiramos as quatro rodas do seu carro, que lá ficou arriado”, confessa Machado, que depois voltou e deu de presente ao Prior, as rodas que ele queria. “Não tive o menor remorso, pois, naquela altura, possuindo um carro em perfeito estado, só podia ser colaboracionista. Assim raciocinando, fiquei tranqüilo com a minha consciência”, se justificou.

A situação ainda piorou, pois, depois ele recebeu a denúncia e jogou nas costas das tropas de negros americanos do 370º Regimento, que tinham fama de roubarem as coisas na região, inclusive dos brasileiros. Ele confessou o assalto ao Prior, fez penitência e ficou por isso mesmo.

2 – Jornalista roubou livro de Igreja

O jornalista Joel Silveira foi dormir em uma igreja no caminho de Soprassasso, batalha que ele estava cobrindo. O padre o botou em um quarto no fundo da igreja e lá pelas tantas da madrugada, Joel resolveu abrir um armário que existia ali e, dentro, descobriu livros fascistas, que ele roubou como souvenirs. Partiu no outro dia nas primeiras horas da madrugada.

3 – Deixou jipe sozinho, perdeu

Adhemar Rivermar, oficial de operações S3 do 11º Regimento de Infantaria, no livro “Montese: marco glorioso de uma trajetória”, conta que se um jipe fosse deixado sozinho, podia acontecer duas coisas: ser roubado por alguém do exército de outro país Aliado, ou ser apreendido pela Polícia do Exército. No primeiro caso, o motorista ia pagar o veículo de forma parcelada no salário. No segundo caso, o responsável tinha que ir retirar o veículo na Polícia e pagar uma multa pesada.

“No princípio, fora tal o desaparecimento de viaturas, mesmo quando deixadas presas por correntes e cadeados em postes ou árvores, que, contava-se, um coronel comandante de unidade de infantaria dera permissão aos seus comandados para agirem da mesma forma. Rapidamente, aprenderam a mudar de nacionalidade as viaturas que deparavam momentaneamente sem ocupantes, com pintura imediata do Cruzeiro do Sul [identificação brasileira] no local onde existia anteriormente a estrela branca característica do Exército dos Estados Unidos, bem como a substituição das letras USA por EB antes do número da viatura, que em muitos casos era também alterado. O coronel logo percebeu o crescimento do número de suas viaturas e foi obrigado a derrogar a permissão veladamente dada, quando, certa manhã ao levantar-se, deparou perto de sua barraca com um jipe anfíbio, de distribuição restrita à determinadas unidades de engenharia, já em adiantada fase de transformação de propriedade”, explicou Adhemar.4 – Roubo de bandeira nazista

Já Raul da Cruz Lima Júnior, que era comandante da 2ª Companhia da Engenharia, conta que no final da guerra, os brasileiros capturaram uma bandeira alemã, em Fornovo. O objeto ficou sob a guarda de um sargento, para ser levado como troféu de guerra para a sede da Engenharia.

De noite, misteriosamente, a bandeira sumiu. Houve revista geral em toda a Companhia. Ela não foi localizada, mesmo com os capelães apelando até para o amor divino. Foi aí que apareceu, do nada, em um pacote semi-aberto, no meio do pátio da Engenharia, a bandeira roubada.

Raul se aproximava do pacote, quando algum soldado zoeira jogou uma espoleta de granada perto e fez o barulho característico do artefato. Uns se jogaram no chão e outros correram se proteger. Uns prisioneiros alemães, que estavam varrendo o pátio, também correram e, depois, não houve quem não desse gargalhadas, dizendo que os alemães estavam fazendo um contra-ataque para recuperar a bandeira.

A tal bandeira ficou no Museu do Expedicionário de Curitiba e mais de seis décadas depois, foi mandada para a sede a Engenharia de Combate, em Aquidauana, Mato Grosso do Sul.

5 – Não era só na Engenharia

O 3º sargento, comandante de Grupo de Combate da 2ª Companhia do I Batalhão, do 1º Regimento de Infantaria, Silas de Aguiar Munguba, conta que havia mesmo essa ordem de pegar qualquer viatura abandonada e outros objetos. Ele conta que pegou uma metralhadora que usou a guerra toda. Viu “dando sopa” e pegou, abrindo mão do fuzil que carregava. “Os brasileiros eram um pouco atrevidos, pegaram ao pé da letra a ordem que receberam. Se viam um jipe parado em algum lugar, levavam a viatura como se fora abandonada. Havia um soldado na minha Companhia que usava um jipe, mesmo assim, se apropriou de um caminhão americano. Isto antes de entrarmos propriamente em combate”, relatou no livro “História Oral do Exército na Segunda Guerra Mundial”, Tomo II.

