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domingo, 3 de março de 2024

BASÍLICA ARQUIABACIAL DE SÃO SEBASTIÃO (MOSTEIRO DE SÃO BENTO) – SALVADOR, BAHIA

 BASÍLICA ARQUIABACIAL DE SÃO SEBASTIÃO (MOSTEIRO DE SÃO BENTO) – SALVADOR, BAHIA

Excertos de autoria de Dom Anselmo Rodrigues, OSB, coletados na página Patrimônio Sacral).

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O ideal de beleza desejado pelos monges nunca esteve desvinculado de um outro ideal: o de levar aos povos o Bom, o Belo e o Eterno, que é o próprio Deus. Assim, a primitiva abadia de Monte Cassino levantou-se ao lado da “ruína” do Império Romano não apenas para conquistar outras terras e povos, mas para evangelizá-los.

Por isso, após celebrar os mil anos de frutífera presença no continente europeu, os filhos de São Bento, sediados no Mosteiro de Tibães, em Portugal, resolvem “conquistar para Cristo” outros povos, desembarcando definitivamente nas terras da Bahia, em 1581.

Não nos esqueçamos que a religião foi princípio norteador da unidade na consolidação da pátria brasileira nascente. Ela impôs, às diversas raças aí misturadas, um mundo de representações mentais básico, que facilmente superpõe o mundo pagão dos índios e negros, através da hagiografia, tão adequada para abrir caminho ao cristianismo a indivíduos oriundos do politeísmo. A Igreja será o “centro das manifestações onde se moldava uma alma comum”.

O anseio místico de buscar a corporeidade através da imagem da luz, como reflexo da Luz, fez surgir, no continente americano o primeiro cenóbio das Américas e as primeiras manifestações da arte beneditina no Novo Mundo.

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Foi de fato na pequena ermida preexistente, fora dos muros da cidade, junto às portas de santa Luzia – dedicada ao mártir São Sebastião, então voltada para as águas, a fim de proteger a Bahia dos miasmas do mar – que se fixaram desde o início os “frades bentos”, como observa o antigo abade Dom Timóteo Amoroso Anastácio (+1994), ao referir-se ao labor da ordem que é, essencialmente, fruto do tempo: do tempo real em que, no anonimato, os monges puseram mãos à obra para edificar sua  morada, e esse outro tempo ao qual subordinam seu trabalho, não passível de medida, porque é um tempo do espírito, tempo de eternidade.

Em 1580, o Capítulo Geral da Congregação Lusitana da Ordem de São Bento, reunido no Mosteiro de São Tirso, aprovou a fundação do Mosteiro de São Bento da Bahia, que viria a ser o primeiro do Novo Mundo. Na Páscoa de 1582- Padre Frei Antônio Ventura do Latrão e alguns monges, oriundos do Mosteiro de São Martinho de Tibães, Casa Geral da Congregação Lusitana, chegaram à Bahia, estabelecendo-se numa pequena Ermida dedicada a São Sebastião, num terreno fora da cidade.

Em 1584, o Mosteiro de São Sebastião da Bahia, mais conhecido como Mosteiro de São Bento da Bahia, foi elevado à categoria de Abadia. Em 1586, recebeu de Catarina Paraguassu, em doação, a Ermida de Nossa Senhora da Graça, por ela construída em 1530, com o edifício anexo. Com isso foi fundado o Mosteiro de Nossa Senhora da Graça como dependência da abadia baiana. Desta forma consolidaram-se o Mosteiro de São Bento da Bahia e os primeiros beneditinos no Brasil.

Em 1596, o Mosteiro da Bahia recebe o título de Arquicenóbio do Brasil. É criada a Província Brasileira da Congregação Lusitana, tendo como Casa Geral a Abadia de São Sebastião da Bahia. Nesse mesmo ano os mosteiros de Olinda e Rio de Janeiro são elevados à condição de Abadia.

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Desde os primeiros anos de sua chegada a Salvador, capital da Bahia, os monges beneditinos revelaram muito critério na escolha de seus arquitetos, artesãos e artistas. A própria vida monástica parece ter propiciado a formação de excelentes profissionais nos quadros da Ordem. A ação desses monges estendia-se, por vezes, à obra de outras comunidades ou mesmo obras civis, como foi o caso de frei Macário de São João (+1676).

