domingo, 14 de maio de 2023

A COMEMORAÇÃO DO NATAL EM CURITIBA ANTIGAMENTE

 A COMEMORAÇÃO DO NATAL EM CURITIBA ANTIGAMENTE


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O Natal era antecedido por um período de preparativos que correspondia às quatro semanas do Advento. Nas residências, o preparo dos alimentos iniciava-se com antecedência. Ao redor do fogão, enquanto as brasas eram atiçadas, alimentava-se a memória transmitida pelos ancestrais, temperando lembranças, afirmando identidades.
Os ingredientes do receituário tradicional eram adaptados aos recursos do comércio ou do pomar, tentava-se dar formas às imagens que se queria lembrar. Geléias, biscoitos, pães com frutas e/ou sementes, Marzipan-Torten eram elaborados e acondicionados cuidadosamente para serem saboreados e admirados, na noite de Natal. Algumas massas, feitas em casa, eram levadas aos fornos das padarias para serem assadas, outras se transformavam em enfeites para o pinheirinho, o Tannenbaum.
A árvore do Natal (Weihnachtsbaum) considerada um dos costumes germânicos introduzidos em nossa sociedade foi alvo de alguns protestos, pela imprensa curitibana em determinados momentos de nosso recorte temporal.
Alguns não lhe atribuíam significados e defendiam os “presepes que incontestavelmente reuniam mais graça, mais de accordo com a historia do nascimento do menino Deos", considerando-os como legados pelos nossos antepassados. Outros não encontravam razão para “o abandono da formosa tradição tão nossa” em troca do “insipido pinheirinho” e alertavam para o “malefício” que poderia representar “para a nossa riqueza florestal” o corte do pinheiro tenro se a “mania fôr augmentando...” (A República, 24 dez. 1907).
A discussão sobre os símbolos natalinos persistia em 1913, quando um articulista ensaiou uma explicação para fazer cessar o que ele chamou de “a grande guerra contra os pinheirinhos”. Argumentando que as festas remontam aos “tempos primitivos”, aos “residuos de cultos metereologicos” e que mais tarde lhes foi dada a significação religiosa, afirmava seu ponto de vista: “Veneramos as cousas passadas, mas não desejamos vel-as perpetuadas. (...) A humanidade não avançaria, adstricta á tradição, que é a affirmação do dia de hontem, quando o progresso (...) é justamente a negação desse dia” (A Tribuna, 25 dez. 1913).
Alheios a esse embate, crianças de todas as idades eram atraídas pela magia do pinheirinho. Sustentando velas em seus galhos verdes e exalando odor característico, na noite de Natal, ele podia ser visto pelos passantes através das vidraças a “altear-se num deslumbramento de luz e de enfeites polychromicos” (Diário da Tarde, 25 dez. 1906). As cores, as luzes, as guloseimas, os aromas faziam parte do espírito festivo que inundava o período, juntamente com o som dos hinos e canções natalinas anunciando que “sempre todos os anos, vem o menino Jesus (...), vem trazendo sua bênção a todos os lares” (Gebhardt, 1898, p. 58). No ritmo da espera, os brinquedos fariam o regalo da “pequenada. Ella vê no natal o renascimento das alegrias triumphantes” (A Tribuna, 11 dez. 1913), e poderia ser brindada com a alegria de receber um presente, confeccionado por mãos habilidosas ou adquirido no comércio local.
Alguns textos escolares incentivavam o sonho infantil e estimulavam sua imaginação, ao estipular quais seriam os “desejos de uma criança”:
"Um cavalinho para montar, uma bonequinha para vestir, um carrinho para passear, um cofrinho para suas moedinhas. Para cozinhar, uma pequena cozinha, para ler, um livrinho. Muitas peças de madeira para construir, muitas maçãs para mastigar, um sininho para tanger, Christkindlein, o Menino Jesus, vai trazer." (Kahnmeyer; Schulze, 1904b, p. 29).
Como um jogo de imitações, os objetos reproduzidos em escala menor, especialmente para as crianças, proporcionavam meios de identificação com os adultos. As famílias mais abastadas contavam com um considerável leque de ofertas destes produtos “architetados pela industria” cujo desejo “é de reproduzir na natureza morta, a natureza viva”.
Nas lojas de curitiba, as vitrines expunham brinquedos que atendiam a todos os gostos, sexos e todas as condições financeiras, dos mais humildes aos mais abastados:
"Balanças e quartos de bonecas, cabeças e braços de bonecas, jogo de bola aos pinos, soldados de vários tamanhos, bondes, trilhos e trens elétricos, cavalinho de pau, cavalos de balanço (Der Kompass, 3 e 10 dez. 1904). Brinquedos, de todo o tamanho, animaes de feltro, velludo, pello, folha e madeira, apparelhos de diversos tamanhos de folha louça e folha esmaltada, gaitas de bocca e mão, rabecas, tambores de diversos tamanhos e qualidades, apparelhos para lavatório, chapéos de sol para bonecas e crianças, chapéos para bonecas bengalinhas, pianos, lanternas mágicas, malinhas e cestinhas para doce, espadas, espingardas de diversas qualidades, machinas de costura, fogões cestinhas com trabalhos, caixa de velludo com estojo, cornetas, berços, camas, mobílias completas, relógios, lampeões de diversas qualidades, bolas de vidro e borracha, chocalhos, carrinhos com e sem mola, bicycletas, pás, enxadas, baldes, soldadinhos, chicotes, canhões, vísporas, xadrez, corda para pular, bolcinhas, ratinhos de mola, gafanhotos de mola, bisouros, palhaços, flautas, sapatos, meias e luvas para bonecas, escolas, velinhas, castiçaes e grande variedade em enfeites para pinheirinho e presepes (Diário da Tarde, 26 dez. 1906)."
(Extraído de: teses.toda.escola alemã / Fotos ilustrativas da web)
Paulo Grani

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