terça-feira, 27 de dezembro de 2022

No final da década de trinta, a companhia Moinhos Ingleses, então pertencente ao grupo Bunge & Born – atual Bunge –, iniciou os estudos para instalação do Moinho Paranaense Ltda no bairro Rebouças, em Curitiba.

 No final da década de trinta, a companhia Moinhos Ingleses, então pertencente ao grupo Bunge & Born – atual Bunge –, iniciou os estudos para instalação do Moinho Paranaense Ltda no bairro Rebouças, em Curitiba.

https://prediosdecuritiba.com.br/moinho-paranaense-reboucas/

O projeto era de interesse do governo federal, que buscava diminuir a dependência do país em relação ao trigo estrangeiro. Nesse sentido, o objetivo do Moinho era a moagem do trigo nacional, preferencialmente aquele produzido no Paraná.

Sua inauguração se deu às 11 horas da manhã de uma segunda-feira, dia 15 de janeiro de 1940, depois de aproximadamente dois anos de obras. O evento contou com a presença do interventor Manoel Ribas acompanhado de uma série de autoridades civis e militares, industriais, comerciantes, além de boa parte da imprensa.

Foto: Marcelo Araújo (@marcelo_araujo)

O novo Moinho dispunha de instalações modernas para a época e todo o seu maquinário foi importado da Inglaterra. O edifício de cinco pavimentos abrigava o moinho propriamente dito, enquanto o prédio de três andares ao seu lado funcionava como armazém. Os demais edifícios cumpriam funções administrativas de apoio, tais como vestiário, oficina, carpintaria, refeitório e cozinha.

Entre as farinhas de trigo que eram produzidas, destacavam-se várias marcas: Buda Nacional, Soberana, Ivahy, Marumby e Piquiry. Posteriormente, os biscoitos Aymoré também passaram a ser produzidos no local.

Apenas seis anos depois da inauguração, em uma madrugada de maio de 1946, um incêndio atingiu o maior dos prédios da fábrica. As chamas foram prontamente combatidas pelos funcionários e pelo Corpo de Bombeiros, ainda assim, três andares foram inteiramente queimados. Notícias da época levantaram a possibilidade de o incêndio ter sido criminoso.

Apesar disso, a estrutura foi recuperada e o Moinho voltou a funcionar regularmente cumprindo papel importante no auxílio aos produtores de trigo do Paraná.

Foto: Marcelo Araújo (@marcelo_araujo)

Em 1958, a fábrica foi ampliada para abrigar dois silos de armazenagem de trigo. O projeto coube a Scott Engenharia e Construções Ltda., enquanto a execução da obra foi realizada pela Construtora Iguaçu e teve como responsável técnico o engenheiro civil Estefano Mikilita. Naquele ano, a Indústria contava com 158 funcionários registrados. 

O início dos anos 1960 foi marcado por uma crise no comércio e industrialização do trigo. O preço, que era tabelado, foi considerado insuficiente para o lucro pretendido pelos moageiros. As notícias da época indicam que houve dificuldade na distribuição aos panificadores curitibanos. Naquela ocasião, o Moinho continuou a fornecer suas cotas ao mercado, no entanto, de forma parcelada.

O Moinho Paranaense Ltda encerrou de vez suas atividades no início dos anos 1970. Em janeiro de 1972, toda a fábrica foi comprada pela concorrente Anaconda Industrial e Agrícola de Cereais S.A., que já possuía um moinho a um quilômetro e meio de distância, ao lado do viaduto Capanema.

Até onde se sabe, o novo proprietário não utilizou a fábrica, que acabou permanecendo fechada e sem uso por cerca de trinta anos.

Em abril de 2001 o imóvel foi transferido a um dos credores da Anaconda, que logo em seguida o vendeu para uma empresa administradora de shopping centers por um milhão de reais.

Dois anos depois, em março de 2003, a empresa optou por doar o imóvel à Prefeitura de Curitiba em troca da concessão de potencial construtivo.

Nos anos seguintes, o “Moinho Rebouças” – como ficou habitualmente conhecido –, tornou-se palco de eventos culturais esporádicos. A definição de um uso efetivo só viria em 2006, quando após reforma e investimento de R$ 500 mil, o antigo Moinho Paranaense se transformou na nova sede da Fundação Cultural de Curitiba, que lá permanece até o presente ano.