Há ainda relatos de roubos, furtos, violações de bagagens e extravios de pertences, na volta dos Pracinhas ao Brasil, mas, esta é outra história, bem como os fatos sobre os crimes por parte dos alemães. Porém, não achamos nenhum tanque roubado.

Fonte: V de Vitória BR

JUNTA DE BOIS FOI “ARMA SECRETA” DE BRASILEIROS CONTRA CANHÃO NAZISTA NA ITÁLIA

 

JUNTA DE BOIS FOI “ARMA SECRETA” DE BRASILEIROS CONTRA CANHÃO NAZISTA NA ITÁLIA

Na campanha da Itália, nas proximidades do rio Marano, já perto de Monte Castelo, quase que diariamente os alemães mandavam algum tipo de veículo equipado com canhão ou carro de combate (tanque) para atirar contra uma das posições brasileiras. Os Pracinhas procuravam a origem dos tiros, mas, por conta do ângulo em que estava a arma inimiga, não conseguiam responder aquele fogo.

Um dia, o tenente Paulo Campos Paiva, que era Comandante de Pelotão da Companhia de Canhões Anticarros do 1º Regimento de Infantaria, foi visitar um amigo, o Tenente Carlos Augusto de Oliveira Lima, que era Comandante de Pelotão da 1ª Companhia do I/1o Regimento de Infantaria (Regimento Sampaio). O amigo lhe contou que não aguentava mais ser hostilizado por aquela espécie de “tanque fantasma” que atirava e depois sumia, fazendo vítimas entre seus comandados.

A situação  foi levada ao Comandante do Batalhão, que ficou muito preocupado, porque achava que não havia uma posição apropriada que permitisse às viaturas tratoras levar canhões que pudessem atirar de volta contra os alemães, na posição em que eles se encontravam.

O tenente Paiva disse que havia uma boa possibilidade se fosse usado um canhão 57 milímetros. O comandante do Batalhão disse que era difícil, porque teriam que transportá-lo em uma viatura e isso era impossível, porque não era um local de fácil acesso e traria tiros alemães sobre a peça de artilharia.

Paiva não desistiu, disse que se fosse para ajudar o camarada Carlos Augusto, ele daria um jeito, bastava o Batalhão dizer sim. A permissão foi concedida.

O plano

Paiva na época da guerra. Foto do Portal FEB Paiva conhecia alguns camponeses da região em quem confiava. Disse para eles que se eles arranjassem uma junta de bois para levar o 57 milímetros, ganhariam maços de cigarro, que naquele tempo valiam uma boa grana. Porém, a missão seria de madrugada, no mais completo silêncio e na mais rigorosa escuridão. “Eles toparam e, quando chegou a noite, na hora e local que nós marcamos para o encontro, vieram com duas juntas de boi. Fizemos os engates do carro nos ilhoses do canhão e os bois saíram com aquele passinho deles, sem barulho nenhum na terra. O carro foi indo, levou o canhão até o local e o colocou bem no lugar onde a gente queria, sem problema algum”, comentou Paiva.

Na noite seguinte, mais uma vez, os alemães dispuseram o carro de combate ou canhão rebocado, para atirar nos brasileiros. Depois do primeiro tiro, os brasileiros responderam com o 57mm. Alguns segundos depois da resposta brasileira, a arma alemã ficou calada. “Tem gente que diz que viu quando a munição traçante entrou no lugar de onde saiu a língua de fogo do tiro do carro. Não sei se ela entrou ou não no canhão do carro – parecia ter entrado ali –, ou então passou muito perto ou bateu no carro. Eu sei que essa foi a última vez que apareceu um carro de combate alemão ali. Nunca mais voltaram para atirar, nunca mais”, completou Paiva.

