sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

A Casa de Fritz Scknepper na Villa Guayra: Uma Residência de Madeira que Encarnou a Curitiba dos Anos 1920

 Eduardo Fernando Chaves:  Projetista

Denominação inicial: Projecto de casa para o Snr. Fritz Scknepper

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Pequeno Porte

Endereço: Villa Guayra

Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 125,00 m²
Área Total: 125,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Madeira

Data do Projeto Arquitetônico: 05/04/1927

Alvará de Construção: Nº 5304/1927

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de casa de madeira com dois pavimentos.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.

Referências: 

1 - GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto de casa do Snr. Fritz Scknepper na Villa Guayra. Plantas dos pavimentos térreo e superior e de implantação, cortes e fachadas frontal e lateral apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba.

A Casa de Fritz Scknepper na Villa Guayra: Uma Residência de Madeira que Encarnou a Curitiba dos Anos 1920

Projeto arquitetônico de dois pavimentos, erguido por um morador teuto-brasileiro em um dos bairros mais elegantes da capital paranaense — hoje desaparecida, mas viva na memória documental.


Fritz Scknepper: O Morador que Deu Nome à História

Em 1927, Fritz Scknepper — homem de origem germânica, provavelmente descendente de imigrantes que chegaram ao Paraná nas décadas anteriores — decidiu construir sua casa em Villa Guayra, então um dos bairros mais prestigiados de Curitiba. Situado nas colinas ao norte do centro, o bairro reunia famílias de classe média alta, comerciantes, profissionais liberais e membros da comunidade teuto-brasileira, que ali buscavam ar puro, vistas amplas e distância do burburinho urbano.

Embora pouco se saiba sobre a vida pessoal ou profissão de Fritz, seu nome permanece ligado a um projeto arquitetônico singular: uma residência de madeira de dois pavimentos, desenhada para ser ao mesmo tempo funcional, acolhedora e digna de seu lugar em um bairro de elite.


A Casa: Simplicidade, Elegância e Tradição em 125 m²

A casa projetada para Fritz Scknepper tinha 125,00 m² de área total, distribuídos em dois pavimentos. Apesar do tamanho modesto, o projeto revelava cuidado com a organização espacial, ventilação cruzada, privacidade dos dormitórios e integração com o terreno.

Construída em madeira — material preferido pelas famílias germânicas por sua facilidade de trabalho, isolamento térmico e familiaridade cultural —, a residência apresentava:

  • Pavimento térreo com salas de estar e jantar, cozinha e área de serviço
  • Pavimento superior destinado aos dormitórios, garantindo privacidade e silêncio
  • Fachadas bem proporcionadas, com janelas simétricas e beirais generosos — típicos das construções europeias adaptadas ao clima subtropical
  • Implantação cuidadosa no lote, respeitando os recuos exigidos e aproveitando a topografia do terreno

O projeto completo — incluindo plantas, cortes, fachadas frontal e lateral, e planta de implantação — foi reunido em uma única prancha técnica, clara, precisa e apresentada com rigor profissional.


Villa Guayra: O Cenário de uma Vida Nobre

A escolha de Villa Guayra como endereço não foi casual. No início do século XX, o bairro era símbolo de ascensão social e distinção cultural. Era ali que famílias de origem alemã, italiana e portuguesa erguiam suas casas em meio a pinheirais, longe da poluição e da agitação do centro, mas próximas o suficiente para manter seus negócios e relações sociais.

Morar em Villa Guayra era, portanto, uma declaração de identidade: de alguém que valorizava a natureza, a ordem, a família e a tradição — valores centrais na cultura teuto-brasileira da época.

A casa de Fritz Scknepper, embora modesta em dimensões, fazia parte desse tecido urbano de distinção e pertencimento.


Legalidade e Modernidade: O Alvará de 1927

Em 5 de abril de 1927, foi emitido o Alvará de Construção nº 5304/1927, autorizando oficialmente a edificação da residência. Isso indica que:

  • A obra foi devidamente registrada e aprovada pela prefeitura
  • O projeto cumpria as normas de higiene, segurança e urbanismo da época
  • Fritz Scknepper era um cidadão engajado, que respeitava as instituições e investia com responsabilidade em seu patrimônio

O alvará também revela um momento importante na história de Curitiba: a cidade, então com cerca de 80 mil habitantes, já contava com um sistema de controle urbanístico estruturado, que exigia projetos assinados por técnicos habilitados — o que confirma a seriedade do empreendimento.


