O RETORNO DE GILDO
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Uma história de arrepiar os cabelos, curar porre, matar velho de susto, e curar prisão de ventre ocorreu nos arredores da Pedra Santa, em Antonina.
O RETORNO DE GILDO
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Uma história de arrepiar os cabelos, curar porre, matar velho de susto, e curar prisão de ventre ocorreu nos arredores da Pedra Santa, em Antonina.
Marquinho Boi, o ajudante do famoso pedreiro antoninense Pedrinho 3 por 200, resolveu matar passarinhos; comprou um estilingue no mercado municipal, e numa tarde ensolarada foi atrás das sabiás no morro da Pedra Santa.
Marquinho Boi, pelo que se sabe, foi a única pessoa a falar com um morto em Antonina. O fato é que Marquinho não sabia que o tal morto havia morrido. O morto era Gildo, filho de João do Quatro.
A conversa entre os dois aconteceu na subida do morro, e foi bem rápida.
Gildo:
– O que você faz por aqui, amigo?
Marquinho:
– Vim matar sabiá.
– Como estão as coisas lá embaixo?, perguntou o morto, que estava encostado numa árvore.
– Tudo normal, respondeu Boi, manuseando o estilingue.
Enquanto conversavam, Marquinho observa uma sabiá de perninha torta em cima de um galho de jaguatirão. Acontece que Gildo estava encostado nessa árvore. Com cuidado, Marquinho estica o estilingue com uma bolinha de barro bem dura na ponta, e tchuuuuum... Bem na testa do espectro, que caiu no chão.
Gildo nasceu sem eiras e beiras, pobre, pobre, pobre, de marré, marré, marré. Na infância trabalhava como entregador de compras. Juntou alguns trocados e passou a emprestar dinheiro a juro, ganhou muito dinheiro à custa dos miseráveis que recorriam aos seus serviços. Enriqueceu, ficou famoso, virou um astro, e assim foi chamado de Astrogildo do Km 4.
Astrogildo teve uma morte horrível; caiu na toca de uma jaracuçu, e foi mordido tanto pela cobra mãe como pelos trinta e nove filhotes da serpente. Isso aconteceu numa Ilha chamada Ilha do Lessa, quando Gildo fora pescar na localidade.
Imaginem o susto de Marquinho quando acertou uma pelotada no morto...
Apreensivo, ele foi até Gildo e viu que o danado estava normal, ou seja, morto. Não havia nem uma mísera marca da pelotada na testa.
– Me desculpa, homem. É que a sabiá estava bem acima de você e na hora de estilingar, soltei um pum e acabei errando o alvo.
Caído no chão, o morto logo perguntou o que queria:
— Estou à procura de Carlinho Garça, o infeliz me deve dois mil cruzeiros e fugiu aqui pra esse morro. Por acaso você não o viu?
– Carlinho Garça é meu primo. Mas faz dias que não o vejo, respondeu Boi.
— Ah, então você é primo desse embusteiro... Se é parente, então também me deve. Se prepare para entregar a alma ao capeta, falou o morto com uma voz satanizada.
Tirou do coldre um revólver calibre 22 e apontou pra cabeça de Marquinho. Foi nesse instante que Marquinho Boi gritou bem alto: "Valei-me meu Bom Jesus!", e então um demônio saiu da mata e pegou Gildo pela garganta e desapareceu no meio do mato.
Boi se escafedeu do morro e nunca mais passou perto. Mas já teve gente que cruzou com o fantasma de Astrogildo em outros locais da cidade, geralmente sentado no Jekiti, quase sempre depois da meia-noite, pois os agiotas nunca morrem totalmente.
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Uma história de arrepiar os cabelos, curar porre, matar velho de susto, e curar prisão de ventre ocorreu nos arredores da Pedra Santa, em Antonina.
Marquinho Boi, o ajudante do famoso pedreiro antoninense Pedrinho 3 por 200, resolveu matar passarinhos; comprou um estilingue no mercado municipal, e numa tarde ensolarada foi atrás das sabiás no morro da Pedra Santa.
Marquinho Boi, pelo que se sabe, foi a única pessoa a falar com um morto em Antonina. O fato é que Marquinho não sabia que o tal morto havia morrido. O morto era Gildo, filho de João do Quatro.
A conversa entre os dois aconteceu na subida do morro, e foi bem rápida.
Gildo:
– O que você faz por aqui, amigo?
Marquinho:
– Vim matar sabiá.
– Como estão as coisas lá embaixo?, perguntou o morto, que estava encostado numa árvore.
– Tudo normal, respondeu Boi, manuseando o estilingue.
Enquanto conversavam, Marquinho observa uma sabiá de perninha torta em cima de um galho de jaguatirão. Acontece que Gildo estava encostado nessa árvore. Com cuidado, Marquinho estica o estilingue com uma bolinha de barro bem dura na ponta, e tchuuuuum... Bem na testa do espectro, que caiu no chão.
Gildo nasceu sem eiras e beiras, pobre, pobre, pobre, de marré, marré, marré. Na infância trabalhava como entregador de compras. Juntou alguns trocados e passou a emprestar dinheiro a juro, ganhou muito dinheiro à custa dos miseráveis que recorriam aos seus serviços. Enriqueceu, ficou famoso, virou um astro, e assim foi chamado de Astrogildo do Km 4.
Astrogildo teve uma morte horrível; caiu na toca de uma jaracuçu, e foi mordido tanto pela cobra mãe como pelos trinta e nove filhotes da serpente. Isso aconteceu numa Ilha chamada Ilha do Lessa, quando Gildo fora pescar na localidade.
Imaginem o susto de Marquinho quando acertou uma pelotada no morto...
Apreensivo, ele foi até Gildo e viu que o danado estava normal, ou seja, morto. Não havia nem uma mísera marca da pelotada na testa.
– Me desculpa, homem. É que a sabiá estava bem acima de você e na hora de estilingar, soltei um pum e acabei errando o alvo.
Caído no chão, o morto logo perguntou o que queria:
— Estou à procura de Carlinho Garça, o infeliz me deve dois mil cruzeiros e fugiu aqui pra esse morro. Por acaso você não o viu?
– Carlinho Garça é meu primo. Mas faz dias que não o vejo, respondeu Boi.
— Ah, então você é primo desse embusteiro... Se é parente, então também me deve. Se prepare para entregar a alma ao capeta, falou o morto com uma voz satanizada.
Tirou do coldre um revólver calibre 22 e apontou pra cabeça de Marquinho. Foi nesse instante que Marquinho Boi gritou bem alto: "Valei-me meu Bom Jesus!", e então um demônio saiu da mata e pegou Gildo pela garganta e desapareceu no meio do mato.
Boi se escafedeu do morro e nunca mais passou perto. Mas já teve gente que cruzou com o fantasma de Astrogildo em outros locais da cidade, geralmente sentado no Jekiti, quase sempre depois da meia-noite, pois os agiotas nunca morrem totalmente.
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