quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

A Casa que Não Mais Existe: O Bangalô de Orestes Comandulli e a Assinatura de Eduardo Fernando Chaves

 Eduardo Fernando Chaves:  Arquiteto

Denominação inicial: Projéto de Bungalow para o Snr. Orestes Comandulli

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Pequeno Porte

Endereço: Alameda D. Isabel

Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 135,00 m²
Área Total: 135,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 03/08/1934

Alvará de Construção: Nº 690/1934

Descrição: Projeto arquitetônico para construção de bangalô e Alvará de Construção.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.

Referências: 

1 – CHAVES, Eduardo Fernandes. Projéto de Bungalow. Planta do pavimento térreo e implantação; corte e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 - Alvará n.º 690

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

A Casa que Não Mais Existe: O Bangalô de Orestes Comandulli e a Assinatura de Eduardo Fernando Chaves

Em uma Curitiba ainda em pleno florescimento arquitetônico dos anos 1930 — marcada pela transição entre o ecletismo e as primeiras influências modernistas — ergueu-se, por breve tempo, uma residência singela, porém significativa: o bangalô projetado para o senhor Orestes Comandulli, localizado na elegante Alameda D. Isabel. Embora hoje demolido, o edifício sobrevive na memória dos arquivos públicos e na precisão técnica de seu criador: o arquiteto Eduardo Fernando Chaves.


Um Projeto Datado: 3 de Agosto de 1934

No verão de 1934, Eduardo Fernando Chaves entregava ao cliente Orestes Comandulli um projeto arquitetônico meticuloso: uma residência unifamiliar de pequeno porte, assinada com a elegância discreta que caracterizava muitas de suas obras. Com apenas um pavimento e 135,00 m² de área construída, o bangalô destacava-se não pelo tamanho, mas pela clareza funcional, proporção harmônica e sensibilidade ao contexto urbano.

Construído em alvenaria de tijolos — técnica dominante na época, que garantia solidez e durabilidade —, o imóvel representava um modelo residencial em ascensão na capital paranaense: a casa térrea, integrada ao jardim, com fachada modesta, porém bem resolvida, típica do estilo bangalô inspirado nas moradias anglo-coloniais.

O projeto, preservado em microfilme no Arquivo Público Municipal de Curitiba, incluía planta baixa, corte e fachada frontal em uma única prancha — demonstrando a síntese gráfica e técnica do arquiteto. A implantação na Alameda D. Isabel, via arborizada e residencial por excelência, reforçava o caráter burguês e familiar da construção.


Orestes Comandulli: O Homem por Trás da Casa

Embora os registros históricos não detalhem a vida de Orestes Comandulli, seu nome associado a uma residência na Alameda D. Isabel sugere um cidadão de certa estabilidade econômica — talvez comerciante, profissional liberal ou funcionário público. Escolher um arquiteto como Eduardo Fernando Chaves para projetar sua casa indicava, além de recursos, um senso estético apurado e valorização do espaço doméstico como expressão de identidade.

Ao encomendar um bangalô — modelo menos comum que as casas ecléticas com torres ou varandas elaboradas —, Comandulli demonstrava uma preferência por simplicidade, funcionalidade e modernidade, ainda que contida. Sua residência era, portanto, um reflexo silencioso de seus valores: pragmáticos, familiares, mas atentos à estética do seu tempo.


Eduardo Fernando Chaves: Arquiteto da Cidade em Transformação

Figura atuante na cena arquitetônica curitibana das primeiras décadas do século XX, Eduardo Fernando Chaves foi um dos profissionais que ajudaram a moldar o tecido urbano residencial da capital. Seus projetos, embora muitas vezes modestos em escala, revelavam domínio técnico, respeito ao contexto e atenção aos detalhes construtivos.

O bangalô para Orestes Comandulli é um exemplo típico de sua produção: sem pretensões monumentais, mas com clareza espacial e integração urbana. Num período em que Curitiba ainda carecia de regulamentação urbanística rigorosa, arquitetos como Chaves desempenhavam papel fundamental na qualificação do espaço privado e na formação da paisagem residencial.


Desaparecimento Silencioso: A Demolição em 2012

Infelizmente, como tantas outras edificações do período entre-guerras, o bangalô da Alameda D. Isabel não resistiu à pressão imobiliária e às transformações urbanas do século XXI. Em 2012, foi demolido, cedendo lugar, provavelmente, a um empreendimento vertical ou a uma reforma total do lote.

Sua ausência física é um lembrete doloroso da fragilidade da memória construída — sobretudo quando não há proteção legal ou reconhecimento patrimonial. Restam, porém, os documentos: o projeto arquitetônico e o Alvará de Construção nº 690/1934, guardados no Arquivo Público Municipal de Curitiba, testemunhas mudas de uma era em que cada casa contava uma história de vida, ofício e pertencimento.


Um Legado em Papel

Embora os tijolos tenham desaparecido, a assinatura de Eduardo Fernando Chaves e o nome de Orestes Comandulli permanecem vinculados na história da arquitetura residencial de Curitiba. Esta pequena casa, de 135 m², não era apenas um teto — era um manifesto de vida modesta, bem vivida.

Hoje, ao caminhar pela Alameda D. Isabel, ninguém mais encontra o bangalô. Mas nos arquivos, nas linhas de tinta de uma prancha amarelada, ele ainda existe — não como ruína, mas como ideia pura de lar.

"Nem toda arquitetura precisa permanecer de pé para ser eterna. Algumas casas vivem mais intensamente na memória do que na pedra."


Referências documentais:

  1. CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de Bungalow para o Snr. Orestes Comandulli. Planta, corte e fachada. Microfilme digitalizado. Arquivo Público Municipal de Curitiba.
  2. Alvará de Construção nº 690/1934. Acervo da Prefeitura Municipal de Curitiba.

Situação atual: Demolido (2012)
Localização histórica: Alameda D. Isabel, Curitiba – PR
Projeto: 03 de agosto de 1934
Arquiteto: Eduardo Fernando Chaves
Proprietário: Orestes Comandulli


Nenhum comentário:

Postar um comentário