O Desaparecimento: Uma Perda Irreparável

Infelizmente, a casa de Fritz Scknepper não sobreviveu ao tempo. Em 2012, já havia sido demolida, como tantas outras construções de madeira da primeira metade do século XX. Substituída, provavelmente, por um edifício de concreto ou um terreno vazio, sua presença física desapareceu do mapa urbano.

Contudo, sua memória arquitetônica permanece. Graças ao Arquivo Público Municipal de Curitiba, o projeto original foi preservado em microfilme digitalizado, mantendo viva a imagem daquela residência que, por décadas, abrigou uma família, testemunhou a vida cotidiana e representou um modo de habitar profundamente enraizado na cultura paranaense.


Legado: Mais do que Uma Casa — Um Testemunho de Época

A casa de Fritz Scknepper era mais do que um abrigo. Era:

  • Um reflexo da identidade teuto-brasileira em Curitiba
  • Um exemplo da arquitetura vernácula modernizada, que unia tradição e inovação
  • Um marco da urbanização da Villa Guayra
  • Um símbolo da aspiração de uma classe média que acreditava no futuro da cidade

Embora demolida, ela nos ensina que a história urbana não está apenas nos palacetes e monumentos, mas também nas casas simples, nas ruas tranquilas e nos nomes de moradores como Fritz Scknepper — homens comuns que, com seu trabalho e seu sonho de lar, ajudaram a construir Curitiba.


Hoje, onde antes havia vigas de pinho, talvez haja concreto.
Mas nos arquivos, nas linhas de uma prancha, Fritz Scknepper ainda mora — com sua casa, sua dignidade e seu lugar na história da cidade.

Jacob Ditzel Nascido em 1844 - Vollmer (Kopenka), Wolgagebiet, Russland Falecido a 3 de janeiro de 1920 (sábado) - Brasil, com a idade de 76 anos

  Jacob Ditzel Nascido em 1844 - Vollmer (Kopenka), Wolgagebiet, Russland Falecido a 3 de janeiro de 1920 (sábado) - Brasil, com a idade de 76 anos

Jacob Ditzel (1844–1920): O Patriarca que Cruzou o Mundo — Da Rússia do Volga ao Paraná Brasileiro

Uma vida entre exílio, fé, trabalho e família — um homem que plantou raízes em três continentes, mas deixou seu coração no Brasil.


Nascimento em Terras de Exílio: Vollmer (Kopenka), 1844

No ano de 1844, enquanto a Europa ainda tremia com as reverberações das revoluções liberais e o Império Russo expandia seu domínio sobre os povos da estepe, nasceu em Vollmer (Kopenka), região do Volga, Rússia, um menino chamado Jacob Ditzel.

Seus pais eram Johann Konrad Ditzel (1820–1900) e Elisabetha Schrooh (1823–1900) — descendentes de colonos alemães convidados pelo czar Catarina II no século XVIII para povoar as terras férteis às margens do rio Volga. Esses colonos, conhecidos como “Volga Germans”, vieram da Alemanha, da Alsácia e da Suíça, trazendo consigo sua língua, sua religião católica ou luterana, e sua cultura agrária.

Jacob cresceu em um mundo de campos vastos, igrejas de madeira, escolas bilíngues (alemão-russo) e comunidades fechadas. Mas a paz era frágil: a partir de 1870, o governo russo começou a impor militarização obrigatória, perda de privilégios e pressões para russificação — o que levou milhares de famílias a buscar novas terras no Novo Mundo.


Infância Marcada por Perdas: A Morte dos Avós

A infância de Jacob foi marcada por lutos precoces:

  • Em 1849, aos 5 anos, perdeu sua avó paterna, Anna Maria ? — nome incompleto, talvez perdido na história.
  • Em 1850, aos 6 anos, viu partir seu avô paterno, Johann Peter Doetzel — um dos fundadores da linhagem Ditzel na Rússia.

Essas perdas, tão cedo, moldaram nele uma sensibilidade para a fragilidade da vida e um profundo respeito pela memória familiar — valores que carregaria até o fim de seus dias.


