quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

A ARQUITETURA MODERNISTA DE CURITIBA - VILANOVA ARTIGAS

 

A ARQUITETURA MODERNISTA DE CURITIBA - VILANOVA ARTIGAS

Artigas nasceu em Curitiba em 23 de junho de 1915, e muito cedo perdeu o pai. Obteve sólida formação no segundo grau, pela ação de sua mãe, professora da rede estadual. Também foi seu mestre o poeta Dario Veloso. Ingressou no curso de Engenharia da UFPR em 1932, mas se transferiu para São Paulo, onde freqüentou o curso noturno de desenho artístico da Escola de Belas Artes. O estágio com Oswaldo Bratke consolidou o seu aprendizado como engenheiro-arquiteto da Escola Politécnica da USP, onde obteve o diploma em 1937. Passou o ano de 1947 no Massachusetts Institute of Technology, MIT, com bolsa da Fundação Guggenhein, mantendo contato com a arquitetura de Frank Lloyd Wright.


Casa João Bettega, hoje Instituto Artigas (1944).
Rua da Paz quase Av. Sete de Setembro.
A Casa João Bettega contém, em pequena escala, o vocabulário do arquiteto, que inclui a promenade architectural e o uso de cores vivas. A casa foi implantada em terreno alto e criticada pela população. Artigas procurou interferir o mínimo no terreno natural. A casa foi resolvida dentro de um prisma retangular, com distribuição modulada de pilares, em dois pavimentos, com espaços integrados por pés-direitos duplos e interligados por rampas, de maneira a permitir que todos os ambientes ficassem voltados para o norte. Restaurada em 2004, foi transformada na sede do Instituto Artigas.


Hospital São Lucas (1945).
Avenida João Gualberto.
Em seu projeto para o Hospital São Lucas em Curitiba, uma de suas primeiras obras de porte, Artigas interpreta as concepções puristas de Le Corbusier, como estrutura independente, janelas em fita e blocos interligados por rampas. Sua localização, em terreno alto e de esquina, marca a paisagem urbana.


Casa Edgard Niclewicz (1978).
Rua Lourenço Mourão próximo à Mario Tourinho.
Vinte e cinco anos depois da Casa João Bettega, Artigas projetou a casa Edgard Niclewicz, uma de suas últimas obras. Com linguagem semelhante, novamente o programa se desenvolve dentro de um prisma retangular, com uma empena cega de concreto voltada para a rua.

A ARQUITETURA MODERNISTA DE CURITIBA - ELGSON RIBEIRO GOMES

 

A ARQUITETURA MODERNISTA DE CURITIBA - ELGSON RIBEIRO GOMES

Nasceu em Florianópolis em 16 de novembro de 1922. A família, de poucos recursos, mudou-se para Curitiba, no esforço de sua mãe para ver o filho formado em uma profissão. Durante o primeiro ano do curso de Engenharia Civil da UFPR, em 1940, Elgson trabalho como apontador de obras na Construtora Surugi & Colli. O curso de engenharia Civil procurava suprir o conhecimento de arquitetura através de uma única disciplina, Construção de Edifícios: Arquitetura. Em 1946, tendo já concluído o curso de engenharia Civil, e ainda não satisfeito com sua formação, foi para São Paulo dedicar-se à Arquitetura, matriculando-se na Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackensie. Elgson conheceu Adolf Franz Heep na Associação Paulista de Belas Artes, onde procurava aprimorar-se no desenho, antes de voltar ao curso de arquitetura, influenciando em definitivo a sua carreira. A colaboração entre os dois durou quase dez anos, de 1950 a 1959 (um ano depois da conclusão de seu curso de Arquitetura).


Edifício Souza Naves (1953).
R. Cândido Lopes e Ermelino de Leão.Resultado de parceria entre Elgson Ribeiro Gomes e Adolf Heep, o projeto do Edifício Souza Naves, destinado ao Instituto de Pensões e Aposentadoria dos Servidores do Estado (IPASE), foi desenvolvido em tempo recorde. A troca das esquadrias de ferro por outras de alumínio em 1981, provocou repúdio por parte dos arquitetos de Curitiba e as intervenções em 1995, descaracterizaram o volume da entrada.


