sexta-feira, 26 de maio de 2023

Um trabalhador da construção civil de Nova York caminha ao longo de uma viga bem acima das ruas da cidade, por volta de 1950. (Foto de Ben McCall)

 Um trabalhador da construção civil de Nova York caminha ao longo de uma viga bem acima das ruas da cidade, por volta de 1950. (Foto de Ben McCall)


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Veja que coisa estranha: estamos piorando na construção civil. Pense na tecnologia que temos hoje que não tínhamos na década de 1970. As novas gerações de ferramentas elétricas, modelagem por computador, teleconferência, maquinário avançado, materiais pré-fabricados e transporte global. Você pensaria que poderíamos construir muito mais, muito mais rápido, por menos dinheiro, do que no passado. Mas não. Ou, pelo menos, não nós, americanos.

Durante as décadas de 1950 e 1960, a produtividade no setor de construção —quanto mais poderia ser feito com o mesmo número de trabalhadores, máquinas e terrenos— cresceu mais rápido do que a produtividade no restante da economia. Então, por volta de 1970, começou a decair, mesmo com o aumento da produtividade em toda a economia. Hoje, a divergência é realmente maluca.

Em 2020, um trabalhador da construção civil produzia menos que outro em 1970, pelo menos segundo as estatísticas oficiais. Compare isso com a economia em geral, onde a produtividade do trabalho aumentou 290% de 1950 a 2020, ou com o setor manufatureiro, cuja produtividade aumentou nove vezes.

Em "The Strange and Awful Path of Productivity in the U.S. Construction Sector" (o estranho e terrível caminho da produtividade no setor de construção nos EUA), Austan Goolsbee, recém-nomeado presidente do Federal Reserve de Chicago e ex-presidente do Conselho de Consultores Econômicos do presidente Barack Obama, e Chad Syverson, economista da Escola de Administração Booth da Universidade de Chicago, decidiram descobrir se tudo isso é apenas um truque de estatística e, se não, o que deu errado.

Seu trabalho funciona por processo de eliminação. Primeiro, eles analisam se houve menos investimento de capital na construção do que em outras partes da economia. Não.

Em seguida, examinam se estamos medindo mal a construção —o que significaria que, a partir da década de 1970, começamos a superestimar a mão de obra e os materiais usados pela indústria da construção ou a subestimar o quanto foi produzido com eles, ou ambos.

Eles testam isso de algumas maneiras diferentes, mas o mais interessante é ver quantas casas foram construídas por trabalhador, ajustadas pela área construída. Aí, a tendência parece mais estável do que negativa, e talvez ligeiramente positiva para residências unifamiliares, mas está longe de levar a produtividade da construção para um nível próximo da economia em geral.

Reforçando a ideia de que isso não é uma peculiaridade dos registros americanos, a desaceleração é internacional. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico acompanhou a produtividade da construção em 29 países de 1996 a 2019. Em 40% deles a produtividade caiu.

Syverson me enviou os dados subjacentes, e os únicos países em que a produtividade aumentou mais de 2 pontos percentuais ao ano foram Eslováquia, Letônia, Estônia e Lituânia —países mais pobres que se reconstruíram após o colapso da União Soviética e do bloco soviético.

Então, se não é subinvestimento e não é uma ilusão estatística, o que é? Aqui, Goolsbee e Syverson parecem perplexos. A Escola de Administração Wharton, por exemplo, acompanha os regulamentos de construção em todas as cidades, e a dupla testou a carga regulatória contra a produtividade da construção.

Houve uma leve relação, mas nada impressionante. Eles analisaram quais estados americanos tiveram as taxas mais altas e mais baixas de aumentos de produtividade. Os piores desempenhos, segundo Syverson, foram Alasca, Idaho, Wyoming, Delaware e Michigan. As estrelas relativas foram Geórgia, Carolina do Norte, Carolina do Sul, Virgínia e Colorado. Isso não se presta a uma história clara de estados republicanos e estados democratas, ou estados urbanos e estados rurais.

Syverson, por exemplo, é cético quanto à existência de uma única resposta. "Não sei como você consegue 50 anos de declínio sem ter vários problemas", disse ele. "Todo mundo tem sua teoria preferida. Mas todo mundo tem uma preferência diferente."

Mas Goolsbee e Syverson são economistas. Talvez a causa seja óbvia para os especialistas do setor. Liguei para Ed Zarenski, que trabalhou em construção, principalmente como estimador, por mais de 40 anos e agora dirige a empresa de análise de mercado Construction Analytics. Zarenski, que acompanha de perto os custos de construção e o volume de negócios. Ele concorda que houve uma desaceleração. E concorda que não há uma causa única para isso. Mas quando ele pensa em como era a indústria da construção quando começou sua carreira e como é agora, os exemplos são muitos.

"Quando comecei nos anos 1970, você fazia uma estimativa para um projeto", ele me disse. "Você apresentava, fazia sua oferta e, se ganhasse, começava a construção. Quando saí em 2014, você fazia três orçamentos para cada trabalho antes mesmo de fazer a oferta. Isso se torna parte do custo do trabalho."

Ou veja o canteiro de obra, disse ele. "Os recursos de segurança nas obras quando comecei na indústria nem eram perceptíveis. A segurança em uma obra hoje é incrivelmente diferente. Você não caminha sobre uma viga, você contorna por um caminho marcado para que você fique seguro e não caia pela lateral do prédio. Quando me aposentei, uma coisa que acontecia todos os dias, em todas as obras, eram 15 minutos obrigatórios de ginástica antes de começar o dia de trabalho. Isso é totalmente improdutivo, mas levou a menos lesões no local de trabalho durante o dia."

E por trás de tudo isso há papelada, papelada e mais papelada. "O trabalho que fazemos hoje exige mais centenas de pessoas no escritório para rastrear e concluir", ele me disse. "O nível de relatórios que você tem que enviar para o governo, para as seguradoras, para o proprietário, para mostrar que você está cumprindo todos os requisitos no canteiro de obras, tudo isso aumentou. E assim o número de pessoas necessárias para produzi-los aumentou."

O argumento de Zarenski não é que isso seja ruim. Se 15 minutos diários de exercícios ajudam a prevenir uma vida inteira de problemas nas costas, vale a pena. O problema é que há mais trabalho em todos os níveis do processo, desde as análises feitas no back office até as regras seguidas nas obras.

Como podemos aumentar novamente a produtividade da construção? Não tenho ideia. A construção deve se tornar mais segura, mais respeitosa com as preocupações da comunidade e mais ambientalmente sustentável à medida que os países se tornam mais ricos e menos desesperados por crescimento.

Mas também é verdade que muitos dos problemas que os Estados Unidos enfrentam –da descarbonização à moradia popular– seriam muito mais fáceis de resolver se estivéssemos melhorando na construção, em vez de piorando.

Ezra Klein
Colunista do New York Times 

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