Por meio da Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação S.A., desde 2017, o antigo Moinho também é a sede do programa Vale do Pinhão, iniciativa que busca potencializar a inovação ao reunir diversos atores, como universidades, fundos de investimento, secretarias municipais, incubadoras e startups.

Foto: Marcelo Araújo (@marcelo_araujo)
Foto: Marcelo Araújo (@marcelo_araujo)
Foto: Marcelo Araújo (@marcelo_araujo)
Foto: Marcelo Araújo (@marcelo_araujo)

Texto disponível também no site redatorminelladiego.press

Ficha Técnica

  • Nome: Moinho Paranaense Limitada – atualmente Moinho Rebouças, sede da Fundação Cultural de Curitiba (FCC)
  • Ano de construção: 1938 ~ 1940
  • Endereço: Rua Engenheiro Rebouças, 1732, Rebouças, Curitiba-PR
  • TipologiaIndustrial
  • Detalhes:  a edificação é uma Unidade de Interesse de Preservação (UIP)

Fontes

Secretaria Municipal do Urbanismo – Prefeitura Municipal de Curitiba

Cartório de Registro de Imóveis 7ª Circunscrição, Curitiba/PR.

A moagem e o consumo do trigo paranaense. Correio do Paraná, Curitiba, 6 de abril de 1939. Edição 3182, p. 2. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/171395/11547

Uma iniciativa de envergadura para a indústria no Paraná. O Dia, Curitiba, 7 de janeiro de 1940. Edição 5043, p. 8. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/092932/40000

Inaugurado o Moinho Paranaense. Diário da Tarde, Curitiba, 16 de janeiro de 1940. Edição 13502, p. 8. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/800074/56270

Reforçando a estrutura econômica do Paraná. O Dia, Curitiba, 16 de janeiro de 1940. Edição 5050, p. 3. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/092932/40039 e http://memoria.bn.br/docreader/092932/40041

Ainda mais esta! Devorado pelas chamas o Moinho Paranaense. Diário do Paraná, Curitiba, 5 de maio de 1946. Edição 166, p. 4. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/171433/1319

Suspeita-se ter origem criminosa o incêndio do Moinho Paranaense! Diário da Tarde, Curitiba, 4 de maio de 1946. Edição 16046, p. 6. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/800074/70724

Propaganda do Moinho Paranaense. A Divulgação, Curitiba, nov-dez de 1947. Edição 00001-00002, p. 39. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/095346/239

O trigo paranaense na economia nacional. A Divulgação, Curitiba, fev-março de 1948. Edição 00003-00004, p. 26. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/095346/282

Vista geral do Moinho Paranaense. A Divulgação, Curitiba, 1952. Edição 00005-00006, p. 10. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/095346/1356

Projeção do Moinho Paranaense na triticultura do Estado. A Divulgação, Curitiba, 1955. Edição 00008, p. 7. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/095346/2937

Desmascarado o truque: Moinho forçava demissão de empregados mais antigos. Última Hora, Curitiba, 14 de junho de 1960. Edição 2513, p. 10. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/830348/5641

Moinhos negam-se a fornecer trigo: cidade ameaçada de ficar sem pão! Última Hora, Curitiba, 19 de fevereiro de 1963. Edição 532, p. 2. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/830348/16249

Falta de trigo é boato: estoques abastecerão o Paraná até dezembro. Correio do Paraná, Curitiba, 29 de setembro de 1964. Edição 1576, p. 4. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/171395/26536

GALINDO, Rogério Waldrigues. Moinho Rebouças é a nova casa da Fundação Cultural de Curitiba. Gazeta do Povo, Curitiba, 15 de maio de 2006. https://www.gazetadopovo.com.br/caderno-g/moinho-reboucas-e-a-nova-casa-da-fundacao-cultural-de-curitiba-a0x6waxd9qlxzpzjljs94ihxq/

A Telecomunicações do Paraná S.A. – Telepar, foi fundada em 1963 durante o mandato do governador Ney Braga.

 A Telecomunicações do Paraná S.A. – Telepar, foi fundada em 1963 durante o mandato do governador Ney Braga.

https://prediosdecuritiba.com.br/torre-da-telepar-atual-torre-da-oi/

Durante muitos anos, toda a estrutura de comunicações da concessionária permaneceu concentrada em um único edifício, o Palácio das Telecomunicações Presidente Arthur da Costa e Silva na avenida Manoel Ribas, nº 115.