Edifício Itália (1962).
Rua Fernando Moreira.
O Edifício Itália e Barão do Cerro Azul, com suas fachadas em curva, permitiram o melhor aproveitamento possível dos ambientes voltados para a rua, cujo traçado sugere esse desenho. Como resultado, os edifícios ganham personalidade própria na paisagem urbana. No Edifício Itália, o arquiteto utilizou a disponibilidade que a legislação permitiu e avançou 1,2 metros sobre o alinhamento.


Edifício Provedor André de Barros (1969).
Travessa Jesuíno Marcondes
O edifício Provedor André de Barros é uma das obras que se destacam na paisagem urbana de Curitiba, faz parte de um conjunto de prédios de apartamentos onde o arquiteto praticamente esgotou as propostas de dimensionamento de área interna (de 30 a 600 metros quadrados). O tratamento dado por Elgson e Heep às esquadrias e aos peitoris das varandas, permite traçar um paralelo entre seus edifícios de apartamentos e as Unidades de Habitação em Marselha (1946) e em Firminy-Vert (1960) de Le Corbusier.

A ARQUITETURA MODERNISTA DE CURITIBA - AYRTON LOLO CORNELSEN

 

A ARQUITETURA MODERNISTA DE CURITIBA - AYRTON LOLO CORNELSEN

Nascido em Curitiba em 7 de julho de 1922, Ayrton “Lolo” Cornelsen realizou um extenso trabalho como arquiteto e engenheiro. Em 1943, estudante de engenharia da UFPR e funcionário da Prefeitura de Curitiba, foi encarregado de acompanhar Alfred Agache para conhecer a cidade. Concluiu seu curso de engenharia no Rio de Janeiro, onde manteve contato com a arquitetura produzida pelos discípulos de Lúcio Costa. Lolo tem sido crítico permanente do Plano Wilheim-IPPUC, uma vez que não foram implantadas as largas avenidas propostas no Plano Agache, mantendo o centro de Curitiba “atravancado”, sem o aspecto de metrópole desejado pelo urbanista francês.


Casa Marcos Axelrud (1953).
Rua Itupava com N. Sra da Luz.
A casa Marcos Axelrud, contida em prisma retangular, apresenta exuberante pórtico, com desenho em curva em concreto armado. Os terraços projetados nas extremidades deveriam receber brises-soleis, que não foram executadas.


Casa Romário Pacheco (1953).
R. Dr. Faivre perto da Marechal Deodoro.
As casas Romário Pacheco e Dellio Marondim, estão entre seus projetos mais elaborados. Essas casas apresentam primorosos detalhes de elementos em madeira, cuja execução foi facilitada pela marcenaria de que Lolo era proprietário.


Sede do DER (1955).
Avenida Iguaçú entre Mal Floriano e Rockfeller.
No projeto da sede do DER, sua implantação dispõe o bloco principal recuado do alinhamento da rua, com pavimento térreo sob pilotis. Um bloco de dois pavimentos, contendo auditório na face frontal, atravessa o bloco principal. Complementam os elementos arquitetônicos, que compõem os princípios puristas de Le Corbusier, uso do terraço para restaurante e lazer, planta livre para mobilidade de disposição de espaços administrativos e janela em fita.

A ARQUITETURA MODERNISTA DE CURITIBA - JAIME WASSERMANN

 

A ARQUITETURA MODERNISTA DE CURITIBA - JAIME WASSERMANN

Jaime Wassermann foi o maior empreendedor de conjuntos habitacionais do Paraná, executados entre 1967 e 1981, sendo a habitação social um dos principais temas do Movimento Moderno. Nascido em Montevidéu, no Uruguai, em 1924. Quando tinha cinco anos de idade, sua família emigrou para o Brasil, fixando residência em Curitiba. Colega de Rubens Meister, Jaime formou-se em Engenharia Civil em 1947. Cursou Arquitetura na UFPR. Em 1966 e 1972, estagiou na França graças a duas bolsas obtidas junto à Alliance Fraçaise, organizado pelo Ministère des Affaires Étrangères. Em 1967, sua Construtora Independência deu início em Curitiba, ao seu primeiro conjunto residencial.



Edifício Aurora (1964).
Av. Padre Agostinho com Candido Hartmann.
Projeto executado em conjunto com Edson Panek, enquanto ainda cursava Arquitetura, o edifício Aurora aproveita a geometria do terreno de esquina.


