Praça Tiradentes, de Curitiba, final dos anos 1930, apresenta a praça sem as tradicionais árvores.
Os passeios com nova configuração de jardinamento, tendo uma insólita e tenra arvoresinha à crescer.
(Foto: Arquivo Público do Paraná)
Paulo Grani
fotos fatos e curiosidades antigamente O passado, o legado de um homem pode até ser momentaneamente esquecido, nunca apagado
Praça Tiradentes, de Curitiba, final dos anos 1930, apresenta a praça sem as tradicionais árvores.
Lateral do Círculo Militar, lado da 1ª piscina. O ginásio coberto ainda não existia. Importante registro contemplando também, o Teatro Guaíra, o Passeio Público e adjacências, em registro de Guido Ferencz em 06➤04➤1968.
Curtindo uma deliciosa tarde de Domingo, almoçando no CASCATINHA de SANTA FELICIDADE, no ano de 1957.
Eduardo Fernando Chaves: Projetista
Denominação inicial: Projecto da residência do Snr. Hans Sastny
Denominação atual:
Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência Econômica
Endereço: Villa Guayra – Avenida Guayra
Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 80,00 m²
Área Total: 80,00 m²
Técnica/Material Construtivo: Madeira
Data do Projeto Arquitetônico: 03/07/1927
Alvará de Construção: Nº 3429/1927
Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de uma residência de madeira.
Situação em 2012: Demolido
1 - Projeto Arquitetônico.
Referências:
1 - GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto de uma residência para o Snr. Hans Sastny na Villa Guayra. Plantas do pavimento térreo e de implantação, cortes e fachadas frontal e lateral apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba.
A Casa de Hans Sastny na Villa Guayra: Uma Residência Econômica que Encarnou o Sonho Teuto-Brasileiro em Curitiba
Pequena em área, mas rica em significado: a casa de madeira de um imigrante ou descendente que escolheu a Villa Guayra para plantar raízes — hoje desaparecida, mas viva nos arquivos da cidade.
Em 3 de julho de 1927, Hans Sastny — cujo nome revela inequivocamente sua origem germânica — deu início à construção de sua residência na Avenida Guayra, em Villa Guayra, um dos bairros mais emblemáticos da Curitiba teuto-brasileira.
Embora não se saiba ao certo se Hans era imigrante recém-chegado ou descendente da segunda geração de colonos germânicos, seu nome e a localização da casa indicam fortes laços com a comunidade alemã que, desde o século XIX, moldou a identidade cultural, religiosa e arquitetônica da região.
Villa Guayra, na década de 1920, era sinônimo de ordem, tradição e vida familiar. Era ali que famílias de origem alemã erguiam casas de madeira, cultivavam hortas, rezavam em alemão e celebravam festas como a Kerb (festa da colheita) e o Natal com árvore e presépio. Hans Sastny, ao escolher esse bairro, não apenas buscava um endereço — ele reafirmava sua identidade.
Com apenas 80,00 m² de área total, distribuídos em um único pavimento, a casa de Hans Sastny foi classificada como “residência econômica” — uma categoria que reflete tanto as limitações financeiras quanto a ética do trabalho e da modéstia tão valorizada na cultura germânica.
Construída integralmente em madeira, a residência seguia um modelo tradicional:
O projeto, elaborado pelo escritório Gastão Chaves & Cia., foi apresentado em uma única prancha, contendo:
Apesar da simplicidade, o projeto demonstra atenção técnica, rigor construtivo e respeito pelo contexto ambiental — qualidades que permitiam que casas econômicas durassem décadas, mesmo com materiais “modestos”.
A escolha da Avenida Guayra, artéria principal do bairro, revela que Hans Sastny não se isolou: ao contrário, buscou visibilidade, acesso e integração com a comunidade. Morar na avenida significava estar próximo à igreja, à escola, ao comércio local e aos vizinhos — valores centrais na vida coletiva da colônia.
