A origem do Lundu, ritmo caipira dos peões negros dos tropeiros, e que conquistou a aristocracia da côrte imperial.
O Lundu, também conhecido como "landum, lundum, londu" possui várias influências e origens, certamente leva o ritmo do cateretê caipira como base do seu ritmo, e possui uma dança de influencia africana e portuguesa. Tendo surgido possivelmente em Minas Gerais, no contato dos bandeirantes com os negros de origem angolana, e portugueses da metrópole recém chegados no início do século XVIII para fins de mineração. E dali seguidos pelos caminhos reais até o Rio de Janeiro, onde se estabeleceria na côrte e influenciaria na formação posteriormente do Samba e na musicalidade carioca em geral, e até São Paulo, onde influenciaria na formação do batuque paulista, na chimarrita e na chula dos tropeiros paulistas. Bem como seguiria ao Norte de Minas, na Bahia, espalhando-se por todo o Brasil, inclusive na região amazônica, Uruguai e também Argentina.
Também fincaria raízes em Portugal, onde o "lundu açoriano", como é chamado, demonstra as origens brasileiras em seu ritmo e e eu seu nome.
Dentre os instrumentos para tocar o lundu utilizava-se a Viola como regra, a Rabeca, as Castanholas, Batuques e Flautas.
O Lundu era confundido inicialmente com o batuque africano (do qual foi influenciado), tachado de indecente e lascivo nos documentos oficiais, que proibiam sua apresentação nas ruas e teatros. Segundo Mozart de Araújo, é a partir de 1780 que o lundu começa a ser mencionado nos documentos históricos. Até então, era dada a denominação de batuque aos folguedos dos negros.
Como dança, a coreografia do lundu foi descrita como tendo certa influência espanhola(o que é incerto) pelo alteamento dos braços e estalar dos dedos, semelhante ao uso de castanholas, com a peculiaridade da umbigada, ponto culminante do encontro lascivo dos umbigos do homem e da mulher na dança. Traço característico e predominante em sua evolução seria o acompanhamento marcado por palmas, num canto de estrofe-refrão típico da cultura africana. Quando a umbigada passa a se disfarçar como simples mesura, o lundu ensaia sua entrada nos salões da sociedade colonial.
Como gênero de música cantada, a mais antiga menção ao lundu-canção é encontrada nos versos de Caldas Barbosa que, além da modinha brasileira, implantou na Côrte portuguesa a moda do lundu cantado a viola. No segundo volume da coletânea de seus versos (publicados postumamente), seis composições aparecem expressamente citadas como lundus. Referências ao lundu são também encontradas nas Cartas Chilenas de Tomás Antônio Gonzaga, que começam a circular em Minas Gerais em 1787.
Num próximo passo, de canção solista o lundu transforma-se em música instrumental, ponteado à viola ou ao bandolim, ou executado ao cravo. Um dos mais antigos registros musicais desse tipo de dança encontra-se nas Canções populares brasileiras e melodias indígenas, recolhidas no Brasil por Von Martius entre 1817 e 1820. Uma das peças é o Landum, Brasilianische Volktanz, composição na qual um pequeno motivo, construído sobre as harmonias de tônica e dominante, é executado em forma de variações. O lundu-dança continuou a ser praticado por negros, tropeiros e mestiços, enquanto o lundu-canção passou a interessar aos compositores de escola e músicos de teatro, onde era feito para ser dançado e cantado com letras engraçadas e maliciosas. Já em fins do século XIX, esse aspecto foi intensamente explorado por Laurindo Rabelo, o poeta Lagartixa que, acompanhando-se ao violão, depois de determinada hora improvisava, com facilidade, lundus especiais ouvidos só por homens.
Como canção, o mestiço lundu fez grande sucesso no início do século XX, cantado em circos de todo o Brasil e em casas de chope no Rio de Janeiro. Referências clássicas do gênero são as gravações iniciais de discos realizadas para a Casa Edison pelo palhaço Eduardo das Neves, como a dos lundus Isto é bom, de Xisto Bahia, considerada a primeira obra a ser gravada na história da música popular brasileira, e o Bolim bolacho, de autor desconhecido. Já a modinha, é considerada canto urbano branco de salão, de caráter lírico, sentimental. Em Portugal, a palavra moda designa canção em geral. É jeito luso-brasileiro de acarinhar tudo com diminutivos. A palavra modinha nasceu assim.
Atualmente dentro do contexto da Paulistânia o Lundu é ainda vivo em Minas Gerais, e em São Paulo é conhecido como Chula ou Lundu-Chula, que também era uma dança muitíssimo comum entre os tropeiros.
Mas diferente do Lundu tradicional, era sapateada, e dançado só entre homens e em forma de desafios de sapateios.
Ela tem bastante semelhança com o lundu sapateado, encontrada em outros estados brasileiros, pois é caracterizada pelas batidas dos pés. Durante a dança, um peão desafia o outro a realizar uma sequência de sapateios no melhor estilo, ou pode ser ao redor de um porrete no chão, com acompanhamento de violas. É executada, então, uma sequência de passos de uma extremidade do objeto até a outra ponta.
Atualmente englobada como uma das danças de catira.
Dentre os ritmos (e possíveis ritmos) influenciados pelo lundu, que tem base no ritmo do cateretê, estão: o maxixe, que influenciaria na origem do Samba carioca, o batuque paulista, a vaneira, a chimarrita(brasileira e platina), o calango mineiro, e a milonga(?).
Nas imagens, iconografias de Moritz Rugendas do século XIX, mostram Tropeiros, Mestiços e Aristocratas a praticar a dança do lundu que eram comuns num pouso de tropas.
-Felipe de Oliveira
Referências:
-Lundu: origem da música popular brasileira
José Fernando Monteiro
-O pai do samba: O Lundu. A história da MPB.