Conjunto Independência (1968).
Rua Souza Naves.
O Conjunto Independência com 128 apartamentos, contém edifícios em lâmina, com dois apartamentos por andar, e em H, com quatro apartamentos por andar. A técnica construtiva, utilizando lajes pré-moldadas de concreto armado, tijolo à vista envernizado, elementos vazados e esquadrias de ferro, visava à durabilidade e racionalidade de execução.


Conjunto Cosmos (1974).
Rua Souza Naves.
O Conjunto Cosmos, com cem apartamentos distribuídos em quatro torres implantadas isoladamente sobre a laje de cobertura, criando grande plano elevado, foi projetado no espírito do Plano Voisin (1925), de Le Cobusier. Foram utilizadas telhas de aço coloridas como revestimento dos peitoris das fachadas e introduz na cidade, escadas de incêndio pré-fabricadas em concreto armado, com desenho em baixo relevo.

A ARQUITETURA MODERNISTA DE CURITIBA - LEO LINZMEYER

 

A ARQUITETURA MODERNISTA DE CURITIBA - LEO LINZMEYER

Neto de alemães, Gerhard Leo Linzmeyer nasceu em Curitiba em 7 de setembro de 1928. Na infância, estudou desenho e pintura com Thorstein Andersen, filho do pintor Alfred Andersen. Recém formado em engenharia pela UFPR, trabalhou no escritório de Rubens Meister, estabelecido no canteiro de obras do Teatro Guaíra. Nos anos de 1956 e 1957, foi estudar Arquitetura na Universidade de Karlsruhe, no sul da Alemanha. Foi diretor do Departamento de Águas e Esgoto do Estado do Paraná; Diretor Presidente da Companhia de Saneamento do Paraná, Sanepar; Secretário de Estado de Viação e Obras Públicas (1975 e 1979) e Coordenador da COMEC (1979). Faleceu em Curitiba em 1999.


Casa Nelson Imthon Bueno (1958).
R. Itupava entre Atílio Bório e Schiller.
Em relação do uso do desnível do terreno no projeto da Casa Nelson Imthon Bueno, a proposta de Linzmeyer conquistou o proprietário perante outros projetistas consultados, que pretendiam um aterro. O lote urbano com muita frente e pouca profundidade conduziram a uma solução que quase colou a casa nas divisas, imprimindo linearidade para a solução.


Casa Orlando Kaesemodel (1960).
Rua Carmelo Rangel.
No projeto da casa de Orlando Kaesemodel, Linzmeyer também aproveitou o desnível do terreno para utilizar o pavimento inferior para garagem e espaços de estar, usufruindo a face norte do terreno e o bosque natural existente. O uso inovador de lajes duplas permitiu a passagem de tubulações, disposição livre dos ambientes e grandes panos de vidro.


Casa Edgar Barbosa Ribas (1967).
Pe. Agostinho, entre Angelo Sampaio e Pça Ucrânia.
Duas Lages “flutuantes” com terraços e generosos balanços compõem a disposição dos planos de uso da casa Edgar Barbosa Ribas. Como um mirante situado em ponto alto do terreno, a casa tem seus espaços ao mesmo tempo bem setorizados e interligados. O contraste entre beirais em concreto com grandes esquadrias de madeira é característico da estética da arquitetura de Leo Linzmeyer.

A ARQUITETURA MODERNISTA DE CURITIBA - ROMEU PAULO DA COSTA

 

A ARQUITETURA MODERNISTA DE CURITIBA - ROMEU PAULO DA COSTA

Nascido em Curitiba em 24 de janeiro de 1924, complementou seu conhecimento em Arquitetura, com bibliografia e prática profissional, junto com o curso de Engenharia Civil da UFPR, concluído em 1948. Contribuiu para a disseminação do ideário do Movimento Moderno em Curitiba. Foi professor do curso de Arquitetura e Engenharia Civil da UFPR a convite de Rubens Meister, amigo desde os tempos da Deutscheknabeuschule do Colégio Bom Jesus. Tinha predileção por Le Corbusier, cuja arquitetura julgava mais adequada para as condições brasileiras de clima e tecnologia. Trabalhou na Secretaria de Viação e Obras Públicas do Paraná.