Esse arquiteto espanhol foi trazido à Bahia por iniciativa de outro monge arquiteto, frei Gregório de Magalhães (1603-1667), que fora colega, na Universidade de Coimbra, do famoso beneditino frei João Turriano (1610-1679), que de 1640 a 1653 exerceu a função de arquiteto-mor de Portugal, sendo ele mesmo autor do projeto do Mosteiro da Graça (1645), em Salvador, do Mosteiro de Santos (1650), no Estado de São Paulo, e do Mosteiro da cidade de São Paulo (1598).

Entretanto, se a arquitetura beneditina brasileira dos séculos XVI e XVII é quase uma transposição daquilo que já se praticava em Portugal, podemos afirmar que ela é, antes de tudo, uma arquitetura da Contra-Reforma, influenciada notoriamente pela construção da Igreja de Gesù, de Roma, cujo arquiteto, Vignola (1507-1573), é considerado um dos maiores tratadistas italianos do século XVI.

A Igreja do Mosteiro de São Bento da Bahia teve sua planta visivelmente influenciada pela obra de Vignola. Seu arquiteto, frei Macário de São João, chegou ao Brasil no difícil período que se seguiu à invasão holandesa. Projetou, para o mosteiro “cabeça da congregação no Brasil”, uma igreja monumental, cuja portada sob a galilé foi assim descrita por Bazin: “o aspecto mais notável da igreja é a bela ornamentação clássica, aplicada sob a parede de fundo do pórtico; é o trabalho arquitetônico mais engenhoso do Brasil datado do século XVII”. Nesse sentido, a Igreja do Mosteiro da Bahia se difere da dos outros Mosteiros do Brasil pela sobriedade e grandiosidade de espaços.

Embora sofrendo as influências do barroco nascente, a ausência das volutas barrocas, juntamente com a esplêndida iluminação que desce dos óculos de sua cúpula, a torna uma igreja majestosamente sóbria, com um gosto refinado e disciplinado, marcado decisivamente pela discretio beneditina. Vale ressaltar que o Mosteiro da Bahia possui uma das maiores coleções de obras de arte do Brasil, que vão de alfaias, objetos de prata e ouro, além de uma surpreendente coleção de livros raros, considerada a segunda maior do Brasil.

Se por um lado os monges pensavam, desenhavam e administravam os mosteiros e igrejas que iam surgindo nas principais cidades brasileiras, por outro, a parte braçal da obra cabia aos escravos. A maioria dos historiadores das artes no Brasil têm preferência em falar dos arquitetos e artistas acadêmicos. Todavia, pouco ou nada falam a respeito dos es- cravos e de sua importância no desenvolvimento do patrimônio móvel e imóvel ao longo dos séculos. Portugal conheceu a escravidão de povos africanos desde o século XV, advindos especialmente do tráfico negreiro. Ao chegarem ao Brasil, os primeiros monges não viram nenhum problema de contar com a mão-de-obra escrava para a construção de seu patrimônio imobiliário. Os “escravos da religião”, como serão conhecidos os negros que serviam às igrejas, conventos e mosteiros, estariam, assim, conforme a mentalidade da época, servindo não apenas aos senhores temporais, mas ao próprio Senhor dos homens.

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Em 1° de julho de 1827, o Papa Leão XII declarou desmembrados da Congregação Lusitana os Mosteiros do Brasil, tornando-os independentes sob a denominação de Congregação Beneditina Brasileira, por meio da Bula “Inter gravissima”.

Na Segunda metade do século XIX, foram acrescentadas à nave atual, a cúpula e a capela-mór.

Por ser o Mosteiro que deu origem à Congregação Beneditina Brasileira, o Papa João Paulo II concedeu ao Mosteiro da Bahia, em 1998, o título de Arquiabadia da Congregação Beneditina do Brasil.

Fotografia antiga da Ladeira de São Bento, com o velho casario que infelizmente sucumbiu ao crescimento desordenado da cidade

Placas em memória de embates ocorridos no mosteiro, durante a invasão holandesa de 1624

REFERÊNCIAS:

– RODRIGUES, Dom Anselmo, OSB. Textos disponíveis em sacroespaco.blogspot.com

– Mosteiro de São Bento

 

 

 

https://curitibaeparanaemfotosantigas.blogspot.com/

 

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