Naquele momento, Curitiba vivia um período de expansão urbana acelerada, mas ainda mantinha fortes traços rurais e comunitários. Uma casa de 80 m², embora pequena pelos padrões atuais, era suficiente para uma família de quatro a seis pessoas — e representava estabilidade, propriedade e honra.
O projeto foi oficialmente autorizado pela Prefeitura Municipal de Curitiba por meio do Alvará de Construção nº 3429/1927, emitido ainda em 1927. Esse documento é crucial: ele confirma que:
O fato de um imigrante ou descendente buscar regularização também mostra o processo de integração à sociedade brasileira: manter tradições culturais, sim — mas também cumprir leis, pagar impostos e participar da vida cívica.
Infelizmente, como tantas outras construções de madeira da época, a casa de Hans Sastny foi demolida antes ou até 2012. Substituída, provavelmente, por um prédio de alvenaria ou um terreno vazio, sua presença física desapareceu da paisagem urbana.
Mas sua memória resistiu. Graças ao Arquivo Público Municipal de Curitiba, o projeto original foi preservado em microfilme digitalizado, mantendo viva a imagem de uma casa que, por décadas, abrigou risos, orações, refeições compartilhadas e o cotidiano de uma família teuto-brasileira.
A residência de Hans Sastny não era luxuosa. Não tinha salões, nem escadarias, nem decorações elaboradas. Mas era um lar — e, nisso, reside seu valor histórico.
Ela representa:
Hoje, ao caminhar pela Avenida Guayra, poucos sabem que ali, um dia, Hans Sastny acordou para ver o sol nascer sobre os pinheirais, ouviu o canto dos sabiás e sentiu que, finalmente, tinha um lar.
A madeira se foi, mas o sonho permanece — nos arquivos, nas plantas, e na memória de uma cidade que deve muito aos seus moradores silenciosos.
Eduardo Fernando Chaves: Arquiteto, Engenheiro e Construtor
Denominação inicial: Projéto de Bungalow para o Snr. João Alves Cordeiro
Denominação atual:
Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Médio Porte
Endereço: Rua Lamenha Lins
Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 220,00 m²
Área Total: 220,00 m²
Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos
Data do Projeto Arquitetônico: 28/08/1934
Alvará de Construção: N° 729/1934
Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de um bangalô e Alvará de Construção.
Situação em 2012: Demolido
1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.
Referências:
1- CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de Bungalow para o Snr. João Alves Cordeiro. Planta baixa, fachada principal e lateral direita, corte, implantação e muro, representados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 – Alvará n.º 729
Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.
O Bungalow de João Alves Cordeiro na Rua Lamenha Lins: Um Sonho de Classe Média na Curitiba dos Anos 1930
Uma residência de alvenaria de tijolos, projetada com esmero para um morador que buscava conforto, modernidade e distinção — hoje desaparecida, mas preservada na memória dos arquivos.
Em 1934, João Alves Cordeiro encomendou a construção de sua casa na Rua Lamenha Lins, uma das vias mais tradicionais do bairro do Centro Histórico de Curitiba. O nome sugere origem luso-brasileira, provavelmente descendente de famílias estabelecidas na cidade desde o século XIX. Naquele momento, o Brasil vivia o período do Estado Novo, e Curitiba, com cerca de 120 mil habitantes, experimentava uma fase de modernização urbana, crescimento econômico e expansão da classe média.
João Alves Cordeiro — cuja profissão não é registrada, mas que certamente possuía renda estável — optou por construir não apenas uma casa, mas um bungalow: um modelo arquitetônico de origem anglo-indiana que havia se tornado símbolo de sofisticação, conforto e vida moderna nas cidades brasileiras desde a década de 1920.
Sua escolha revela mais do que gosto estético: mostra aspiração social, compromisso com a estabilidade familiar e confiança no futuro.
