Curitiba em 1953: Um Retrato da Cidade Através de Seus Documentos Visuais
Curitiba em 1953: Um Retrato da Cidade Através de Seus Documentos Visuais
Em 1953, Curitiba vivia um momento de transição entre tradição e modernidade. Com cerca de 200 mil habitantes, a capital paranaense já demonstrava sinais claros de urbanização acelerada, expansão comercial e consolidação de sua identidade cultural. As páginas aqui apresentadas — provavelmente extraídas de revistas ou suplementos especiais de jornais locais — oferecem um retrato vívido da cidade naquele ano. Elas não são apenas imagens; são documentos históricos que revelam como os curitibanos viam seu passado, viviam seu presente e projetavam seu futuro.
Página 1: “Boneca do Iguaçu” — O Entretenimento Moderno no Coração da Cidade
A página traz o título “BONECA DO IGUAÇU” em letras maiúsculas e arredondadas, posicionado no topo central. Abaixo, três fotografias em preto e branco:
- À esquerda: vista externa do estabelecimento, com fachada simples, varanda coberta e letreiro luminoso.
- No canto superior direito: cena interna do salão, mostrando mesas dispostas em fileiras, pessoas sentadas e um palco ao fundo.
- Centralizada, abaixo: imagem de um cantor ou animador de palco, vestido formalmente, segurando um microfone e sorrindo para o público.
No centro, logo abaixo da foto do cantor, um logotipo circular com a inscrição “Boneca do Iguaçu” e a palavra “RESTAURANTE” embaixo.
Do lado esquerdo, um bloco de texto descreve o local:
“Espaçoso e recente é o Restaurante ‘Boneca do Iguaçu’, situado próximo à ponte do Rio Iguaçu, na estrada de S. José dos Pinhais. Quem deseja passar horas de repouso, saboreando bons pratos e ouvindo boa música e ‘shows’ atraentes, procurará a ‘Boneca do Iguaçu’.”
À direita, outro bloco de texto complementa:
“Nas fotos vemos cenas do espetáculo artístico, menos do salão e fechada do prédio à noite. Também aparece o enorme e notável balcão do estabelecimento, atrás do qual o chefe da casa, pessoas da Família e empregados.”
Na parte inferior, mais um parágrafo:
“A ‘Boneca do Iguaçu’ é um restaurante com todos os requisitos exigidos pelas pessoas de bom gosto, onde os clientes foram na excursão de um ambiente estritamente familiar, pois é dirigido pessoalmente pelo seu proprietário Sr. Hary Freitas e senhora, atendendo com extrema cortesia e possuindo um serviço primoroso com sanduíches e variados pratos.”
Em 1953, o lazer urbano em Curitiba ainda era predominantemente familiar e caseiro. O “Boneca do Iguaçu”, localizado na estrada de São José dos Pinhais (hoje região da Avenida das Torres), representava um novo tipo de entretenimento: um espaço onde se podia jantar, assistir a shows e socializar em um ambiente controlado e familiar. A menção ao “chefe da casa” e à “família” indica que se tratava de um negócio familiar, comum na época, e que valorizava o atendimento personalizado.
O nome “Boneca do Iguaçu” sugere uma ligação com a cultura popular — talvez referência a uma personagem folclórica ou a uma boneca de vitrine usada como símbolo de boas-vindas. O fato de estar “próximo à ponte do Rio Iguaçu” indicava que era um destino para quem viajava para o interior, mas também para os moradores da capital em busca de escapismo.
Página 2: “A Universidade do Paraná através dos tempos” — A Construção de um Patrimônio Intelectual
A página traz o título centralizado:
A Universidade do Paraná através dos tempos
Abaixo, três fotografias históricas em preto e branco, dispostas verticalmente:
- Na parte superior: uma fotografia do edifício principal da universidade, com arquitetura neoclássica, cúpula central e colunas frontais. Uma legenda diz:
“O edifício da Universidade, início do ano 1912.”
- No meio: uma imagem de um prédio menor, com fachada mais simples, rodeado por árvores e gramado. A legenda informa:
“Fachada do atual Palácio Universitário, onde se acham instaladas as várias Faculdades de Ensino Superior.”
- Na parte inferior: vista lateral de um prédio longo, com múltiplas janelas e colunas, localizado na Rua 13 de Novembro. A legenda diz:
“Vista do prédio, do lado da Rua 13 de Novembro.”
Em 1953, a Universidade do Paraná — fundada em 1912 — completava 41 anos de existência. Era a única universidade pública do estado e o principal polo intelectual da região Sul. O anúncio destaca a evolução física da instituição, mostrando como seus prédios haviam crescido e se transformado ao longo das décadas.
O edifício de 1912, com sua imponência neoclássica, simbolizava a ambição de criar uma instituição de ensino superior à altura das grandes universidades brasileiras. Já o “Palácio Universitário” — provavelmente o prédio da antiga Escola de Engenharia, hoje sede da Reitoria — representava a modernização administrativa da universidade.
A menção à Rua 13 de Novembro reforça a integração da universidade ao tecido urbano da cidade. Em 1953, a área ao redor da rua já era considerada o centro acadêmico e administrativo de Curitiba.
Página 3: “Vistas de Curitiba — Doutros Tempos” — A Memória Visual da Cidade
A página traz o título centralizado:
VISTAS DE CURITIBA — DOUTROS TEMPOS
Abaixo, três fotografias aéreas em preto e branco, dispostas verticalmente:
- Na parte superior: vista panorâmica da antiga Rua Floriano Peixoto (então Rua Floriano Peixoto), com casas baixas, telhados de telha cerâmica e ruas de terra batida. A legenda diz:
“A antiga rua Floriano Peixoto, vendo-se ao fundo a rua 13 de Novembro.”
