Curitiba em 1913: Comércio, Saúde, Moda e Sociedade em Anúncios Históricos
Curitiba em 1913: Comércio, Saúde, Moda e Sociedade em Anúncios Históricos
O ano de 1913 marcou uma fase de consolidação urbana e modernização comercial em Curitiba. A cidade, ainda distante do ritmo acelerado das metrópoles do Sudeste, vivia um crescimento moderado, impulsionado pela imigração europeia, pelo desenvolvimento da agricultura e pela expansão dos serviços urbanos. Os anúncios aqui apresentados — extraídos de um jornal ou revista local — oferecem um retrato vívido da vida cotidiana, dos hábitos de consumo, da saúde pública e da moda da época.
A seguir, análise detalhada de cada página.
Página 1: “Generos de graça” — A Casa Colombo e a Cultura do Presente
O primeiro anúncio é da Casa Colombo, localizada na Rua S. Francisco, n. 25, e assinado por Annibal Rebelli.
Detalhes Textuais:
- O texto começa com um apelo emocional: “A CASA COLOMBO desejando Bonificar a sua distinta freguesia pela preferencia que sempre lhe tem dispensado, resolveu por em pratica distribuição, uma vez por mez, de Generos de graça!”
- Promete “fazer uma visita à Casa Colombo” para receber produtos gratuitos — uma estratégia de marketing inovadora para a época.
- O slogan final reforça o compromisso com os clientes: “É a unica que dá genero corrente de graça... e não esquece seus clientes.”
Contexto Econômico e Social:
- Em 1913, Curitiba tinha cerca de 40 mil habitantes — uma cidade pequena, mas com uma elite crescente e uma classe média em formação.
- A “Casa Colombo” era uma loja de gêneros alimentícios e artigos domésticos — comum em cidades brasileiras da época.
- A oferta de “gêneros de graça” era uma forma de fidelizar clientes, especialmente em um mercado onde a concorrência começava a se intensificar.
- O nome “Annibal Rebelli” sugere origem italiana — comum entre comerciantes curitibanos da época, muitos deles imigrantes ou descendentes.
Análise Visual:
- Layout ornamental, com bordas decoradas e fontes serifadas — típico do estilo art nouveau e do design gráfico da primeira década do século XX.
- Uso de maiúsculas e negritos para destacar palavras-chave (“Generos de graça”, “Casa Colombo”, “Annibal Rebelli”).
Página 2: “Descoberta do Século XX” — Odontologia e Saúde Pública em Curitiba
O segundo anúncio promove os Dontiphainos, um produto dental fabricado pela Pharmacia Ailemã, localizada na Praça Tiradentes, Curitiba.
Detalhes Textuais:
- O título é impactante: “Descoberta do Seculo XX” — uma expressão comum na propaganda da época, usada para criar sensação de novidade e superioridade.
- Perguntas retóricas: “Quereis ter dentes limpos? Quereis ter a boca fresca?” — apelando diretamente às preocupações de higiene pessoal.
- O produto é descrito como eficaz para “limpeza e frescor bucal”.
- Também é mencionado o Zign Balsamo Anestésico, indicado para dor reumática, muscular e neuralgias.
Contexto Histórico da Saúde:
- Em 1913, a odontologia ainda era uma profissão emergente no Brasil — muitas pessoas recorriam a remédios caseiros ou produtos químicos para cuidar dos dentes.
- A presença de uma farmácia com nome alemão (“Ailemã”) reflete a influência da imigração europeia — especialmente alemã e italiana — na área da saúde e farmacêutica.
- A Praça Tiradentes era o centro comercial e administrativo da cidade — local ideal para estabelecimentos de prestígio.
Análise Visual:
- Design simples, com linhas decorativas e fontes elegantes — mantendo o padrão visual da época.
- Uso de itálico e negrito para destacar o nome do produto e da farmácia.
Página 3: “Peitoral Bromo Tomil” — Medicamentos para Crianças e Adultos
O terceiro anúncio é do Peitoral Bromo Tomil, produzido e comercializado por Oncken Irmãos & Muller, drogaria e farmácia localizada na Praça do Mercado, Curitiba.
Detalhes Textuais:
- O produto é descrito como “específico contra Coqueluche, Tosse, Bronquite e outras affecções das vias respiratórias.”
- Frases de impacto: “A Salvação das Crianças” e “Consolo dos Adultos” — apelando ao sentimento familiar e à necessidade de cuidado com a saúde.
- O nome da empresa — Oncken Irmãos & Muller — sugere origem alemã (Oncken é um sobrenome comum na Alemanha).
- Endereço: Praça do Mercado, um dos pontos comerciais mais movimentados da cidade.
Contexto Médico e Social:
- Em 1913, doenças respiratórias eram comuns — especialmente em crianças — e muitas famílias recorriam a medicamentos caseiros ou patenteados.