Percebeu-se, então, que qualquer problema mais grave naquele prédio poderia deixar o Paraná sem meios de comunicação com os estados e países vizinhos e também entre as próprias cidades. Assim, surgiu a ideia de se construir uma torre não apenas para ampliar a capacidade de atendimento, mas principalmente para assegurar sua continuidade diante de algum imprevisto no edifício sede.

Nesse contexto, surgem os primeiros preparativos para construção da torre, ainda na década de 1980.

Em dezembro de 1982, a empresa adquiriu o terreno na esquina das ruas Jacarezinho e Professor Lycio de Castro Vellozo no bairro Mercês. O lote se mostrava ideal por sua elevada altitude de 940,50 metros, 2º ponto mais alto de Curitiba. Para tirar o projeto do papel, no entanto, foi necessário alterar a lei de zoneamento da região, que impedia a instalação da central telefônica e da torre naquela área.

Com essa finalidade, o Prefeito Maurício Roslindo Fruet encaminhou à Câmara Municipal um projeto de lei para modificar o zoneamento. Dessa forma foi aprovada a Lei nº 6.400 em 16 de junho de 1983.

Torre da Telepar, 1997. Foto: @curitibadopassado

A CONSTRUÇÃO DAS CENTRAIS TELEFÔNICAS

O complexo de comunicação surgiu a partir de um convênio firmado com a Embratel. Sua composição incluía a torre e dois edifícios para as centrais telefônicas, um para cada empresa.

Para a construção das centrais telefônicas, em 1986, a Telepar realizou uma concorrência, da qual se consagrou vencedora a construtora curitibana Saavedra Ltda. Esta etapa da obra foi de responsabilidade do engenheiro Uriel Gonçalves Coimbra e do arquiteto Valery Kalko.

Posteriormente, por divergência em relação ao pagamento dos reajustes, a Saavedra rompeu o contrato com a estatal, sendo necessário realizar outra concorrência para que os edifícios fossem finalizados.

Já para erguer a torre, além da alteração na lei de zoneamento, foi preciso chegar a um consenso com a Prefeitura e também com o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC). O alvará de sua construção só foi emitido mediante a contrapartida de se construir um mirante no topo da estrutura. Com isso, buscava-se acrescentar mais uma utilidade a estrutura, criando um novo atrativo para os moradores e também para os turistas.

Vencida esta etapa, foi possível avançar na concepção do projeto.

O PROJETO DA TORRE

Participaram do desenvolvimento do projeto a empresa Concremat, de São Paulo, em conjunto com os engenheiros da Telepar.

De início, foi preciso definir se a torre seria metálica ou de concreto. Optou-se pelo concreto tendo em vista sua maior capacidade de carga para receber antenas, assim como para suportar o mirante panorâmico situado a 95 metros de altura. Além disso, o concreto apresenta vida útil maior do que as torres metálicas feitas de aço galvanizado.

Vale ressaltar que os engenheiros da Telepar já tinham experiência na construção de torres de concreto.

Assina o projeto o então gerente do Setor de Torres e Estruturas Metálicas, engenheiro civil Renato Roberto Johansson. A fiscalização e o acompanhamento do dia a dia da obra foi de responsabilidade do engenheiro civil Marcelo Stival, enquanto a estruturação da parte elétrica coube ao engenheiro eletricista Hatiro Tamaru, todos funcionários de carreira da estatal.

A CONSTRUÇÃO DA TORRE

Por meio de licitação aberta em agosto de 1988, dez empreiteiras apresentaram propostas para construção da torre. A Construtora Dell’Acqua, de São Paulo, venceu a disputa e deu início a construção no primeiro semestre de 1989.

Para sustentar a estrutura de 109,5 metros, a fundação conta com oito “tubulões” que adentram a uma profundidade de 23 metros. O volume de concreto usado nesta etapa corresponde a um edifício de dez andares.

Após finalizada a base, a concretagem do fuste – corpo da torre – era feita 24 horas por dia por meio de formas deslizantes, em turnos de 12 horas, sendo que no ápice da construção a cada um desses turnos a torre ganhava dois metros de altura.