Biblioteca Pública do Paraná (1951).
Perfeitamente inserida na paisagem urbana de Curitiba, a Biblioteca Pública do Paraná, principal obra de Romeu da Costa, expressa a transição e a síntese do Racionalismo Clássico com os conceitos do Movimento Moderno. A Biblioteca foi escolhida para compor o conjunto de obras do Centenário da Emancipação Política do Paraná. Para o projeto, Romeu da Costa viajou para o Rio de Janeiro para aprimorar seu conhecimento, contando com a colaboração de competentes bibliotecárias. O projeto adatava uma solução afinada com os conceitos do Movimento Moderno, com ênfase na horizontalidade e fachada dominada por brises de proteção solar. A construção ganhou monumentalidade com o aumento de sua altura e diminuição do corpo principal. Foram criados também dois anexos laterais com pé-direito menos, destinados a biblioteca infantil e espaço para exposições, ocupando assim, as três faces do quarteirão. O prazo de execução, oito meses, foi recorde, inaugurada em 19 de dezembro de 1954. A não execução dos brises e a escala de altura, fizeram com que a obra adotasse a monumentalidade do Racionalismo Clássico. Os balanços da Lages dos anexos fazem o contraponto Modernista com o resultado “perretiano” do corpo principal.


Edifício do Banco Comercial do Paraná (1953).
Rua XV com Monsenhor Celso
No edifício do Banco Comercial do Paraná, Romeu da Costa “superou” o Art-Déco e “assumiu” os princípios do Movimento Moderno, de planta livre e estrutura independente. A geometria reta do edifício não acompanha a esquina. A obrigatoriedade de execução de galerias cobertas na Rua XV com a intenção de aumentar o espaço da calçada, sugeriu a proposta de solução de pilotis desse edifício de pilares aparentes e esquadrias moduladas executadas em metal. O uso de brises complementa a absorção dos princípios “corbusianos”.



Sinagoga Francisco Frischmann (1959).
A comunidade israelita convidou Romeu da Costa para executar a sinagoga Francisco Frischmann, no mesmo local onde a antiga funcionava em caráter provisório. O terreno apesar de suas reduzidas dimensões, encontra-se em particular situação urbana: entre duas ruas, com uma terceira face voltada para uma pequena praça. A obra utiliza as linhas retas do funcionalismo “miesiano” e brises instalados na face leste voltada para a praça.

A ARQUITETURA MODERNISTA DE CURITIBA - RUBENS MEISTER

 

A ARQUITETURA MODERNISTA DE CURITIBA - RUBENS MEISTER

A atuação do escritório de Rubens Meister difundiu o Movimento Moderno em Curitiba, a partir do concurso para o Teatro Guaíra, até a década de 1960, quando teve início o curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPR. Rubens Meister nasceu em Botucatu, no estado de São Paulo em 21 de janeiro de 1922, mas criou-se em Curitiba. Cursou o primeiro grau na Deutscheknabeuschule do Colégio Bom Jesus. Depois de matriculado em Engenharia Civil na UFPR, Meister foi ao Rio de Janeiro, onde se classificou no curso de Arquitetura na Escola nacional de Belas Artes, mas não prosseguiu os estudos. Tornou-se professor no curso de Engenharia Civil da UFPR no ano seguinte a sua formatura (1947), sendo responsável pela introdução do ideário da Arquitetura Moderna para uma geração de engenheiros. Presidiu em 1956 a comissão encarregada de criar o curso de Arquitetura e Urbanismo na UFPR. Recém formado, participou do concurso do Teatro Guaíra, ficando em terceiro lugar, mas tendo o seu projeto escolhido pelo governador Bento Munhoz da Rocha. Outros importante projetos além dos constantes das fotos abaixo fazem parte da paisagem de Curitiba, tais como o Edifício da Caixa Econômica Federal na Marechal Floriano, a Sede da Federação das Indústrias do Estado do Paraná na Cândido de Abreu, o Edifício Barão do Rio Branco na esquina com a Marechal Deodoro, a Prefeitura Municipal de Curitiba no Centro Cívico, a Sede da Celapar na Mateus Leme, o Edifício Atalaia na esquina da Mal. Deodoro e Barão do Rio Branco, a Agência do HSBC na esquina da Rua XV com a Mal. Deodoro; o prédio da Rodoferroviária de Curitiba, o Centro de Atividades do SESC na Rua Fernando Moreira. Rubens Meister faleceu em 29 de junho de 2009.