O projeto arquitetônico, datado de 28 de agosto de 1934, foi elaborado pelo projetista Eduardo Fernando Chaves — o mesmo profissional que, sete anos antes, havia desenhado a casa de Fritz Scknepper. A obra foi autorizada pelo Alvará de Construção nº 729/1934, emitido pela Prefeitura Municipal de Curitiba.
A residência era classificada como de médio porte, com 220,00 m² de área total, distribuídos em dois pavimentos — embora o termo “bungalow” geralmente indique uma casa térrea, aqui foi adaptado para incluir um segundo nível, possivelmente com sótão habitável ou dormitórios.
Construída em alvenaria de tijolos, a casa representava um salto tecnológico e simbólico em relação às construções de madeira ainda comuns na cidade. O tijolo era mais durável, mais resistente ao fogo e conferia prestígio social, pois indicava investimento e permanência.
O projeto, reunido em uma única prancha, incluía:
Tudo isso demonstra um alto grau de planejamento e a intenção de criar uma residência integrada, funcional e esteticamente refinada.
Localizada no coração da cidade, a Rua Lamenha Lins era — e ainda é — uma das artérias mais significativas do centro de Curitiba. Batizada em homenagem ao jornalista e político Francisco José dos Santos Lamenha Lins, a via abrigava residências de famílias tradicionais, comerciantes abastados e profissionais liberais.
Construir ali, em plena década de 1930, era uma declaração de pertencimento à elite urbana emergente. João Alves Cordeiro não apenas escolheu um bom endereço — escolheu fazer parte da história da cidade.
O “bungalow” não era apenas um tipo de casa — era um modelo de vida. Inspirado nas residências de veraneio dos EUA e da Índia britânica, o estilo foi adaptado ao Brasil com:
Na casa de João Alves Cordeiro, esses elementos foram reinterpretados com alvenaria de tijolos aparentes ou rebocados, telhas cerâmicas e uma planta que respeitava a hierarquia dos espaços: áreas sociais na frente, íntimas nos fundos ou no andar superior.
O projeto refletia a transição entre o ecletismo e os primeiros sinais do modernismo, ainda tímidos em Curitiba, mas já presentes na busca por racionalidade, clareza funcional e simplicidade decorativa.
Infelizmente, como tantas outras construções históricas do centro de Curitiba, a casa de João Alves Cordeiro foi demolida antes ou até 2012. As razões podem ter sido diversas: valorização imobiliária, especulação, deterioração ou simples falta de reconhecimento de seu valor patrimonial.
Hoje, no local onde ela existiu, pode haver um edifício comercial, um estacionamento ou até mesmo um terreno vazio. Mas sua existência não foi apagada.
Graças ao Arquivo Público Municipal de Curitiba, o projeto original — com suas linhas precisas, suas anotações à mão e seu carimbo oficial — foi preservado em microfilme digitalizado, juntamente com o Alvará de Construção nº 729.
Esses documentos são testemunhos materiais de uma época em que construir uma casa era um ato de fé no futuro.
João Alves Cordeiro não era aristocrata, mas também não era um homem comum. Ele pertencia à classe média ascendente que, nos anos 1930, investia em educação, saúde, moradia digna e participação cívica. Sua casa era o refúgio da família, o espaço de formação dos filhos, o símbolo de uma vida bem-sucedida.
Embora demolida, a residência permanece como parte da memória construída de Curitiba — um lembrete de que a cidade não foi feita apenas por palácios e igrejas, mas também por casas como essa, erguidas com tijolo, cal e esperança.
Hoje, a Rua Lamenha Lins segue movimentada, sob o som de carros e passos apressados.
Mas, nos arquivos da cidade, João Alves Cordeiro ainda recebe visitas — não de convidados, mas de historiadores, arquitetos e curiosos que buscam entender como se vivia, se sonhava e se construía em Curitiba.
E ali, em linhas de tinta sobre papel, seu bungalow ainda existe — discreto, sólido, eterno.