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quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Curitiba em 1913: Medicina, Comércio, Literatura e Humor em Documentos Raros

 

Curitiba em 1913: Medicina, Comércio, Literatura e Humor em Documentos Raros

Curitiba em 1913: Medicina, Comércio, Literatura e Humor em Documentos Raros

O ano de 1913 marcou uma fase de consolidação institucional e modernização urbana em Curitiba. A cidade, ainda distante do ritmo acelerado das metrópoles do Sudeste, vivia um crescimento moderado, impulsionado pela imigração europeia, pelo desenvolvimento da agricultura e pela expansão dos serviços urbanos. Os documentos aqui apresentados — provavelmente extraídos de um jornal local — oferecem um retrato vívido da vida cotidiana, da estrutura médica, do comércio, da literatura e do humor da época.

A seguir, análise detalhada de cada página.


Página 1: “Médicos” — A Estrutura Médica em Curitiba em 1913

A primeira página é dedicada a uma lista de médicos atuantes em Curitiba, organizada em colunas e assinada por um símbolo médico (uma estrela de seis pontas).

Detalhes Textuais:

  • Lista de 24 médicos, com nomes, especialidades (quando mencionadas) e endereços.
  • Exemplos:
    • Dr. Franco Carisi: Residência na Rua Marechal Floriano, n. 5;
    • Dr. E. Espindola: Residência na Rua Marechal Deodoro, n. 6;
    • Dr. Jorge Meyer: Residência na Rua Marechal Deodoro, n. 27;
    • Dr. Pedro Almeida: Clínica particular na Rua Marechal Floriano, n. 10;
    • Dr. J. Pereira: Residência na Rua Marechal Floriano, n. 18.

Contexto Histórico da Medicina:

  • Em 1913, a medicina no Brasil ainda estava em processo de profissionalização — muitos médicos eram formados no Rio de Janeiro ou em universidades europeias.
  • A presença de médicos com sobrenomes italianos, alemães e portugueses reflete a diversidade étnica da elite curitibana.
  • A maioria dos médicos tinha consultórios particulares — indicando que a assistência médica era privada e acessível apenas à classe média e alta.
  • O uso de títulos como “Dr.” era comum e conferia prestígio social — muitos médicos também atuavam em funções públicas ou políticas.

Análise Visual:

  • Layout simétrico, com bordas decorativas e fontes serifadas — típico do design gráfico da primeira década do século XX.
  • Uso de colunas para organizar os dados — facilitando a leitura e a consulta.
  • O símbolo médico no canto superior direito reforça a seriedade e a legitimidade da lista.

Página 2: “Kopp & Filhos” — Joalheria Tradicional desde 1879

O segundo anúncio é da Casa Kopp & Filhos, joalheria fundada em 1879, localizada na Rua S. Francisco, 27, em Curitiba.

Detalhes Textuais:

  • O texto destaca: “Com o maior sortimento nesta capital de: Joias, Bijouteria e Prataria — Relógios, Óculos e Pence-nez”.
  • Frase de impacto: “Bellissimo sortimento de brilhantes Sem defeito” — apelando à qualidade e à confiança.
  • Oferece: “Relógios de algaroba de 48 para cima — Relógios despertadores de 58 para cima — Relógios de ouro para senhoras de 208 para cima.”
  • Também compra: “ouro, brilhantes e prata velha” — indicando que a loja atuava no mercado de segunda mão.
  • Slogan final: “Preços sem competencia” — sugerindo preços competitivos.

Contexto Econômico e Social:

  • Em 1913, a joalheria era um setor de prestígio — associado ao status social e à riqueza.
  • A fundação da loja em 1879 indica que era uma das mais antigas da cidade — com tradição e confiança.
  • O nome “Kopp” sugere origem alemã — comum entre comerciantes curitibanos da época.
  • A menção a “pence-nez” (óculos de nariz) revela que a loja atendia a um público sofisticado — consumidores que valorizavam acessórios de moda e utilidade.

Análise Visual:

  • Design ornamental, com ilustrações de joias, relógios e óculos — típico do estilo art nouveau.
  • Uso de maiúsculas e negritos para destacar palavras-chave (“Kopp & Filhos”, “Sem defeito”, “Preços sem competencia”).

Página 3: “Drogaria e Pharmacia Commercial Julio A. de Araujo” — Farmácia Moderna em Curitiba

O terceiro anúncio é da Drogaria e Pharmacia Commercial Julio A. de Araujo, localizada na Rua Marechal Floriano, N. 73, em Curitiba.

Detalhes Textuais:

  • O texto destaca: “Importador de drogas, produtos chimicos pharmaceuticos Preparados extrangeiros e nacionaes.”
  • Especialidades: “Específicos de Hamphrys. Homeopatia, Desimetría etc.”
  • Vendas: “por atacado e a varejo” — indicando que a farmácia atendia tanto a consumidores finais quanto a outros estabelecimentos.
  • O anúncio também menciona Manoel J. de Abreu, leiloeiro matriculado na Merittissima Junta Commercial, localizado na Rua Riachuelo, N. 97.