Teatro Guaíra (1948)
No projeto do Teatro Guaíra, a valorização do percurso arquitetônico, desde a entrada ao nível da rua até o acesso ao auditório no segundo pavimento, recurso utilizado pelas academias Beaux Arts, foi herdada também por Le Corbusier e Oscar Niemeyer. Meister enfrentou dificuldades na falta de assessoria para as soluções de acústica e visibilidade, desenvolvendo um conhecimento aprofundado nessas áreas de forma autodidata, valendo-se de literatura estrangeira. O pequeno auditório, de 504 assentos, o “Guairinha”, foi inaugurado em 1954 e o grande auditório, para 2.174 espectadores, foi inaugurado em 1974.


Auditório da Reitoria da UFPR (1956).
O auditório da Reitoria da UFPR, de 700 lugares, conta uma disposição espacial peculiar: o acesso principal acontece pela parte inferior da platéia. É expressivo o efeito estético obtido com o uso de pórticos de concreto revestidos de granito, que também servem de pilotis para o saguão de entrada, cuja ampla esquadria de vidro permite transparente visualização pela Rua XV de Novembro.


Centro Politécnico da UFPR (1956)
Seu primeiro projeto de grande porte, o Centro Politécnico da UFPR, foi inspirado no Illinois Institute of Technology em Chicago. O conjunto de edificações adotou semelhante proposta de implantação dos blocos dentro do espírito funcionalista. A qualidade tectônica da construção do conjunto dos edifícios realça a qualidade do projeto, cinqüenta anos após a sua concepção. O edifício principal da administração, com cinco pavimentos, se destaca no conjunto arquitetônico. A disposição em lâmina, a estrutura independente, as esquadrias moduladas e o pavimento térreo, com amplo espaço livre e recuado em relação ao balanço do corpo do edifício, estão as principais características do Movimento Moderno.

Um muro e o prefeito “inglês” de Curitiba

 

Um muro e o prefeito “inglês” de Curitiba


Muro com grafite na Av. do Batel

Muro com grafite na Av. do Batel - detalhe

Muro com grafite na Av. do Batel - detalhe

Muro com grafite na Av. do Batel - detalhe

Muro com grafite na Av. do Batel - detalhe

Muro com grafite na Av. do Batel - detalhe

Muro com grafite na Av. do Batel - detalhe

Muro com grafite na Av. do Batel - detalhe

Muro com grafite na Av. do Batel - detalhe

Muro com grafite na Av. do Batel - detalhe

Muro com grafite na Av. do Batel - detalhe

Muro com grafite na Av. do Batel - detalhe

Muro com grafite na Av. do Batel - detalhe

Muro com grafite na Av. do Batel - detalhe

Um dia desses saí para fotografar algumas Unidades de Interesse de Preservação em um trecho da Avenida do Batel, que ainda não tinha feito.
Na relação das casas que levei comigo havia uma no número 1869. Esta casa não está mais na última lista de UIP que tenho, apenas nas mais antigas. Mesmo assim decidi dar uma olhada. No local onde imaginei que seria a casa hoje existe um estacionamento do Hospital Santa Cruz, com um grande muro.

No muro está pintado um bonito grafite. Observando o grande painel fica claro de que trata-se de uma referência à Londres. Em um balão observamos as cores da bandeira do Reino Unido. Aparece também a London Eye (a roda gigante), o edifício informalmente conhecido como The Gherkin (pepino), a Elizabeth Tower (onde está o famoso Big Ben) e uma daquelas cabines telefônicas.
Na rua (do mural) está desenhado um utilitário (seria um Land Rover?) e dois dos famosos ônibus vermelhos, de dois andares.
Na calçada em frente das casas há uma série de pessoas conhecidas. Consegui identificar algumas: Shakespeare, Sherlock Holmes,  Harry Potter, Amy Winehouse, James Bond, Beatles (representados pelo submarino amarelo), Mick Jagger, Elton John, um daqueles guardas da rainha e alguns outros que não identifiquei.