Segundo Paiva, o tiro foi de longe e ele ficou feliz. “Um sargento de patrulha disse que nós tínhamos atingido um carro alemão. Eu também não sei, porque não vi e acho que dificilmente deveria ver, ainda mais que as peças estavam a uma distância de novecentos metros ou um quilômetro. Isso à noite. Não se pode ter certeza se acertou. Não se pode saber. Aquilo é uma doença que estava dando: fabricar o falso herói. Isso aconteceu muito, mas o fato é que nunca mais esses carros atiraram dali. Sinto muito orgulho disso e não sou modesto o bastante para dizer: não, eu não fiz nada. Negativo. Eu fiz isso e tenho a grande satisfação e orgulho de tê-lo feito”, admitiu o oficialAcertou em cheio, garante Tenente

Paiva já depois da guerra, com suas medalhas militares. Foto do Portal FEB

O Tenente Carlos Augusto de Oliveira Lima, que tinha Paiva como um irmão, conta a versão dele do caso. “A posição era um saliente na linha de contato, penetrando no território inimigo e, praticamente, deixando Monte Castelo atrás de nós. Até a comida chegava de noite. Para nossa sorte havia uma casa bem dentro da nossa linha na qual caváramos uma trincheira para chegar ao porão, onde fazíamos as refeições. Os alemães atiravam com o canhão de carro de combate. Escondidos, podíamos vê-los atirando da região de Pietra Colora, distante uns dois quilômetros de nós e servida por uma auto-estrada. Sabíamos que era um carro de combate que ia lá, de noite, e atirava na gente, fazendo baixas. De dia eles não atiravam, porque estávamos escondidos, seguros, nos abrigos ou atrás da casa. Durante o inverno, usávamos uniformes camuflados, brancos, para a neve, inclusive uma camuflagem para o capacete. Um italiano morador do local levava tiros também, porque ele não saía do lugar, por não ter para onde ir”, explica.Depois da ação com o 57 mm, ele ficou admirado com a precisão do amigo. “Fiquei impressionado. Imaginei como foi difícil, com aquele terreno, todo arado, naquele frio e com chuva. Acredito que para chegar lá em cima ele levou uns dois dias. Colocou a sua peça na contra-encosta, abrigada dos tiros alemães. Anoiteceu, o alemão atirou uma vez – já esperávamos e nos escondemos, mas sempre pegava um ou outro. O Paiva me ligou pelo telefone:

– Como é Carlinhos, está vendo? Carlinhos! Como é que é?!

– Você não tá vendo não?

– Eu estou vendo sim – respondeu ele.

– É lá mesmo, é aquele mesmo, rapaz – disse, confirmando a identificação

do canhão.

– Espera aí que você já vai ver.

Lá pelas tantas o carro de combate alemão atirou. O Paiva fez a pontaria na luz do canhão e respondeu ao fogo – o canhão anticarro tinha mais potência do que o do carro. Foi só um tiro; surgiu um clarão terrível no lugar de onde os alemães atiravam e o carro alemão se calou. O carro de combate alemão nunca mais apareceu. O Paiva permaneceu na posição até o Batalhão sair dali e dormia no Pelotão conosco, abrindo mão do conforto e da segurança da contra-encosta, onde podia até armar uma barraca”.

Fonte: V de Vitória com informações de História Oral do Exército na Segunda Guerra Mundial, Tomo II, p. 141-42 e p. 154-156.

*Paiva faleceu em 11 de agosto de 2005, na capital federal

CONHEÇA OS TRÊS BRASILEIROS MORTOS E ENTERRADOS PELOS ALEMÃES NA II GUERRA

 

CONHEÇA OS TRÊS BRASILEIROS MORTOS E ENTERRADOS PELOS ALEMÃES NA II GUERRA

Depois de a página ter trazido a alegação oficial do Exército Brasileiro de que a história dos “Três de Montese” foi aumentada e falsificada (veja aqui e aqui), houve quem quisesse saber sobre o caso real, documentado e fotografado, que se passou nas proximidades de Precaria, já perto de Soprassasso/Castelnuovo di Vergato. Este é o post de hoje.

