sábado, 3 de dezembro de 2022

QUEM LEMBRA-SE DAS SESSÕES DE TELE-CATCH ?

 QUEM LEMBRA-SE DAS SESSÕES DE TELE-CATCH ?

"Encontro o Rogério Taborda, no Bar Figura, rua Valdemar Kost, Hauer e no bate-papo à beira do balcão de entrada, ele se identificou como sendo meu ouvinte de muitos anos. A conversa gira em torno de rádio e chega a televisão e neste momento ele lembra do tele-catch, dizendo que acompanhava o programa desde os tempos em que era apresentado na rua Emiliano Perneta, centro, onde funcionou durante anos a emissora do Dr. Nagibe Chede, depois negociada com a Gazeta do Povo. Pouco depois desta transação, o Canal 12 foi para o Castelo do Batel e lá construiu um pavilhão e dentro deste, arquibancada pré-montada e ringue.
O tele-catch foi para lá sendo apresentado nas noites de domingo sempre com a presença de um grande público, que vibrava entusiasticamente. Havia alguns torcedores mais entusiasmados que se dispunham a agredir os lutadores maldosos como Jóia Psicodélico, este era o mais odiado; Metralha, outro que a galera detestava; Aquiles, Falcão, Àtila, também eram lutadores antipáticos ao público, pois faziam papel de ruins.
Bala de Prata, Mister Argentina, Ted Boy Marino, Carlinhos Dorneles, Mister Lenzi, Gladiador, Tigre Paraguaio, Brasão, Big Boy, eram os preferidos, pois eram os lutadores de bom caráter. Big Boy, o nome usado pelo depois vereador de Curitiba, Roberto Acioli.
Tinha também Fantomas, Verdugo, La Múmia, inclusive o Coronel Xavier, que foi comandante da Polícia Militar, chegou a lutar tele-catch representando La Múmia. Estes usavam roupas diferentes que lhes cobriam todo o corpo, bem como o rosto. Os fãs tornavam certos lutadores como mitos, ídolos e arrumavam “estórias” para eles. O tele-catch durante anos foi um grande sucesso do Canal 12, sempre com o pavilhão lotado e grande audiência.
Quando o tele catch estreou no Batel, o radialista Sérgio Fraga, com seus quase dois metros de altura, porte físico avantajado foi contratado para ser o apresentador e Wilson Brustolim, o narrador. Fraga, não se adaptou e resolveu sair. O Jota Jota, João José de Arruda Neto, então diretor artístico do Canal 12, me chamou e pediu que apresentasse o tele-catch até que encontrasse alguém para substituir o Fraga. Na semana seguinte repetiu o pedido porque não havia encontrado o apresentador com perfil para anunciar os lutadores. Após o segundo programa, o Jota me chamou novamente e perguntou se gostaria de ficar no tele-catch e respondi afirmativamente. Disse que estava fechado e pediu que passasse pelo Departamento de Pessoal, para acertar os valores, já que teria mais um salário, já que o que ganhava se referia aos noticiários policiais que apresentava. Fiquei no tele-catch por quase onze anos e havia programas em que apresentava os lutadores e narrava. Isto quando o Brustolim, face suas atividades como funcionário do Badep estava em viagem.
Me identifiquei com o trabalho e muitas vezes era requisitado mediante pagamento de cachês para apresentar lutas em cidades do interior, especialmente em circos e ginásios de esportes. Era recebido como uma das atrações do espetáculo. No interior o sucesso do tele-catch era impressionante e a chegada do espetáculo era uma verdadeira festa na cidade.
Muitas vezes, principalmente Jóia e Metralha, de tanto irritar com suas atitudes indisciplinadas saíram escondidos em porta-malas de carros ou protegidos por policiais, porque se não fossem tomados cuidados corriam o risco de ser linchados. Era impressionante como as pessoas levavam a sério as lutas.
Os mediadores De Carlo, que em cada luta aparecia com uma roupa diferente, por isto era chamado de o “mediador elegante, o manequim”; Barbosa, era chamado o ”bom caráter” e Santini, como sempre ajudava os lutadores truculentos era chamado de “bandido" e também bastante odiado. Ao ser anunciado o seu nome, era sempre vaiado. Quem comandava o grupo era um empresário do Rio Grande do Sul, Carlos Dorneles, pai dos lutadores Carlinhos e Hermes Dorneles. O Hermes, também foi mediador durante bom tempo.
Havia o time de futebol do tele-catch e onde ia jogar era recebido com festa e nos jogos os “bandidos” faziam também o seu papel, dando algumas entradas mais violentas, discutindo entre eles, mas tudo para sempre fazer o tipo. Era tudo muito divertido. O José João Boslooper, Zezo, meu compadre, também foi La Múmia e viajou com o pessoal do tele-catch por várias cidades. Foi um período sensacional.
O nosso tele-catch era apresentado em São Paulo e em determinada ocasião ao chegar na Rodoviária de lá fiquei impressionado com o pessoal me observando, me olhando, apontando em minha direção, achei aquilo estranho e só fui entender quando uma senhora já de idade avançada chegou com um caderno e uma caneta e me pediu um autografo. Relatou que gostava muito das lutas livres e não perdia um programa. Explicou que as lutas eram também apresentadas no circuito interno de televisão da Rodoviária. Depois de atender a senhora, atendi e conversei com várias outras pessoas e foi assim até quando embarquei para retornar a Curitiba.
Apresentei lutas num canal de São Paulo, bem como o sempre lembrado Wilson Brustolim, ia lá narrar. O Brustolim, com sua narração vibrante, criando seguidamente jargões, dava um valor especial às lutas. Muitos dos companheiros de tele-catch já nos deixaram, como Sérgio Fraga, Wilson Brustolim, Brasão, De Carlo, Barbosa e outros, entre eles o Jota-Jota, que na condição de diretor artístico dava apoio especial ao programa.
Pessoas importantes iam assistir as lutas diretamente e outras assistiam pela televisão e ao me encontrarem perguntavam sobre as lutas, seus protagonistas. Se era tudo verdadeira ou era mentira (encenação) e respondi que era tudo real e as pessoas ficavam impressionadas. Dizem que o segredo é a alma do sucesso e assim tinha que manter a expectativa do público. Alguns iam assistir e procuravam se esconder para não aparecer na televisão, imaginando que poderiam ser alvo de brincadeiras com parentes, vizinhos ou amigos.
Saudades, muitas saudades do tele-catch, inclusive o Roberto Acioli, quando jovem era chamado Big Boy, dizia dia destes que devíamos buscar o retorno do tele catch, que certamente ainda hoje teria um público fiel e é possível, pois ainda tem muita gente que lembra do programa, como o Rogério Taborda, que conversou comigo a respeito. É possível que um dia volte o tele-catch, de tantos anos de sucesso na nossa televisão. Assim espero."
(Texto de José Domingos Borges Teixeira, o "Zé Domingos")

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