- O uso de termos como “salvação” e “consolo” revela a importância emocional atribuída aos remédios — não apenas como tratamento, mas como esperança.
- A presença de empresas familiares (irmãos, sócios) indica que o comércio farmacêutico era dominado por pequenos negócios, muitos deles de imigrantes.
Análise Visual:
- Layout simétrico, com elementos decorativos e divisões claras entre os textos.
- Uso de caixas e símbolos para destacar os benefícios do produto.
Página 4: “Padaria modelo e a Economia das Famílias” — Narciso de Siqueira Cortes
O quarto anúncio é da Padaria Modelo, localizada na Rua Apucarana, n. 54 e 56, e pertencente a Narciso de Siqueira Cortes.
Detalhes Textuais:
- O texto começa com uma charge ilustrada: duas mulheres conversando sobre economia familiar.
- Uma delas diz: “De onde vem, Anastacia? Da padaria do Narciso, aquelle a quem coube a victoria na questão dos padeiros.”
- A outra responde: “Ah! sim... E quanto custou tudo isso? Deixe me ver... Chi! Que barato! Vou dizer á minha panada... Além disso o Narciso é tão sympathico!”
- O anúncio destaca:
- Preços acessíveis: pão a 10$000 (dez mil réis) por 10 kg;
- Pão de São Paulo a 5$000 por 10 kg;
- Pão de Uniao Matriz a 8$000 por 10 kg;
- Pão mensal: 3$000 por mês.
Contexto Econômico e Social:
- Em 1913, o pão era um alimento básico — e seu preço era um indicador de inflação e poder de compra.
- A menção a “padaria do Narciso” e à “vitória na questão dos padeiros” sugere que havia uma disputa entre padarias — talvez por preços, qualidade ou clientela.
- O uso de diálogos em forma de charge era uma técnica de propaganda popular — envolvia o leitor e criava identificação com o produto.
- O endereço na Rua Apucarana — próximo ao centro — indicava boa visibilidade e acesso.
Análise Visual:
- Ilustração em preto e branco, com traços simples e expressivos — típico da caricatura da época.
- O diálogo é escrito em linguagem coloquial, com erros ortográficos intencionais (“panada”, “sympathico”) para dar autenticidade.
Página 5: Moda e Elegância — Au Petit Paris, Ao Leandro e Ghapelaria Venus
A quinta página reúne três anúncios de moda e vestuário:
1. Au Petit Paris — José Comodo
- Localizada na Rua Marechal Floriano, n. 6, especializada em “roupas brancas, perfumarias, gravatas, collarchinhos, meias, etc.”
- Oferece “compras só na ideal” — sugerindo qualidade e exclusividade.
- O nome “Au Petit Paris” indica influência francesa — comum entre lojas de luxo da época.
2. Ao Leandro — Camisaria Ideal
- Localizada na Rua 15 de Novembro, 10, especializada em “camisas ideais para homens”.
- Oferece “roupas brancas, perfumarias, gravatas, collarchinhos, meias, etc.”
- O slogan “Comprem só na ideal” reforça a ideia de exclusividade.
3. Ghapelaria Venus — Estanislao Weisky
- Localizada na Rua 15 de Novembro, Nr. 20, especializada em chapéus para homens, senhoras e crianças.
- Destaca-se o uso de “chapéus de Sol” e “chapéus de campanha” — itens essenciais para proteção solar e status social.
- O nome “Venus” evoca beleza e elegância — comum em lojas de moda da época.
Contexto da Moda e da Sociedade:
- Em 1913, a moda em Curitiba seguia tendências europeias — especialmente francesas e inglesas.
- Chapéus, gravatas e camisas brancas eram símbolos de status — usados por homens da elite e da classe média.
- A Rua 15 de Novembro era o principal eixo comercial da cidade — concentrava lojas de luxo, bancos e cafés.
- O uso de nomes estrangeiros (“Au Petit Paris”, “Ghapelaria Venus”) era uma estratégia de marketing — associava o produto à sofisticação europeia.
Análise Visual:
- Layout dividido em três colunas, com bordas decorativas e fontes variadas.
- Uso de ilustrações de chapéus e roupas — embora discretas, ajudavam a visualizar o produto.
Conclusão
Os anúncios de 1913 revelam uma Curitiba em transformação: uma cidade que, mesmo pequena, já tinha uma vida comercial dinâmica, com lojas especializadas, farmácias modernas, padarias competitivas e lojas de moda com influência internacional. A linguagem dos anúncios — emotiva, direta e às vezes humorística — mostra que os comerciantes entendiam o público e sabiam como conquistá-lo.
Esses documentos não são apenas registros do passado — são testemunhos de como a sociedade curitibana se organizou, consumiu e se vestiu no início do século XX. Eles nos lembram que, mesmo em tempos de pouca tecnologia e infraestrutura, a cidade já sabia se reinventar e se projetar para o futuro.
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