Da esquerda para a direita: José Graciliano, Clóvis da Cunha Paes e Aristides José da Silva

O caso

Uma patrulha brasileira foi enviada para estabelecer contato com tropas inimigas, o que na prática era fazer com que os inimigos revelassem suas posições. Eram homens da 5ª Companhia, do II Batalhão, do 1° Regimento de Infantaria. Conforme o capitão Walter de Menezes Paes, que era o oficial de operações do III Batalhão, do 1° Regimento, no contexto em que se deu a patrulha, 23/24 de janeiro de 1945, várias outras frações de soldados foram mandadas para pontos diferentes do dispositivo que o regimento ocupava, todas elas para “fazer os alemães darem as caras”, pois, com o inverno e a neve alta, era pouca a atividade da tropa contrária aos brasileiros.

Segundo Walter, a maioria das patrulhas foi e voltou sem ser hostilizada, pelo menos no batalhão dele. Está no livro “A lenda azul: a atuação do 3º Batalhão do Regimento Sampaio na Campanha da Itália”, obra de 1991. Nos outros batalhões as missões também foram cumpridas dentro do planejado e em algumas os alemães entregaram as posições e foram obrigados a responder as provocações e invasões dos territórios ocupados por eles.

Um desses lugares foi perto de Precaria. Ali, após avançar dentro da suposta “terra de ninguém”, que compreendia as zonas em disputa entre as duas forças conflitantes, os soldados da 5ª Cia foram recebidos a tiros pelos infantes do Reich, sendo que três deles foram mortos e um, justamente o sargento Ignácio Loyola de Freitas Virgolino, que comandava a patrulha, foi ferido e levado prisioneiro pelos alemães, só sendo recuperado no final da guerra, encontrado em Bolonha, em um hospital.Depois do tiroteio, os alemães enterraram os brasileiros e colocaram uma cruz de madeira improvisada em que se lia: 3 tapfere Brasilianer– 24 -01-945 (foto abaixo, com a escrita correta em alemão). Em uma tradução direta, seria: três bravos brasileiros.

Como mostram as fotos de exumação dos cadáveres, tiradas por Horácio Gusmão Coelho, fotógrafo oficial da FEB, em março de 1945, após a FEB ter ultrapassado Castelnuovo di Vergato, os corpos dos soldados estavam praticamente intactos, sendo possível sua identificação apenas pelas fotos dos desaparecidos em combate. Além disso, estavam também com as plaquetas de identificação. Os rostos, os alemães cobriram com as capas de neve que as vítimas usavam. Por conta disso, e do chão congelado, foram preservados.Depois de identificados, foram levados para Pistoia, onde foram enterrados. As mortes foram oficializadas entre 15 e 31 de maio de 1945 e tornadas públicas, por meio da imprensa carioca, em 05 de junho de 1945. Em 1960, foram transladados para o Brasil e hoje estão no Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no Rio de Janeiro/RJ.

Quem eram os homens?

Na Hemeroteca Nacional, a primeira notícia sobre a morte dos Pracinhas apareceu em 11 de setembro de 1956, escrita pelo repórter e ex-combatente, Paulo Vidal. O título da matéria era “Heróis Esquecidos IX”. Nela, Paulo revelou os nomes dos soldados enterrados pelos alemães eram: Aristides José da Silva (Leopoldina/MG), José Graciliano Carneiro da Silva (Recife/PE) e Clóvis da Cunha Paes de Castro (Açaré/CE). Até então a informação não era pública, circulava internamente entre ex-combatentes e no meio militar.

José Graciliano era filho de João Graciliano Carneiro da Silva e de Teresa Jesus Albuquerque e Silva. Ele morava no Bairro Coqueiral, no Recife/PE. Foi enterrado na Quadra B, fileira 8, Sepultura 93 em Pistóia.

Clóvis da Cunha Paes de Castro era de Assaré, no Ceará. Os pais dele eram Arthur Moreira Paes de Castro e Maria José da Cunha. Foi enterrado na Quadra B, fileira 8, Sepultura 91.

Aristides José da Silva estava no Exército desde 1942, morava em Leopoldina, em Minas Gerais. Seus pais eram Antônio José e Inês Francisca, que quando ele foi para a FEB, era viúva. Foi enterrado na Quadra B, fileira 8, Sepultura 94.

