Edifício Mapi: a história do ícone da arquitetura na orla paranaense
Quem esteve ao menos uma vez no balneário de Caiobá, no litoral do Paraná, percebeu a presença do emblemático Edifício Mapi, que se ergue ao lado do Morro do Boi, no limite entre a praia mansa e a praia brava.
Absolutamente racionalista, onde a funcionalidade transcende qualquer aparato estético, o prédio é multiuso e funciona como um apart hotel, pensado para curtas temporadas. “É um clássico da arquitetura moderna paranaense e a obra mais importante para a urbanização do balneário”, sentencia o professor de arquitetura da PUCPR Luis Salvador Gnoato.
Só poderia ter esse perfil dado a dupla que o assina: Adolf Franz Heep, arquiteto alemão que trabalhou com Le Corbusier, naturalizou-se brasileiro e atuou em São Paulo entre 1950 e 1960 consolidando um modelo vertical de morar; e o catarinense Elgson Ribeiro Gomes, que morou em Curitiba e em São Paulo e é um dos principais nomes do modernismo no Paraná, além de um dos fundadores do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPR.
O arquiteto Péricles Varella Gomes, filho de Elgson, conta que o Edifício Mapi estava entre os preferidos do pai. “Foi o prédio que o fez voltar para Curitiba. A partir daquele momento ele desenvolveu seu escritório na cidade”, lembra.
A implantação do complexo, originalmente formado pelo edifício residencial, um restaurante panorâmico, parque de piscinas e um hotel, foi uma ousadia para a época, gerando grande impacto no mercado imobiliário local. “Pense: o que era o litoral do Paraná no final dos anos 1950? Praticamente vilas de pescadores. Os incorporadores Reynaldo Massi e Osman Pierri (construtora Mapi) foram de uma coragem extrema”, completa Gomes.
O projeto
Muitos detalhes chamam a atenção neste projeto de 1958 e 1959, de acordo com as plantas originais. A começar pelo visual para quem o olha da orla. O prédio de 14 pavimentos é um quadrado perfeito e as venezianas brancas de madeira de um metro de largura correm por fora sobre painéis de alvenaria. Em um andar o movimento acontece da esquerda para a direita; no outro, na direção contrária. Esse simples artifício garante um movimento quase caleidoscópico para a fachada.
Outra característica típica da arquitetura da época é o uso de pastilhas minúsculas de vidro como revestimento externo. Completa a área externa um mosaico assinado por Franco Giglio, italiano que veio para o Brasil e ajudou a estabelecer a arte musiva por aqui. Há incontáveis painéis de Giglio por Curitiba, incluindo os feitos em parceria com Poty Lazzarotto.
Lógica racionalista
Cada pavimento é composto por dez quitinetes e dois apartamentos maiores em cada ponta. A planta das unidades em maior número é algo muito racional. De um lado da porta de entrada, no mesmo nível do corredor, há uma pequena cozinha que estabelece uma divisão, por meio de um balcão para refeições, com a sala que fica em um nível mais elevado. Do outro lado de quem entra no apartamento há uma área de serviço que se liga com o banheiro e este com a área íntima, formada por dois quartos com beliche.Desta forma estabelece-se uma lógica de funcionamento. “A ideia de ter muitas unidades habitacionais o fez um edifício não elitista, uma arquitetura para o homem comum. Mais um traço do modernismo clássico”, atesta Gnoato.
Para favorecer a ventilação, a fachada é voltada para nordeste, de onde vem o vento predominante no litoral. Com isso e por conta de os corredores serem vazados, dispensa-se o uso de ar-condicionado, dada a ventilação cruzada. Os elevadores têm sistemas que promovem o uso racional de energia.A área comum do prédio dispõe de equipamentos de lazer bem ao estilo dos condomínios clube contemporâneos. A piscina é um capítulo à parte, integrada às pedras e vegetação do morro vizinho. “É um marco da paisagem e foi pensado como um elemento arquitetônico que respeita a natureza do entorno. Ele promove, ainda, a integração com a rua e o espaço público. Em resumo, é um prédio de arquitetura generosa”, conclui Gnoato.
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