Placa da Construtora Dell’Acqua em frente ao canteiro de obras.
Foto: Eng. Renato Roberto Johansson
Obras da fundação da torre. Foto: Eng. Renato Roberto Johansson
Concretagem da torre durante a noite. Foto: Eng. Renato Roberto Johansson

Na época, a construção da torre representou a maior concretagem da história do Estado do Paraná.

A estrutura possui dois elevadores, um para serviços internos e manutenção e outro exclusivo para quem sobe até o mirante. Ambos apresentam velocidade maior do que os elevadores comuns, residenciais.

Logo abaixo do mirante estão distribuídas sete plataformas metálicas onde ficam instaladas diversas antenas.

Em razão do barulho causado pela obra, houve muita reclamação dos vizinhos. Em um dado momento a Prefeitura cogitou a interdição dos trabalhos. Porém, essa situação foi contornada com diálogo entre as partes de modo que a construção não chegou a ser paralisada.

Outra curiosidade é que mesmo antes da torre ficar inteiramente pronta, algumas dessas antenas foram instaladas para conectar municípios do interior do Paraná.

Durante as obras, em dezembro de 1989, o presidente da Telepar Fernando Xavier Ferreira explicou ao jornal Correio de Notícias que a nova estrutura seria capaz de atender a toda região sul do país, além de facilitar a comunicação com a Argentina e o Paraguai.

Primeira antena sendo preparada para o içamento.
Foto: Renato Roberto Johansson
Instalação da primeira antena ainda durante as obras.
Foto: Eng. Renato Roberto Johansson
Torre na cota de 80 metros. Foto: Eng. Renato Roberto Johansson

USO TURÍSTICO

Para consolidar o que foi acordado antes do início da obra, a Prefeitura e a Telepar assinaram contrato de comodato – empréstimo gratuito – para uso turístico da Torre em maio de 1990. Neste contrato, a Companhia cedeu o hall de entrada, o estacionamento, uma área para exposições e o mirante localizado no topo da estrutura que oferece uma visão da cidade em 360 graus. A Fundação Cultural de Curitiba ficou responsável pela administração do local e contou com apoio do IPPUC para desenvolver o novo ponto turístico.

A INAUGURAÇÃO

A inauguração oficial ocorreu em 17 de dezembro de 1991, depois de aproximadamente dois anos e meio de obras. A cerimônia foi liderada pelo então governador Roberto Requião e contou com a presença dos ex-governadores Paulo Pimentel e Ney Braga, que autorizou a criação da Telepar durante seu governo, em 1963.

A compra de equipamentos para implementar o serviço de telefonia móvel no Paraná seria autorizada pela Telebrás logo após a inauguração, passando a operar na torre a partir de setembro de 1992.

Foi em 1992, também, que se instalou no interior do mirante o painel de 50 m² formado por 96 blocos de concreto feitos pelo artista Poty Lazzarotto (1924 – 1998). O painel intitulado “As Comunicações” é uma síntese que apresenta elementos história de Curitiba em conjunto com a história da telefonia, e foi elaborado a fim de presentear a cidade que chegaria aos seus 300 anos em 29 de março do ano seguinte.

A PRIVATIZAÇÃO DA TELEPAR

Em agosto de 1995, a Emenda Constitucional nº 8 pôs fim ao monopólio do Estado sobre as telecomunicações. No ano seguinte, o governo federal deu início a privatização do sistema Telebrás.

A estatal paranaense foi absorvida pela Brasil Telecom em meados de 1998, mantendo a denominação Telepar até março do ano 2000.

Pouco mais de uma década depois, em 2009, a Brasil Telecom seria adquirida pela Oi S.A., que desde então passou a exibir sua logomarca no topo da edificação e a renomeou como Torre da Oi.

Texto disponível também no site redatorminelladiego.press

Torre da Oi, 2022. Foto: Rodrigo Félix Leal (@rodrigofelixleal1980)
Torre vista a partir do Parque Barigui, agosto de 2020.
Foto: Marcelo Araújo (@marcelo_araujo)
Torre da Oi, agosto 2021. Foto: Aline Andreatta (@fotografeali)

FICHA TÉCNICA
Nome: Torre da Oi, originalmente Torre da Telepar, também conhecida como Torre das Mercês
Ano de construção: 1989 ~ 1991
Engenheiros: Renato Roberto Johansson, Marcelo Stival, Hatiro Tamaru, entre outros.
Tipologia: infraestrutura urbana, telecomunicações
Construtora: Dell’Acqua e Concremat
Andares: equivalente a um prédio de 40 andares
Altura: 109,50 m – 17ª estrutura mais alta de Curitiba conforme o ranking que você pode conferir aqui.
Endereço: Rua Professor Lycio Grein Castro Vellozo, 191 – Mercês, Curitiba – PR, 80710-650

