quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Octavio Montezano e Eduardo Fernando Chaves: Um Projeto de Residência de Médio Porte na Curitiba de 1917

 Octavio Montezano e Eduardo Fernando Chaves: Um Projeto de Residência de Médio Porte na Curitiba de 1917


Introdução

A Curitiba do início do século XX vivia um momento de intensa transformação urbana, cultural e econômica. A cidade, então em plena consolidação como centro administrativo e comercial do Paraná, via emergir uma nova elite urbana — formada por comerciantes, industriais, profissionais liberais e funcionários públicos — que demandava moradias que combinassem conforto, distinção e modernidade. Nesse contexto, o Projecto de Casa para o Snr. Octavio Montezano, elaborado pelo projetista Eduardo Fernando Chaves em 19 de abril de 1917, representa um exemplo expressivo da arquitetura residencial de médio porte da época.

Localizada na Avenida Vicente Machado — uma das vias mais prestigiadas do centro de Curitiba —, a residência projetada por Chaves destacava-se não apenas por seu porte, mas também por sua complexidade técnica e riqueza espacial. Embora o edifício tenha sido demolido em 2012, seu projeto arquitetônico, preservado em microfilme no Arquivo Público Municipal de Curitiba, permanece como uma importante fonte documental para o estudo da habitação urbana na capital paranaense durante a Primeira República.


O Projetista: Eduardo Fernando Chaves

Eduardo Fernando Chaves, figura recorrente nos registros arquitetônicos de Curitiba na década de 1910, atuava como “projetista” — denominação comum na época para profissionais que desenhavam edificações antes da regulamentação da profissão de arquiteto no Brasil. Seus trabalhos revelam rigor técnico, sensibilidade compositiva e adaptação às normas municipais vigentes.

O projeto para Octavio Montezano demonstra sua habilidade em lidar com programas arquitetônicos mais elaborados, especialmente em construções de dois pavimentos, que exigiam maior domínio de estrutura, circulação vertical e articulação espacial. A prancha assinada por Chaves inclui plantas do térreo e do porão, além de fachada frontal, cortes, planta de implantação e planta de situação — um conjunto raro de detalhamento para a época, que indica tanto a importância do cliente quanto o cuidado do autor com a clareza do projeto.


O Cliente: Octavio Montezano

Pouco se sabe publicamente sobre a trajetória pessoal de Octavio Montezano, mas sua escolha por uma residência de dois pavimentos em uma avenida central sugere que pertencia à elite econômica ou profissional da cidade. A Avenida Vicente Machado, historicamente associada a residências de prestígio, sedes de clubes e instituições culturais, era um endereço de distinção social.

O fato de ter encomendado um projeto completo — incluindo porão, algo incomum em residências modestas — indica não apenas capacidade financeira, mas também uma visão moderna sobre o uso do espaço doméstico. O porão poderia abrigar dependências de serviço, depósito, adega ou até espaços de lazer, refletindo influências europeias na concepção da casa burguesa.


Descrição Técnica do Projeto

Denominação inicial: Projecto de Casa para o Snr. Octavio Montezano
Denominação atual: Residência de Médio Porte – Octavio Montezano
Categoria de uso: Residencial
Subcategoria: Residência de Médio Porte
Endereço: Avenida Vicente Machado, Curitiba – PR
Número de pavimentos: 2 (incluindo porão)
Área do pavimento: 360,00 m²
Área total construída: 360,00 m² (possivelmente referente à área do pavimento principal, já que o porão não era computado na área total na época)
Técnica/Material construtivo: Alvenaria de tijolos
Data do projeto arquitetônico: 19 de abril de 1917
Alvará de construção: Talão nº 227; nº 1136/1917
Situação em 2012: Demolido

A prancha original, conservada em microfilme digitalizado, contém:

  • Planta do pavimento térreo, com salas de visita e jantar, escritório, copa, cozinha, área de serviço e sanitários, organizados com clara hierarquia funcional;
  • Planta do porão, espaço técnico e de apoio, raramente documentado em projetos residenciais da época;
  • Fachada frontal, com proporções equilibradas, aberturas simétricas, detalhes em molduras de janelas e cornijas, sugerindo influências do ecletismo tardio;
  • Cortes arquitetônicos, que revelam a estrutura de laje intermediária, altura dos pé-direitos e inclinação do telhado;
  • Planta de implantação e planta de situação, demonstrando o alinhamento com a via pública, recuos laterais e fundos, e a relação com o lote urbano.