A partir do nome do autor do grafite, Marco Jacobsen, encontrei no site do Reinaldo Bessa, mais algumas informações.
Segundo site, o painel está localizado no muro onde foi a casa do inglês Percy Withers, ex-prefeito de Curitiba, que assumiu o cargo interinamente. Foi encomendado pelo Consulado da Inglaterra. A notícia informa também que o painel seria inaugurado no dia 15 de dezembro de 2020 e era esperada, entre outras autoridades, o cônsul honorário da Inglaterra no Paraná.
Encontrei a mesma notícia, basicamente com o mesmo texto (o que é um indicativo de press release), nos sites “Paraná Portal” e “Bem Paraná”.

Pesquisando jornais na Hemeroteca Nacional, o Sr. Percy Withers é bastante citado a partir do ano 1900, por sua participação na sociedade, em diversas agremiações sociais e esportivas. Nas décadas de 1920 e 1930 a referência ao seu nome aumenta, principalmente pela sua participação na política, quer por suas atividades no Partido Republicano Paranaense, como por sua atuação como camarista (vereador).
Não encontrei qualquer referência dele ser inglês. Não consegui descobri onde nasceu e nem quando. Mas descobri que casou em 28 de julho de 1900, conforme noticiou, dois dias depois, o jornal “Diário da Tarde”:

“Realisou-se ante-hontem em a residencia da respeitavel matrona exma. sra. d. Margarida Withers o matrimonio do distincto moço major Percy Withers, conceituado negociante desta praça, com a mimosa e interessante joven d. Julieta Barros, estremosa filha do sr. commendador A. de Barros.
A’s 7 horas da noute o …”

Encontrei no jornal “A República”, de 30 de dezembro de 1920, a seguinte nota:

“Prefeitura da capital
Em virtude de se ter ausentado da capital o illustre dr. Moreira Garces, e de se encontrar impedido por motivo de molestia o sr. coronel João Antonio Xavier, assumiu a Prefeitura da Capital a 27 do corrente o sr. major Percy Withers”.

No mesmo jornal “A República”, na edição de 6 de junho de 1921, encontrei outra nota:

“O Sr. Major Percy Withers assume a prefeitura
Assumio hoje á hora 13, as funcções de Prefeito Municipal da Capital, na qualidade de camarista substituto, o sr. Major Percy Wihters (sic), recebendo essa investitura das mãos do sr. Coronel Joaquim de Andrade, que susbtituirá o Prefeito effectivo sr. dr. Moreira Garcez.”

Ou seja, assumiu, como substituto, a Prefeitura de Curitiba em duas ocasiões.

No jornal “Diário da Tarde”, de 15 de maio de 1941, encontrei a seguinte nota de falecimento:

“Cel. Percy Withers
Com o falecimento, ontem, ás 18,30 horas do coronel Percy Withers a nossa sociedade perdeu um de seus elementos mais representativos. Prestante cidadão e adeantado industrial, o snr, Percy Withers, pelas suas qualidades, desfrutava do maior prestígio no seio da sociedade curitibana.
O extinto ocupou altos cargos na administração municipal, tendo sido, diversas veses, sufragado camarista do legislativo da cidade, onde prestou aliás, os melhores serviços. Era ainda diretor-presidente da Cia Estearina Paranaense.
Percy Withers deixa viuva a exma. sra. d. Julieta de Barros Withers e os seguintes filhos: d. Tereza Margarida Withers, d. Lilia Shavv, casada com o sr. Tomaz Schavv, d. Cacilda Veiga, Nelson e Milton Whithers.”
O sepultamento se realizará hoje, ás 4 horas da tarde, saindo o coche funebre da casa 490 da av. João Gualberto para o Cemitério Protestante.”

E continuei curioso com essa história de prefeito inglês.

Pesquisando um pouco mais, encontrei comentários em uma publicação em uma rede social.
Sergio Withers, comentando sobre Willian Whiters, bisavó dele e pai do Sr. Percy Withers (avô do Sr. Sérgio), comentou o seguinte: “é o ancestral de todos os Withers. Veio da Inglaterra (Twickenham, ao lado de Londres), em 1865, casado com Margareth Corfe, e 5 filhos. Teve mais 6 filhos aqui no Brasil, totalizando 11 entre homens e mulheres.”. Aproveitei e perguntei: “O seu avô, Percy Withers, estava entre os cinco filhos que vieram da Inglaterra? Ou ele foi um dos seis que nasceram no Brasil?”. Ele respondeu: “foi o primeiro a nascer no Brasil”.
Ou seja, Percy Withers, que foi prefeito interino de Curitiba era curitibano. 
Possivelmente falam em prefeito “inglês” de Curitiba por causa de sua família, pelo seu jeito, comportamento e hábitos.