A versão de Amiden

Segundo o ex-combatente Jamil Amiden, no livro “Eles não voltaram” (1960, p.89-91), tudo começou na madrugada de 23 de janeiro de 1945, quando chegou uma ordem para que soldados do 1º Regimento de Infantaria partissem em reconhecimento para os lados do morro do Soprassasso. Deveriam alcançar a localidade de Precaria e buscar contato com o inimigo. A ordem foi transmitida pelo 2° Tenente Gervásio Dechamps. O tenente teria pedido voluntários, ao que ninguém se ofereceu. Foi quando ele disse que escolheria e de imediato, alguns homens mudaram de ideia e se apresentaram.

Um dos grupos foi comandado pelo Sargento Virgolino Loyola (Ignácio Loyola de Freitas Virgolino, do Pará). Andaram um bom pedaço e quando chegaram em Precaria, havia vestígios do inimigo, porém,os alemães não estavam ali, tinham se escondido um pouco mais para frente. Quando os brasileiros perceberam, já estavam levando morteiros e rajadas.

O sargento Loyola (Do livro de Jamil Amiden)

Aristides, que estava mais atrás e que Loyola tinha ido buscar para acompanhá-lo lado a lado, foi o primeiro a cair. Avisaram o comando pelo rádio e foi dada a ordem para que avançassem mesmo assim.Os brasileiros viram que os tiros partiam de uma casa e o cabo José Graciliano tentou dar um jeito de chegar até lá, mas quando já estava bem perto, os alemães mandaram uma granada que o matou na hora.

O sargento então mandou todo mundo atirar ao mesmo tempo na casa e no tiroteio pegaram de volta o corpo do Graciliano, colocando-o do lado do de Aristides. Abrigaram-se e ao contar seus homens, Loyola percebeu que faltava o esclarecedor, Clóvis da Cunha, que tinha ido à frente do grupo. Mesmo na confusão, ele escutou Clóvis pedindo socorro e foi até lá. Nisso percebeu que também estava ferido e mesmo assim trouxe o soldado para junto do grupo, porém, ele já chegou morto. Vendo que nem ele mesmo ia conseguir sair dali e que já estava sangrando bastante, Loyola ordenou aos homens que partissem e o deixassem ali com os três mortos.

A ordem foi seguida e mais tarde naquela noite os alemães foram conferir o estrago. Foi quando acharam Loyola ainda respirando e o levaram prisioneiro, tendo enterrado os outros três e colocado a inscrição em alemão. Os corpos foram achados em março, após o avanço brasileiro por sobre Soprassasso/Castelnuovo.

O nome de Aristides foi usado pelos alemães em uma propaganda contra os brasileiros, onde diziam que o fim dos homens da FEB seria a morte, igual aquela do Pracinha da ilustração. (Imagem abaixo)

Nome do Pracinha morto foi usado em propaganda

Além de sair no livro, versão de Amiden também foi publicada na íntegra na edição de natal de 1960, no jornal Diário de Notícias, do Rio de Janeiro.A versão de Vidal

Outra versão, a de Paulo Vidal, do jornal de 1956, é bem próxima da que foi dada por Amiden, que possivelmente deve ter adaptado a história de Paulo com situações mais dramáticas. Conforme Paulo, “um civil italiano tinha procurado um Tenente brasileiro para avisar que ali perto, alemães tinham enterrado três soldados brasileiros”. “Foram verificar o fato e era verdade. Três covas rasas cavadas pelos alemães, contendo os corpos dos três soldados brasileiros”, escreveu ele no Tribuna da Imprensa, em 1956.

Imagem integral da cruz, que ilustrou a matéria de Vidal

Segundo Vidal, a patrulha já havia ultrapassado as linhas alemãs, quando foi pressentida e recebeu os primeiros impactos. O repórter também escreveu que eles conseguiram pedir apoio de artilharia, e que no meio da confusão, o grupo acabou se dispersando, tornando-se alvo fácil para os alemães. Um soldado de apelido “Português” teria socorrido o sargento Virgolino, alvejado com uma rajada de metralhadora na altura do peito. Nesse momento foi que o sargento mandou que todos recuassem e o deixassem ali.

Depois que os corpos foram encontrados, o comando do Regimento foi informado do ocorrido, mas segundo Paulo pressupõe, não deu muita atenção ao fato. “Acreditamos que mesmo nos arquivos da FEB não se pode esclarecer muito a respeito desse episódio – o que demonstra à sociedade, uma pelo menos má vontade (não se sabe de quem) em relação às coisas da FEB”.O repórter revelou ainda que os três foram promovidos pós mortem em 29/06/1945. “Ninguém sabe ao certo o que fizeram os três soldados que foram enterrados pelos alemães. É possível que o cabo Graciliano – um pernambucano de Recife – vendo-se perdido, reuniu os dois soldados, Clóvis e Aristides, resolvendo com eles vender caro a vida”, acrescenta Paulo.