FOTOS

Curitiba do Passado (@curitibadopassado)

Renato Roberto Johansson

Rodrigo Félix Leal (@rodrigofelixleal1980)

Marcelo Araújo (@marcelo_araujo)

Aline Andreatta (@fotografeali)

FONTES

Secretaria Municipal do Urbanismo – Prefeitura Municipal de Curitiba

Renato Roberto Johansson, José Francisco Cunha e Uriel Gonçalves Coimbra

Material filmado em VHS pelo engenheiro Renato Roberto Johansson durante as obras, entre 1989 e 1991. Os vídeos foram digitalizados recentemente e se encontram disponíveis no canal do Youtube José Francisco Cunha, com a devida autorização de Giovane da Silva, Diretor Comercial da Oi Telecomunicações da Região Sul.

Telepar – a revolução das telecomunicações (2018). Livro elaborado pelo jornalista e advogado Walter Werner Schmidt, relações-públicas José Francisco Cunha, economista Paulo Arruda Bond, engenheiro eletricista Israel Kravetz e pelo industrial e empresário Wilson Raimundo Pickler

Astelpar – Associação dos Aposentados e Pensionistas do Setor de Telecomunicações do Paraná

Em março Telepar opera nova torre nas Mercês. Correio de Notícias. Curitiba, 16 de dezembro de 1989. Edição 178, p. 6. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/325538_01/36667

Torre da Telepar vira um ponto de atração. Correio de Notícias. Curitiba, 29 de maio de 1990. Edição 11, p. 16. (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/325538_02/2164

Telepar inaugura torre e anuncia telefonia móvel em 92. Correio de Notícias. Curitiba, 18 de dezembro de 1991. Edição 205, p. 1. (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/325538_02/12487

Painel de Poty é inaugurado hoje na Torre da Telepar. Correio de Notícias. Curitiba, 25 de novembro de 1992. Edição 156, p. 8. (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/325538_02/19290

Ao ser construída em 1737, seu nome de origem era “Nossa Senhora do Terço”, foi alterado somente após o surgimento da Ordem de São Francisco em Curitiba, no ano de 1746.

 Ao ser construída em 1737, seu nome de origem era “Nossa Senhora do Terço”, foi alterado somente após o surgimento da Ordem de São Francisco em Curitiba, no ano de 1746.

https://prediosdecuritiba.com.br/de-volta-ao-tempo-igreja-da-ordem-terceira-de-sao-francisco-das-chagas/

Em 1752, foi anexado à Igreja, um convento que funcionou até 1783, sendo dirigido por religiosos franciscanos.
Entre 1834 e 1835 o vigamento da Igreja acabou por desabar, e mesmo com tentativas de reconstrução e toda condição precária em que se encontrava, o espaço ainda serviu de paróquia para os colonos portugueses recém chegados. Somente em 1880, com a visita do imperador D. Pedro II, foi promovida a restauração definitiva da Igreja.

A modificação de sua linguagem Colonial para uma Neogótica, refletiu não somente na sua arquitetura, mas também na mudança cultural na sociedade curitibana.
Neste momento, o período era marcado com a presença de muitos imigrantes, principalmente alemães, e dessa forma, a igreja foi tombada em 1965 como Patrimônio Cultural do Estado do Paraná.

Em 1974, os arquitetos Cyro Correia de Oliveira Lyra e Jose la Pastina filho, elaboraram um projeto de restauro e de adaptação da sua sacristia para um Museu de Arte Sacra de Curitiba (MASAC). Em 1981, foram confiscados paramentos e objetos históricos das quatro igrejas mais antigas da cidade, e com todo esse desdobramento do restauro, o edifício acabou revelando que guardava em seu arcabouço grande parte da Igreja Primitiva.
Não somente em seu arcabouço, mas também na capela-mor, no pórtico neogótico da sua entrada, e em vários detalhes arquitetônicos ela foi se revelando.

Diante da existência de Duas Igrejas, uma Primitiva com características coloniais do século XVIII e a Neogótica do Século XIX, o projeto de Restauro foi cuidadosamente desenvolvido para que o edifico mostrasse de forma clara os dois momentos históricos, tanto no seu exterior quanto no interior.

