terça-feira, 3 de maio de 2022

CURITIBA, VOCAÇÃO PARA METRÓPOLE " [...] A Curitiba do final do século 19 e início do século 20 já era uma cidade em final de transição urbana. A pequena vila transformada em capital de província em 1854, passa a partir daí, e com maior intensidade a partir de 1870, por um acentuado processo de urbanização e crescimento populacional.

 CURITIBA, VOCAÇÃO PARA METRÓPOLE
" [...] A Curitiba do final do século 19 e início do século 20 já era uma cidade em final de transição urbana. A pequena vila transformada em capital de província em 1854, passa a partir daí, e com maior intensidade a partir de 1870, por um acentuado processo de urbanização e crescimento populacional.


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" [...] A Curitiba do final do século 19 e início do século 20 já era uma cidade em final de transição urbana. A pequena vila transformada em capital de província em 1854, passa a partir daí, e com maior intensidade a partir de 1870, por um acentuado processo de urbanização e crescimento populacional. Neste momento, a “velha vila enfezada” já é uma cidade de porte médio, com as complexidades peculiares a este tipo de urbe.

A cidade cresce, em área e população, de maneira quase vertiginosa. Nesta época existe um grande incremento populacional para Curitiba, tendo seu ápice na década de 1890-1900, e passando por uma relativa estabilização no período seguinte. A virada do século encontra uma Curitiba já com modos de cidade grande, “mais solene”. Curitiba finalmente se torna uma cidade acabada, pronta. A urbe de 1912 tem muito pouco a ver com a bucólica vila de sua convivência anterior. A afirmação da urbanidade de Curitiba é visível por vários enfoques, notadamente pela arquitetura e urbanização; desenvolvimento comercial e industrial; incremento da vida cultural e intelectual; ampliação do sistema educacional; ampliação e desenvolvimento dos bairros, arrabaldes e colônias da cidade. [...]

A legitimação da cidade se evidencia de maneira clara nos critérios de construção da cidade como espaço privilegiado para a criação, legitimação e irradiação das instituições fundamentais para a ordem burguesa. Curitiba passa a se tornar com o passar do tempo na metrópole do Paraná, e a inevitabilidade deste processo, propiciado quer pelas extremamente favoráveis condições naturais, quer pelo caráter ordeiro e empreendedor de sua população. Civilização e progresso são as constantes desta matriz discursiva, não apenas como referencial futuro, mas também como enunciadoras de práticas e intenções no presente.

A cidade progride nos campos mais diversos, como a educação e a cultura. A população imigrante, a cujas colônias cabem uma parte notável no desenvolvimento do
Paraná, recebe crédito destacado nesta construção da Curitiba metrópole, por sua operosidade, inteligência, solidariedade e fraternidade com a população local.

Este progresso se dá, em seus diversos aspectos, “à européia”. A cidade cresce, se desenvolve e estabelece relações sociais e culturais com esta matriz. São constantes as referências a Europa em diversos aspectos da vida da urbe, aspectos estes que vão desde os comportamentos demográficos até a composição e o caráter de sua população. Curitiba surge, portanto, como uma urbe cosmopolita, de hábitos europeus (civilizados), com uma estrutura física, urbana, econômica e cultural para seu destino já pré-determinado de metrópole do Paraná. Esta “europeização” lhe concede foros de civilização, acima da média brasileira, e suas noções de civilização e progresso se fundamentam em matrizes discursivas próprias, baseadas em aspectos da cidade.

A ocupação urbana empreendida pelos imigrantes europeus teria sido saudável, pois teria propiciado, “um desenvolvimento relativamente contínuo, centrífugo e homogêneo”; e teria, ainda, limitado a especulação terrenista, o parcelamento em lotes e os loteamentos clandestinos, resultado de uma recente migração de nacionais. Uma ocupação urbana racional por uma população saudável teria feito de Curitiba, até pouco tempo, uma cidade orgânica. O planejamento deveria pautar-se pela recuperação dessa condição de equilíbrio propiciada pelos colonizadores portugueses e imigrantes estrangeiros.

O discurso elaborado sobre Curitiba tem como uma de suas matrizes privilegiadas o aspecto urbanístico e arquitetônico da cidade. As estratégias de construção do quadro urbano possibilitam a expressão mais visível e concreta da realização do ideário de progresso e civilização. Este quadro urbano é preenchido materialmente por construções e vias de trânsito e lazer, e fornece o ambiente para a produção das relações urbanas e sua regulamentação. As construções, os grandes prédios, majestosos e sublimes, apontam de maneira inequívoca para o progresso e o poder da burguesia que os constrói. São prédios públicos, de instituições bancárias e comerciais, colégios e palacetes residenciais que têm seu surgimento e proliferação em Curitiba. Prédios que caracterizam a construção do espaço urbano enquanto palco suntuoso e privilegiado das relações burguesas de produção e dominação.

