TENTANDO CHEGAR ÀS PRAIAS ANTIGAMENTE
TENTANDO CHEGAR ÀS PRAIAS ANTIGAMENTE
Guaratuba foi fundada em 1768, a mando do Marquês de Pombal quando os espanhóis apossaram-se da ilha de Santa Catarina. Depois foi elevada à vila em 27/04/1771, passando desde então a comunicar-se com Paranaguá, por via marítima.
À partir da década de 1880, passou a receber a presença do varporzinho Oyapock que vinha do Rio de Janeiro em uma viagem mensal, primeiramente aportava em Paranaguá, depois seguia até Guaratuba e, por fim, aportava em Florianópolis.
Quando essa linha foi interrompida, o único meio de comunicação marítima de Paranaguá com Guaratuba passou a ser feito, de oito em oito dias, por canoa que saía de Paranaguá, passava pelo Canal da Galheta e chegava até Pontal do Sul. Dali seguia em carroça de toldo, puxada por bois, através das areias da praia deserta até o rio de Matinhos e o lugarejo chamado Caiubá, de onde novamente se fazia a travessia por canoa para a vila de Guaratuba.
Saint-Hilaire, que fez esse trajeto em 1820 conta que o percurso pela praia do Pontal a Matinhos e Caiobá se fazia durante a noite porque os bois andavam mais depressa sem a claridade do dia. Dois dias eram gastos nessa viagem e, às vezes até mais, a fim de esperar a maré baixa, cujas águas vinham às vezes bater nas rodas das carroças. No rio de Matinhos os passageiros eram transportados nos ombros dos carregadores enquanto a carroça, mergulhada nas águas, era retirada sob fortes chicotadas nos animais.
Na primeira década de 1900, com a fundação das colônias agrícolas de São Luiz, Santa Cruz, Quintilha, Maria Luiza, Pereira e Cambará, foi aberta uma estrada carroçável que saía de Paranaguá pela antiga Estradinha (hoje Av. Coronel Elísio Pereira) e seguindo pelo pé da Serra do Mar, se dirigia em direção à baia de Guaratuba.
Durante muito tempo esse transporte de passageiros esteve a cargo da diligência do sr. João Alboite. A viagem partindo de Curitiba durava dez horas até o Porto Parati (ou Porto Barreiro), onde Luiz Rode (genro do Alboite) se incumbia de contratar os canoeiros para a travessia da baía (de Guaratuba) até a Vila Guaratuba.
A diligência fazia ponto de almoço na colônia Maria Luiza e, mais adiante, contornava o perigoso "Morro Ai, Jesus!", cuja denominação por si só traduz o pânico dos passageiros nesse trecho de viagem.
Posteriormente, e até na mesma época, duas outras variantes permitiam o acesso a Guaratuba:
Uma delas, por via marítima, saindo de Paranaguá, adentrava por trás da Ilha do Valadares através do rio Guaraguaçú, em sua maior parte navegável por barcos ou canoas até as proximidades de Matinhos. Depois seguia-se a pé ou à cavalo até o Porto de Passagem (atual ponto de embarque do ferry-boat).
A segunda estrada utilizava o caminho de tropas entre Curitiba-São José dos Pinhais, mais ou menos pelo atual traçado da rodovia Curitiba-Joinville e, na altura da futura usina de Castelhanos, tomava o rio Cubatão por onde, em canoas, atingia-se a Vila de Guaratuba, num trajeto pela baía, que demorava duas horas.
Só na segunda década do século 20, com a introdução do automóvel, foi que se abriu a chamada Estrada do Mar, ou Estrada das Praias.
Partia de Paranaguá, saindo do antigo Posto Fiscal, (km 114) da antiga estrada Curitiba-Paranaguá, seguia-se até o cruzamento com a atual Pr-407 e, tomando-se à esquerda seguia até o rio Guaraguaçú e, transpondo a sua ponte, chegava-se finalmente à Praia de Leste. Ao pé da ponte, foi feito um ramal de estrada à esquerda, seguindo o rio, chegando até Pontal do Sul. Esse ramal permanece inalterado, cuja maioria do leito ainda se vê os cascalhos de berbigão.
Iniciada em princípios de 1925, com revestimento em berbigão extraído das ostreiras dos sambaquis da região, a "Estrada do Mar" foi inaugurada no dia 29/07/1927, dia do aniversário de Paranaguá. Só então o Balneário de Praia de Leste viu surgir as primeiras residências de veraneio. Daí começaram as viagens pela própria praia para Matinhos e Caiobá, não demorando para que linhas regulares de ônibus fizessem essas ligações por Paranaguá.
Entretanto, permanecia a precariedade dessas viagens, de Praia de Leste para Matinhos, Caiobá e Guaratuba, pelo próprio areião da orla da praia onde, não raro, automóveis e ônibus ficavam mergulhados nas ondas do mar, com perdas das cargas e até dos próprios veículos, ao mesmo tempo em que a antiga estrada das colônias e da diligência do Alboite eram desativadas.
Tudo isso produzia consideráveis embaraços ao desenvolvimento dos balneários e, em especial à Guaratuba, já então o mais importante do litoral paranaense. Não obstante os clamorosos apelos ao Governo do Estado, na época sob a Interventoria Manoel Ribas (1932-1945), a orla permaneceu em quase completo abandono, a ponto do Município de Guaratuba ser extinto e seu território ser constituído um distrito de Paranaguá, por um decreto em 1938.
Só após a queda do Estado Novo, em 1945, os caminhos dos balneários paranaenses voltaram a merecer as atenções dos poderes públicos.
Restaurado o município de Guaratuba em 1947, no ano seguinte a cidade era ligada por estrada de rodagem, através de Santa Catarina, diretamente à Curitiba, quando, então, ela assistiu pela primeira vez em sua história, a presença de veiculo motor, representado pelo carro governamental à frente de uma grande comitiva, desfilando por suas ruas.
Ao iniciar-se a década de 1960, inaugura-se o serviço de "ferry-boat" no Porto de Passagem, já então com toda a Estrada do Mar pavimentada, numa extensão de 50 km até Paranaguá e 160 Km até Curitiba, pela antiga Graciosa.
Em 1987, foi inaugurada a Pr-508, ligando Alexandra a Matinhos, a quinta mais rápida e moderna rodovia na ligação turística com os balneários da costa sul do Paraná. Além disso, foi também a primeira via pavimentada cortando por dentro uma região da baixada litorânea, até então isolada e semi esquecida.
Ao colocar Matinhos, Caiobá e Guaratuba à menor distância de Curitiba e, inclusive Paranaguà, a nova estrada do mar vem enriquecer uma bela paisagem, emoldurada de um lado pela proximidade dos contrafortes serranos e, de outro, pela majestosa visão do encontro azul do céu com o verde das águas do Atlântico.
(Compilado de: der.pr.gov.br)
Paulo Grani
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