O sargento Loyola depois da guerra, com a filha. Do Diário de Notícias

A mesma versão saiu em 20 de dezembro de 1960 no Tribuna da Imprensa e em de 05 de setembro de 1970, no “Correio da Manhã”. Em ambas, os editores dos jornais mudaram apenas uma palavra ou outra, porém, mais de 95% do texto se repetiu.

Versão do Exército BrasileiroA versão oficial do Exército Brasileiro, em sua página de notícias, em texto datado de 30 de abril de 2018, ainda que sem citar qualquer fonte, descreve o que aconteceu em Precaria da seguinte maneira:

Monumento em Precaria. Foto da Aditância do Exército do Brasil na Itália

“Poucas centenas de metros adiante, encontra-se a localidade de Precaria, palco de um dos eventos mais emblemáticos da trajetória da FEB na Itália. A região também estava na rota rumo à conquista de Castelnuovo e no itinerário de um Grupo de Combate do 1º Regimento de Infantaria, composto por nove homens. No deslocamento, os brasileiros foram atacados por tropas alemãs. O Cabo José Graciliano Carneiro da Silva e os Soldados Clóvis da Cunha Paes e Castro e Aristides José da Silva guarneceram o retraimento dos companheiros. Eles resistiram até o fim com seus próprios meios ao fogo de armas automáticas e granadas de morteiro. A tenacidade do trio foi reconhecida pelos adversários, que, de maneira incomum, sepultou os Pracinhas em uma cova simples, sob uma cruz com a inscrição ‘3 Tapfere – Brasil – 24/1/45’ (3 Bravos do Brasil)”.

A inscrição na cruz, na versão do Exército, foi erroneamente modificada e traduzida, como mostra a foto no começos deste texto. Como dito anteriormente, o Exército não apresentou fontes para as afirmações que publicou.Confirmação

O observador avançado do 6º Regimento de Infantaria, Newton A. Mello, anotou o fato no diário dele e confirmou que os três corpos foram encontrados enterrados, juntos, em Precaria. “Deverão ter sido realmente épicos dos seus feitos. Aquela sepultura simbolizará, séculos a fora, a bravura dos filhos do Brasil”, publicou na obra “Meu Diário de Guerra”, p. 171.

Já o comandante da Cia de Obuses do 6º Regimento, Domingos Pinto Ventura, também confirmou o achado dos corpos e acrescentou que “o sargento Virgolino foi levado pelos alemães, que o trataram e o curaram, tendo sido entregue ao comando brasileiro no dia do cerco das divisões inimigas, a 29 de abril de 1945”. Segundo ele, os homens mortos eram da 5ª Cia do 1º Regimento de Infantaria. A missão do grupo era sair de Torre di Nerone e estabelecer contato com os alemães pela Cota 720, justamente um dos pontos mais guarnecidos pelos tedescos (Livro “Minha Vida”, p.72)

Reconhecimento tardio

Em 19 de junho de 2012, 67 anos depois, autoridades brasileiras e italianas homenagearam os três soldados do 1º Regimento com um pequeno monumento em Precaria. Ao contrário dos três de Montese que tiveram os relatos de morte modificados para uma versão fictícia, não houve músicas e nem séries para homenagear os dois nordestinos e o mineiro mortos naquela refrega.

Foto da inauguração do monumento em 2012. Monumento em Precaria. Foto da Aditância do Exército do Brasil na Itália

A foto abaixo é da exumação dos corpos dos três. Temos outras em que é possível identificar os mortos pelos rostos, no entanto, preferimos não colocar as imagens por serem fortes e por respeito à memória dos três.

Esta é a foto da exumação dos corpos em Precaria. Os sacos brancos fechados são os soldados

Agora o monumento faz parte da rota da FEB na Itália e é visitado por turistas e autoridades regularmente. O sargento Loyola morreu em 07 de março de 1966.

Fotos das comemorações no monumento em 2018. Foto da Aditância do Exército do Brasil na Itália