Características curiosas da sociedade no final do século XIX e início do século XX, são observadas até hoje. Como exemplo, podemos citar as portas laterais a uma altura de mais de 50 cm da rua, que eram assim feitas para que as pessoas descessem de suas carruagens sem sujar os pés ao redor da igreja.
As portas ainda permanecem lá, hoje desativadas, no início da Rua Mateus Leme.
Ao lado esquerdo da porta principal, também estão os “Rapa Pés” de ferro, usados pelos fiéis que chegavam a pé, para limpar os calçados ou até mesmo seus próprios pés, que se encontravam cheios de lama ou terra antes de entrar na igreja.
A partir daí surge a famosa expressão “pé rapado”.

Durante uma das reformas, em 1993, foi encontrado entre suas paredes um pequeno caderno com anotações históricas sobre a igreja, a “Breve Notícia da Igreja da Ordem III de São Francisco das Chagas”, de Antônio Lustoza de Andrade, que havia sido o responsável pela reforma da igreja em 1880, para a visita de Dom Pedro II.

No ano de 2003 foi inaugurado, atrás da igreja, o Cenáculo Arquidiocesano, um espaço para as mais diversas atividades, contando com grande auditório, refeitório, capela, jardim e dormitórios.

No interior da igreja, várias obras de arte podem ser admiradas, como a Via Sacra, pintada em 1983 por Luís Carlos de Andrade Lima, um célebre pintor curitibano, falecido em 1998.

O órgão de tubos da Igreja da Ordem é o instrumento mais antigo de Curitiba, provavelmente trazido da Matriz em 1880, por ocasião da visita de Dom Pedro II. Toda vez que estamos diante de uma obra de restauro de um prédio histórico, o maior desafio do arquiteto responsável é saber adaptar aquele edifício a sua atual realidade sem perder a sua essência histórica. Muitas vezes a obra acaba se perdendo por falta de verbas, iniciativa, mão de obra, descaso com a história, descaso com o edifício e seus detalhes ricos, descaso com o século que está inserido e com o seu entorno descaracterizando o edifício e sua essência, como uma obra superficial.

A dosagem deve ser perfeita e feita com muita maestria, como foi o caso da Igreja da ordem, principalmente por sua arquitetura revelar dois momentos históricos muito importantes para  nossa cidade. A impressão que passa é de um lugar congelado no tempo, como se pudéssemos voltar aos séculos XVIII e XIX por alguns instantes, desde o seu interior ao exterior. O museu também estimula esse sentimento de “Volta ao tempo”.

É referência de uma obra rica em história, tanto arquitetônica para os profissionais da área, quanto para a cidade de Curitiba, deixando suas raízes muito bem expressas e reveladas para as novas gerações Curitibanas.

Fonte:

  • www.patrimoniocultural.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=199
  • www.curitibaantiga.com/fotos-antigas/37/largo-da-ordem.html
  • www.centrohistoricodecuritiba.com.br/2014/03/10/igreja-da-ordem-terceira-de-sao-francisco-das-chagas/
  • www.turistoria.com.br/igreja_ordem

Fotografias: Washington Takeuchi / (Não identificado)

1950 Cruzamento da Av. Marechal Floriano Peixoto e a Br-476(antiga BR-2, hoje Linha Verde). Ao fundo à direita da foto antigos tanques de combustível

 1950 Cruzamento da Av. Marechal Floriano Peixoto e a Br-476(antiga BR-2, hoje Linha Verde). Ao fundo à direita da foto antigos tanques de combustível


AVENIDA MANOEL RIBAS - ESQUINA - RUA VISCONDE DE NACAR - 1942 - CURITIBA

 AVENIDA MANOEL RIBAS - ESQUINA - RUA VISCONDE DE NACAR - 1942 - CURITIBA


Histórias de Curitiba - Curitiba e Coritiba: Entre pinheiros e tatetos

 