Mas a urbanização da cidade não se dá apenas sobre a construção de edifícios magníficos. O espaço urbano é arranjado convenientemente para alojá-los. Curitiba passa por um reordenamento claro de seu traçado viário e paisagístico. Constroem-se as grandes avenidas e boulevards, as suas amplas ruas alegres, as suas praças, os seus jardins, que são indicativos de uma cidade ordenada e saneada. [...]

Esta nova Curitiba, saneada e com uma nova configuração na distribuição do solo urbano, é palco, de uma intensa vida econômica, industrial e comercial, para a qual, de maneira similar e conforme ao seu destino de metrópole, ela já estava predestinada pela própria natureza.

Curitiba, porém, embora enquadrada no modelo exportador, possuía uma estrutura de manufaturas e serviços desenvolvida para os padrões da época. A visão sobre a atividade econômica da cidade é uma projeção futurista embasada nas condições naturais e de população da cidade. A atividade industrial em Curitiba é o coroamento natural e predeterminado da vocação da cidade para o progresso, colocando-a na vanguarda da industrialização brasileira. É o fruto da adequação lógica do aparato econômico aos recursos naturais e às possibilidades de produção da cidade.

A atividade industrial tem no mate o seu principal expoente. Esta pluralidade de atividades industriais, mesmo com o caráter manufatureiro de algumas delas, delineia um quadro econômico com infra-estrutura já complexa. É um indicador seguro de que a inserção de Curitiba no modelo exportador era relativa; que a erva-mate, apesar de sua grande importância, não capitalizava toda a atividade industrial da cidade, possuindo a capital, no período, uma gama de atividades industriais bastante diversificadas, também voltadas ao mercado interno, local e estadual, que a caracterizam como um pólo de irradiação industrial no Estado.

Estes indicadores comerciais e de serviços, aliados aos industriais vistos acima, apontam para uma cidade de infra-estrutura econômica complexa e diversificada. Esta complexidade e diversificação indicam uma atividade econômica plural e de caráter de irradiação interna. Curitiba se apresenta aqui como pólo econômico do Estado, como uma cidade que tem sua atividade econômica centrada no mercado interno, em que pese à importância da exportação do mate para sua economia. Sua infra-estrutura de comércio e serviços e a abrangência dos serviços públicos nela sediados fazem de Curitiba, neste discurso, uma cidade geradora de atividade econômica interna, a nível estadual e municipal, que ultrapassa as limitações monocultoras do modelo exportador. O discurso já constrói uma cidade de atividade diversificada, complexa e múltipla, que extrapola e avança adiante da “civilização do mate”.

A população curitibana é vista, no tocante a seu caráter, como ordeira, disciplinada, empreendedora e, principalmente, civilizada. Com ênfase em aspectos diferentes deste quadro, constroem-se discursos que se consubstanciam no quadro final de uma população mitificada, portadora natural dos requisitos para habitar a urbe mítica do discurso burguês.

É o povo perfeito para habitar a cidade perfeita. E esta população, sã física e mentalmente, empreendedora e, principalmente, de um “ar cosmopolita”, vem num crescer constante, realizando a vocação de Curitiba para metrópole.

O elemento imigrante é privilegiado na elaboração do discurso como fator de progresso e civilização da cidade. O imigrante é posto como elemento de capital importância para a construção do progresso e da civilização de Curitiba. Esta matriz discursiva não aponta contradições nem conflitos de adaptação e de integração dos contingentes imigrantes à cidade. Ele é visto através de uma ótica fraternal, cujo enfoque central é a sua rápida integração à sua nova pátria e a fraternidade que impera nas relações entre os brasileiros natos e os grupos imigrantes. A população imigrante é vista, enfim, como elemento integrado e fraterno da cidade, como construtora da nova urbe, seu progresso e civilização.

Curitiba recebe cada vez mais visitantes em função de sua excelente infra-estrutura.
Atualmente, com aproximadamente 1,6 milhões de habitantes, possui a quarta maior rede hoteleira do país, gastronomia rica e intensa atividade cultural, modernos centros de convenções. Localizado no centro da região mais industrializada da América Latina, está apenas a 90 km do Porto de Paranaguá.

O Aeroporto Internacional Afonso Pena, distante 18 km da área central, é um dos mais modernos do Brasil e possui vôos diretos para toda a América Latina e sul dos Estados Unidos, está ligada a São Paulo pela BR–116 e a Santa Catarina pela BR– 101 e 376.
(Adaptado de: diaadiaeducacao.pr.gov.br)

Foto: Curitiba, em 1.902. Rua XV de Novembro, a arquitetura da época seguia o modelo europeizado, entremeio às carruagens e bondes puxados por mulas.

Foto: Autor desconhecido / Acervo Paulo José Costa.

Paulo Grani.

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