Casamento e Família: Eva Elisabeth Stadelmann — Amor em Tempos de Mudança

Em 1863, aos 19 anos, Jacob casou-se com Eva Elisabeth Stadelmann (1847–1923), também de origem alemã-volga, em Vollmer (Kopenka). Foi um casamento típico da época: arranjado dentro da comunidade, baseado em valores religiosos, econômicos e culturais.

Juntos, tiveram oito filhos, todos nascidos na Rússia ou no Brasil:

  1. X Ditzel – nascido em 1864 (sexo desconhecido; nome perdido na história)
  2. Katharinna Ditzel – nascida em 1867
  3. Johann Peter (Pedro) Ditzel – nascido em 25 de maio de 1870
  4. Eva Ditzel – nascida em 1872
  5. Joseph Ditzel – nascido em 1874
  6. João Ditzel – nascido em 2 de fevereiro de 1878
  7. Jacob Ditzel – nascido em 22 de abril de 1880 (sim, outro Jacob — provavelmente em homenagem ao pai)
  8. João Pedro Ditzel – nascido em 13 de abril de 1883
  9. Miguel Ditzel – nascido em 16 de outubro de 1886

Notavelmente, todos os filhos após 1878 nasceram no Brasil — o que indica que a família emigrou entre 1878 e 1880, provavelmente em busca de liberdade religiosa, terra e oportunidades econômicas.


A Grande Jornada: Da Rússia ao Brasil

A decisão de emigrar foi corajosa e arriscada. A viagem durava meses: de trem até o porto do Báltico, depois de navio até o Rio de Janeiro, e finalmente de trem ou mula até Ponta Grossa, no Paraná.

Por que Ponta Grossa? Porque era uma das regiões mais atrativas para imigrantes germânicos — com solo fértil, clima ameno e comunidades já estabelecidas. Além disso, havia terras disponíveis e incentivos governamentais para colonização.

Jacob e Eva chegaram ao Brasil com filhos pequenos, enfrentando o choque cultural, a língua estrangeira, as doenças tropicais e a dureza do trabalho rural. Mas eles não desistiram. Construíram uma casa, abriram uma roça, mandaram os filhos à escola e mantiveram viva a cultura alemã — rezando em alemão, celebrando festas tradicionais e preservando os nomes dos antepassados.


Pai e Avô: A Força de Uma Linhagem

Jacob tornou-se o patriarca de uma grande família. Seus filhos se casaram, tiveram filhos, e assim por diante — formando uma rede extensa de descendentes que hoje espalham-se por todo o Paraná e além.

Entre seus netos, destacam-se:

  • José Ditzel – nascido em 1871, falecido em 1908
  • Barbara Ditzel – nascida em 1900
  • Rosa Ditzel – nascida em 1901
  • Leopoldo Ditzel – nascido em 1904
  • Amália Ditzel – nascida em 1905
  • Jorge Jacob Ditzel – nascido em 1906
  • Anna Ditzel – nascida em 1906
  • João Jacob Ditzel – nascido em 1907
  • Alfredo Ditzel – nascido em 1908
  • Alvina Ditzel – nascida em 1909
  • Bertoldo Ditzel – nascido em 1910
  • Eduardo Ditzel – nascido em 1912
  • Maria Julita Ditzel – nascida em 1916
  • Heitor Ditzel – nascido em 16 de março de 1919

Sim — Heitor Ditzel, o professor e jornalista que conhecemos anteriormente, era neto de Jacob. E isso significa que a história de Heitor começa aqui, com este homem que cruzou o mundo para dar a seus descendentes uma vida melhor.


Lutos em Sequência: A Queda de Uma Geração

Nos últimos anos de sua vida, Jacob assistiu ao desaparecimento gradual de sua geração:

  • Em 1900, aos 56 anos, perdeu seus pais, Johann Konrad e Elisabetha — ambos com 80 anos, morrendo quase juntos, como se não quisessem viver um sem o outro.
  • Em 1908, aos 64 anos, viu partir seu filho José Ditzel, aos 34 anos — morte precoce que certamente abalou toda a família.
  • Em 1919, aos 75 anos, seu neto Heitor Ditzel nasceu — o último fruto de sua linhagem, o futuro guardião da memória familiar.

Últimos Anos: Um Homem de Fé e Silêncio

Jacob Ditzel faleceu em 3 de janeiro de 1920 — sábado, aos 76 anos, no Brasil. O país vivia os primeiros anos da República Velha, com o movimento tenentista ainda distante, e a cidade de Ponta Grossa crescendo lentamente.