Procurei por uma foto da casa que existia nesse local, mas não encontrei. Imagino que ali tenha sido a casa do Sr. Willian Withers e que o senhor Percy Withers tenha morado nela até construir a casa no outro lado da rua, um pouquinho adiante, onde residiu por um tempo e depois mudou para uma nova casa na Avenida João Gualberto, de onde saiu o seu enterro.

Da esquerda para a direta. Em pé: Julieta de Barros Withers (esposa de Percy)), Izabel e ?.
Sentados: ?, Percy Withers, Sr. Gomm, ?

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Referências:

Residência Guilherme Withers Junior

 

Residência Guilherme Withers Junior


Casa na Avenida do Batel

Residência Guilherme Withers Junior

Residência Guilherme Withers Junior - detalhe portão

Residência Guilherme Withers Junior - fachada

Essa casa na Avenida do Batel é uma Unidade de Interesse de Preservação.
O projeto dela foi apresentado à Prefeitura, pelo engenheiro Eduardo Fernando Chaves, e aprovado em julho de 1921, como residência para o Sr. Guilherme Withers Junior.
O Sr. Guilherme era proprietário de um frigorífico.
No livro “As virtudes do bem-morar”, encontrei um depoimento da Sra. Maria Elena Withers Pessoa, transcrito abaixo:
“A casa era muito grande e os aposentos, enormes. As paredes eram grossas, com madeira nas janelas, no assoalho e na parede da escada de acesso ao primeiro andar, onde se localizavam os quatro dormitórios. Cada qual tinha um quarto de vestir anexo, com poltrona, mesinha e cadeira. Neste andar, havia só um banheiro – de porta parcialmente envidraçada –, com vaso, pia, bidê e banheira de louça; além de metais niquelados. No térreo, o escritório e as salas de visita e de jantar eram aquecidos pelas lareiras. Na sala de jantar, havia a cristaleira – com os cristais Murano –, duas étageres – com a baixela inglesa – e uma mesa elástica para 12 pessoas, com um lustre de madeira centralizado. Nas demais salas, igualmente forradas com tapetes persas, os lustres eram de cristal. A copa era o local onde vovó Madalena e vovô Guilherme passavam mais tempo, porque tinha uma pequena antessala com duas poltronas de couro e um rádio. As crianças faziam as refeições antes dos adultos. A grande cozinha, sem armários, tinha uma mesa ampla com os aparelhos manuais para moer café, carne e macarrão, e o fogão a lenha com serpentina para aquecer água. Na despensa anexa, ficava a geladeira com barras de gelo, repostas pelo caminhão todos os dias. A cozinha, assim como os banheiros, tinha azulejos à meia altura e pintura até o teto. Havia uma escada de serviço saindo da cozinha, que levava aos dois quartos de empregados no sótão, e, embaixo dela, localizava-se o depósito de lenha para o fogão, que continuou sendo usado, mesmo após a instalação do fogão elétrico em 1940. Havia uma lavanderia, ao lado da cozinha. O quarto de passar roupas, mais tarde, tornou-se sala de costura. A família recebia muitos amigos e parentes para almoçar e jantar, para o chá das senhoras e os hóspedes que moravam fora de Curitiba.”
Adoro quando encontro esse tipo de depoimento. São como uma pequena janela no tempo, onde nos é permitida uma breve espiada na casa e na vida dentro dela.

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Referência:

Residência Henrique Withers

 

Residência Henrique Withers


Residência Henrique Withers, na Av. do Batel
Casa na Avenida do Batel - vista de perfil
Residência Henrique Withers - detalhe
Residência Henrique Withers - grade
Residência Henrique Withers - detalhe grade

Essa casa na Avenida do Batel é uma Unidade de Interesse de Preservação.
Foi a residência de Henrique Withers, casado com Elisa. O sr. Henrique era industrial e exerceu também as funções de pró-cônsul e depois de vice-cônsul da Inglaterra.

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