Zacharias de Paula Xavier Filho e Eduardo Fernando Chaves: Projetista – Um olhar sobre a arquitetura residencial curitibana de 1917
Introdução
A história da arquitetura residencial de Curitiba, no início do século XX, reflete as transformações urbanas, sociais e econômicas que moldaram a capital paranaense. Nesse contexto, o Projecto de Casa para o Snr. Zacharias de Paula Xavier Filho, elaborado pelo projetista Eduardo Fernando Chaves em 17 de fevereiro de 1917, emerge como um documento histórico e técnico singular. Registrado sob o Alvará de Construção nº 849/1917, nos talões 129 e 130, o projeto foi destinado a uma residência de pequeno porte na Rua Voluntários da Pátria — via emblemática do centro de Curitiba. Apesar de já ter sido demolido em 2012, o projeto permanece como testemunho do modo de habitar e construir na cidade na primeira metade do século passado.
O Projetista: Eduardo Fernando Chaves
Embora pouco documentado em fontes biográficas extensas, Eduardo Fernando Chaves figura nos arquivos do Arquivo Público Municipal de Curitiba como um dos profissionais atuantes na elaboração de projetos arquitetônicos na década de 1910. Seu trabalho, como o de muitos “projetistas” da época — termo utilizado antes da profissionalização plena da arquitetura no Brasil — revela uma combinação de senso estético, conhecimento técnico e adaptação às demandas da burguesia urbana emergente.
Chaves operava em um período em que a arquitetura ainda não era regulamentada por conselhos profissionais (o primeiro curso de Arquitetura no Brasil data de 1930, na Universidade Mackenzie, em São Paulo), e muitos projetos eram desenvolvidos por engenheiros, construtores ou desenhistas com formação empírica. Sua prancha para Zacharias de Paula Xavier Filho demonstra domínio de convenções projetuais da época, com clareza nas plantas, fachadas e cortes — elementos essenciais para a aprovação municipal e execução da obra.
O Cliente: Zacharias de Paula Xavier Filho
Zacharias de Paula Xavier Filho aparece nos registros municipais como um cidadão curitibano que encomendou a construção de sua residência em um dos bairros mais consolidados da cidade no início do século XX. A Rua Voluntários da Pátria, situada no entorno do centro histórico, era — e ainda é — uma via de prestígio, frequentemente escolhida por famílias de classe média alta para a implantação de suas moradias.
Embora não existam registros públicos detalhados sobre sua vida pessoal ou atividades profissionais, o fato de ter contratado um projetista e obtido alvará de construção sugere uma posição social estável, compatível com os proprietários urbanos que moldaram o tecido residencial de Curitiba durante a Primeira República.
Descrição Técnica do Projeto
Denominação inicial: Projecto de Casa para o Snr. Zacharias de Paula Xavier Filho
Denominação atual: Residência de Pequeno Porte – Zacharias de Paula Xavier Filho
Categoria de uso: Residencial
Subcategoria: Residência de Pequeno Porte
Endereço: Rua Voluntários da Pátria, Curitiba – PR
Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 160,00 m²
Área total construída: 160,00 m²
Técnica/Material construtivo: Alvenaria de tijolos
Data do projeto arquitetônico: 17 de fevereiro de 1917
Alvará de construção: Talões nº 129 e 130; nº 849/1917
Situação em 2012: Demolido
O projeto original, preservado em microfilme digitalizado no Arquivo Público Municipal de Curitiba, compõe-se de uma prancha contendo:
- Planta do pavimento térreo, com distribuição funcional típica da época: salas de estar e jantar integradas, três quartos, copa, cozinha, área de serviço e sanitários;
- Fachada frontal, de traços simétricos e ornamentação modesta, com aberturas alinhadas e beiral saliente — características comuns nas residências de inspiração eclética ou neocolonial;
- Corte arquitetônico, que revela a altura dos cômodos, a estrutura de telhado de duas águas e a ausência de subsolo ou sótão, coerente com a simplicidade funcional da edificação.