Contexto Histórico da Saúde:

  • Em 1913, a farmácia era um espaço de saúde e bem-estar — muitas pessoas recorriam a remédios caseiros ou produtos patenteados.
  • A menção a “Homeopatia” e “Desimetría” revela que a farmácia oferecia tratamentos alternativos — comuns na época.
  • O uso de termos como “preparados extrangeiros” indica que a farmácia importava produtos de qualidade — sinal de modernidade.
  • A presença de um leiloeiro no mesmo anúncio sugere que a farmácia também atuava em negócios secundários — talvez vendendo produtos de segunda mão ou realizando leilões de mercadorias.

Análise Visual:

  • Layout simples, com bordas decorativas e fontes serifadas — mantendo o padrão visual da época.
  • Uso de itálico e negrito para destacar o nome da farmácia e dos produtos.

Página 4: “A Bomba — Curitiba e seus arribabels” — Crônica Política e Literária

A quarta página apresenta uma crônica intitulada “A Bomba — Curitiba e seus arribabels”, escrita por Luiz Dornelles de Carvalho, inspector geral da Escolatura.

Detalhes Textuais:

  • A crônica começa com uma charge ilustrada: dois homens conversando sobre política.
  • Um deles diz: “No Bito dos Pinheiros Oi somos convidados Julio Perrotta, redactor d’A Casa de Lavradio e Leite Junior, que ainda continua inspirado.”
  • O texto critica a política local — menciona “arribabels” (possivelmente uma referência a políticos corruptos ou incompetentes).
  • O autor se refere a si mesmo como “inspector geral da Escolatura” — indicando que era figura pública e influente.
  • O texto termina com uma frase irônica: “Qual aí o puro sangue que é alle mho?” — sugerindo que todos os políticos são corruptos.

Contexto Político e Cultural:

  • Em 1913, o Brasil vivia sob o regime republicano — com forte influência das oligarquias estaduais.
  • Curitiba era uma cidade pequena, mas com uma elite política ativa — muitos políticos eram formados em direito ou medicina.
  • A crítica à política local era comum — especialmente em jornais independentes.
  • O uso de linguagem coloquial e irônica revela que a crônica era voltada para um público educado, mas com senso de humor.

Análise Visual:

  • Ilustração em preto e branco, com traços simples e expressivos — típico da caricatura da época.
  • O diálogo é escrito em linguagem coloquial, com erros ortográficos intencionais (“arribabels”, “alle mho”) para dar autenticidade.

Página 5: “K-Luncas — O dr. Bocca Molle” — Humor Gráfico e Crítica Social

A quinta e última página é uma charge intitulada “K-Luncas — O dr. Bocca Molle”, assinada por Pichote.

Detalhes Textuais:

  • A charge mostra um homem de terno e chapéu, segurando um guarda-chuva — representando o “dr. Bocca Molle”.
  • O texto ao lado diz: “Para engrossar os outros não sou feito. Que a minha alma é aguda, é magra, Mas a admiração nunca me está a meu inquérito. O dr. Luiz Camargo Bocca Molle.”
  • A charge satiriza o personagem — sugerindo que ele é arrogante, mas ineficaz.
  • O nome “Bocca Molle” pode ser uma referência a alguém real — talvez um político, médico ou advogado da época.

Contexto Histórico do Humor Gráfico:

  • Em 1913, o humor gráfico era uma forma popular de crítica social — especialmente em jornais e revistas.
  • As charges eram usadas para ridicularizar figuras públicas — políticos, médicos, advogados.
  • O uso de pseudônimos (“dr. Bocca Molle”) permitia que os autores criticassem sem serem processados.
  • O nome “Pichote” sugere que o autor era um cartunista conhecido — talvez colaborador regular do jornal.

Análise Visual:

  • Ilustração em preto e branco, com traços simples e expressivos — típico da caricatura da época.
  • O personagem é desenhado com exageros físicos — nariz grande, corpo alongado — para reforçar a ironia.

Conclusão

Os documentos de 1913 revelam uma Curitiba em transformação: uma cidade que, mesmo pequena, já tinha uma vida comercial dinâmica, com lojas especializadas, farmácias modernas, padarias competitivas e lojas de moda com influência internacional. A linguagem dos anúncios — emotiva, direta e às vezes humorística — mostra que os comerciantes entendiam o público e sabiam como conquistá-lo.

Esses documentos não são apenas registros do passado — são testemunhos de como a sociedade curitibana se organizou, consumiu e se vestiu no início do século XX. Eles nos lembram que, mesmo em tempos de pouca tecnologia e infraestrutura, a cidade já sabia se reinventar e se projetar para o futuro.


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