Histórias de Curitiba - Curitiba e Coritiba: Entre pinheiros e tatetos

Curitiba e Coritiba: Entre pinheiros e tatetos
Valério Hoerner Júnior

A análise do topônimo CURITIBA, para que dela se obtenha um entendimento fácil a respeito do seu significado, exige alguma precisão técnica, vez que o termo, como ele é hoje escrito, foi objeto de um curioso processo metonímico.
Para a necessária compreensão de um público leigo eventualmente interessado, resume-se o problema no simples significado do topônimo diante de três étimos guaranis, curiy, designativo de pinheiro, curé e coré, que significam porco.
O resultado destes radicais associados ao sufixo tupi tiba, que designa quantidade ou abundância, concorreu para a formação de dois substantivos parecidíssimos, CURITIBA e CORITIBA, diferentes apenas por uma letra.
Mas até chegar a estas formas passaram, ao longo dos três últimos séculos, por incontáveis variações - Coré-etuba, Coretiba, Coreitiba, Coritiba, Corituba, Curetiba, Curiyatiba, Curiyatuba, Curiytiba, Curituba, Curutiba, Curityba e Curitiba, entre outras -, o que acabou por produzir uma anarquia ortográfica identificada e registrada pelo historiador Ermelino de Leão no Dicionário Histórico e Geográfico do Paraná.
O nome da capital paranaense constitui pois "uma grande metonímia toponímica", conforme menção do filólogo Francisco Filipak em seu trabalho Curitiba e suas variantes toponímicas.
O processo ortográfico dessas duas formas vocabulares praticadas modernamente atende com perfeição à lógica da filologia, pois, apesar da semelhança existente entre si, ambas possuem origem absolutamente diversa.
Tomados os radicais guaranis curiy e curé ou coré, o primeiro designando pinheiro e os demais porco, tem-se que Curitiba, variante sincopada de Curiytiba, quer dizer abundância de pinheiros e Coritiba, curé + tiba ou coré + tiba, abundância de porcos.
A ortografia atual e oficial -Curitiba - foi estabelecida por decreto do então presidente do Estado do Paraná Affonso Alves de Camargo, em 1919, que levou em conta, na ocasião, ser o nome da cidade grafado comumente de diferentes formas; apresentava-se pois a conveniência de estabelecer-se-lhe a uniformidade.
Assim, oficialmente, foi decretada a grafia Curityba, com ípsilon, que só foi alterada em 1 943 quando a reforma ortográfica permutou os ípsilons pelos is, transformando, assim, naturalmente, o sufixo tyba em tiba.
O nome da cidade passou, então, a partir de 1919, a significar abundância de pinheiros, descartada qualquer outra tradução, uma vez que tenha sido adotada a corrente do étimo respectivo, curiy.
Esta tradução ficou longe portanto da resultante Coritiba (coré = porco + tiba = abundância) criada supostamente pelo cacique tingüi - Coré-etuba -, forma atual apenas do nome da sociedade Coritiba Foot Bali Club, que, por razões de conservadorismo com base na tradição, fundada que foi em 1909 quando grassava a anarquia ortográfica mencionada por Ermelino de Leão, prefere manter
ainda hoje a forma original, inclusive os componentes de língua inglesa.
Curitiba possui, então, um étimo e Coritiba outro.
A prova está no referido cacique tingüi, imortalizado na cena da fundação da cidade, que, ao conduzir por volta de 1654 os moradores da Vilinha das margens do rio Atuba à bela colina que é hoje a praça Tiradentes, situada entre duas aguadas piscosas e farta em caça, especialmente tatetos, não teria tido a ingenuidade pronunciando taki keva: Coré-etuba! 1 - de apontar para o óbvio, ou seja, os pinheiros existentes por toda parte, copadas a perder-se no horizonte.
Quis mesmo, o cacique, dizer àquele povo humilde, privado de repente dos seus garimpos, das condições ideais do local que conscientemente indicava para assentamento, fauna e flora, com fácil subsistência tanto pelas muitas varas disponíveis, o que afirmou, quanto pelo lugar proveitoso que mostrou, servido ainda pelos límpidos e piscosos rios Ivo e Belém.
Obs 1: O desaviso tem oferecido por todo o tempo equívocos com relação aos topônimos Curitiba e Coritiba.
Aparecem esses equívocos quando alguém de fora, por curiosidade, pergunta a respeito do vocábulo, intrigado que fica geralmente com a presença do o na formação do nome do clube, Coritiba Foot Bali Club, em contraposição ao nome da cidade.
Mais ainda: quando joga o Coritiba com times de fora, alguns narradores d’outros pagos, com o fito de esclarecer ao público ouvinte, dão-se ao luxo de tentar explicar a tal diferença. É quando as histórias se multiplicam, com algumas delas beirando o absurdo.
Mas seria muita pretensão, referta de ingenuidade, pretender que forasteiros se houvessem bem quanto à etimologia dos vocábulos, se nem cá na terrinha
- salvo excepcionalidades - são encontráveis virtuais aptidões

Valério Hoerner Júnior é escritor.