A área de 360 m² (provavelmente referente ao pavimento nobre) posiciona esta residência claramente acima da média das casas da época, que raramente ultrapassavam 200 m². A construção em alvenaria de tijolos era o padrão de qualidade, oferecendo durabilidade, isolamento térmico e acústico, além de permitir acabamentos refinados em argamassa e estuque.


Contexto Urbanístico e Arquitetônico

Em 1917, a Avenida Vicente Machado já era um corredor urbano consolidado, com edificações de caráter residencial e institucional. A via homenageava um dos principais políticos paranaenses do século XIX e era frequentemente escolhida por famílias abastadas para a construção de suas moradias.

O projeto de Chaves insere-se na tradição da casa urbana eclética, comum em capitais brasileiras entre 1890 e 1930. Embora não apresente ornamentos exuberantes como os dos palacetes da Rua Riachuelo ou Marechal Deodoro, sua composição formal demonstra equilíbrio, simetria e modulação cuidadosa das aberturas — elementos-chave da estética burguesa da época.

A presença de dois pavimentos (térreo e sobreloja, ou “primeiro andar”) era um privilégio, pois implicava maior custo construtivo e exigia soluções estruturais mais complexas, especialmente em uma época sem concreto armado generalizado. O porão, por sua vez, era uma característica frequentemente associada a influências europeias, especialmente francesas e italianas, que valorizavam o subsolo para funções secundárias.


Memória e Perda Patrimonial

A demolição da residência em 2012 — provavelmente para dar lugar a um empreendimento imobiliário contemporâneo — representa uma perda significativa para o patrimônio arquitetônico de Curitiba. Embora não tenha sido tombada, a edificação era um exemplar representativo da produção residencial de médio porte na primeira metade do século XX, distinta das grandes mansões, mas igualmente reveladora do modo de vida da classe média alta da época.

Felizmente, o projeto original foi preservado no Arquivo Público Municipal de Curitiba, garantindo que sua memória não se perca totalmente. Esse tipo de registro é essencial para estudos acadêmicos, reconstruções históricas e políticas de memória urbana que buscam compreender a evolução do espaço doméstico na cidade.


Conclusão

O Projecto de Casa para o Snr. Octavio Montezano, assinado por Eduardo Fernando Chaves em abril de 1917, é um testemunho eloquente da sofisticação e ambição da arquitetura residencial curitibana na virada do século. Mais do que um simples abrigo, a residência projetada para a Avenida Vicente Machado era um símbolo de status, modernidade e identidade social.

A obra de Chaves, marcada por clareza técnica e sensibilidade espacial, contribuiu para a conformação de um ambiente urbano que equilibrava tradição e progresso. Embora o edifício físico já não exista, seu legado permanece nos arquivos — como um convite à reflexão sobre o que preservamos, o que esquecemos e o que ainda podemos resgatar da história construída de Curitiba.


Referências

CHAVES, Eduardo Fernando. Projecto de Casa para o Snr. Octavio Montezano. Plantas do pavimento térreo, do porão, de implantação e de situação, cortes e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado. Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba.

Arquivo Público Municipal de Curitiba. Coleção de Projetos Arquitetônicos – Período 1900–1930. Curitiba, PR.

SCHMIDT, Maria Luiza. Habitar Curitiba: transformações no espaço doméstico (1850–1950). Curitiba: Editora UFPR, 2007.

REIS FILHO, Nestor Goulart. Formação do espaço urbano no Brasil (1500–1900). São Paulo: FAU-USP, 1982.

MACHADO, Lucia Helena. Arquitetura e urbanismo em Curitiba: tradição e ruptura. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, 1993.

Eduardo Fernando Chaves: Projetista

Denominação inicial: Projecto de Casa para o Snr. Octavio Montezano

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Médio Porte

Endereço: Avenida Vicente Machado

Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 360,00 m²
Área Total: 360,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 19/04/1917

Alvará de Construção: Talão Nº 227; N° 1136/1917

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de uma residência.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.

Referências: 

CHAVES, Eduardo Fernando. Projecto de Casa para o Snr. Octavio Montezano. Plantas do pavimento térreo, do porão, de implantação e de situação, cortes e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba.

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