- No meio: vista aérea da Praça Tiradentes, com casas alinhadas e ruas estreitas. A legenda informa:
“Um canto da Praça Tiradentes, quando se arranha esse espaço num sonho renovado.”
- Na parte inferior: vista ampla da cidade, mostrando o Ginásio Paranaense (atual Colégio Estadual do Paraná) e a Praça Nossa Senhora da Luz. A legenda diz:
“Curitiba, no começo deste século, quando foi construído o edifício do Ginásio Paranaense, onde hoje se acha a Secretaria de Educação e Cultura, entre a Praça Nossa Senhora da Luz e a Rua Dr. Muricy.”
Em 1953, Curitiba estava em plena transformação urbana. Essas imagens serviam como contraponto entre o passado e o presente, mostrando como a cidade havia mudado desde o início do século. A antiga Rua Floriano Peixoto, hoje Rua Marechal Floriano Peixoto, era uma das principais artérias comerciais da cidade, mas ainda conservava traços rurais.
A Praça Tiradentes, então cercada por casas residenciais, começava a ser remodelada para receber edifícios públicos e comerciais. Já o Ginásio Paranaense — fundado em 1906 — era um marco educacional e arquitetônico da cidade, com sua fachada imponente e jardins frontais.
Essas fotografias eram frequentemente publicadas em suplementos especiais de jornais ou revistas culturais, como forma de preservar a memória visual da cidade e conscientizar a população sobre sua história.
Página 4: “As Igrejas da Praça Tiradentes” — A Evolução Religiosa e Arquitetônica
A página traz o título centralizado:
As Igrejas da Praça Tiradentes
Abaixo, três imagens dispostas verticalmente:
- Na parte superior: uma ilustração em preto e branco da Capela de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, datada de 1815. Mostra uma pequena capela de madeira, com telhado de palha e cruz no topo, rodeada por árvores e pessoas caminhando. A legenda diz:
“A Capelinha de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, em 1815.”
- No meio: uma fotografia da Igreja Matriz, demolida em 1951. Mostra uma igreja de pedra, com torre sineira e fachada simples, rodeada por casas e ruas estreitas. A legenda informa:
“A velha Matriz, demolida em 1951.”
- Na parte inferior: uma fotografia da Catedral Metropolitana, inaugurada em 1951. Mostra a fachada imponente da catedral, com duas torres sineiras, portão central e janelas altas. A legenda diz:
“A imponente Catedral Metropolitana inaugurada em 1951.”
Em 1953, a Praça Tiradentes era o coração religioso e cívico da cidade. A sequência de imagens mostra a evolução da presença religiosa na praça: da pequena capela colonial, passando pela igreja matriz do século XIX, até a catedral moderna do século XX.
A demolição da Matriz em 1951 foi um evento polêmico, mas necessário para a modernização urbana da praça. A nova Catedral Metropolitana, projetada pelo arquiteto Francisco de Paula Ramos, tornou-se um símbolo da renovação religiosa e arquitetônica da cidade.
O fato de a página ser publicada em 1953 — dois anos após a inauguração da catedral — indica que a comunidade ainda estava processando essa mudança. A comparação entre as três igrejas servia como um registro histórico, mostrando como a fé e a arquitetura haviam evoluído ao longo dos séculos.
Página 5: “Hontem... Hoje...” — A Transformação da Rua 13 de Novembro
A página traz o título centralizado:
Hontem... Hoje...
Abaixo, quatro fotografias em preto e branco, dispostas em formato de quadrícula:
- No canto superior esquerdo: vista da Rua das Flores (13 de Novembro), ornamentada com arcos e faixas, no dia 1º de dezembro de 1912. Mostra casas baixas, ruas de terra e poucos veículos. A legenda diz:
“A Rua das Flores (13 Nov.) ornamentada de arcos e faixas, no dia 1º de dezembro de 1912.”
- No canto superior direito: vista da mesma rua, agora pavimentada e com edifícios maiores, em 1953. Mostra carros estacionados, pedestres e lojas com vitrines. A legenda informa:
“A moderna rua 13 de Novembro (mesmo ângulo da foto anterior), a 1º de dezembro de 1953.”
- No canto inferior esquerdo: vista da rua em 1912, com carroças e cavalos. A legenda diz:
“A rua 13, das flores, nos primeiros dias de verão de 1912.”
- No canto inferior direito: vista da rua em 1953, com edifícios comerciais e calçadas largas. A legenda informa:
“A movimentada rua 13, ao tempo das carruagens, fortíssimo da higiene e limpeza — 1912.”
No centro da página, um símbolo estilizado — uma estrela de oito pontas — separa as imagens.
Em 1953, a Rua 13 de Novembro — hoje Rua XV de Novembro — era a principal via comercial da cidade. A comparação entre as fotos de 1912 e 1953 revela uma transformação radical: da rua de terra e carroças para a rua pavimentada e motorizada.
A menção à “higiene e limpeza” em 1912 reflete a preocupação da época com a modernização sanitária da cidade. Já em 1953, a rua era descrita como “movimentada”, com lojas, bancos e escritórios — um verdadeiro centro econômico.
O uso do termo “Hontem... Hoje...” (com grafia antiga) era comum em publicações da época, e servia como um convite à reflexão sobre o progresso. A página não apenas documentava a mudança — ela celebrava a modernidade alcançada pela cidade.