terça-feira, 16 de maio de 2023

A medicina egípcia e os conhecimentos sobre o cérebro.

 A medicina egípcia e os conhecimentos sobre o cérebro.



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Médico egípcio atendendo um paciente.


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Edwin Smith, egiptólogo norte-americano responsável pela aquisição do primeiro manual de cirurgia conhecido do antigo Egito em 1862.


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Aqui a foto de um fragmento do famoso papiro médico de Smith.


Pode ser uma ilustração de osso e texto que diz "Até que fosse revelado O Papiro de Smith, considerava-se Alcéon de Crotona, "filósofo naturalista" grego que vivera pot volta de 500 a. como primeiro escrever sobre cétebro humano. Mas agora ficou constatado: tinha-se laborado em erro."

Texto autoral de: Nivaldo Aparecido Dias Muniz. 10/05/2023.
Durante boa parte da história da egiptologia desconheceu-se qualquer documentação que comprovasse a existência de práticas mais refinadas por parte da medicina egípcia (isso mesmo sabendo-se que os médicos egípcios eram extremamente bem conceituados pelos outros povos da antiguidade, e deduzindo-se que os mesmos deveriam possuir avançados conhecimentos de anatomia, oriundos de suas práticas de mumificação), os poucos papiros médicos até então conhecidos, como o papiro de Berlim, e o próprio papiro Ebers (guardado na universidade de Leipzig), tinham um caráter predominantemente "farmacológico", cheio de rituais simpáticos e invocações mágicas, o que fazia com que boa parte dos estudiosos acreditassem que os antigos egipcios eram muito pouco guiados por um "senso prático" em suas atividades médicas.
Todavia, essa situação teve uma reviravolta radical no ano de 1922, quando alguns periódicos foram publicados na New York Historical Society, contendo trechos recém traduzidos do papiro médico de Smith, trata-se de um papiro médico escrito em Tebas por volta de 1700 a.C, provavelmente copiado de um livro de medicina muito mais antigo, medindo cerca 4,68 metros de comprimento ele foi adquirido pelo egiptólogo norte-americano (então radicado em Londres) Edwin Smith em 1862, porém só foi amplamente traduzido e publicado a partir de 1922.
Originalmente nele havia todo um manual de "cirurgia ortopédica", com tratamentos cirúrgicos indicados para fraturas (simples e expostas), luxações, esmagamentos e contusões em quase todos os ossos do corpo (trata-se de um conhecimento extremamente útil em um país como o Egito, sempre cheio de obras de grande envergadura e com constantes acidentes de trabalho entre os operários), com especial destaque para as cirurgias crânio-encefálicas, estas realizadas emergencialmente, como um mecanismo de correção para traumas cranianos (...).
Por outro lado, Não devemos nos enganar, tais cirurgias eram relativamente raras e difíceis de serem feitas, principalmente se comparadas as outras práticas indicadas no papiro de Smith, os poucos médicos especializados nelas as faziam geralmente como uma cirurgia de "último recurso".
Sobre esse fato, citando diretamente uma recomendação presente no papiro de Smith Thorwald (1962; p.54) escreve:
"Se você estiver examinando um homem com uma ferida na cabeça, que vai até o osso, seu crânio está fraturado, está aberto o cérebro de seu crânio [...]. Algo há nele que treme e se agita sob seus dedos, semelhante a um ponto vulnerável no alto da cabeça de uma criança que ainda não endureceu. Essa tremura e agitação debaixo dos seus dedos tem origem na fratura do crânio expondo o cérebro".
Como podemos observar os egípcios antigos não apenas faziam diagnósticos com base em observações empíricas, como deduziam corretamente o papel do cérebro na disfunção causada pelo trauma craniano, sobre esse fato Mella (1994; p. 75), chega a afirmar:
"A função do cérebro era exatamente caracterizada: por exemplo, sabia-se que uma lesão na parte esquerda podia causar a paralisia na parte direita do corpo e vice-versa".
Assim sendo, percebe-se, pelas citações anteriores, os egípcios praticavam a trepanação (abertura cirúrgica do crânio), como meio de aliviar a pressão interna da caixa craniana em caso de inchaço do cérebro, ela era indicada quando o paciente sofria com fortes e prolongadas dores de cabeça associadas a perda total ou parcial das capacidades locomotoras e sensoriais, essas condições poderiam ser causadas por pancadas repentinas na cabeça e, além destas, por acidente vascular cerebral, complicações de meningite (bacteriana ou viral), epilepsia, tumores cerebrais, etc.
Obs. Em casos de perda da "sanidade mental" envolvendo doenças psiquiátricas como a esquizofrenia, ou as alucinações paranóides, que na época eram encaradas como resultado da ação de demônios, ou de espíritos malignos (que os antigos acreditavam que literalmente se alojavam dentro da cabeça, como um verme se alojaria nas entranhas), também poderiam ser "tratadas" por meio da trepanação, já que a abertura da cabeça poderia ser encarada como uma forma de expulsar o inquilino indesejado de lá, obviamente esse tipo de intervenção não produzia nenhum resultado real sobre a doença e muitas vezes poderia levar a morte.
Não se sabe de relatos de cirurgia cerebral propriamente dita entre os antigos egípcios, sabe-se no entanto que além da remoção de parte da calota craniana e de pequenos fragmentos de ossos que poderiam ofender a duramater, estes retiravam coágulos, pequenos acúmulos de sangue e os excessos de líquido cefalorraquidiano que eventualmente poderiam se acumular na área da lesão crânio-encefálica, qualquer ofensa ou anomalia no cérebro era simplesmente tomada como além das capacidades de ação do médico, como o próprio papiro de Smith dá a entender, no seguinte trecho:
"Nesse caso você deve dizer: trata-se de uma ferida aberta na cabeça... uma enfermidade de que não é possível tratar". (Thorwald; 1962; p.54).
Fontes:
Mella, F. A. O Egito dos faraós: história, civilização e cultura; Hemus Editora Ltda, São Paulo; 1962.
Thorwald, J. O segredo dos médicos antigos. 2. ed; Melhoramentos Ltda, São Paulo; 1994.

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