Sua morte foi sentida profundamente pela comunidade teuto-brasileira local. Ele não era rico, nem político, nem empresário — mas era respeitado por todos que o conheceram. Era o patriarca silencioso, o homem que trabalhou duro, criou filhos com amor e preservou a cultura de seus antepassados.

Sua esposa, Eva Elisabeth Stadelmann, sobreviveu-lhe por três anos, falecendo em 1923, aos 76 anos. Seus filhos, agora adultos, levaram adiante seu legado — talvez alguns se tornaram agricultores, outros comerciantes, outros simplesmente mantiveram viva a memória da família Ditzel.


Legado: O Homem que Plantou Raízes em Três Continentes

Jacob Ditzel não deixou livros publicados, nem discursos memoráveis. Mas deixou algo mais valioso:

  • Memórias coletivas — através de suas histórias, fotos e documentos
  • Mentes formadas — através de seus filhos, netos e bisnetos
  • Raízes preservadas — através de seu amor pela família, pela história e pela terra natal

Sua vida é um exemplo de que não é necessário estar nos holofotes para fazer diferença. Basta ter integridade, paixão e compromisso com o que se faz.

Hoje, quando alguém em Ponta Grossa folheia um jornal antigo, visita uma escola, ou ouve uma história sobre a cidade, há uma boa chance de que, em algum lugar, Jacob Ditzel tenha estado lá — com sua enxada, seu caderno, seu olhar atento e seu coração generoso.


Jacob Ditzel não apenas viveu em três países — ele ajudou a construir a alma de uma nação.


Jacob Ditzel
  • Nascido em 1844 - Vollmer (Kopenka), Wolgagebiet, Russland
  • Falecido a 3 de janeiro de 1920 (sábado) - Brasil, com a idade de 76 anos
3 ficheiros disponíveis

 Pais

 Casamento(s) e filho(s)

 Irmãos

 Fotos e Registos de Arquivo

P512750 155 206

P512750 155 206

P512751 155 206

P512751 155 206

P512752 320 478

P512752 320 478


1849
5 anos

Morte da avó paterna

1864
20 anos

Nascimento de um descendente

18676 fora.
23 anos
187025 maio
26 anos
1871
27 anos

Nascimento de um neto

1872
28 anos

Nascimento de uma filha

 
Volmer, Copenhague, Rússia
1874
30 anos
18782 fev.
34 anos

Nascimento de um filho

188022 de abril.
36 anos

Nascimento de um filho

188313 de abril.
39 anos
188616 fora.
42 anos
189815 de novembro
54 anos

Casamento de um filho

189920 de novembro
55 anos

Nascimento de uma neta

190030 fora.
56 anos
1900
56 anos

Morte da mãe

1900
56 anos

Morte do pai

190116 fora.
57 anos
190420 fora.
60 anos

Nascimento de um neto

190520 de janeiro.
61 anos
19067 de junho.
62 anos
190612 de julho.
62 anos

Nascimento de uma neta

190727 de fevereiro.
63 anos

Nascimento de um neto

190829 de abril.
64 anos

Morte de um neto

 
Brasil
190829 de abril.
64 anos

Morte de um filho

 
Brasil
190825 fora.
64 anos

Nascimento de um neto

190929º conjunto.
65 anos

Nascimento de uma neta

191021 de janeiro.
66 anos

Nascimento de um neto

191210 fev.
68 anos

Nascimento de um neto

191523 fev.
71 anos

Nascimento de uma neta

 
Brasil
191628 de janeiro.
72 anos

Nascimento de uma neta

191916 de março.
75 anos
19203 de janeiro.
76 anos

Morte

 
Brasil

Antepassados de Jacob Ditzel

Joanni Joi Doetzel 1719- Anna Maria Krekel ca 1733-      
| |      



      
|      
Peter Doetzel 1753-1828 Maria Eva Kraus 1754-1798    
|- 1774 -|    



    
|    
Johann Peter Doetzel 1778-1850 Anna Maria ? 1786-1849  
|- 1809 -|  



  
|  
Johann Konrad Ditzel 1820-1900 Elisabetha Schrooh 1823-1900
| |



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Jacob Ditzel 1844-1920
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Descendentes de Jacob Ditzel