quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Curitiba e o Brasil em 1913: Um Retrospecto Através de Anúncios, Caricaturas e Sonhos

 Curitiba e o Brasil em 1913: Um Retrospecto Através de Anúncios, Caricaturas e Sonhos



Curitiba e o Brasil em 1913: Um Retrospecto Através de Anúncios, Caricaturas e Sonhos

Imagine-se em 1913. O mundo ainda não tinha vivido a Primeira Guerra Mundial, o automóvel era um luxo, e o cinema estava apenas começando a encantar as multidões. No Brasil, a República era jovem, e Curitiba, embora pequena, já sonhava em ser uma cidade moderna.

As páginas de jornal da época — como as que você compartilhou — são verdadeiros tesouros históricos. Elas nos mostram como as pessoas pensavam, o que compravam, quais eram seus medos e desejos, e até como se divertiam.

Neste artigo, vamos mergulhar nesse universo fascinante, explorando anúncios de “Talisman de Vênus”, caricaturas políticas, publicidade de charutos cubanos e piadas sociais que revelam muito sobre a mentalidade da época.


O Talisman de Vênus: Magia, Amor e Superstição em 1913

O anúncio mais intrigante é o do “Talisman de Vênus”, vendido pela empresa Soares & Comp., na Rua 8 de Janeiro, 118, no Rio de Janeiro.

  • O que era? Um amuleto mágico, prometido para trazer felicidade, amor, prosperidade e proteção contra infortúnios.
  • Para quem? Para homens e mulheres que “precisam recuperar o seu bem-querer”, ou que “sofrem por amores não correspondidos”.
  • O preço? 30$000 (trinta mil réis) — um valor considerável para a época, equivalente a várias semanas de salário de um operário.

O anúncio é repleto de linguagem emocional e supersticiosa:

“Homens, mulheres, crianças podem recuperar o seu bem-querer...”
“Emprega o Talisman de Vênus. Com eles poderá também facilitar caçamentos difíceis, reconciliações, obtenção de empregos, resolver favoravelmente as dificuldades da vida, etc.”

Isso nos mostra que, mesmo em pleno século XX, a crença em magia, sorte e amuletos era parte integrante da vida cotidiana. O Talisman de Vênus era, na verdade, um produto de consumo emocional — vendia esperança, segurança e controle sobre o destino.


Caricaturas e Piadas Sociais: O Humor dos Anos 1910

As caricaturas e charges da época são uma fonte valiosa para entender a cultura popular. Duas delas se destacam:

“Entre primos”

Uma charge mostra uma cena de flerte entre primos, com diálogos cheios de malícia e ironia:

— Olha, prima, eu queria te pedir uma coisa...
— Diga...
— Queria que me emprestasse duas bochechas para ir ao cinema.

A piada é leve, mas revela muito: o cinema já era um espaço de encontros românticos, e o flerte familiar era um tema comum na cultura popular. A charge também mostra que o humor da época era sutil, baseado em jogos de palavras e situações cotidianas.

“O Ideal do Canuto”

Outra charge, intitulada “O Ideal do Canuto”, retrata um homem elegante, de bigode e chapéu, que sonha em ser médico, engenheiro, militar ou advogado — mas, na realidade, só quer ser “sócio de um clube de futebol”.

— Não, também, o que eu sou é só sócio...
— Homem, não tenho nem um fado para o clube...

Essa charge é uma crítica mordaz à sociedade da época, onde muitos homens se orgulhavam de pertencer a clubes exclusivos, mesmo sem ter qualificação profissional. O “Canuto” é o símbolo do homem que vive de aparências, que sonha com status, mas não tem compromisso com o trabalho ou com o mérito.


Cigarros Semilla de Havana: Luxo, Elegância e Exibicionismo

O anúncio dos Cigarros Semilla de Havana, da marca Vezado, é um retrato perfeito da cultura de consumo da elite brasileira.

  • O que era? Charutos cubanos de alta qualidade, premiados em exposições internacionais (Nacional de 1908, Bruxelas 1910 e Turim 1911).
  • A imagem: Uma mulher elegante, vestida com roupas da moda, fumando um charuto com ar de sofisticação. O fundo circular dá um toque artístico, quase cinematográfico, à composição.

Esse anúncio não vende apenas charutos; vende estilo de vida. Fumar um charuto cubano era sinônimo de refinamento, de pertencimento a uma classe social elevada. A mulher na imagem, longe de ser passiva, é ativa, confiante, desafiadora — uma representação da “nova mulher” que estava emergindo na sociedade urbana.


K. Lunas e “O Pitóco”: A Crítica Política em Forma de Caricatura

A caricatura de O Pitóco, assinada por K. Mello, é uma das mais interessantes da coleção. O personagem, com seu chapéu, bigode e guarda-chuva, representa o político típico da época — corrupto, hipócrita, sempre pronto para se aproveitar do poder.

“Com os bons jornalistas com que dá o curaço, / O Pitóco metido em seu palácio / Tem o aspecto grotesco de um boneco, / Marcando com topetes de macaco.”

O texto é uma sátira mordaz, criticando a política corrupta e o comportamento dos políticos que se beneficiavam do sistema sem se importar com o povo. O “Pitóco” é o símbolo da decadência moral, do homem que usa o poder para enriquecer, enquanto a população sofre.

Essa caricatura é importante porque mostra que, mesmo em 1913, havia uma consciência crítica da política brasileira. O humor e a sátira eram ferramentas poderosas para denunciar abusos e exigir mudanças.


Por Que Isso Importa Hoje?

Estudar 1913 não é apenas um exercício de nostalgia. É entender como o Brasil e Curitiba se tornaram o que são hoje.

  • Os anúncios de talismãs e charutos mostram que o consumo emocional e o desejo de status já existiam há mais de um século.
  • As caricaturas e charges revelam que a crítica social e política sempre foi parte da cultura brasileira.
  • O cinema, o futebol e a moda eram temas centrais na vida cotidiana, assim como são hoje.

E, acima de tudo, essas páginas nos lembram que a história não é feita apenas por grandes homens ou eventos políticos — ela é feita por pessoas comuns, por comerciantes, por artistas, por leitores de jornal, que, todos os dias, construíam o futuro.


Conclusão

Curitiba e o Brasil em 1913 eram uma mistura de tradição e modernidade, de superstição e racionalidade, de sonho e crítica. Esses anúncios, caricaturas e charges são mais do que simples registros — são testemunhos de uma época de transformações profundas.

Se você gostou deste mergulho no passado, compartilhe com quem ama história, com quem tem raízes na cidade, ou com quem simplesmente curte entender como o mundo mudou — e como algumas coisas permanecem as mesmas.

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