SANTUÁRIO DO BOM JESUS DE MATOSINHOS, CONGONHAS DO CAMPO, MINAS GERAIS
As origens desse santuário – ponto ápice do barroco brasileiro – remontam a meados do século XVIII, quando Feliciano Mendes, que residia em Minas Gerais e era originário da cidade de Guimarães (Portugal) , foi acometido por uma grave doença, provavelmente contraída na mineração.
Nessa ocasião, ele prometeu dedicar sua vida ao serviço de alguma devoção, representada por uma santa imagem do Cristo ou da Virgem. Produzindo-se a cura milagrosa, o ex-minerador iniciou imediatamente o pagamento de sua promessa, plantando uma cruz no alto do Monte Maranhão, em Congonhas do Campo, homenageando ao Senhor Bom Jesus de Matosinhos – uma devoção muito popular ao Cristo Crucificado venerado em Matosinhos, Portugal.
O episódio é narrado pelo próprio Feliciano Mendes, no protocolo de abertura do primeiro livro de registro de esmolas do santuário, aberto em 1 de janeiro de 1757. A primeira esmola registrada nesse livro veio do próprio Feliciano, que doou toda sua fortuna pessoal para construção do santuário.
Em 21 de junho do mesmo ano (1757), o bispo de Mariana, Dom Frei Manoel da Cruz, autorizou a construção de uma ermida provisória naquele monte. Nela, enquanto se fazia a igreja definitiva, Feliciano passou a viver como ermitão, isolado da sociedade, mais ou menos como o Irmão Lourenço no Caraça, e Antônio Bracarena, na Serra da Piedade.
Através do livro de esmolas – que se encontra preservado até hoje – pode-se ver que até 1765, ano da morte de Feliciano, a parte arquitetônica da igreja estava quase concluída, faltando apenas as torres e a decoração interna.
Após a morte de Antônio Feliciano, os administradores-ermitões que o sucederam se encarregaram de contratar uma plêiade dos melhores artistas que havia em Minas naquela época – dentre os quais se destacaram Francisco de Lima Cerqueira (capela-mor e torres), Jerônimo Feliz Teixeira (altares colaterais), João Antunes de Carvalho e Francisco Vieira Servas (talhas diversas), João Nepomuceno Correia e Castro e Bernardo Pires da Silva (pintura dos forros), Felizardo Mendes (ouriversaria), Manuel da Costa Ataíde (pinturas), e Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que já estava em fase avançada de sua doença.
Foi na gestão do quinto ermitão, Vicente Freire de Andrada (1794-1809) que o Aleijadinho, convocado a Congonhas, executa, juntamente com os oficiais de seu ateliê, a gigantesca empresa dos conjuntos escultóricos dos Passos e Profetas, totalizando 66 estátuas, em cedro, para os Passos, e mais doze, em pedra-sabão, para os Profetas.
As imagens dos Passos foram feitas em um período de 3 anos e meio, ocupando-se o Aleijadinho especialmente daquelas que representavam a Cristo. No entanto, a policromia e os olhos de vidro foram colocados só muito posteriormente, já em meados do século XIX.
Para os profetas, Aleijadinho inspirou-se em gravuras de esculturas medievais, e dispôs cada um em uma posição específica, adequando-os à paisagem e ao conjunto arquitetônico.
(Trechos de “A Obra do Aleijadinho em Congonhas“, de Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira, publicada na revista “Aleijadinho” – número especial da Revista do Conselho Estadual de Cultura de Minas Gerais, 1983. Exceto quando mencionado, todas as fotos abaixo são de Plinio Lins)
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