Histórias de Curitiba - A Praça do 9o

 

Histórias de Curitiba - A Praça do 9o

A Praça do 9o
Maria Rosa Cartaxo Moura

O som tonitroante da explosão era ensurdecedor.
Estáticos, com o coração em disparada e a respiração acelerada pela comoção, víamos os canhões cuspirem fogo e fumaça. 1; 2; 3......21
salvas contadas, homenageavam eventos nacionais importantes.
Morar na circunvizinhança da praça do 9o Batalhão de Cavalaria constituía para nós, crianças, um espetáculo excitante e movimentado, encenado por jovens soldados recrutas, por instrutores superiores que o exercitavam e os treinavam a montar e atirar.
Os canhões eram tracionados por cavalos robustos e bem tratados.
A Praça do 9o (Praça Osvaldo Cruz), pelos idos de 1940, era um quadrilátero recoberto de capim nativo, apenas. À medida em que o tempo transcorria, a praça ganhava nova nomenclatura: 3o R.A.M. (Regimento de Artilharia Montada), C.PO.R. (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva), e também um renovado visual: grama plantada, sebe de vegetação que a delineava, calçada, campo de futebol, barras para ginástica, quadras de areia para saltos com vara, distância e altura e, mais tarde, piscina e Centro de Desportos.
As crianças da Praça do 9o cresceram familiarizados com botas, uniformes, quepes e armas.
Medo, não tínhamos.
Ao contrário sentíamos orgulho cívico e segurança.
Empolgava-nos oruflardos tambores, o som da cometa solitária que soava em determinadas horas do dia, os cantos patrióticos e as marchas cadencia-das que eram comandadas por vozes fortes que gritavam ordens.
Vez por outra o cassino dos oficiais abria seu salão e o baile acontecia.
Os vestidos longos das esposas e a gala da farda, embe-vecíam-nos.
Certa vez, observávamos, com respeito e alguma distância, a solenidade do sentinela posicionando, imóvel, com arma ao ombro, quando um oficial, amavelmente, convidou-nos a conhecer o interior do quartel .
A sensação de transpor os umbrais de um outro mundo, ao cruzarmos o pesado portão de duas enormes folhas, arrebatou-nos.
Apreciamos o grande pátio calçado com paralelepípedos de pedra e sensibilizou-nos conhecer de perto, o "marido militar" de nossa "pinheira". Do magestoso e copado pinheiro do quartel, vinha o pólem através do vento, pássaros ou insetos, que fertilizava o pinheiro situado em nosso jardim.
Os frutos, carnudos e gostosos pinhões, todos os anos, forravam o gramado.
Hoje o quartel está desativado e vendido para um grupo empresarial que fará dele um grande shopping, preservando, certamente, suas linhas, estilo e história.
A Praça que era para militar, civilizou-se.
Entretanto, é curioso recordar o tempo em que o solícito soldado, batendo de casa em casa, recomendava: "abram as janelas que os canhões vão disparar." O Impacto do deslocamento do ar poderia quebrar os vidros.
Ou lembrar, com bom hu-
mor, quando recebemos, com grande atraso uma carta assim endereçada: Ernani G. Cartaxo -Praça do 9o - Curitiba.
Meia dúzia de carimbos distribuíam-se pelo envelope dizendo "não pertence a está Companhia"!
A Praça 9o ligou-se às nossas vidas e às nossas memórias.
Atingiu-nos e fez-se ponto referencial de época e fase.
Quebrou rotina, modificou programas, provocou vibração.
Cerrando os olhos, vejo nela os cavalos, ouço seus relinchos agudos e o coral uníssono de jovens vozes que entoam o estribi-Iho compassado:
"Cavalaria, tu és na guerra a nossa estrela guia!"
Sem dúvida, lembrar os lances protagonizados na Praça do 9o, faz hoje sentir-me mais viva e mais vinculada ainda à terra querida de Curitiba.

Maria Rosa Cartaxo Moura é cronista.