A escolha da alvenaria de tijolos como sistema construtivo era dominante na época, combinando durabilidade, disponibilidade local do material e facilidade de execução por mão de obra especializada já estabelecida na cidade.
Contexto Urbanístico e Arquitetônico
Em 1917, Curitiba vivia um intenso processo de modernização urbana. A cidade expandia-se além do perímetro central, e o poder público incentivava a construção de habitações regulares, com alinhamento de fachadas e infraestrutura básica. A Rua Voluntários da Pátria, nomeada em homenagem aos soldados da Guerra do Paraguai, era um dos principais eixos de expansão residencial da elite e da classe média urbana.
O projeto de Chaves insere-se em um modelo tipológico comum à época: casas térreas, de planta simples, mas com hierarquia espacial clara — áreas sociais voltadas para a frente e serviços na parte posterior. A área de 160 m² indicava conforto acima da média para a época, ainda que sem ostentação. A ausência de garagem, por exemplo, reflete o contexto pré-automotivo da cidade, quando o transporte era majoritariamente feito a pé, de bonde ou em veículos puxados por animais.
Preservação e Memória
Embora o edifício tenha sido demolido em 2012 — provavelmente em função da pressão imobiliária no centro de Curitiba ou do estado de conservação da estrutura —, seu projeto arquitetônico permanece como fonte valiosa para historiadores, arquitetos e urbanistas. O microfilme preservado no Arquivo Público Municipal garante a continuidade da memória construtiva da cidade, possibilitando estudos comparativos, reconstruções virtuais ou análises tipológicas.
A demolição de edificações históricas de pequeno porte, como esta, representa uma perda significativa para o entendimento da evolução do cotidiano urbano. Enquanto as grandes mansões e palacetes costumam receber atenção preservacionista, as residências modestas — que compunham a maior parte do tecido urbano — são frequentemente negligenciadas, apesar de seu valor representativo.
Conclusão
O Projecto de Casa para o Snr. Zacharias de Paula Xavier Filho, assinado por Eduardo Fernando Chaves em 1917, é mais do que um simples documento técnico: é um fragmento da vida curitibana do início do século XX. Ele revela hábitos, aspirações e limites materiais de uma sociedade em transição entre o mundo rural e o urbano, entre o artesanal e o moderno.
A obra de Chaves, ainda que discreta, contribuiu para a conformação do espaço doméstico na Curitiba da Primeira República. A preservação de registros como esse — mesmo na ausência do edifício físico — é essencial para manter viva a memória arquitetônica da cidade e honrar o trabalho de profissionais que, com régua e prancheta, ajudaram a desenhar o rosto de Curitiba.
Referências
CHAVES, Eduardo Fernando. Projecto de Casa para o Snr. Zacharias de Paula Xavier Filho à Rua Voluntários da Pátria. Planta do pavimento térreo, fachada frontal e corte apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado. Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba.
Arquivo Público Municipal de Curitiba. Coleção de Projetos Arquitetônicos – Período 1900–1930. Curitiba, PR.
REIS FILHO, Nestor Goulart. Contribuição para os estudos da evolução urbana no Brasil (1500–1900). São Paulo: FAU-USP, 1982.
SCHMIDT, Maria Luiza. Habitar Curitiba: transformações no espaço doméstico (1850–1950). Curitiba: Editora UFPR, 2007.
Eduardo Fernando Chaves: Projetista
Denominação inicial: Projecto de Casa para o Snr. Zacharias de Paula Xavier Filho
Denominação atual:
Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Pequeno Porte
Endereço: Rua Voluntários da Pátria
Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 160,00 m²
Área Total: 160,00 m²
Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos
Data do Projeto Arquitetônico: 17/02/1917
Alvará de Construção: Talões Nº 129 e 130; Nº 849/1917
Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de uma casa.
Situação em 2012: Demolido
Imagens
1 - Projeto Arquitetônico.
Referências:
CHAVES, Eduardo Fernando. Projecto de Casa para o Snr. Zacharias de Paula Xavier Filho à Rua Voluntários da Pátria. Planta do pavimento térreo, fachada frontal e corte apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
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