domingo, 22 de maio de 2022

Dias atrás, alguém perguntou-me por quê aquele movelzinho que fica ao lado da cabeceira da cama chama-se "criado-mudo". Surpreendi-me com a profundidade do questionamento pois, desde criança, ouvia meus pais e os mais velhos usando o termo "criado-mudo" para falar de tal móvel e, nunca tinha ouvido qualquer professor ou outros eruditos falarem sobre a palavra.

 Dias atrás, alguém perguntou-me por quê aquele movelzinho que fica ao lado da cabeceira da cama chama-se "criado-mudo". Surpreendi-me com a profundidade do questionamento pois, desde criança, ouvia meus pais e os mais velhos usando o termo "criado-mudo" para falar de tal móvel e, nunca tinha ouvido qualquer professor ou outros eruditos falarem sobre a palavra.


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O VERDADEIRO SUGNIFICADO DA PALAVRA "CRIADO-MUDO"
Dias atrás, alguém perguntou-me por quê aquele movelzinho que fica ao lado da cabeceira da cama chama-se "criado-mudo". Surpreendi-me com a profundidade do questionamento pois, desde criança, ouvia meus pais e os mais velhos usando o termo "criado-mudo" para falar de tal móvel e, nunca tinha ouvido qualquer professor ou outros eruditos falarem sobre a palavra.
É claro que as enciclopédias e dicionários, costumeiramente, citam com detalhes a historicidade das origens dos termos, de modo que, tais compêndios trazem ao presente narrativas que explicam o uso de determinada palavra, nos mostrando sua melhor aplicação, significância e origem.
No Diccionario Brazileiro da Língua Portugueza, de Antônio Joaquim de Macedo Soares, publicado em 1889, o termo surge como sinónimo de "bidé" e "velador", descrito como "móvel de quarto de dormir, colocado ao pé da cama, e sobre o qual se coloca o castiçal com a vela, a caixa de fósforos, o copo de água, etc.; tem (tinha) tampo de mármore , gavetinha, e duas prateleiras com porta onde se guardam urinóis".
Explicação perfeita da utilidade do móvel, dado que na época não havia energia elétrica e, a maioria das casas, não tinha banheiro em seu interior: A vela, os fósforos e o urinol eram ítens que deviam ficar bem próximos da cama, caso o sono fosse interrompido por sentimento de "fazer as necessidades".
Complementando, a Encyclopaedia Britânica (edição 1911), cita que na Inglaterra os móveis criados-mudos eram chamados "dumbwaiter", tiveram origem no final do século 18 e que, na língua inglesa, essa palavra aparece desde 1749. Portanto, tal enciclopédia nos ajuda a descobrir sua história e utilidade e que, tais móveis existem há, pelo menos, 270 anos. Portanto, não é um móvel cujo nome possa ser associado com a escravidão brasileira, muito menos com pessoas da cor negra.
Antes de traduzir uma palavra estanquemente, é preciso conhecer suas aplicações. A palavra "criado", naquela época, era usada para indicar a existência de crianças que eram adotadas para serem "criadas" por famílias mais abastadas e, portanto, eram chamadas criados; cresciam e eram criadas naquele lar, executando serviços domésticos de limpeza e ajuda na cozinha, muitas recebiam estudos e eram até registradas com o sobrenome da família. Era muito comum, também, uma família adotar uma ou mais crianças de parentes, devido ao estado de pobreza da outra família, as quais também eram chamadas de "criadas, criados". Também, havia casos em que pessoas adultas, desprovidas de recursos, buscavam ajuda dos mais abastados e também eram recebidos como "criados", esses trabalhavam em serviços mais pesados, cortando lenhas, plantando, tirando leite de vacas, etc.
No dicionário Oxford, encontramos a tradução do termo inglês "dumbwaiter": "nome dado a uma mesa auxiliar de serviço; pequena mesa portátil", etc. No inglês americano, a palavra dumbwaiter, derivada pela junção de “dumb” (mudo), e "waiter" (mordomo). Ou seja, mordomo mudo, criado mudo.
Não precisa muito esforço mental para entender que o móvel recebeu esse nome por ser comparado a um "criado", pois estava ali aparando todos aqueles itens, sem se cansar. O móvel, por sua vez, trouxe um segundo grande benefício: era "mudo", não reclamava, não replicava, não saía quebrando o silêncio daqueles momentos íntimos da noite. Imaginem um criado boca-aberta, relatando a terceiros: "fulano acordou-me noite passada para levar vela e penico para ele".
(Fotos: pinterest e internet)
Paulo Grani

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